Para mim, um negociante de armas ou um traficante de droga estão no mesmo patamar da ignominia humana.
Muitas vezes essas actividade andam ligadas, apoiadas num
terceiro pilar, o do mundo da alta finança especulativa.
Só gente sem escrúpulos morais e humanos se pode sentir à
vontade nessas actividades.
Esta reflexão vem a propósito da recente leitura do livro
Uma História dos Bombardeamentos, do sueco Sven Lindqvist (1932-2019), obra
editada em 1999 e só recentemente, em Fevereiro de 2025, editada entre nós pela
Antígona, com tradução de Ana Diniz.
Este livro aborda a forma como uma nova forma de fazer a
guerra desde meados do século XIX, os bombardeamentos aéreos e de longa distância,
contribuiu para uma crescente desumanização criminosa do acto de guerra.
Beneficiando da evolução tecnológica, essa forma de guerra
está na origem dos maiores massacres e genocídios iniciados pelo “civilizado”
mundo ocidental, praticado inicialmente apenas contra os povos que reagiram ao
colonialismo europeu, sem levantar grandes dilemas morais, já que esses povos
eram considerados e propagandeados como “incivilizados”, “atrasados” ou
“selvagens”, desculpando todas as formas de violência sobre eles, em muitos casos
autênticos genocidios.
Foi a partir das duas guerras mundiais que essa forma de
fazer guerra se estendeu ao solo europeu.
O livro de Lindqvist desmonta muitas das ideias feitas sobre
a superioridade moral e civilizacional do ocidente, com exemplos concretos dos
efeitos das guerras conduzidas pelo ocidente ao longo do século XX.
Aborda também os dilemas da guerra nuclear iniciada pelos
Estados Unidos, ao bombardearem, sem justificação, duas cidades japonesas. Como
explica o autor, depois do violento e desumano bombardeamento de Tóquio dias
antes, o Japão estava decidido a render-se, mas os aliado protelaram essa
negociação para poderem “experimentar” a nova bomba. Quando, após aquele crime,
muitos preconizaram tornar o uso e acesso às armas nucleares um crime de
guerra, foram, mais uma vez os Estados Unidos que impediram essa decisão, com o
resultado que conhecemos-
Infelizmente, os piores receios do autor estão hoje à vista
de todas, vivendo nós num mundo onde defender o pacifismo e contestar a
propaganda armamentista é “sinónimo” de cedência ou colaboração com o “inimigo
do ocidente” e dos “valores ocidentais”, onde o “outro” é diabolizado para
justificar o aumento de gastos com “defesa”.
Este livro é, assim, um forte manifesto anti guerra, hoje
mais actual do que nunca.
Sem comentários:
Enviar um comentário