Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Breve Análise do resultado das autárquicas em Torres Vedras

(fonte: Jornal de Mafra)

Em Torres Vedras o PS repetiu a maioria absoluta no executivo camarário, mesmo tendo perdido um vereador.

A grande novidade é Torres Vedras ter eleito, pela primeira na sua história, uma mulher, Laura Rodrigues, para presidente da Câmara.

O PS manteve o mesmo número de Presidentes de Junta, 11 em 13, conquistando 1 ao PSD e perdendo outra para esse mesmo partido. Contudo, não conseguiu reconquistar ao PSD a Junta da Ponte do Rol.

Embora tenha perdido votos, a situação não foi tão grave como se previa. Perdeu 1 vereador, dois deputados municipais e 5 membro das assembleias de freguesia (de 76 para 71), estes conquistados “directamente” pela Aliança.

O “Aliança” foi, aliás, um dos vencedores da noite, ganhando 1 deputado municipal, juntando àqueles 5 eleitos para assembleias de freguesia, e ultrapassando a CDU na votação para a CM, quase elegendo o seu primeiro vereador.

Com sabor “amargo e doce” foi o resultado dos Unidos por Torres Vedras, que, concorrendo pela primeira vez, foram a segunda força mais votada para a Câmara, ultrapassando o PSD e elegendo 2 vereadores, com mais de 8 mil votos, mas não conseguindo o resultado “espectacular” que muitos preconizavam. Para a AM ficou atrás do PSD, elegendo 6 deputados municipais.

O Chega conseguiu eleger, pela primeira vez, um deputado municipal, um resultado significativo para esse partido, se tivermos em conta que concorreu pela primeira vez e não concorreu às freguesias rurais, obtendo para a AM mais de 1700 votos, mais cerca de 200 dos que obteve para a CM, ficando ainda à frente do BE.

Nas eleições para a Câmara, a coligação “Afirmar” (PSD/CDS/PPM) foi a grande derrotada, tornando-se a 3ª força política, perdendo a liderança da oposição e elegendo menos 1 vereador.

Aliás, a derrota é resultado da má escolha do candidato e uma derrota pessoal do deputado Duarte Pacheco, pois se analisarmos os resultados mais à lupa, em relação a 2017 o PSD (que também concorria coligado com o CDS) perdeu para este órgão municipal, 4 409 votos, situação que confirma comparando o resultado dessa coligação para a Câmara com o resultado para a Assembleia Municipal, obtendo mais 602 votos, mesmo assim menos 3809 votos dos que obteve há 4 anos para este órgão.

A evidência da derrota pessoal do deputado torna-se ainda mais estrondosa, se compararmos o resultado dessa coligação para a CM com o resultado obtido na totalidade das Assembleias de Freguesia, menos 3 090 votos .

Embora com uma dimensão menor, tanto o PCP e, principalmente o BE, foram dois dos derrotados da noite eleitoral.

A CDU não conseguiu reconquistar a freguesia da Carvoeira, piorando até o seu resultado nesta, perdendo um mandato na assembleia da freguesia da cidade e 1 mandato na AM, não conseguindo regressar à vereação, perdendo também algumas centenas de votos em relação a 2017. Obteve o seu melhor resultado no nº de votos para as Assembleias de Freguesia, mais 1200 votos do que para a CM.

Já o BE perdeu o seu único representante municipal, o deputado que tinha na AM, perdeu votos de forma significativa e, pior, foi ultrapassado pelo CHEGA, como força política local.

Em baixo podem ver os resultados em mandatos, comparativamente com os obtidos em 2017, assim como comparar as “previsões” pessoais que fizemos.

De realçar que, num total de 61 resultados analisados, 52 se situaram na margem de erro que defendemos, só errando em 9. Para a AM e para a CM só errámos numa previsão de um partido e, no total de 13 freguesias, só errámos nos vencedores de 2 (na última coluna, a vermelho, assinalamos os resultados que saíram da nossa “previsão”.

 

 

Total Mandatos

Mandatos em 2017

 “previsões” pessoais

Resultado Final 2021

CM

9

PS -  6

PSD/CDS - 3

 

 

 

PS – (4-6);

UTV- (2-5);

PSD/CDS/PPM – (2-3);

Aliança – (0-2);

CDU – (0-1);

BE- (0-1);

Chega (0).

PS-5

UTV-2

PSD – 2

A – 0

CDU – 0

BE – 0

CH - 0

AM

27

PS – 14

PSD – 9

CDU – 2

BE - 1

TL - 1

PS – (9-12)

UTV – (7-14);

PSD – (6-9);

Aliança - (0-4);

CDU – (1-2);

BE – (0-2);

Chega (0-1).

PS -12

UTV – 6

PSD – 6

Aliança – 1

CDU – 1

BE – 0

CH - 1

Campelos/Outeiro

9

PS – 6

PSD - 3

 

PSD – (4-7);

PS – (2-6);

CDU – (0).

PSD- 5

PS – 4

CDU - 0

Carvoeira/Carmões

9

PS – 4

CDU – 4

PSD - 1

 

CDU – (3-5);

PS- - (3-4);

PSD – (0-1).

CDU – 3

PS – 5

PSD - 1

Cunhado/Maceira

13

PS – 6

PSD – 5

CDU – 1

TL - 1

 

PS – (4-6);

PSD- (3-5);

CDU – (1-2);

Aliança –(0-2).

PS – 7

PSD- 5

CDU – 1

Aliança- 0

Dois Portos/Runa

9

PS – 5

PSD – 3

CDU - 1

 

PS – (3-5);

CDU –(1-3);

PSD – (2-3)

PS-4

CDU – 1

PSD- 4

Freira

9

PSD – 5

PS - 4

 

PS – (4-6)

PSD – (4-5)

CDU – (0)

PS – 5

PSD – 4

CDU - 0

Maxial/M Red.

9

PS – 6

PSD - 3

PS – (5-7)

PSD – (2-3)

CDU – (0-1)

PS – 6

PSD – 2

CDU - 1

Ponte do Rol

9

PSD – 4

I – 3

PS - 2

 

PS-(4-6)

PSD-(3-5)

CDU – (0).

PS – 2

PSD – 7

CDU - 0

Ramalhal

9

PS – 5

PSD – 3

CDU - 1

PS- (4-5)

PSD- (2-3)

CDU – (1-2)

Aliança – (0-1).

PS – 5

PSD - 1

CDU - 1

A - 2

S.P.Cadeira

9

PS – 7

PSD - 2

 

PS- (6-7)

PSD-(1-3)

Aliança-(0-1)

CDU – (0)

PS – 6

PSD – 2

A – 1

CDU - 0

Silveira

13

PS – 9

PSD - 4

PS- (6-8)

PSD-(4-5)

Aliança-( 0-3)

CDU – (0-1).

PS – 8

PSD-4

Aliança – 1

CDU - 0

Turcifal

9

PS – 6

PSD - 3

 

PS- (5-7)

PSD- (2-3)

CDU – (0-1)

PS – 5

PSD – 4

CDU - 0

Ventosa

9

PS – 6

PSD - 3

 

PS- (5-7)

PSD- (2-3)

CDU- (0)

PS – 6

PSD – 3

CDU - 0

CIDADE (Sta Maria, S.Pedro, Matacães)

19

PS – 10

PSD – 6

CDU – 2

TL - 1

PS- (6-10)

UTV- (3-9)

PSD- (2-5)

Aliança- (0-3)

CDU- (1-4)

BE- (0-2)

Chega – (0-1)

PS – 8

UTV – 6

PSD – 3

Aliança – 1

CDU – 1

BE – 0

CH- 0

nota : as nossas “previsões” não tiveram base científica, apenas empírica, tendo por base o “histórico”, a novidade de algumas candidaturas, a conjuntura local, o “sentir” das dinâmicas locais e alguma intuição.

 

domingo, 26 de setembro de 2021

Abstenção e “norte-coreanos”


Hoje é dia de eleições.

O direito ao voto, pelo menos neste país, foi conquistado com muitas lutas e incompreensões, muitos foram parar prisão nessa luta.

Em muitos países, por esse mundo fora, muitos continuam a lutar por esse direito, outros pelo direito de eleições que não sejam fraudulentas.

Hoje, em Portugal, apresentam-se a eleições partidos que vão, da direita mais radical à esquerda mais radical e, em autárquicas, muitos independentes.

Por tudo isso, porque somos dos poucos países, por esse mundo fora, onde o leque de opções é vasto, onde, apesar de todos os problemas, existe liberdade de informação, e por respeito por todos aqueles que por cá lutaram, e , “lá fora”, continuam a lutar, com risco da própria vida ou de prisão, por esse simples acto de depositar em urna um papelinho com a nossa escolha, devemos recusar a abstenção.

Aqueles que veem com a desculpa de que “isto é tudo igual”, são os mesmos que passam a vida a “atirar” com a cassete da “Coreia do Norte” de cada vez que se dá uma opinião que não lhes agrada.

É caso para dizer que, esses, sim, é que “deviam ir” viver para a “Coreia do Norte”, para saberem o que era não poderem escolher ou votar.

A não ser por motivo de força maior, só se abstêm anarquistas (os únicos cujos motivos até compreedo), extremistas e defensores de regimes, cada vez em maior número, onde as eleições, ou são uma farsa, ou, simplesmente, não existem.

Por isso, votem em branco, anulem o voto, votem naqueles que eu detesto, votem no centro ou nos extremos…mas votem.

Votar é uma questão de respeito e…de civilização.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Autárquicas- O Tabuleiro Torriense


Há muitos anos que não se assistia, em Torres Vedras, a umas eleições autárquicas, tão disputadas.

Logo no início marcada pela tragédia, a morte dramática do ex-presidente Carlos Bernardes, que já tinha sido apresentado como recandidato e cabeça de lista do PS a estas eleições, assistiu-se também ao aparecimento de uma candidatura “independente” bastante forte, capaz, pela primeira vez desde os tempo da liderança de Ana Maria Bastos nas listas do PSD, de se bater de igual por igual com o PS, que lidera a Câmara de Torres Vedras desde 1976.

O PS viu-se obrigado, por força da trágica circunstância do falecimento de Carlos Bernardes, a alterar a sua candidatura à Câmara, liderada, pela primeira vez, nesse partido, por uma mulher, Laura Rodrigues, a qual, devido à situação, e seja qual for o resultado final, tornou-se a primeira mulher presidente desta Câmara.

Inicialmente a situação do PS parecia muito periclitante, devido ao desgaste dos anos e do próprio Carlos Bernardes, embora tenha recuperado alguma credibilidade na forma como enfrentou a crise provocada pelo Covid.

Com a renovação forçada da sua lista, beneficiando eventualmente do efeito dramático da situação vivida, a candidatura do PS, liderada por Laura Rodrigues, parece ter recuperado a iniciativa e, agora, o máximo que os seus opositores talvez consigam, pode ser retirar a maioria absoluta a esse partido, situação um pouco mais complicada na Assembleia Municipal, devido ao peso numérico da representação dos Presidentes de Freguesia, onde se espera que o PS mantenha a maioria.

Dizemos “talvez”, porque é uma incógnita o resultado nas urnas da dinâmica crescente da candidatura independente “Unidos por Torres Vedras”, a única capaz de se bater por uma vitória eleitoral . Pode até acontecer que consiga derrotar o PS na Câmara, mas muito dificilmente baterá esse partido na Assembleia Municipal, devido às circunstâncias, acima mencionadas.

Recorde-se que, não sendo a primeira vez que temos uma candidatura independente, esta ter surgido de uma importante cisão no sei do partido dominante na autarquia, mas alargando a sua influência à esquerda (PCP) e à direita (PSD). Esta abertura, a razão da força desta candidatura, pode ser, a prazo, a sua própria fraqueza, pois, quando se tiverem de tomar posições mais estruturais e mais politicas no futuro, virão ao de cima as divergências na visão do mundo de algumas das suas principais figuras. Mas esse não é o problema do momento e, de facto, esta é, pela primeira vez, em muitos anos, uma candidatura que pode unir o voto “útil” anti-PS ou dos eleitores cansados e descontentes com um tão longo domínio de um único partido no concelho.

Não deixa também de ser significativo, mais uma característica original deste acto eleitoral, que o PSD, pela primeira vez, não conte como alternativa de peso ao PS. Além de ter dado um “tiro no pé” ao apresentar, pela primeira vez na sua história, um candidato estranho à vivência e à realidade torriense, é um dos partidos que vais sair mais desgastado no seu eleitorado pela grande quantidade de novas alternativas ao centro e à direita. A única novidade pode ser a recuperação da freguesia de Campelos, onde se candidata aquela que podia ser a figura mais forte, e a mais natural, para uma candidatura camarária

Além de perder eleitores devido à opção que tomou na escolha do seu candidato, vai perder muitos votos para o “Unidos Por Torres Vedras”, mas também para uma candidatura bastante forte da direita, embora com apoio mais abrangente, a candidatura do Aliança, liderada por Paulo Bento, um dissidente do PSD, uma das figuras mais respeitadas e mais experientes dessa área, e aquele que, nas suas intervenções públicas durante esta campanha, se tem revelado mais consistente, mais bem preparado, mais original nas suas propostas, mostrando um grande conhecimento das realidades do concelho. O resultado da Aliança pode revelar-se, assim, outra grande surpresa nestas eleições.

Um outro partido que pode retirar votos à aliança PSD-CDS é o Chega, embora apresente uma candidatura muito fraca, com pouco conhecimento da realidade torriense, procurando apenas repetir o êxito que o seu líder André Ventura obteve nas presidências, como o segundo mais votado neste concelho. Contudo, a história hoje é outra e, pensamos, o Chega vai ter um mau resultado no concelho, embora possa contribuir para o previsível decréscimo eleitoral da candidatura “Afirmar Torres Vedras” (PSD-CDS-PPM).

À esquerda, a grande novidade vem da candidatura à presidência do Bloco de Esquerda, um bem preparado Jorge Humberto, uma das candidaturas mais credíveis das que se apresentam nestas eleições e neste concelho. Uma grande vitória seria conseguir que esse partido elegesse, pela primeira vez em Torres Vedras, um vereador.

Já a CDU não apresenta grandes novidades. Apesar de ter sondado vários candidatos, que pudessem reforçar a sua influência, acabou por apostar na continuidade. Curiosamente, onde a CDU apresenta candidatos mais fortes, e onde pode ser uma surpresa, é a nível de algumas freguesias, como a possibilidade de recuperar a Carvoeira, de obter um bom resultado em Runa, no Ramalhal e em A-Dos-Cunhados.

Perante este quadro, aqui revelamos a nossa opção eleitoral: Para a Câmara votamos no candidato do BE; para a Assembleia Municipal votamos no candidato da CDU; para a Assembleia de Freguesia, ainda estamos indecisos (entre CDU, BE e a candidata do Unidos por Torres Vedras).

Como previsão, pensamos que Laura Rodrigues vais ser a primeira mulher eleita para presidente, embora sem maioria absoluta, mantendo o PS a maioria absoluta na Assembleia Municipal.

Nas freguesias, vamos assistir a algumas mudanças, a favor do PS na Freira e na Ponte do Rol, do PSD em Campelos, e da CDU na Carvoeira, sendo uma grande incógnita o que se vai passar na grande freguesia urbana, disputada entre o PS e o Unidos Por Torres Vedras.

Gostávamos que a Câmara fosse mais diversificada, com vereadores eleitos de entre  o BE, a CDU, a Aliança e Unidos por Torres Vedras.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Um Adeus a Jorge Sampaio, que é também um "Obrigado!"

 


Faleceu hoje o ex-presidente da República Jorge Sampaio.

A sua importância histórica vai muito para além do seu cargo presidencial.

Foi uma figura de referência na oposição ao Estado Novo, primeiro nas lutas estudantis de 1962, depois como advogado de defesa de presos políticos e como candidato nas listas da oposição, pelo CDE, em 1969, numa das raras ocasiões em que a oposição foi até às urnas, apesar da fraude eleitoral generalizada que impediu a eleição de deputados da oposição.

Depois do 25 de Abril, foi fundador do MES, secretário de estado do IV governo provisório, apoiante do Grupo dos Nove, aderindo ao PS em 1978 e sendo eleito deputado em 1979.

Ocupou vários cargos políticos de relevo nacional e internacional, quase todos ligados à defesa dos Direitos Humanos e à causa de um urbanismo sustentável.

Eleito Secretário Geral do PS em 1989, concorre à Câmara Municipal de Lisboa em coligação com o PCP, ganhando a maioria absoluta e batendo Marcelo Rebelo de Sousa, sendo reeleito em 1993, desta vez também com o apoio da UDP e do PSR (que viriam a fundar o BE), antecipando assim o que veio a ser, quase duas décadas mais tarde, a solução governativa conhecida por “geringonça”.

Deixou o cargo em 1995 para se candidatar à presidência da República, enfrentando Cavaco Silva, que derrotou facilmente, voltando a ter o apoio indirecto do PCP, por desistência do seu candidato Jerónimo de Sousa. Foi reeleito em 2006.

Foi o único político que conseguiu derrotar Cavaco Silva, não deixando de ser curioso que, em circunstância diferentes, derrotou os dois presidentes que lhe sucederam no cargo (Cavaco e Marcelo).

Como presidente da República governou num dos períodos mais prósperos, mais esperançosos e dos  mais consensuais vividos em democracia.

Contudo, cometeu no final do seu mandato um dos seus piores erros políticos, embora não intencional e motivado pelas circunstância, que foi o de facilitar a ascensão à liderança do PS e do país de José Sócrates.

Mesmo assim, comparando o seu mandato com o do seu sucessor, um Cavaco Silva ressabiado, intolerante e faccioso, a sua presidência corresponde a um dos períodos mais brilhante da nossa democracia.