Nas redes sociais o debate sobre o Covid-19 está cheio de irreais
imaginários fanáticos e enraivecidos.
Das teorias da conspiração (o “vírus fabricado em laboratório”, os
“números escondidos”, os remédios “milagrosos”…) ao voyerismo social (andar de
régua em punho e máquina fotográfica a medir as distâncias nas ruas, nas praias
e nas esplanadas) tudo serve para “afastar” o medo e revelar o irracionalismo
ignorante, intolerante e fanático de muitos.
Ponto alto desse “debate” foram a celebração do 25 de Abril e,
especialmente, a comemoração do 1º de Maio na Alameda.
Revelei dúvidas sobre esta comemoração, não tanto por achar que, pela
forma como foi organizado o 1º de Maio, houvesse qualquer risco para a saúde
pública, mas porque iria alimentar a argumentação fanática de alguns.
Não só essas comemorações, como seria previsível, não provocaram
qualquer surto, como até colocaram a “barra” muito acima para quem, no futuro,
queira organizar um evento público ao ar livre, em tempo de epidemia.
Fizeram-se até comparações absurdas com o 13 de Maio, situações
diferentes, embora até se pudesse ter organizado se houvesse a mesma capacidade
de organização demonstrada pela CGTP (isto é, apenas com uns mil padres e
freiras distribuídos pelo espaço de Fátima, única comparação possível com o 1º
de Maio…mas que nada tinha a haver com o espírito de Fátima, como sabe a
hierarquia da Igreja, encerrando aí a polémica alimentada por alguns sectores
mais fanatizados da direita).
Agora voltou a surgir o 1º de Maio na argumentação desses mesmos
fanáticos, a propósito do aumento de casos de COVID-19 na região de Lisboa e,
especialmente, num bairro pobre do Seixal.
Para esses, isto foi o resultado da 1º de Maio !!!!???
Ou seja, um surto que se começou a revelar a partir do dia 17 de Maio,
com principal incidência a partir do 25 de Maio…teria resultado da deslocação
de sindicalistas da outra margem transportados em autocarros da Câmara do Seixal
para …o 1º de Maio!!!!
Na pressa de alimentarem o seu fanatismo “esqueceram-se” de alguns
“pormenores”: que se saiba, a doença
revela-se geralmente entre o 4º e o 5º dia após a contaminação e, em casos
menos frequentes, até 14 dias; os habitantes do bairro do Seixal, onde se
revelou o surto, não tem ligação com os presentes no 1º de Maio; os maiores
surtos da região de Lisboa registaram-se em Sintra, Cascais e Oeiras,
localidades pouco dadas a manifestações “esquerdistas”….
Ora esse surto passou-se mais de 17 dias depois do 1º de Maio, a não
ser que consideram que os “esquerdalhos” (como eles apelidam sindicalistas)
sejam tão ruins que o “bicho” só se revela neles muito para além do tempo médio
e cientificamente provado do seu desenvolvimento!!!!
Não deixa também de ser curioso que os mesmos que se apressaram a fazer
essas absurdas comparações e relações da “causa-efeito”, sejam os mesmos que
encheram as suas páginas com loas de apoio às manifestações da extrema-direita
espanhola da Vox, defendendo uma “causa” diferente daquela que dizem defender
por cá. Essa manifestação era contra as medidas de contenção impostas pelo
governo espanhol, medidas essas que foram muito mais tardias e moderadas do que
as tomadas por cá.
Enfim, a cegueira intolerante e fanática de alguns conduziram-nos a
alimentar um absurdo mundo “irreal imaginário”!
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