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domingo, 22 de março de 2009

Republicanos de Torres Vedras - 1

Manifestação de homenagem ao presidente Teófilo Braga, por ocasíão da sua visita a Torres Vedras, em Agosto de 1915. (Ilustração Portuguesa, 16 de Agosto de 1915).


Tem este texto por objectivo caracterizar as elites políticas de Torres Vedras, durante as três primeiras décadas do século XX.
Balizámos cronologicamente esse trabalho, por um lado, em 1907, ano da formação da primeira comissão municipal republicana de Torres Vedras, que institucionalizou deste modo a influência política local do Partido Republicano, e, por outro lado, em 1931 , ano em que se constituiu o núcleo local da Aliança Republicano-Socialista, frente política que, emanando da velha lógica político partidária do regime republicano, marcou ao mesmo tempo o seu fim e o início de outra, marcada de forma nítida pelo confronto esquerda-direita, a primeira representada pelo Partido Socialista que, nessa aliança, apareceu com um peso nunca conseguido anteriormente e a segunda pelo início da organização local da União Nacional, bem como, de forma clara, pelo confronto entre uma postura democrática e outra autoritária, em relação à evolução política nacional, distinguindo, de forma nítida, duas tendências que desde longa data se digladiavam no seio dos republicanos.
No nosso estudo caracterizámos, tanto os apoiantes, dirigentes, candidatos partidários, como as elites municipais (administradores do concelho, presidentes de câmara, vereadores, senadores, regedores, vogais de junta de freguesia) .
Se todas eles formavam um grupo restrito, o tipo de poder que detinham era muito diverso.
Em relação aos apoiantes dos partidos republicanos, o simples facto de aparecerem identificados publicamente, nas páginas da imprensa local, os nomes de personalidades apoiantes de determinadas candidaturas, exercia um certo "poder de influência" sobre os eleitores, contribuindo para dar uma certa notabilidade pública aos candidatos por si apoiados, situação que era fundamental em partidos, como os republicanos, que, embora já não sendo estruturalmente partidos de notáveis, como os partidos monárquicos, continuavam ainda a diferenciar-se mais pelo carisma pessoal dos seus apoiantes, dirigentes e candidatos, do que por qualquer diferença ideológico - programática.
Os dirigentes partidários locais, num concelho como o de Torres Vedras, que, durante o regime republicano foi sede de círculo eleitoral, mesmo quando não exerciam qualquer cargo político institucional, não deixaram de controlar uma rede de influentes, e servir de mediadores entre o poder municipal e o governamental, sendo a opinião de tais dirigentes fundamental para a escolha de candidatos a cargos electivos, como os de deputado, ou vereador ou os cargos de nomeação, como os de administrador do concelho ou de regedor.
Por último, os candidatos, que exerciam poder efectivo no cargo para o qual eram votados, não se podiam esquecer que deviam esse poder aos notáveis apoiantes e dirigentes político -partidários locais, a quem tinham de agradar, caso quisessem voltar a ser escolhidos como candidatos, muitas vezes intercedendo junto do poder central na concretização de melhoramentos locais desejados por tais líderes políticos locais.
Quanto às elites municipais, o seu poder distinguia-se conforme os cargos exercidos.
Não era a mesma coisa ser administrador do concelho ou presidente de comissão paroquial, ser presidente do senado da câmara ou presidente do executivo camarário.
Destes, o lugar mais inseguro era o de administrador de concelho, pois, pelo facto de ser um cargo de nomeação política, não só estava sujeito à conjuntural instabilidade política que caracterizou a 1ª República, como serviu muitas vezes de "bode expiatório", a nível local, de todos os males do regime, ódio esse que aumentava se esse cargo não fosse exercido por um natural do concelho, o que levantava sobre si toda a espécie de más vontades.
Maior estabilidade em termos locais revelou-se na composição das câmaras democraticamente eleitas, apenas abalada por duas ocasiões: - a primeira, por poucas semanas, com a ditadura de Pimenta de Castro; - a segunda, num período temporal mais longo, entre Janeiro de 1918 e Junho de 1919, durante o governo de Sidónio Pais.
Por sua vez, ao consagrar o voto capacitário, num país de analfabetos, o código eleitoral de 1913, quase transformou numa "elite", no sentido que esse termo tem de "minoritário" e "excepcional", o corpo eleitoral republicano, potenciando imenso o poder de cada voto, pois casos houve, em actos eleitorais que registaram grandes índices de abstenção, onde deputados e vereadores foram eleitos com escassas centenas de votos.

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