O "argumentário" de comentadores habituais, como Miguel Sousa Tavares e outros “achistas” do seu
gabarito, usado para denegrir os professores (existirão
razões do foro psiquiátrico que desconhecemos, que justificam tanto rancor???…),
baseia-se num conjunto de meias-verdades, má fé e num conjunto de falácias :
Primeira
falácia:
- Que os
professores não podem ser privilegiados em relação a outros sectores da Função
Pública!
Esta primeira
falácia foi hoje desmentida pela seguinte notícia do Diário de Notícias (leiam
principalmente o nosso sublinhado):
“Para Pedro
Bacelar de Vasconcelos, constitucionalista e atual deputado do PS, liderando a
Comissão de Assuntos Constitucionais na Assembleia da República, o facto de o
governo estar já a reposicionar na carreira outros setores da Administração
Pública que também sofreram o "congelamento" não implica a
existência de uma inconstitucionalidade.
"Mesmo
tendo o governo já aprovado a devolução, sem restrições, do tempo de serviço
congelado à maioria dos trabalhadores da Administração Pública com carreiras
gerais, deixando de fora - para já - apenas as que têm regimes específicos,
como é o caso dos professores e dos polícias.
"Estamos
a falar de políticas que têm também uma componente contratual, de negociação
das carreiras e diferenças específicas quanto ao estatuto", defende ao DN,
considerando "altamente improvável" a existência de uma
inconstitucionalidade, "não a excluindo por completo"
"Já
para Jorge Bacelar Gouveia, constitucionalista mais próximo do PSD, é
"claro que há uma desigualdade de tratamento" face a outros
trabalhadores. "isso parece-me evidente: viola o princípio da
igualdade e também viola o princípio da confiança", diz, lembrando os
compromissos assumidos sobre essa matéria.
"Recorde-se
que além da devolução do tempo de serviço congelado ter sido objeto de um
acordo de princípio, assinado em novembro entre os ministério das Finanças e da
Educação e os sindicatos, a medida foi inscrita no orçamento do Estado deste
ano, no artigo 19.º, tendo ainda sido objeto de um projeto de resolução
aprovado por unanimidade na Assembleia da República”.
(sublinhado
meu)
(in Pedro
Sousa Tavares, “Quem tem razão na luta dos professores? Juristas divididos”,
edição de 6/6/2018 do “Diário de Notícias”).
Ou seja, não
são os professores os “privilegiados”
nesta situação, mas outros sectores da Administração Pública.
Segunda
Falácia:
- Que os
custos para o estado da contagem integral do tempo de serviço vão custar ao
país cerca de 600 milhões de euros anuais.
Não se
percebe onde se foi buscar esse número. Dividindo-o pelos cerca de 120 mil
professores abrangidos pela medida (outro número a confirmar) dava qualquer
coisa como 5 mil euros por ano a mais para cada professor…!!!!
Mas mesmo
que esse número fosse o necessário para dignificar uma carreira, onde a maioria
dos professores ganham pouco mais de mil euros por mês, pagam do seu bolso
deslocações diárias de dezenas ou centenas de quilómetros e sofrem todo o tipo
de pressões sociais, perdendo direitos todos os anos, pelo menos ao longo do
últimos 15 anos, e ainda têm de fazer formação regular (apesar de terem
estudado vários anos para se licenciarem), talvez até não seja
demasiado.
Como é que
alguém que, para dizer meia hora de baboseiras semanais na comunicação social,
umas mais certeiras, outras menos, (como acontece com qualquer pessoa informada…mas ninguém recebe salário por isso...),
recebe de salário muito mais do que aquilo um professor, no topo da carreira, não sonha receber, se pode atrever a falar no salário dos outros???
E como é que
existe “lata”, por parte de muito comentador, para se indignarem com os tais
hipotéticos 600 milhões e ficar impávido e sereno perante a notícia, saída neste
fim-de-semana, segundo a qual os portugueses pagaram 17 MIL MILHÕES DE EUROS
para salvar a banca nos últimos dez anos (ou seja…MIL E SETECENTOS MILHÕES DE
EUROS POR ANO PARA A BANCA!!!!).
TERCEIRA
FALÁCIA
- Não há
desemprego entre professores.
Esta é uma
das falácias mais complicadas de provar.
Mas existe
desemprego entre professores, só que ele confunde-se mais com emprego precário
do que com o conceito clássico de desemprego.
Aliás, mesmo
assim, basta percorrer os títulos da imprensa ao longo dos últimos anos para
encontrar dezenas de notícias sobre o desemprego de professores.
Basta
comparar a lista de candidatos a concursos anuais com os realmente colocados.
Muitos do
que ficam de foram não são considerados
“desempregados” porque todos os professores têm de passar pelo “limbo”
da precariedade antes de entrarem para o quadro.
No meu caso,
passei dez anos nesse limbo, e era no tempo das “vacas gordas”, tinha de
concorrer para tudo todos os anos e, se não fosse colocado, ficava no
desemprego, mas não era classificado como tal, sem direito a subsidio de
desemprego. Por isso tinha de me sujeitar a tudo, até a um ano inteiro a
trabalhar para aquecer, pagando uma segunda casa longe da minha morada e da família… e fui dos que tiveram sorte.
Hoje a
situação dos professores em início de carreira (um “início” que nalguns casos
dura …10…15…20 anos…!!!!) é ainda pior.
Não são desempregados, mas sujeitam-se
a horários incompletos, mal pagos, a mudar todos os anos de casa e muitas vezes
a centenas de quilómetros da família….e sem qualquer ajuda de custo…apenas para
conquistarem uma melhor posição no concurso do ano seguinte, com a esperança de
se efectivarem…
Enfim, ouvir
comentadores, ditos “jornalistas”, falar nos privilégios dos professores…só por
má-fé, ignorância (um jornalista ignorante???) ou pura desonestidade
intelectual.
Podem
existir razões financeiras e outras para ser difícil rever a situação do tempo
perdido.
Pode haver
uma intransigência exagerada dos sindicatos nesta questão.
Mas o que
não se pode fazer, é usar este caso para atacar toda uma classe profissional
que tem sido das mais sacrificadas e é, apesar disso, das mais empenhadas em
melhorar as condições de vida de gerações de portuguesa.
Menos ainda
é aceitável o afã com que alguns comentadores usam argumentos falaciosos,
meias-verdades e falsidade para atacar toda uma classe profissional.
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