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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Entre Rio e Montenegro…venha “o diabo”…e escolha Rio!



Tudo o que se passa no interior dos partidos do centrão, aqueles que nos governam desde que temos democracia, não pode passar indiferente ao cidadão comum.

É que, umas vezes em maioria, outras em coligação, são esses dois partidos que lideram o rumo da democracia portuguesa e não se vislumbra uma alteração a essa situação na próxima década.

A disputa pela liderança desses partidos, mesmo que não nos identifiquemos com eles, como é o meu caso, é assunto que deve preocupar todos, até porque, mesmo quem não vote neles, sofrerá as consequências das decisões dessas lideranças.

É assim que, sem me identificar com o PSD, partido que, apesar de tudo, é fundamental para o funcionamento do regime democrático português, me preocupa a situação interna nesse partido.

No PSD sempre existiram várias tendências, uma mais de centro-esquerda, muito minoritária, outra mais de centro-direita e, com Cavaco, Durão e Passos Coelho, outra de direita radical, neoliberal, intolerante e populista que tem sido dominante nos últimos tempos, mas que perdeu a liderança para Rui Rio, que, tal como o presidente de República ( e, no passado, Sá Carneiro), representa uma tendência mais “centrista” (mais liberal, dialogante, democrática e com preocupações sociais).

Sabendo-se que o PS se vai desgastando no poder, é credível que o vencedor das eleições internas do PSD possa vir a tornar-se, na próxima década, o novo primeiro-ministro, por isso não pode ser indiferente, ao cidadão comum, quem vai liderar o partido nos próximos tempos, até porque,  desta vez, existe uma diferença assinalável, quer do ponto de vista ideológico, quer do ponto de vista de estilos, entre os candidatos.

Por isso, como cidadão que já sofreu na pele as consequências das lideranças do PSD, é óbvio que torço para que seja Rio a vencer a segunda volta.

Sem me identificar com a ideologia do PSD e de Rui Rio, parece-me que, apesar de tudo, ele será um líder mais tolerante e dialogante, com preocupações sociais, mais “centrista” e mais próximo de uma democracia aberta e constitucional.

Pelo contrário, Montenegro representa tudo o que de pior existe naquele partido, que, um dia no governo, vai voltar a repor as malfadadas “reformas estruturais” (leia-se, cortes salariais e nas pensões, destruição de direitos sociais, privatização maciça de serviços públicos, destruindo o pouco que resta do nosso fraco Estado Social) do cavaquismo e do passos-coelhismo.

Para além disso, Montenegro representa o lado mais negro da política, o das negociatas de bastidores, submissão ao pior dos interesses financeiros, sem esquecer a submissão aos interesses obscuros das maçonarias, Opus-Dai e Grupo de Bildberg.

Por isso, como cidadão, que sofreu na pele (e bem) as políticas do “ir além da troika” que estão por detrás da candidatura de Montenegro, só posso dizer que…entre Rio e Montenegro venha “o diabo”…mas escolha Rio!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

LIVRE…DESCALABRO!



Confesso que me identifico com muito do que escreve e defende Rui Tavares, responsável pela criação do LIVRE.

Nas últimas eleições até torci para que esse partido conseguisse representação no Parlamento.

Penso, até, que, em termos programáticos e ideológicos, me identifico mais com o Livre do que com os outros partidos da esquerda.

Só não votei Livre nas últimas eleições por recear que o meu voto ficasse perdido e por isso votei “útil” na CDU.

Infelizmente a representação desse partido no Parlamento têm-se revelado uma autêntica desilusão.

O último episódio é a actual desorientação sobre o sentido de voto no Parlamento.

Há dois dias, depois de confirmada a abstenção da CDU e do PAN, faltava apenas um voto para garantir a aprovação do Orçamento.

Tinha sido a altura ideal para o LIVRE indicar o seu sentido de voto, surgindo então como partido imprescindível.

Infelizmente deixou-se ultrapassar pelo BE e pelo PEV que, no dia seguinte, ao indicarem o seu sentido de voto, tornaram o LIVRE irrelevante.

…Ainda agora não se percebe qual vai ser o sentido de voto desse partido.

Mais uma desilusão à esquerda!


quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Eleições 2019 – As escolhas que estão em jogo ( e a minha escolha)


(quadro com as palavras que mais se destacam no programa dos partidos que concorrem às eleições de  6 de Outubro, elaborado pelo site comunidadedeculturaearte).

Ninguém se pode queixar da falta de alternativas.

Existem partidos para todas as tendências e gostos, partidos de causas, partidos desde a extrema esquerda à extrema direita , com maior peso nos situados entre o centro direita e o centro esquerda.

Também só quem anda mesmo a leste de tudo se pode queixar de falta de esclarecimento. Os programas de quase todos os partidos estão aí disponíveis para consulta na net e os debates televisivos correram bem, foram bem orientados e esclarecedores.

Já a campanha em si mostrou-se igual ao costume, essa sim pouco esclarecedora, com os candidatos e explorarem “casos” ao sabor das sondagens.

Apesar de tudo, não existe desculpa para a abstenção, a não ser para os defensores de ditaduras, os salazaristas empedernidos, os anarquistas puros, os estalinistas rabugentos, ou quem esteja mesmo muito doente.

O voto nulo não conta para nada, nele misturam-se os ignorantes, que ainda não sabem como usar um boletim de voto, os raivosos militantes e alguns poucos engraçadinhos.

O voto em branco tem um significado mais importante, e é o único não expresso que devia valer alguma coisa, já que manifesta de forma firme um desagrado ou descontentamento com o actual sistema de partidos, mas respeitando a democracia.

Tirando isso, vamos ao que interessa.

À Direita os partidos que contam e interessam analisar são o Chega, a Iniciativa Liberal, o Aliança, o CDS e o PSD (o resto é paisagem).

O Chega é uma tentativa atabalhoada de aproveitar a onda populista e xenófoba que grassa por essa Europa fora, para além de se aproveitar da figura pública do seu líder. De resto não tem nada de novo para oferecer, a não ser a retórica racista, intolerante e populista de sempre e, esperamos, não deve conseguir eleger ninguém. O populismo de extrema-direita felizmente ainda não está maduro em Portugal…mas pode haver uma surpresa amarga, se esse partido eleger um deputado, o que seria um sério aviso à democracia.

O Aliança afirma-se à direita, uma direita europeísta e democrática, com um programa que vai do neoliberalismo à social-democracia, procurando agrupar à sua volta os eleitores do PSD mais à direita, os herdeiros do “passos-coelhismo” de má memória. De resto vive do carisma do seu líder, facto que pode pesar mais na eleição de um ou mais deputados  para as legislativas. Nada de mal, e seria uma lufada de ar fresco à direita.

A Iniciativa Liberal é o primeiro partido a assumir, sem vergonha, um programa neoliberal, procurando igualmente navegar no eleitorado “passos-coelhista” descontente com o PSD, não se distinguindo muito da Aliança, o seu principal concorrente na conquista de eleitores nestas eleições. Para mim o neoliberalismo é mais perigoso, para o bem estar generalizado dos cidadãos, do que a extrema-direita populista, sem grande crédito por estes lados. Vai disputar a conquista de um deputado com a Aliança. O que um ganhar, o outro perde, ou vice-versa.

O CDS é um partido da Direita bem comportada, o único partido “institucional” que fez uma oposição coerente de direita à geringonça e que pode continuar a funcionar como travão à extrema-direita e ao populismo de direita. A sua situação  pode revelar-se dramática se voltar a ser o “partido do Táxi” ou se estiver a disputar a sua posição, não com o BE ou o PCP, como pretendia, mas com o PAN.

O PSD apresenta-se fragilizado nas eleições pelo peso da memória “passos-coelhista” e do “ir além da Troika”. Enquanto os eleitores do centro, da classe média, alguns do centro-esquerda, que lhe davam as vitórias e as maiorias, se lembrar desses tempos, tudo vai correr mal a esse partido histórico e essencial para a democracia. Mesmo sendo Rui Rio um dos líderes mais ao centro da sua história e um crítico dos excessos antissociais do “passos-coelhismo”, isso não parece ser suficiente para recuperar a sua importância política. Rui Rio tem de enfrentar, de um lado aqueles eleitores históricos que abandonaram o partido, dividindo o seu voto entre  o PS e a Aliança, e aqueles outros com saudades de Passos Coelho e do Inferno por ele anunciado e praticado, que vão  dividir o seu voto entre o CDS, a Aliança, a Iniciativa Liberal ou a abstenção.

Se a direita, no seu todo, partiu para essas eleições como a grande derrotada, o caso Tancos, a possibilidade de uma maioria absoluta do PS e o regresso do fantasma de Sócrates podem mobilizar esses eleitores e evitar a anunciada derrocada.

O pior de tudo, para a direita, era baixar a sua representação parlamentar para menos de 1/3 e que o seu principal partido ficasse próximo ou abaixo dos 22%.

Pela nossa parte, esperamos que a direita democrática, isto é, o CDS, o PSD e, eventualmente, a Aliança, mantenham alguma importância no Parlamento pois, caso contrário, estamos sujeitos ao regresso do sinistro neoliberalismo de Passos Coelho, abrindo-se também espaço para o crescimento do populismo de extrema-direita.

À Esquerda, os partidos que contam são o PS, o PCP, o BE, o Livre e (vamos coloca-lo aqui) o PAN.

O PS é o vencedor pré anunciado destas eleições, embora o caso Tancos venha abalar alguma coisa. Havia há uma semana a possibilidade de obter a maioria absoluta, pretensão não anunciada mas desejada no seu seio ( e no seio de alguma direita e dos comentadores neoliberais que viam nisso a possibilidade desse partido se livrar da influência à sua esquerda).

Uma maioria absoluta do PS seria o regresso aos métodos arrogantes do socratismo, ao PS dos “negócios” e das “negociatas”, com os custos do costume.

Claro que não existe governo à esquerda sem o PS, com afirmou Manuel Alegre, mas o PS só governa à esquerda quando depende do apoio dos partidos à esquerda.

O PCP luta nestas eleições por manter a influência que teve nestes últimos quatro anos. É o único partido que, de forma coerente e combativa, tem defendido os mais desfavorecidos e os direitos de quem trabalha, mas não vai muito longe se mantiver a retórica e a linguagem de “pau” , pouco atractiva e pouco inovadora, continuando a sonhar com os amanhãs que cantam e sem se desmarcar do desastre do “socialismo real”. Continuará a ser um voto de protesto, mas pouco convicto, o que dificulta a sua afirmação junto do eleitorado mais jovem, necessário à sua renovação. Apesar de tudo é um partido essencial à democracia. Seria uma tragédia para aqueles que ele defende que este partido se transformasse, não tanto no partido do Táxi, mas no partido da carrinha de 10 lugares…

O Bloco de Esquerda pode sair destas eleições como o grande vencedor da noite. Basta-lhe ultrapassar os dois digito, ser o terceiro mais votado e tornar-se essencial à governação do PS.
O seu discurso mais moderado, o facto de ter na sua liderança uma figura forte e afirmativa como Catarina Martins, podem atrair muitos eleitores da esquerda que não querem uma maioria absoluta do PS. Mas este pode ser um dos perigos para o futuro do partido, tornar-se uma espécie de “ala esquerda” do PS.

O Livre é talvez o que de mais inovador e interessante apareceu à esquerda, mas votar nele pode ser um risco de um voto perdido, caso, mais uma vez, falhe o seu objectivo de eleger, pelo menos, um deputado, possibilidade que existe no círculo de Lisboa, mas pouco seguro.
A sua presença no parlamento seria uma lufada de ar fresco no sector de esquerda do hemiciclo.

Deixámos para o fim o PAN, a grande novidade da última legislatura. Não se definindo nem à esquerda nem à direita, contribui para aumentar a ambiguidade do seu posicionamento. Para nós a defesa consequente e coerente do ambiente, bandeira usada da direita à esquerda, só pode ter resultado com politicas à esquerda, já que só se pode defender a Natureza e o ambiente do perigos que estão aí à porta combatendo o capitalismo, nomeadamente o interesse das grandes empresas, os interesses financeiros e as teorias neoliberais e especulativas,   com medidas que reforcem o cooperativismo sobre o hedonismo. E isto é... de “esquerda”.
O PAN poderá ser um dos vencedores da noite. Negativo seria que esse partido se tornasse a muleta do PS, como forma de este prescindir do BE e do PCP.

Pela minha parte, espero que o PS ganhe, mas sem maioria absoluta, que tenha de negociar com a sua esquerda, BE e PCP, que o PCP não perca influência, que o BE e o PCP fiquem à frente do CDS, que o PAN aumente a sua representação, que o LIVRE consiga pelo menos um deputado, que a direita, no seu conjunto, não tenha maioria absoluta, mas sem descalabro do PSD, que a Aliança possa ter pelo menos um representante.

Pelo contrário, espero que o PSD e o CDS não consigam formar maioria, que o CDS não ultrapasse nem o PCP nem o BE, que a Iniciativa Liberal e o Chega não consigam chegar ao parlamento.

Pessoalmente, vou tentar contribuir para uma vitória da esquerda, mas sem maioria absoluta do PS e por isso, tendo de decidir entre o BE e o PCP….apesar de tudo irei vota PCP.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Por favor, salvem o PSD!



Não, não me converti ao PSD.

Não, não simpatizo com um partido que se diz popular e tem sido apoiante e executor de medidas antipopulares, como aconteceu com o “ir além da troika”.

Também não simpatizo com um partido que anda por  aí a enganar toda a gente a dizer-se “social-democrata”, mas tudo o que tem feito é apoucar o nosso já de si débil Estado Social e a retirar direitos a quem trabalha.

Muito menos simpatizo com o mal disfarçado neoliberalismo que é a matriz actual desse partido.

Sim, simpatizei, mantendo-me à distância, com a coragem de Sá Carneiro que disse e escreveu coisas sobre Portugal, tanto antes como depois do 25 de Abril,  que hoje seriam consideradas, pela maior parte dos seus actuais militantes e simpatizantes, como sendo de “extrema-esquerda” ou “venezuelanas” (acham que estou a exagerar? Então leiam o que ele escreveu, ele que era, de facto, um social-democrata).

Mas, apesar das distâncias e das divergências, penso que esse partido é fundamental para o funcionamento da democracia portuguesa, nem que seja para travar o avanço do populismo de extrema-direita.

O PSD tem um papel pedagógico na direita portuguesa, canalizando para a democracia os órfãos do Estado Novo salazarista e as novas gerações populistas da direita e neoliberais.

Se esse partido se desboroar, abre-se espaço em Portugal para a extrema-direita e esse é, para mim, o maior perigo que a democracia portuguesa vai ter de enfrentar nos próximos tempos.

Por isso apelo às pessoas de bom senso e democráticas que, dentro do PSD, sobreviveram ao cavaquismo e ao passos-coelhismo, para não deixarem morrer o PSD e o salvem da confusão que os está a devastar.

E, não, não estou a ironizar.

Eu sou de esquerda, não desejo que o PSD volte ao poder nos próximos tempos, mas também sei que não há democracia sem um forte partido democrático de direita. O PSD  (e o CDS…mas isso é outra história..) ainda é esse partido.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

E Agora Brasil?



O voto em Bolsonaro foi um voto de desespero, medo e indignação, mas , acima de tudo, um voto irracional.

Mas, ao contrário de Trump, Le Pen, Órban ou Salvini, Bolsonaro não disfarça as suas ideias fascistas.

Beneficiou do silêncio a que se remeteu durante a campanha, e usou a seu favor, o desespero, o medo, a indignação dos brasileiros contra a corrupção que mina a democracia deste país.

Esse é o alimento do fascismo  e do populismo. Está tudo explicado nos manuais de História.

Os 50 milhões que nele votaram não são, na sua esmagadora maioria, fascistas.

Por isso, acredito, quando Bolsonaro começar a abrir a boca, e esperamos que o faça muitas vezes durante as próximas três semanas, quando for confrontado com as soluções que [não]  tem para o Brasil, muitos que usaram a votação em Bolsonaro como voto de protesto vão acordar para a realidade, esperemos que ainda a tempo de alterarem o seu sentido de voto, nem que seja para o voto nulo ou em branco.

Claro que a alternativa é problemática.

Pessoalmente teria votado Ciro Gomes na primeira volta.

Mas Haddad, tendo a seu desfavor a sua ligação a Lula e a um PT identificado com a corrupção, não é Lula nem está envolvido, que se saiba, na onda de corrupção que varreu toda a classe politica brasileira, diga-se, em abono da verdade, da direita à esquerda.

Haddad, pelo contrário, está ligado ao lado positivo dos primeiros governos do PT, que conduziram o Brasil a um raro e curto período de desenvolvimento e pacificação.

Haddad também está ligado à ala liberal e moderada do PT e é, por isso, das figuras com melhores condições para atrair eleitorado ao centro e de outros candidatos democráticos .

Apesar da recente imagem negativa da esquerda no Brasil, não só por culpa dos erros do PT, mas também pela imagem da vizinha Venezuela, governada por um cretino ignorante que, ao classificar-se de “esquerda”, é uma vergonha para toda a esquerda, Haddad não é Maduro.

Acredito que os brasileiros vão perceber a tempo o beco sem saída onde se arriscam a cair se elegerem Bolsonaro.

E, ao mesmo tempo, Haddad é o melhor candidato que o PT podia apresentar para renovar a esquerda brasileira e fazer pontes com a sociedade democrática brasileira.

A maioria dos 50 milhões de  brasileiros que votaram Bolsonaro na primeira volta, ainda vão a tempo de salvar a democracia e de mostrarem que, apesar da indignação, não são ignorantes nem fascistas.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Iniciar o ano a cavalgar a demagogia


O ano de 2017  foi um ano bipolar, onde se viveram momentos únicos, com grandes conquistas para Portugal em vários domínios, mas onde se revelou outra face menos abonatória, como a tragédia dos incêndios ou a ignóbil situação da Raríssima, só para recordar dois casos.

Foi também o ano em que, talvez para seguir a moda de Trump, a politica e o jornalismo se foi fazendo ao sabor da gritaria das redes sociais, revelando alguma desorientação entre governantes e oposição.

O último caso foi o da aprovação da “lei do financiamento dos partidos”, que trouxe ao de cima duas faces do pior que existe na politica e na comunicação social, o secretismo das decisões e a mais pura demagogia dos que a elas de opuseram.

E, como não podia deixar de ser, o Presidente da República acabou por tomar a única decisão lógica, que foi a de vetar essa lei, sem contudo se ter demarcado da onda demagógica que se tem gerado à volta desse facto.

Para mim, parece-me que a lei em si tem aspectos positivos, tendo em vista fiscalizar melhor as contas dos partidos. O problema foi a forma atabalhoada como tudo foi decidido.

Os partidos aprovaram a lei quase em segredo, talvez com receio da demagogia que essa medida ia provocar nas redes sociais, sem coragem para a enfrentar e denunciar.

Os que não a aprovaram, em especial o CDS, pelo contrário, procuraram navegar e alimentar a onda  demagógica que tal medida provocou.

Todos eles, apoiantes da lei e detractores, têm  agora uma oportunidade soberana para emendarem a mão e explicarem as virtualidades da lei, clarificando e emendando o que de menos claro ela contem.

A alternativa é o crescimento da demagogia populista anti partido e antidemocrática à qual o país tem escapado, mas dominante nas redes socias.

É um mau presságio para o inicio do ano.

...mesmo assim, Bom Ano para todos!


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A evolução política em Portugal - Um quadro que explica muito da actual situação:


Extrema - esquerda
Esquerda revolucionária
Esquerda
Centro-esquerda
Centro
Centro-direita
Direita
Conservadora
Direita neoliberal
Extrema Direita
1975
AOC(PCP-ml) > (PSD);
MRPP
 > (UDP, PSD, PS)
UDP   
LUAR > (PS)
PRP >(BE)
LCI >(PSR)
PRT >(PSR)
PCP
MDP>(PCP, PS)
MES >(PS)
FSP >(PS)
PS
PSD
CDS



1985
 MRPP
UDP
PCP > (PS)
PSR
PS
PRD >(PS, PSD)
PSD
CDS


1995

MRPP
UDP >(BE)
PCP
PSR >(BE)
PS

PSD
CDS


2005

 MRPP
PCP
BE

PS
PSD

CDS
PNR 
2015

 MRPP
PCP
BE
PS
PAN



PSD
CDS
 PNR
(o símbolo “ >”  indica para onde foi a maior parte dos seus dirigente e militantes  mais conhecidos ao longo do tempo , indicando-se entre parêntesis os partidos de “destino”)

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O RESPIGO DA SEMANA -“O casamento é difícil, mas podem ter a certeza de que o divórcio é muitíssimo mais difícil" Por JOSÉ PACHECO PEREIRA


O casamento é difícil, mas podem ter a certeza de que o divórcio é muitíssimo mais difícil"

Por JOSÉ PACHECO PEREIRA, in Público de  31/10/2015 .

“A esquerda portuguesa prepara-se para um casamento, ou, se se quiser, para uma união de facto. Terá os seus votos de noivado no momento em que derrubar o Governo PSD-CDS e casará no dia em que um Governo do PS, com participação ou apoio do BE e do PCP, for empossado pelo Presidente e vir o seu programa aprovado pela Assembleia. O casamento poderá ter muitas fórmulas, ter ou não “papel passado”, diferentes regimes de bens, ser um casamento de necessidade com mais ou menos “amor”, juntarão ou não os “trapinhos”, mas, seja qual for a fórmula, vão selar o seu destino.

“O casamento não se faz em momentos amáveis, após uma longa coabitação ou namoro, mas faz-se em circunstâncias dramáticas, com muitos a prepararem-se para deitar pedras em vez de confetis, e, queira-se ou não, contra muitos que não o desejam, e que pensam que ele não vai resultar. Mesmo nos melhores amigos dos esposos, há muito mais prudência e reserva do que confiança pura e simples. É um casamento de alto risco e tem muita coisa que o pode levar a correr mal. Mas há uma coisa que os esposos devem ter clara na sua cabeça, escrita em letras de fogo, tatuada nas mãos e nos braços, para que estejam sempre a ver, é que o divórcio será muito mais gravoso e penoso.

“Há várias coisas de que todos os que abraçam esta solução de um Governo de esquerda devem saber, uma das quais é que nada contribuirá mais a favor da legitimidade da solução encontrada do que se cumprir a legislatura inteira. E, se há coisa que este Governo precisa é de um acrescento de legitimidade política, visto que legitimidade formal, tem-na. E isso só vem de governar razoavelmente, onde o óptimo é inimigo do bom, e se o fizer com durabilidade, provocará um ponto sem retorno na vida política portuguesa. Até lá, as fragilidades serão enormes e exigem de quem é parte desta solução que se atenha ao essencial, sem hesitações.

“Se o esquecerem, garantem para muitas décadas que a direita governe Portugal, não de forma amável e delicodoce, como esteve neste ano eleitoral (e está agora a pensar que nos engana com Ministérios da Cultura), mas de forma vingativa e agressiva. A direita que se vai levantar das cinzas de um Governo de esquerda, caia ele pelo PS, pelo BE ou pelo PCP, falará a mesma linguagem que hoje usam Nuno Melo, Paulo Rangel e os articulistas do Observador. E, por trás dela, em formação regular e militar, estarão os anónimos comentadores, genuínos e avençados, que pululam nas redes sociais, que espumam de fúria e falam numa linguagem que torna o pior do PREC num conjunto de amabilidades. Estes anos de crise do “ajustamento” alimentaram todos os monstros e deram-lhes uma sustentação em fortes interesses, que eles sabem muito bem quanto é perigoso o que se está a passar para a hegemonia assente no autoritarismo do “não há alternativa”. De um lado sabe-se, espero que do outro também se saiba.

“Qualquer queda do Governo, em particular se os motivos dessa queda estão na desunião, antes de ter tido tempo necessário para mostrar que é uma melhor solução para as pessoas e para o país do que a continuidade dos “mesmos”, penalizará fortemente toda a esquerda e não só PS, mas também o PCP e o BE. O rasto de azedume e o atirar mútuo de culpas e recriminações irão durar muitos anos e bloquearão a repetição da experiência.

“É por isso que é vital compreender que esta alternativa exige uma enorme firmeza e capacidade de separar o essencial do secundário. Não se está a jogar a feijões, isto é tudo muito a sério, demasiado a sério, para ser apenas um devaneio ideológico e experimental de homenzinhos e mulherzinhas, mas é para homens e mulheres a sério. Ou então mais vale irem para a casa medíocre do Portugal submisso onde as hierarquias do poder e do dinheiro fazem o que querem, para além da lei e da ética.

“Portanto, se entram numa solução deste tipo, têm que dar, neste caso ao PS, alguma margem de manobra para fazer o equilibrismo financeiro que é necessário para cumprir, sem qualquer zelo, o Tratado Orçamental, antes de haver alguma negociação que o modere. Isto exige compreender que não é a mesma coisa ser um Governo PS a fazê-lo nestas circunstâncias graves do que ser um Governo da coligação PSD-CDS. Nem para o bem, nem para o mal. Quando os salários e as pensões forem recuperados, como aliás a coligação também disse que ia fazer, para quem vê o que recebe no fim do mês aumentar, faz toda a diferença saber se isso vem de um Governo de esquerda, que lhe dirá que o faz porque isso é a reposição de um direito que foi sonegado, e que é bom para economia, ou da coligação PSD-CDS, que lhe dirá (se o fizer) que isso se deve à justeza da sua política económica e quererá dessa eventual devolução justificar outros cortes de salários ou pensões e, mais grave ainda, o corte de direitos económicos, sociais e políticos, para prosseguir a mesma política de desigualdade social. Insisto, faz toda a diferença e as pessoas sabem isso.

“PS, PCP e BE devem compreender que não ser a coligação PSD-CDS a governar é um factor de tão grande importância que, mesmo que o PS tenha que manter algumas políticas vindas do mesmo obscuro poço europeu, não é a mesma coisa do que se fosse um Governo PSD-CDS a fazê-lo. A “farinha do mesmo saco” era verdadeira até que o PS se distanciou daquela que era a sua expressão política, o “arco da governação”, e abriu um espaço para mudar a farinha ou o saco. Pode vir a fracassar, mas reconheça-se que está a tentar, correndo imensos riscos. Isso exige que o BE e o PCP lhe dêem uma contrapartida que pode ser mínima, mas que tem que ser sólida.

“Acresce este aspecto de que não se tem falado: se houver queda de um Governo PS, porque um Presidente hostil ao entendimento à esquerda e próximo do PSD-CDS quer convocar eleições, a aliança política que está a sustentar um Governo de esquerda tem que ir junta, coligada ou pactuada, às eleições. Pode o acordo ser apenas uma futura promessa de entendimento parlamentar, mas PCP, BE e PS não têm muita margem de manobra para defrontarem cada um de per si uma coligação sólida de direita. As vantagens de medirem os seus votos é ínfima, comparada com o que vão perder se se tornarem responsáveis pela queda de uma solução de alto risco, e, por isso, criadora e nova. O que estão a fazer, implica consequências, senão ficam presos na frase de Saint-Just a propósito da Revolução Francesa, “quem quer fazer a revolução pela metade está apenas a cavar o seu próprio túmulo”. Não se trata de uma revolução, mas é uma mudança tão relevante, que implica idênticos riscos.

“Por isso, tudo o que se está a fazer nestes dias pode ser uma clamorosa derrota, ou uma mudança na relação das forças na política portuguesa. Só essa mudança pode reequilibrar a enorme deslocação à direita que se deu nos últimos anos no PSD e no CDS e a desertificação do centro. Qualquer tentativa, mais que necessária, de reconstruir o centro político, o lugar das reformas e da moderação, que era tradicionalmente o lugar que PSD e PS partilhavam, só pode realizar-se após este reequilíbrio que o acesso de toda a esquerda ao poder pode permitir. O risco aí é cristalizar uma bipolarização esquerda-direita, frente contra frente, que impeça qualquer emergência de um centro-direita, ou centro-esquerda. Mas isso é uma conversa para ter depois.

“Se houver uma recuperação da dinâmica da classe média, destruída e radicalizada nestes últimos anos, um afastamento e uma mitigação do poder do PPE, que é aquilo a que hoje chamamos “Europa” (e isso faz com que a experiência portuguesa seja decisiva para as eleições espanholas ainda em 2015), um efeito de moderação, pela experiência de governação, de partidos como o BE e o PCP, uma melhoria das condições de vida dos portugueses e um retomar da sua dignidade, um repor dos equilíbrios no mundo laboral, uma diminuição da radicalização inscrita na sociedade pelo aumento das desigualdades, o extremismo da direita pode ficar acantonado e perder força. Vamos ver”.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015