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sexta-feira, 1 de maio de 2020

COVID-19 : A falácia do “exemplo” sueco.



Para alguns jornalistas e comentadores tudo serve para tentar entalar a acção do governo português no combate à COVID-19.  

Não que, aqui ou ali, não exista um ou outro motivo de crítica, mas essa critica deve ser fundamentada em vez de ser baseada em mitos ou meras mentiras.

Ontem, na entrevista da RTP 1 ao primeiro-ministro, não faltou uma pergunta rasteirosa, mas falaciosa.

Um dos jornalistas tentou “atirar” para a discussão o “exemplo” sueco, uma das falácias que muita “tinta” tem feito correr entre comentadores e nas redes sociais .

Ora, uma das funções do jornalismo, para se diferenciar das fake news a correr em sites malhosos de extrema-direita, é dar a informação correcta.

Bastava ao jornalista ter-se informado sobre os números suecos da COVID-19 para ter evitado ter feito má figura.

Ainda ontem tínhamos consultado os últimos dados divulgados pela OMS e, o que mais nos saltou à vista na consulta desses dados foi o desfazer ou o confirmar de alguns mitos falaciosos que por aí circulam.

Já tinha caído por terra a “superioridade” da acção do governo holandês na acção face ao COVID-19. Está a confirmar-se a mesma falácia em relação à Alemanha.

Mas o caso Sueco, esse então é paradigmático da falsidade dos que andam por aí argumentar, com o falso “exemplo” Sueco.

Vamos então aos números.

Quer a Suécia, quer Portugal têm, mais ou menos, o mesmo número estimado de habitantes em 2019, cerca de 10 milhões e duzentos mil habitantes.

Contudo existem diferenças que até beneficiam a Suécia em relação a Portugal para enfrentar uma crise sanitária como o COVID-19.

Portugal é o terceiro país mais envelhecido da União Europeia, com índice de envelhecimento de 157,4 (nº de idosos por 100 jovens), enquanto a Suécia se fica pelos 118,8 (dados de 2018, retirados da Pordata).

Na Suécia o gasta 10,9% do PIB na saúde, contra os 8,9% de Portugal (dados de 2017).

Talvez uma das diferenças a assinalar é que, em Portugal, até 2017, a vacina da BCG era obrigatória em Portugal, ao contrário da Suécia, onde ela não é obrigatória.

No resto, a Suécia tem um nível de vida melhor que Portugal.

Até ontem , 30 de Outubro, segundo os dados da OMS (que até podem ter 24 horas de atraso), a Suécia tinha 19 621 infectados registados pelo COVID-19 e Portugal 24 322, aparentemente uma ligeira vantagem para a Suécia.

Mas todos os números a partir daí desmentem essa “superioridade”.

Até ontem a Suécia tinha registado 2 355 mortos por COVID-19. Portugal tinha 948 mortos.

É uma diferença abissal, já que esse número dá uma enorme taxa de mortalidade entre suecos, 12% dos infectados, contra os 3,89% do caso português. Ou seja 23,03 mortos por 100 mil habitantes na Suécia, contra 9,21 em Portugal.

Ora, existindo o “mito” (mais um) de que a população mais envelhecida é a mais vulnerável, os números de Portugal “deviam” ser maiores que os suecos.

Se, igualmente, o Sistema de Saúde sueco é “melhor” que o português, esse número  devia ser ainda mais acentuado.

Ora, não é nada disso que se regista. Se não é o envelhecimento, nem o sistema de saúde que explica aquela diferença abissal na mortalidade, a melhor prova dos falhanços das medida só se pode encontrar nas diferentes na medidas tomadas pelos dois países, as únicas  que justificam essa diferença de números, favorável a Portugal.

Ou seja, não é a Suécia que deve servir de exemplo a Portugal, mas o contrário.

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