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sexta-feira, 29 de maio de 2020

COVID-19 : o 1º de Maio e o aumento de casos na região de Lisboa- o irreal imaginário de uma relação absurda.

Nas redes sociais o debate sobre o Covid-19 está cheio de irreais imaginários fanáticos e enraivecidos.

Das teorias da conspiração (o “vírus fabricado em laboratório”, os “números escondidos”, os remédios “milagrosos”…) ao voyerismo social (andar de régua em punho e máquina fotográfica a medir as distâncias nas ruas, nas praias e nas esplanadas) tudo serve para “afastar” o medo e revelar o irracionalismo ignorante, intolerante e fanático de muitos.

Ponto alto desse “debate” foram a celebração do 25 de Abril e, especialmente, a comemoração do 1º de Maio na Alameda.

Revelei dúvidas sobre esta comemoração, não tanto por achar que, pela forma como foi organizado o 1º de Maio, houvesse qualquer risco para a saúde pública, mas porque iria alimentar a argumentação fanática de alguns.

Não só essas comemorações, como seria previsível, não provocaram qualquer surto, como até colocaram a “barra” muito acima para quem, no futuro, queira organizar um evento público ao ar livre, em tempo de epidemia.

Fizeram-se até comparações absurdas com o 13 de Maio, situações diferentes, embora até se pudesse ter organizado se houvesse a mesma capacidade de organização demonstrada pela CGTP (isto é, apenas com uns mil padres e freiras distribuídos pelo espaço de Fátima, única comparação possível com o 1º de Maio…mas que nada tinha a haver com o espírito de Fátima, como sabe a hierarquia da Igreja, encerrando aí a polémica alimentada por alguns sectores mais fanatizados da direita).

Agora voltou a surgir o 1º de Maio na argumentação desses mesmos fanáticos, a propósito do aumento de casos de COVID-19 na região de Lisboa e, especialmente, num bairro pobre do Seixal.

Para esses, isto foi o resultado da 1º de Maio !!!!???

Ou seja, um surto que se começou a revelar a partir do dia 17 de Maio, com principal incidência a partir do 25 de Maio…teria resultado da deslocação de sindicalistas da outra margem transportados em autocarros da Câmara do Seixal para …o 1º de Maio!!!!

Na pressa de alimentarem o seu fanatismo “esqueceram-se” de alguns “pormenores”: que se saiba,  a doença revela-se geralmente entre o 4º e o 5º dia após a contaminação e, em casos menos frequentes, até 14 dias; os habitantes do bairro do Seixal, onde se revelou o surto, não tem ligação com os presentes no 1º de Maio; os maiores surtos da região de Lisboa registaram-se em Sintra, Cascais e Oeiras, localidades pouco dadas a manifestações “esquerdistas”….

Ora esse surto passou-se mais de 17 dias depois do 1º de Maio, a não ser que consideram que os “esquerdalhos” (como eles apelidam sindicalistas) sejam tão ruins que o “bicho” só se revela neles muito para além do tempo médio e cientificamente provado do seu desenvolvimento!!!!

Não deixa também de ser curioso que os mesmos que se apressaram a fazer essas absurdas comparações e relações da “causa-efeito”, sejam os mesmos que encheram as suas páginas com loas de apoio às manifestações da extrema-direita espanhola da Vox, defendendo uma “causa” diferente daquela que dizem defender por cá. Essa manifestação era contra as medidas de contenção impostas pelo governo espanhol, medidas essas que foram muito mais tardias e moderadas do que as tomadas por cá.

Enfim, a cegueira intolerante e fanática de alguns conduziram-nos a alimentar um absurdo mundo “irreal imaginário”!

As Capas da Crise (11ª semana)














 








quinta-feira, 28 de maio de 2020

COVID-19 – Outra Maneira de Olhar Para os Números (8ª Semana).




Analisamos hoje mais uma vez  a evolução da mortalidade do COVID-19 ao longo da última semana, a que decorreu entre o dia 21 de Maio e o dia  28 de Maio, com base nos dados hoje publicados no site da Organização Mundial de Saúde.

Continuamos a analisar um grupo de 35 de países, que servem de base para melhor comparar a situação mundial.

(Podem clicar AQUI para melhor comparar com a situação anterior e poderem ligar aos post’s anteriores).

Começamos pelos dados em bruto referentes ao total da mortalidade registada até esta data (pode haver desfasamento de um ou dois dias):

TOTAL DE MORTOS POR COVID-19 em todo o MUNDO – 351 866 mortos;

Estados Unidos – 98 119;
Reino Unido – 37 048;
Itália – 32 955;
Espanha – 29 035;
França – 28 477;
Brasil – 24 512;
Bélgica – 9 344;
Alemanha – 8 349;
Irão – 7 508;
Canadá – 6 671
Holanda – 5 856;
China – 4 645;
Turquia – 4 397;
Suécia – 4 125;
Índia – 4 337;
Rússia – 3 968;

MÉDIA MUNDIAL POR PAÍS – 1 804; 

Suíça – 1 647;
Irlanda – 1 615;

PORTUGAL – 1 342;

Japão – 867;
Áustria –  643 ;
Dinamarca – 563;
África do Sul – 552;
República Checa – 317;
Finlândia – 312;
Israel – 281;
Coreia do Sul – 269;
Noruega – 235;
Grécia – 173;
Austrália – 103;
Cuba – 82;
Singapura – 23;
Nova Zelândia – 22;
Islândia – 10;
Palestina – 5.

Os casos mais preocupantes são os de países com um número acima da média mundial, sendo significativo a grave situação, não só dos países mais conhecidos, mas também de países como a Alemanha, a Holanda e a Suécia, até há algum tempo apontados como “exemplo” a seguir.

Em relação à semana anterior, a única alteração na “classificação” foi a Espanha ter ultrapassado a França.

A situação de Portugal é das menos más.

Claro que esses dados não mostram a verdadeira dimensão da tragédia, pois há que ter em conta a relação desses números com a dimensão geográfica e demográfica de cada país.

Por exemplo, se somarmos os números de todos os países da União Europeias, ultrapassam os números dos Estados Unidos, com uma dimensão geográfica e demográfica idêntica ao conjunto desses países europeus.

Por isso é necessário recorrer a outras formas de analisar esses números, como se pode observar nos quadros seguintes.

Começamos por mostrar o crescimento percentual de mortes registadas ao longo desta semana, podendo observar os países onde esse crescimento é maior, mais rápido e mais preocupantes e aqueles que registam um maior abrandamento :

África do Sul – um aumento de mortalidade de 38,34% em relação aos números registados na semana anterior (contudo, neste caso, a base de partida é um número muito baixo;
Brasil – 36,39;
Rússia – 33,51%;
Índia – 31,30%;
Palestina – 25 % (contudo parte de uma base ínfima, de…4 mortos para…5!!);
Japão – 12,74;
Canadá – 12,02;
Suécia – 10,20%;

“Velocidade” média MUNDIAL – 9,33% (10,87% na semana anterior);

Estados Unidos – 8, 77%;

PORTUGAL – 7, 61% (7,21% na semana anterior);

República Checa – 4,96%;
Grécia – 4,84%;
Reino Unido – 4,83%;
Nova Zelândia – 4,76%;
Turquia – 4,71%;
Singapura – 4,54%;
Espanha – 4,52%;
Cuba -3,79%;
Finlândia – 3,65%;
Irlanda – 3,45%;
Alemanha – 3,20%;
Austrália – 3,00%;
Bélgica – 2,48%;
Holanda – 2,46%;
Itália – 2,44%;
Irão – 2,33%;
Dinamarca – 2,17%;
Suíça – 2,10%;
Coreia do Sul – 1,89%;
França – 1,80%;
Áustria – 1,74%;
Israel – 1,44%;
Noruega – 0,85%;
China – 0%;
Islândia – 0%;

No geral regista-se um abrandamento na velocidade de crescimento.
A esmagadora dos países tiveram uma redução na percentagem de mortos em relação ao ritmo anterior.
Apenas 9 tiveram um aumento.
Um desses países onde se registou um ligeiro aumento percentual, em relação à semana anterior,  foi Portugal
O Brasil continua a ser o caso mais grave.
Os Estados Unidos deixaram de estar entre os países que tiveram um crescimento da mortalidade em relação à média de crescimento mundial.
Houve várias mudanças de posição entre os países com um crescimento inferior a 5% de mortos numa semana. Entre estes o caso pior foi o da República Checa que se aproximou dessa percentagem.
Pode-se dizer que uma percentagem de crescimento da mortalidade inferior a 5% parece representar um surto controlado e abaixo de 2% um surto praticamente terminado, sendo significativo que a França tenha entrado esta semana nesse grupo.

É também significativo que nesta lista de 35 países existam 2 que não registaram mortos por COVID-19 na última semana (embora na passada semana fossem 4).

Existe uma outra forma de observar os dados da mortalidade, a percentagem de falecidos em relação ao total de infectados, que pode ser revelador da melhor ou da pior resposta do Sistema de Saúde de cada país, da melhor ou pior actuação das autoridades, sem esquecer ainda outros factores que podem interferir, como a capacidades imunológicas da população, hábitos, envelhecimento, clima ou genética.

Hoje, pela primeira vez incluímos a indicação dos países europeus onde a vacina da BCG é administrada à maioria da população:

França – 19,85 % de mortos em relação ao número de infectados registados;
Bélgica – 16,24;
Itália – 14,29;
Reino Unido – 13,96;
Holanda – 12,84;
Suécia – 11,97;
Espanha – 12,27;
Canadá – 7,67;
Irlanda – 6,52; BCG

Média MUNDIAL – 6,33;

Brasil – 6,26;
Grécia – 5,98; BCG
Estados Unidos – 5,91;
Irão – 5,38;
China – 5,49;
Suíça -5,36;
Japão – 5,19;
Dinamarca – 4,92;
Finlândia – 4,70;
Alemanha – 4,65;

PORTUGAL– 4,32; BCG

Cuba – 4,15;
Áustria – 3,89;
República Checa – 3,50; BCG
Índia – 2,85;
Noruega – 2,80;BCG
Turquia – 2,76;
Coreia do Sul – 2,37;
África do Sul – 2,12;
Nova Zelândia – 1,90;
Israel – 1,67;
Austrália – 1,44;
Rússia – 1,07;
Palestina – 0,82;
Islândia – 0,55;BCG
Singapura. 0,06.

Este é um dos quadros que melhor consegue aferir sobre a eficácia na resposta à crise.
Mais uma vez é muito positiva a posição de Portugal, que consegue estar melhor do que países como a Holanda e a Suécia (dois mitos com “pés de barro” e em situação muito preocupante), ou que a Grécia, a Dinamarca, a Finlândia ou a Alemanha, países geralmente apontados como “exemplares”, e pouco pior que a Áustria.

Até agora o nosso debilitado (pelas medidas da Troika e do “ir além da Troika”) Sistema Nacional de Saúde tem respondido à altura dos melhores sistemas de Saúde.
Em relação à semana anterior, o Japão desceu para o grupo de países com um situação melhor do que a média mundial, enquanto a Irlanda piorou.

Esse é, aliás, o único país com a vacina obrigatória da BCG nessa situação, já que todos os outros têm um bom desempenho na resistência à doença.
Podemos considera que os países com uma mortalidade baixo de 5% demonstram uma maior resiliência aos efeitos nefastos da infecção.

Contudo, estes números podem incorrer em erro, tendo em conta algumas falhas e algumas diferenças na forma de contabilizar os infectados ou registar os mortos por COVID-9.

Não será o caso de Portugal, também bem classificado na testagem média por habitante, e uma sociedade aberta em termos informativos.

Por isso, devemos cruzar aquela informação com o último quadro, onde se registam o números de mortos por cada 100 mil habitantes, dados que, apesar de mostrarem melhor a realidade comparada, podem ser “contaminados” pela base demográfica e pela dimensão de alguns países, disfarçando a gravidade da situação, muitas vezes concentrada apenas em certas zonas, como é o caso do Brasil.

Mesmo assim aqui deixamos esse último quadro:

Bélgica – 81,48 mortos por cada 100 mil habitantes;
Espanha – 62,12;
Reino Unido – 56,09;
Itália – 54,56;
França – 42,50;
Suécia – 40,34;
Holanda – 33,85;
Irlanda – 33,25;
Estados Unidos -29,85;
Suíça – 19,31;
Canadá – 17,54;

PORTUGAL – 13,04;

Brasil – 11,66;
Alemanha – 10,06;
Dinamarca – 9,69;
Irão – 9,13;
Áustria – 7,25;
Finlândia – 5,65;
Turquia – 5,28;

MÉDIA MUNDIAL – 4,56;

Noruega – 4,37;
Israel – 3,05;
República Checa – 2,96;
Islândia – 2,73;
Rússia – 2,70;
Grécia – 1,61;
África do Sul – 0,93;
Cuba – 0,73;
Japão – 0,68;
Coreia do Sul – 0,51;
Nova Zelândia – 0,44;
Singapura – 0,40
Austrália – 0,40;
China – 0,33;
Índia – 0,31;
Palestina – 0,10.

Este tipo de observação parece, contudo, distorcer bastante a realidade, “beneficiando” principalmente os países de grandes dimensões, devido à concentração regional dos surtos, com acontece, por exemplo, com o Brasil e a Rússia.

Neste quadro Portugal não se sai tão bem como nos anteriores, apesar de a mortalidade ser relativamente baixa, mas mantendo-se próximo de países ditos “exemplares” como a Alemanha, a Dinamarca ou a Áustria.
Em relação à semana anterior há a registar a subida da Holanda, a ultrapassar a Irlanda e a subida do Brasil em 3 lugares, enquanto a Noruega deixou de fazer parte dos países com uma média pior que a média mundial

Sem mais comentários, fiquem com os dados e tirem as vossas conclusões.

Voltaremos para a semana com nova análise dos dados.

domingo, 24 de maio de 2020

A incrível página do The New York Times



O vírus que alimenta monstros.


A “santa aliança” neoliberal-passos-coelhismo-direita conservadora-extrema direita, tem andado especialmente activa nas redes sociais ao longo destes dias de “confinamento”, tanto por cá, como por “lá”.

Das constantes “feke news” e meias verdades do costume, “com alguma verdade à mistura para a mentira se tornar segura” (já dizia o poeta Aleixo), à exploração irracional do medo, o objectivo é espalhar ignorância sobre o vírus.

Lendo essa gente, quase se diria que o vírus é um novo Stalin criado artificialmente em laboratório para acabar com a civilização cristã!!!

Há os que desvalorizam esse activismo ignóbil, defendendo mesmo que o vírus, pelo mau exemplo dado por Bolsonaro ou Trump, se vai tornar um vírus contra o populismo.

Enganam-se.

É ver o que se tem passado na Hungria e na Polónia, onde o vírus serviu que nem uma luva para reforçar as duas primeiras “quase” ditaduras no seio da União Europeia, as chamadas “democracias ILIBERAIS”.

Tem também servido para reforçar autoritarismos de outras estirpes, do chinês ao russo, do turco ao israelita, do indiano ao filipino, do brasileiro ao venezuelano…

Por cá, é ver o activismo crescente do Chega e aliados, do Vox e dos franquistas disfarçados do PP, dos lepenistas em França ou dos neonazis alemães, sem esquecer a Liga Norte em Itália.

O medo, a ignorância e o desespero sempre foram um bom alimento  para a intolerância extremista.

Por cá o inimigo a abater por essa gente é a DGS e, a nível mundial, a OMS.

Para esse discurso ignorante e intolerante crescer precisa de dar rosto aos inimigos.

O inimigo comum dessa gente é a Organização Mundial de Saúde, juntando o condimento da hipótese, já desmentida cientificamente, de o vírus ter sido criado em laboratório e de uma pretensa conspiração chinesa contra o “ocidente”.

É um facto que a OMS revelou algumas hesitações iniciais quanto à atitude a tomar (...quem não a teve??), e que a China, uma ditadura “social-capitalista”, devido à falta de liberdade interna, levou algum tempo a divulgar e a combater o novo coronavírus, alimentando as mais variadas teorias da conspiração, uma das grandes especialidades da “santa aliança”.

Contudo a OMS tem sido uma organização eficaz no combate a várias doenças, até porque reúne à sua volta muitos cientistas e laboratórios.

A destruição do trabalho da OMS, partindo de uma mistura de argumentos válidos com “fake news” diversas, interessa a muita gente.

Em primeiro lugar, a três países governados por ignorantes e/ou criminosos activos, o Brasil,  Austrália,  os Estados Unidos, Israel...;

Em segundo lugar, ao poderoso lobbie da indústria farmacêutica, pouco interessado em solidarizar-se com os países pobres, se e quando for descoberta uma vacina ou uma cura, não prescindindo dos lucros fabulosos que podem vir a obter;

Pelo contrário, é importante fortalecer organizações como a  OMS, embora seja necessário fazer um balanço do que correu mal, para que algumas situações de descoordenação não se voltem a registar.

Tentar fazer do vírus e do combate contra os seus efeitos uma questão partidária, e ideológica, como o pretendem fazer os adeptos da “santa aliança”, essa sim, é uma atitude realmente ignóbil e até anti-humanitária.

O exemplo de Bolsonaro e de Trump devia ser suficiente para nos vacinar contra esses demagogos que proliferam nas redes sociais.

Mas temo que, mais uma vez, com aconteceu muitas vezes ao longo da história, a ignorância, a intolerância e a mentira acabem por fazer o seu caminho.