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sexta-feira, 26 de maio de 2023

Homenagem ao António Carneiro

(fotografia "roubada" à amiga Trindade Santos)

Faleceu António Carneiro

Por infeliz coincidência, publicámos ontem, no nosso blog Vedrografias, a reprodução de um texto que tinhamos publicado no jornal "Badaladas", sobre o livro de António Carneiro com memórias da sua vivência, relacionada com o Carnaval de Torres, intitulado "Aconteceu Assim".

Infeliz coincidência porque, poucas horas depois, recebemos a triste notícia do falecimento de António Carneiro.

O António Carneiro era um homem cheio de idéias e afectos, que preservava o convívio e a amizade com os outros, acima de todas as divergências.

E foram muitas as divergências que tivemos, mas sempre dentro da sã camaradagem e convívio.

Devo a António Carneiro, para além de tudo aquilo que qualquer torriense lhe deve, na àrea da cultura e do Turismo, o facto de me ter convidado várias vezes para publicar estudos meus, com principal destaque para o livro sobre o Carnaval de Torres, em conjunto com o Antero Valério, um êxito editorial.

Homem viajado e culto, o António Carneiro tinha histórias prodigiosas, parte delas relatadas no seu recente livro"Aconteceu Assim".

Junto dele, a boa disposição imperava, mesmo no meio de acaloradas discussãos políticas na Assembleia Municipal.

Diz-se que em África quando um velho morre é uma biblioteca que se perde.

O António Carneiro não era velho, principalmente no espírito e na abertura de cabeça, mas o seu falecimento deixa um vazio enorme na vida e memória torriense.

Um dia lá nos "reencontraremos", seja onde for, e lá iremos por a conversa em dia, acompanhada pelas saborosas histórias que ele tão bem sabia registar e contar.

Até Sempre Amigo!

domingo, 14 de março de 2021

Recordações do Festival de Cinema da Figueira da Foz


A Guilhermina Pacheco, num seu post recente no facebook, para recordar o saudoso Jorge Barata, no seu dia de aniversário, veio  lembrara-me os dias passados no Festival de Cinema da Figueira da Foz.

Então nos meus 20 anos, deslocava-me anualmente a esse importante Festival de Cinema, aí pelos finais dos anos 70, início dos 80, ao longo de mais de 6 anos.

O Festival realizava-se em Setembro, ao longo de 10 dias, e era a “pré-temporada” antes do inicio das aulas, que então só começavam em Outubro, marcando o encerramento das férias de Verão, geralmente antecedido pela habitual romagem à Festa do “Avante”.

Recorde-se que esse festival realizou-se, pela primeira vez, em 1972, então ainda apenas uma “semana internacional de cinema”, destacando-se, entre os organizadores, o padre José Viera Marques, que no início dessa década também colaborou com o Cine Clube de Torres Vedas, tendo um papel importante na reanimação desta associação torriense.

Nos primeiros tempos, porque ainda estava a estudar e, depois, porque estava no início da minha vida profissional, o dinheiro era pouco e deslocava-me para o festival à boleia, levando quase um dia inteiro para chegar à Figueira, saindo de Torres Vedras, umas vezes sozinho, outras acompanhado.

Lembro-me de, para além das horas intermináveis à beira da estrada, muitas vezes no meio do nada, à espera da próxima boleia, ter apanhado alguns sustos, o maior de todos numa boleia que me deu um camionista, numa camioneta de carga muito velha, que se deslocava lentamente pela N1 (não havia então autoestradas), com uma enorme fila de carros atrás a apitar e a circular aos ziguezagues, porque, descobri já em andamento, o homem estava completamente embriagado. Felizmente este percurso foi curto.

Quando já tinha algum dinheiro, deslocava-me de comboio, pela linha do Oeste, uma longa viagem de várias horas, por vezes com transbordo na Bifurcação de Lares, uma estação que era uma espécie de ilha no meio do Mondego, onde se fazia a ligação entre a linha do Oeste e a linha entre de Coimbra e a Figueira, na qual, muitas vezes, aguardávamos horas por uma ligação, com a Figueira à vista ao longe e com milhões de mosquitos a rodear-nos.

Chegado à Figueira, acampava-se onde desse. Da primeira vez fiz campismo selvagem, na margem sul  do Mondego do outro lado da Figueira, junto de um parque privado, mas do lado de fora para não pagar nada.

De manhã viajava num barco que levava passageiros desse parque para a Figueira, mas à noite, quando acabava o festival, não havia essa ligação e então tinha de percorrer alguns quilómetros a pé, atravessando a velha ponte, hoje demolida para dar lugar à actual, sozinho, em plena escuridão.

Certa vez, ao aproximar-me da tenda, fui cercado por uma matilha de cães e só me safei porque costumava levar um rádio de pilhas, para tornar a jornada nocturna menos penosa, e pus o som no máximo. Os pobres cães, esfaimados, mas ainda mais assustados, lá me largaram, e eu escapei sem uma única dentada.

Mais tarde, quando já tinha mais dinheiro, ía acampar no parque a norte da Figueira, que mesmo assim ficava bastante longe do local onde se realizava o Festival.

Na Figueira encontrava-me com amigos de Torres Vedras, gente do movimento cineclubista, e colegas da faculdade que também costumavam ir ao Festival.

Nos primeiros tempos, em que andava mais teso, lembro-me de a Guilhermina e o Jorge, que íam partir para outras viagens nesse dia,  me terem deixado uma sandes de omelete para o meu jantar, uma iguaria para quem andava sempre esfomeado para poupar.

Quando comecei a ir como repórter do jornal “Badaladas” e, num dos anos, também do “Diário de Lisboa”, a situação era um pouco melhor, pois tinha direito a senhas de refeição, para além dos bilhetes de borla para as sessões de cinema, realizadas em várias salas, mas principalmente no Casino.

Nessa altura era a minha vez de ajudar amigos esfomeados, levando-os comigo às recepções de lançamento de filmes e apresentação dos realizadores, para as quais tinha convites, e onde serviam excelentes e saborosos aperitivos, que substituíam bem as refeições.

Lembro-me também de, em certa ocasião, já não tendo mais dinheiro para pagar o campismo e tendo esgotado as senhas de refeição, preparando-me para regressar no dia seguinte, dando uma volta naquela que seria para mim a última noite no festival para me despedir da Figueira,  ter encontrado, no chão, uma nota de cinco “contos” (cerca de 25 euros na moeda actual), muito dinheiro para época, e que me permitiu ficar mais 3 dias, dando até para pagar refeições a quem me acompanhava.

A maior parte do tempo era passado dentro das salas de cinema e nos debates, começando o dia às 8 da manhã e terminando aí por volta das 2 da manhã.

Por vezes, quando os filmes eram menos interessantes, aproveitava-se para dormitar e recuperar de noites mal dormidas.

Fora das salas, o tempo era ocupado com as refeições, a visita a uma livraria junto ao casino, apenas para ver novidades que não existiam em Torres, pois raramente dava para comprar alguma coisa, e conversar com amigos no café frente ao Casino.

Na mesa cruzavam-se os amigos de Torres , do cineclubismo ou da Faculdade e outros feitos no Festival, como o Mário Dorminski, que criou o Fantasporto, para cuja inauguração me convidou,  o João Lopes, critico de cinema que conhecíamos da presença nos debates do Cine Clube de Torres, o Carlos Pessoa, jornalista fundador do Público, conhecido dos tempos dos fanzines, o António Loja Neves, do mundo cineclubista e, nas mesas vizinhas, juntavam-se figuras mais ou menos conhecidas, como um Eduardo Prado Coelho, presença habitual no festival, muitos cineastas e artistas conhecidos e, num certo ano, a escritora Marguerite Duras, que veio apresentar ao festival um filme realizado por ela

Uma vez cheguei mesmo a fazer parte do júri do festival, como representante do público, o que me obrigava a ver atentamente todos os filmes em competição.

Por vezes passeava-se pela praia, famosa por ter o mar bastante longe.

Certo dia, passeando com um amigo de Lisboa, o Rui da “avenida de Roma”  (não me lembro do apelido e perdi-o de vista, até hoje), que chegou a ser uma espécie de manager dos Xutos e Pontapés (ou os Minas e Armadilhas, já não me lembro), encontrei duas colegas da faculdade, com quem passámos a tarde na conversa e  a fazer horas, porque havia um filme importante que ía ser estreado essa noite, e não o podíamos perder. Em certa altura, essas colegas convidaram-nos para ir passar a noite com elas ao hotel onde estavam, mas nós, mais interessados no filme, declinámos. Claro que elas nunca mais nos falaram, nem quando as encontrava mais tarde na faculdade de Letras.

Outra vez, estando numa das salas do Casino, vendo afixado um belo cartaz do filme “Cerromaior”, olhando para todos os lados, e vendo apenas uma pessoa sentada num sofá, resolvi arriscar e arrancar o cartaz da parede para ficar com ele, com o olhar complacente e um riso irónico nos lábios da tal pessoa.

O filme “Cerromaior” era exibido nesse dia e, geralmente após a exibição, seguia-se um debate com o realizador. Qual não foi o meu espanto quando foi apresentado como realizador o tal “tipo” que. sentado no sofá, assistira horas antes ao meu “roubo”. Era o realizador Luís Filipe Rocha, com quem me voltei a encontrar uns anos depois, em Torres Vedras, quando aqui exibimos um outro filme seu, tendo-nos então divertido muito com essa história do “roubo do cartaz”.

Quando as aulas começaram a ter início em Setembro deixei de poder ir ao festival, que entretanto entrou em decadência, até acabar de vez em 2002, engolido por festivais mais sofisticados, por uma certa decadência do cinema não comercial, e por um consumismo menos dado a experimentalismos da programação do festival.

Muitas outras histórias ficam por contar, mas aqui ficam algumas para diversão de quem nos lê e para avivar a memória de quem participou nesse saudoso festiva de cinema.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Profissões Desaparecidas – Memória à volta de um livro



Acabei de adquirir o livro “Porto – Profissões [quase] desaparecidas” de Germano Silva, o historiador da cidade do Porto (em Espanha, cada localidade tem o seu cronista “oficial”, Germano da Silva cumpre, por mérito próprio, mas não oficialmente, essa função na cidade do Porto).

Ao desfolhar esse belo livro, com histórias e muita História, ilustrado por uma trabalhosa investigação nos arquivos fotográficos, pus-me a pensar sobre as recordações que ainda tenho de algumas dessas profissões.
Algumas são do “meu” tempo, outras nunca existiram por aqui, muitas desapareceram, de facto, mas outras ainda existem ou reconverteram-se.
Germano da Silva explicou, em entrevistas que deu a propósito do lançamento desse livro, que não pretendia valorizar uma atitude saudosista, até porque muitas dessas profissões, por ele referidas, eram autêntico  trabalho de exploração humana, mal pago, exercido em condições desumanas, duro, sem horários, sem direitos, ocupando toda a vida do profissional dos mais desvalidos, que só se podiam “reformar”…morrendo, ou então quando adoeciam de exaustão, acabando na pior das misérias.
Sem saudosismos,  desfolhar esse livro leva-me também a “viajar” pela memória de um tempo que não volta e que, na maior parte dos casos, não se deseja que regresse.

Muitas das profissões referidas existiam em Torres Vedras, ou ainda existem.

Havia por cá muitos alfaiates, os quais, entre os  ofícios referidos, até eram bem pagos, embora tivessem de lutar constantemente por trabalho. O meu avô materno era alfaiate, e viveu sempre com grandes dificuldades e “reformou-se” para ficar acamado. Hoje é uma profissão que está na moda, embora rara. Por aqui, em maior quantidade, associadas a essa profissão, existia um numeroso contingente de costureiras. Hoje essa actividade rareia, mas ainda existe.

Ainda me lembro de alguns ferreiros, profissão hoje praticamente extinta, a não ser exibindo-se em “Feira Medieval” ( hoje em maior número que na própria Idade Média!).

Os marceneiros ainda continuam por aí, apesar da concorrências dos IKA’s, conseguindo resolver o aproveitamento daquele espaço lá de casa que não entra nas medidas estandardizadas.

Moleiros também vão rareando, mas estavam muito disseminados pelo concelho e, antigamente, eram a elite dos artesãos, pois exigiam conhecimentos bastante especializados, entrando em decadência com o aparecimento das moagens e, mais recentemente, com as padarias de bairro, com pão a toda a hora. Hoje tornaram-se mera atracção turística.

O ourives foi substituído pelo vendedor de pilhas para relógios, mantendo-se apenas para fabricar bugigangas para turista ou acessórios de luxo para qualquer “isabeldossantos” do novo-riquismo nacional.

Sapateiros ainda existem, são o recurso para quer poupar uns tostões no arranjo daqueles velhos sapatos, mas já não fabricam calçado e rareiam cada vez mais. Antigamente era a actividade artesanal mais numerosa  e disseminada no concelho.

Numa região de vinhos, ainda existem tanoeiros, mas agora, em vez de trabalharem a madeira, trabalham o metal dos depósitos de adegas.

Por aqui, só muito vagamente me lembro do almocreve, muito referido em documentos locais até ao início do século XX, em decadência com a profusão da camionagem a partir dos anos de 1920, mas que continuavam a preencher as rotas rurais onde a camioneta de carga não chegava. Embora as carroças puxadas por mulas, conduzidas pelos almocreves, tivessem desaparecido por completo, tal só aconteceu em meados da década de 1970. Perto da minha casa havia o segeiro, que se dedicava a arranjar as rodas das carroças, num trabalho que encantava a miudagem do bairro. Já sem burro, havia o “Ferrer” que puxava, à força dos braços, os pacotes da estação de comboios ou correios para distribuir pelos comerciantes locais, homem que ainda se via pelas ruas da cidade na década de 1980, já idoso, mas sempre esforçado.

O amolador é figura que, cada vez mais raramente, ainda vai aparecendo pelas ruas de Torres, imortalizado pelo som característico da “gaita de beiço”, de onde sai sempre  a mesma nota repetitiva, mas é um trabalho de gente pobre.

Já não há ardinas. No meu tempo o único ardina era um adulto, o sr. “Fusco”, meu vizinho, pai de um dos meus amigos de infância, sempre vestido com o mesmo fato macaco e o seu boné de pala, e com o seu enorme saco, onde transportava os jornais, vendidos ao longo das ruas da então vila, até arranjar ma pequena loja onde se fixou na velhice, morrendo pobre. Hoje compram-se os jornais nos quiosques, abundantes pela cidade.

O canastreiro aparecia nos mercados e feiras, fabricando os cestos à nossa frente, geralmente de etnia cigana. Os cestos duravam uma vida. Eram muito usados na vindima. Eu cheguei a alombar com alguns, quando trabalhava nas vindimas para arranjar dinheiro para as férias. Os cestos de vime foram substituídos pelos alguidares de plástico.

As criadas de servir, referidas pelo autor, existiram ao longo da história por cá, servindo nas casas de “gente fina”. As classes médias recorriam à “mulheres a dias”, uma das poucas profissões femininas, recurso económico para abreviar a miséria das gentes das aldeias.

Os dactilógrafos extinguiram-se com o computador ou reciclaram-se para outras tarefas administrativas.

O engraxador ainda existia até há bem pouco tempo, percorrendo os cafés da “vila”. Ainda se vêm por Lisboa.

As lavadeiras apenas se viam nas aldeias, já não a lavar no rio Sizandro, mas à volta dos lavadores públicos das aldeias, uma da raras inovações do Estado Novo, inaugurados sempre com pompa e circunstância.

Ainda me lembro do casal de leiteiros, de farda branca, percorrendo as ruas da vila diariamente. Faziam-se transportar numa daquelas pequenas lambretas com caixa atrás. Eram eles que vendiam o leite consumido ao pequeno almoço e, a partir de certa altura, introduziram uma novidade, a venda de queijo fresco, que, quando fora de prazo, ficavam a secar ao sol, para, passados uns dias, serem consumidos como queijo seco. Um petisco, que hoje seria proibido pela ASAE!!

Havia depois o padeiro, espécie de homem invisível, pois quando todos acordávamos, já tinha deixado o pão em sacos de pano pendurados do lado de fora da porta, deixado na noite anterior, com um recado indicando a quantidade e as moedas enroladas no papel para o pagar.

O pica do eléctrico era “espécie” que não existia por cá, mas podíamos encontra uma profissão similar no “pica” bilhetes das “carreiras” de camioneta ou do comboio .

Os oleiros eram vistos em grande quantidade na Feira de S.Pedro, onde se compravam os vasos para as flores que alindavam as varandas das casas da vila.  Ainda hoje o seu trabalho continua a ser apreciado, apesar do plástico também ter substituído muita da sua produção.

O sinaleiro era uma das atracções dos “saloios”, como nós, de visita à “capital”, deixando-nos embasbacados com a sua dança de braços e pernas, conduzindo um trânsito pouco habitual na vila ( a não ser pelo carnaval ou durante a passagem do Rali de Portugal).

O tipógrafo era uma das actividade nobre, existente em Torres Vedras desde o século XIX, muito ligada à edição dos jornais locais ou aos folhetos e cartazes das festas de aldeia. A composição dos textos era feito letra a letra, em caixas de chumbo, que voltavam a ser derretidas depois de imprimidas as páginas. O cheiro a tinta era  muito activo, e a tinta preta ficava nas mãos durante muito tempo. O barulho das máquinas das rotativas assustava. Lembro-me bem dessas máquinas no interior da actual Papelaria Gráfica ou no antigo edifício da União,  lugares que frequentava a acompanhar o meu pai nas suas aventuras jornalísticas. Recordo que sou trineto  do primeiro  tipógrafo de Torres Vedras.

Por último, e seguindo a ordem da publicação no dito livro, excluindo profissões que já não conhecemos por aqui, chegamos ao vendedor de castanhas, uma das referidas actividades tradicionais que sobreviveu à modernização. Todos os anos, pelo inverno, encontramos-los pelas ruas de Lisboa e aqui em Torres Vedras, geralmente na Avenida, continuando na mesma família de décadas, apregoando as “quentes e boas “, profissão que só está em risco porque as alterações climatéricas tornam os Invernos menos frios. De significativo o agradável cheiro da castanha assada que impregna toda a Avenida em tardes de Inverno.

Sem saudosismos, deixamos aqui um convite para que cada um faça um exercício de memória sobre essas actividades, de gente humilde, que faz parte da história de uma geração.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Comemorar a Rádio.



Hoje é o dia Mundial da Rádio.

Ao contrário do vaticinado, a rádio ainda continua a ser uma grande companhia.

É no rádio que ouço as primeiras notícias do dia.

É “a” Rádio que me acompanha nas viagens, curtas e longas.

É “a” Rádio que me dá a conhecer a voz de muita gente, conhecida e desconhecida.

É “a” Rádio que me recorda as musica da minha vida e me dá a conhecer as novas correntes.

Um rádio aceso permite-se trabalhar, sem me distrair com o ruido das imagens, e acompanhar o mundo, nas suas mais variadas facetas. É como um comboio, mais humano que um automóvel.  

Muito das minhas memórias estão ligadas ao rádio.

Ainda me recordo de seguir de madrugada, quando era miúdo, os relatos dos jogos de hóquei em patins  e de futebol, muitas vezes realizados de madrugada em países distantes, debaixo dos lençóis, às escondida dos meus pais.

Foi escutando clandestinamente as emissões da BBC em português que tomava conhecimento do mundo sem censura.

Foi pela rádio que acompanhei, minuto a minuto, esse dia “claro e límpido” que foi o 25 de Abril e tantos outros acontecimentos.

Tive ainda o privilégio de ter participado no movimento das “rádios piratas”, aprendendo muito e fazendo grande amigos.

Ainda hoje a rádio continua a ser mais rápido a divulgar as últimas notícias.

É na rádio que trabalham os melhores jornalistas e se formaram os melhores jornalistas, mesmo que muito a tenham abandonado pela televisão.

Ao contrário do vaticinado, não foi o vídeo que acabou com os “radio star”, porque a rádio sobrevive e o vídeo já passou à história…

Estou convencido que as primeiras noticias de outras vidas no universo nos vão chegar primeiro pelas ondas da rádio.

E estou também convencido que, depois do Mundo acabar, as ondas da rádio vão sobreviver e vai ser o que resta da memória da existência da nossa espécie.

Saudemos este dia, hoje e sempre.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Baptita Bastos : Homenagem a um homem decente


“Não há mortes naturais. Todas as mortes são injustas como uma culpa infundada, e inúteis como uma heresia”.
Baptista Bastos, in Diário de Notícias , 23 de Janeiro de 2008.
 

Baptista Bastos foi o último de uma geração de grandes jornalistas, daqueles que já não se fabricam, formados na “tarimba”, cultos, com um alto sentido ético e…estético.

Homem coerente, frontal, justo, amigo, Baptista Bastos é uma imortal.

Só a ignorância, a má-fé, a intolerância e a mesquinhez,  que grassa actualmente no mundo do jornalismo, permitiram que ele tenha acabado os seus dias quase esquecido e relegado a escrever crónicas no “Correio da Manhã”

Baptista Bastos foi um dos últimos cultores de uma atitude humanista e iluminista no jornalismo, caracterizado pela sua personalidade multifacetada; grande cinéfilo (começou por escrever crónicas de cinema no “Século Ilustrado), autor de ficção, professor de língua e literatura, colaborador em projectos de televisão e cinema, escritor de obras literárias injustamente esquecidas por muitos.

Foi um grande exemplo na luta pela liberdade.

Como ele próprio escreveu um dia “ser livre é muito difícil”. A sua luta pela liberdade custou-lhe a perseguição antes do 25 de Abril, tendo sido despedido, por razões políticas, do jornal “O Século” e, mais tarde, da RTP.

A situação voltou a repetir-se em 2014 quando o Diário de Notícias o despediu, juntamente com outros jornalistas, não sendo de estranhar as suas crónicas bastante críticas para o poder de então, num jornal que sempre se caracterizou pela sua fidelidade aos poderes do  momento.

Mas foi no “Diário Popular”, onde trabalhou entre 1965 e 1988, que se consolidou como um grande jornalista de reportagem e entrevistas. Aliás o seu estilo como entrevistador tem sido exemplo a seguir em escolas de jornalismo onde o seu livro “A Palavra dos Outro”, de 1969, é de leitura obrigatória, uma espécie de “Bíblia” desse género jornalístico.

Aliás , foi o título de uma série de entrevistas realizadas para a SIC que tornaram “viral” a frase “onde estavas no 25 de Abril?”.

Na crónica foi autor maior, sem seguidores à altura na actualidade (aliás, a “crónica” deu lugar ao “comentário político”, na esmagadora maioria da imprensa actual). Nessas crónicas revelou sempre um profundo conhecimento da língua portuguesa, um sentido literário profundo, uma cultura vasta e diversificada e um grande sentido de humanidade.

Foi ainda autor de mais de uma dezena de títulos de ficção, que têm geralmente Lisboa por cenário, revelando uma sensibilidade e uma escrita viva. O seu contributo para a literatura portuguesa tem sido injustamente esquecido.

Referindo-se à grande ternura que emanava da sua obra literária, BB afirmou que, para ele, a escrita era “ uma mulher com cheiro de mulher, indomável mas aberta a quem a ama e atenta a quem a respeita”( Diário de Notícias de 5 de Julho de  2008).

Pessoalmente cruzei-me, há uns trinta anos, com Baptista Bastos, que se tinha deslocado a Torres Vedras, à escola onde eu lecionava, para falar da sua obra literária. Na altura já eu tinha lido quatro das suas obras (“O Secreto Adeus”, “Cão Velho entre Flores”, “Viagem de um pai e de um filho pelas ruas da amargura” e “Elegia para um caixão vazio”), visões poéticas sobre o quotidiano lisboeta dos seus personagens, que incluíam algumas das mais belas páginas eróticas, escritas com uma ternura rara nesse tipo de escrita.

Lembro-me que Baptista Bastos ficou muito sensibilizado por encontrar em mim um então raro leitor da sua obra literário, autografando-me entusiasticamente os livros que levava, depois de me revelar todos os seus dotes de grande conversador.

É uma imagem de simpatia, humanidade  e humildade que guardo desse encontro e que registo aqui como homenagem  a um dos últimos homens decentes do jornalismo português.
 
As Crónicas de Baptista Bastos forma várias vezes o tema da nossa rubrica "O Respigo de Semana", e podem ser consultadas AQUI.

Em baixo reproduzo uma biografia de Baptista Bastos, recentemente publicada no “Jornal de Negócios”, como algumas frases soltas retiradas de crónicas suas, respigadas do site “citador”.

Até sempre amigo Baptista Bastos.
 
“Baptista Bastos Cronista

“Considerado um dos maiores prosadores portugueses contemporâneos, Baptista-Bastos (Armando Baptista-Bastos) nasceu em Lisboa, no Bairro da Ajuda (que tem centralizado em vários romances e numerosas crónicas), em 27 de Fevereiro de 1934. Frequentou a escola de Artes Decorativas António Arroyo e o Liceu Francês.
Começou o seu percurso profissional em «O Século», matutino em representação do qual viajou por numerosos países. N’«O Século Ilustrado», de que foi subchefe de Redacção com, apenas, 19 anos, assinou uma coluna de crítica cinematográfica, «Comentário de Cinema», que se tornou famosa pelo registo extremamente polémico. Em Abril de 1960 é despedido de «O Século» por motivos políticos (esteve envolvido na Revolta da Sé, 1959, na decorrência da candidatura Delgado, de que foi activista), e, devido às circunstâncias, trabalhou na RTP numa semi-clandestinidade e com um nome suposto: Manuel Trindade. Com esse pseudónimo redigiu noticiários, e assinou textos de documentários para Fernando Lopes [«Cidade das Sete Colinas», «Os Namorados de Lisboa», «Este Século em que Vivemos»], e para Baptista Rosa, «O Forcado», com imagem de Augusto Cabrita, e música de Miles Davies, «Scketchs of Spain.» Seis meses decorridos foi despedido da RTP, porque o então secretário nacional da Informação, César Moreira Baptista, mais tarde ministro do Interior no governo de Marcelo Caetano, deu instruções nesse sentido, dizendo, num ofício: «Esse senhor é um contumaz adversário do regime.»
Em épocas distintas Baptista-Bastos pertenceu, também, aos quadros redactoriais de «República», «Europeu», «O Diário»; e aos das revistas «Cartaz», «Almanaque», «Seara Nova», «Gazeta Musical e de Todas as Artes», «Época» e «Sábado». Foi, igualmente, redactor em Lisboa da Agence France Press.
Porém, é no vespertino «Diário Popular», onde trabalhou durante vinte e três anos (1965-1988), e no qual desempenhou importantes funções, que marca, «com um estilo inconfundível» [Adelino Gomes] o jornalismo da época. Naquele diário publicou «algumas das mais originais e fascinantes reportagens, entrevistas e crónicas da Imprensa portuguesa da segunda metade do século» [Afonso Praça]. «Um dos maiores jornalistas portugueses de sempre» [David Lopes Ramos, in «Público]. Tanto no jornalismo como na literatura situa-se na primeira linha da narrativa portuguesa contemporânea.
Colaborou, ou ainda colabora, como cronista [«um dos grandes escritores da cidade de Lisboa», Eduardo Prado Coelho, in «O Cálculo das Sombras»], em «Jornal de Notícias», “A Bola”, «Tempo Livre»; e, também, no «JL – Jornal de Letras artes e Ideias», no «Expresso», no «Jornal do Fundão» e no «Correio do Minho». Foi fundador do semanário «O Ponto», no qual, entre outros grandes textos e reportagens, realizou uma série de oitenta entrevistas que assinalaram uma renovação naquele género jornalístico e marcaram a época. Escreveu e leu crónicas para Antena Um e Rádio Comercial. Foi o primeiro dos comentadores de «Crónicas de Escárnio e Maldizer», famosa e popular rubrica da TSF – Rádio Jornal. Colunista do «Público» e do «Diário Económico».
Foi docente na Universidade Independente, onde leccionou a disciplina de Língua e Cultura Portuguesas.
Realizou uma série de entrevistas para as revistas «TV Mais» e TV Filmes». Presença frequente em debates nas televisões apresentou, no Canal SIC, de Novembro de 1996 e Janeiro de 1998, e a convite de Emídio Rangel, um programa, «Conversas Secretas», com assinalável êxito. De Janeiro a Agosto de 2001 fez, para a SIC-Notícias, um programa de entrevistas, «Cara-a-Cara.»
Percorreu, profissionalmente, todo o Portugal Continental e Insular, e viajou e escreveu sobre Espanha, Canárias, França, Itália, Bélgica, Irlanda, Brasil, Uruguai, Argentina, Suíça, Luxemburgo, Grécia, Áustria, Turquia, República Democrática Alemã, República Federal da Alemanha, Checoslováquia, URSS, Marrocos, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Nigéria, Angola, Moçambique, Cabo Verde, etc.
Um dos seus livros de textos jornalísticos, «As Palavras dos Outros», é considerado «um clássico» e «uma referência obrigatória na profissão» [Adelino Gomes e Fernando Dacosta], sendo recomendado como «leitura indispensável» no I Curso de Jornalismo organizado pelo sindicato da classe.
Todos os livros de Baptista-Bastos (romances, crónicas, entrevistas, reportagens, ensaio cinematográfico) estão antologiados em volumes de ensino de Português, e seleccionados por temas em obras representativas das modernas correntes literárias. Está traduzido em checo, búlgaro, russo, alemão, castelhano e francês. Os romances «Cão Velho entre Flores» e «Viagem de um Pai e de um Filho pelas ruas da Amargura» são geralmente considerados obras-primas. O primeiro foi indicado como leitura obrigatória no Curso de Literatura Portuguesa Contemporânea da Sorbonne, sendo professor o Dr. Duarte Faria, e catedrático o Prof. Dr. Paul Teyssier. Este romance foi, também, lido na Rádio Comercial, em 1979, numa produção de Fernando Correia.
Os livros de Baptista-Bastos têm servido de estudos e para teses de licenciatura em universidades portuguesas e estrangeiras.
Em Abril de 1999, a Direcção do matutino «Público» convidou-o a realizar uma série de dezasseis entrevistas, subordinadas ao tema: «Onde é que Você Estava no 25 de Abril?», que desencadeou grandes polémicas e constituiu um assinalável êxito jornalístico. Doze dessas entrevistas (com Álvaro Guerra, Carlos Brito, D. Januário Torgal Ferreira, Emídio Rangel, Fernando de Velasco, Hermínio da Palma Inácio, João Coito, Joshua Ruah, general Kaúlza de Arriaga, Manuel de Mello, padre Mário de Oliveira e Pedro Feytor Pinto) foram inseridas num CD-Rome (que teve uma tiragem de 55 mil exemplares), juntamente com a edição de 25 de Abril de 1999 daquele jornal.
Pela mesma ocasião, a Direcção do «Diário de Notícias» também convidou Baptista-Bastos a escrever o enquadramento do capítulo «O Efémero», da edição especial «O MILÉNIO», iniciativa daquele matutino.


BAPTISTA-BASTOS RECEBEU OS SEGUINTES P
"Considerado um dos maiores prosadores portugueses contemporâneos, Baptista-Bastos (Armando Baptista-Bastos) nasceu em Lisboa, no Bairro da Ajuda (que tem centralizado em vários romances e numerosas crónicas), em 27 de Fevereiro de 1934. Frequentou a escola de Artes Decorativas António Arroyo e o Liceu Francês.

"Começou o seu percurso profissional em «O Século», matutino em representação do qual viajou por numerosos países. N’«O Século Ilustrado», de que foi subchefe de Redacção com, apenas, 19 anos, assinou uma coluna de crítica cinematográfica, «Comentário de Cinema», que se tornou famosa pelo registo extremamente polémico. Em Abril de 1960 é despedido de «O Século» por motivos políticos (esteve envolvido na Revolta da Sé, 1959, na decorrência da candidatura Delgado, de que foi activista), e, devido às circunstâncias, trabalhou na RTP numa semi-clandestinidade e com um nome suposto: Manuel Trindade. Com esse pseudónimo redigiu noticiários, e assinou textos de documentários para Fernando Lopes [«Cidade das Sete Colinas», «Os Namorados de Lisboa», «Este Século em que Vivemos»], e para Baptista Rosa, «O Forcado», com imagem de Augusto Cabrita, e música de Miles Davies, «Scketchs of Spain.» Seis meses decorridos foi despedido da RTP, porque o então secretário nacional da Informação, César Moreira Baptista, mais tarde ministro do Interior no governo de Marcelo Caetano, deu instruções nesse sentido, dizendo, num ofício: «Esse senhor é um contumaz adversário do regime.»

"Em épocas distintas Baptista-Bastos pertenceu, também, aos quadros redactoriais de «República», «Europeu», «O Diário»; e aos das revistas «Cartaz», «Almanaque», «Seara Nova», «Gazeta Musical e de Todas as Artes», «Época» e «Sábado». Foi, igualmente, redactor em Lisboa da Agence France Press.

"Porém, é no vespertino «Diário Popular», onde trabalhou durante vinte e três anos (1965-1988), e no qual desempenhou importantes funções, que marca, «com um estilo inconfundível» [Adelino Gomes] o jornalismo da época. Naquele diário publicou «algumas das mais originais e fascinantes reportagens, entrevistas e crónicas da Imprensa portuguesa da segunda metade do século» [Afonso Praça]. «Um dos maiores jornalistas portugueses de sempre» [David Lopes Ramos, in «Público]. Tanto no jornalismo como na literatura situa-se na primeira linha da narrativa portuguesa contemporânea.

"Colaborou, ou ainda colabora, como cronista [«um dos grandes escritores da cidade de Lisboa», Eduardo Prado Coelho, in «O Cálculo das Sombras»], em «Jornal de Notícias», “A Bola”, «Tempo Livre»; e, também, no «JL – Jornal de Letras artes e Ideias», no «Expresso», no «Jornal do Fundão» e no «Correio do Minho». Foi fundador do semanário «O Ponto», no qual, entre outros grandes textos e reportagens, realizou uma série de oitenta entrevistas que assinalaram uma renovação naquele género jornalístico e marcaram a época. Escreveu e leu crónicas para Antena Um e Rádio Comercial. Foi o primeiro dos comentadores de «Crónicas de Escárnio e Maldizer», famosa e popular rubrica da TSF – Rádio Jornal. Colunista do «Público» e do «Diário Económico».

"Foi docente na Universidade Independente, onde leccionou a disciplina de Língua e Cultura Portuguesas.

"Realizou uma série de entrevistas para as revistas «TV Mais» e TV Filmes». Presença frequente em debates nas televisões apresentou, no Canal SIC, de Novembro de 1996 e Janeiro de 1998, e a convite de Emídio Rangel, um programa, «Conversas Secretas», com assinalável êxito. De Janeiro a Agosto de 2001 fez, para a SIC-Notícias, um programa de entrevistas, «Cara-a-Cara.»

"Percorreu, profissionalmente, todo o Portugal Continental e Insular, e viajou e escreveu sobre Espanha, Canárias, França, Itália, Bélgica, Irlanda, Brasil, Uruguai, Argentina, Suíça, Luxemburgo, Grécia, Áustria, Turquia, República Democrática Alemã, República Federal da Alemanha, Checoslováquia, URSS, Marrocos, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Nigéria, Angola, Moçambique, Cabo Verde, etc.

"Um dos seus livros de textos jornalísticos, «As Palavras dos Outros», é considerado «um clássico» e «uma referência obrigatória na profissão» [Adelino Gomes e Fernando Dacosta], sendo recomendado como «leitura indispensável» no I Curso de Jornalismo organizado pelo sindicato da classe.

"Todos os livros de Baptista-Bastos (romances, crónicas, entrevistas, reportagens, ensaio cinematográfico) estão antologiados em volumes de ensino de Português, e seleccionados por temas em obras representativas das modernas correntes literárias. Está traduzido em checo, búlgaro, russo, alemão, castelhano e francês. Os romances «Cão Velho entre Flores» e «Viagem de um Pai e de um Filho pelas ruas da Amargura» são geralmente considerados obras-primas. O primeiro foi indicado como leitura obrigatória no Curso de Literatura Portuguesa Contemporânea da Sorbonne, sendo professor o Dr. Duarte Faria, e catedrático o Prof. Dr. Paul Teyssier. Este romance foi, também, lido na Rádio Comercial, em 1979, numa produção de Fernando Correia.

"Os livros de Baptista-Bastos têm servido de estudos e para teses de licenciatura em universidades portuguesas e estrangeiras.

"Em Abril de 1999, a Direcção do matutino «Público» convidou-o a realizar uma série de dezasseis entrevistas, subordinadas ao tema: «Onde é que Você Estava no 25 de Abril?», que desencadeou grandes polémicas e constituiu um assinalável êxito jornalístico. Doze dessas entrevistas (com Álvaro Guerra, Carlos Brito, D. Januário Torgal Ferreira, Emídio Rangel, Fernando de Velasco, Hermínio da Palma Inácio, João Coito, Joshua Ruah, general Kaúlza de Arriaga, Manuel de Mello, padre Mário de Oliveira e Pedro Feytor Pinto) foram inseridas num CD-Rome (que teve uma tiragem de 55 mil exemplares), juntamente com a edição de 25 de Abril de 1999 daquele jornal.

"Pela mesma ocasião, a Direcção do «Diário de Notícias» também convidou Baptista-Bastos a escrever o enquadramento do capítulo «O Efémero», da edição especial «O MILÉNIO», iniciativa daquele matutino".


"BAPTISTA-BASTOS RECEBEU OS SEGUINTES PRÉMIOS:

### Prémio Feira do Livro de 1966
### Prémio Artur Portela (Casa da Imprensa) de 1978
### Prémio Nacional de Reportagem / Prémio Gazeta de 1985, atribuído pelo
Clube de Jornalistas
### Prémio Urbano Carrasco de 1986
### Prémio Casa da Imprensa: Prémio Prestígio
– Orgulho de uma Profissão, de 1986
### Prémio O Melhor Jornalista do Ano (1980 e 1983)
### Prémio Porto de Lisboa de 1988
### Prémio Pen Clube de 1987 - «A Colina de Cristal»
### Prémio Cidade de Lisboa de 1987 - «A Colina de Cristal»
### Prémio da Crítica 2002 (Atribuído, em 2003, ao romance
«No Interior da Tua Ausência», e como consagração
de uma obra literária)
### Grande Prémio da Crónica da APE (Associação Portuguesa de
Escritores), atribuído, em 2003, ao livro «Lisboa Contada pelos Dedos»,
publicado em 2001
### Prémio Gazeta de Mérito, atribuído, por unanimidade, pelo Clube de
Jornalistas, em 2004.
### Prémio de Crónica João Carreira Bom/Sociedade de Língua Portuguesa,
atribuído por unanimidade, em 2006.
### Prémio Alberto Pimentel do Clube Literário do Porto, pelo conjunto da
obra, em 2006

"Por ocasião dos cinquenta anos do seu percurso de jornalista, e em comemoração da edição do seu primeiro romance, o Primeiro Acto promoveu, em 13 de Setembro de 2005, no Fórum Lourdes Norberto, uma sessão de homenagem, muito concorrida. Falaram Adelino Gomes e Paulo Sucena, respectivamente sobre a actividade jornalística e literária de BB. Carlos do Carmo associou-se à homenagem, cantando os fados preferidos de BB.

"DO AUTOR:

Ensaio:
O Cinema na Polémica do Tempo / 1959
O Filme e o Realismo / 1962 / Duas edições

Ficção:
O Secreto Adeus / 1963 / Seis edições
O Passo da Serpente / 1965 / Duas edições
Cão Velho entre Flores / 1974 / Oito edições
Viagem de um pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura / 1981 / Cinco
edições
Elegia para um Caixão Vazio / 1984 / Quatro edições
A Colina de Cristal / 1987 / Quatro edições [Prémio Pen Clube e Prémio Cidade de Lisboa]
Um Homem Parado no Inverno / 1991 / Quatro edições
O Cavalo a Tinta-da-China / 1995 / Quatro edições
No Interior da Tua Ausência / 2002 /Quatro edições [Prémio da Crítica, da Associação Internacional de Críticos Literários]
As Bicicletas em Setembro / 2007
A Bolsa da Avó Palhaça (conto, com ilustrações de Mónica Cid) / 2007
Jornalismo:
As Palavras dos Outros / 1969 / Quatro edições
Cidade Diária / 1972
Capitão de Médio Curso / 1979
O Homem em Ponto / 1984
O Nome das Ruas / 1993 (Em colaboração com António Borges Coelho) José Saramago: Aproximação a um Retrato / 1996
Fado Falado / 1999
Lisboa Contada pelos Dedos (Edição do Montepio Geral) / 2001 / Duas edições

Disco:
O Sinal do Tempo / 1973 / Crónicas ditas pelo Autor, com música
especial de António Victorino d’Almeida (Edições Zip)

Entre 2000 e 2002 as Edições ASA publicaram os nove volumes de ficção do autor, sob o título geral de Biblioteca Baptista-Bastos. Em 2007 foi lançado As Bicicletas em Setembro.

[Baptista-Bastos é, também, o autor do texto e da entrevista do filme «Belarmino», realização de Fernando Lopes, geralmente considerado como um dos clássicos do Cinema Novo português. Para este realizador escreveu, também, além dos textos acima mencionados, «As Palavras e os Fios», um filme de publicidade que se encontra depositado na Cinemateca. Para os realizadores Rogério Ceitil e Fernando Matos Silva escreveu, respectivamente, os textos de fundo dos documentários «Ribatejo» e «Alentejo», destinados á RTP].


"ALGUMAS OPINIÕES SOBRE O AUTOR:


MANUEL DA FONSECA - «Um grande escritor português do nosso tempo.»

MANUEL FERREIRA - «Um dos nossos maiores prosadores vivos.»

MÁRIO DIONÍSIO - «Um escritor de primeira água.»

ANTÓNIO RAMOS ROSA - «Um grande escritor e um grande jornalista. O que é raro.»

MARIA LÚCIA LEPECKI - «É obrigatório ler este livro.» [A propósito do romance «Elegia para um caixão vazio»].

ÓSCAR LOPES - «Com este romance, Baptista-Bastos produziu o livro dos livros novelísticos da sua geração, senão de toda a literatura portuguesa de aquém 1950.» [A propósito de «Viagem de um Pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura»].


JORGE DE SENA - «Um dos grandes narradores portugueses do nosso tempo, no que a palavra narrador contém de reinvenção reflexiva e demiúrgica de uma língua (...) Os seus livros distinguem-se, como poucos, dessa massa parda de pretensiosismo medíocre, e certa economia retórica é o que mais me interessa neles. Também neles me interessa uma crueldade seca e irónica.»

JOSÉ RODRIGUES MIGUÉIS - «Um grande e singularíssimo escritor.»

MÁRIO-HENRIQUE LEIRIA - «Os teus livros são um trajecto fascinatório.»

URBANO TAVARES RODRIGUES - «Um livro excepcional. Obra das mais fortes e belas da literatura portuguesa deste século. Uma prosa enxuta, cada vez mais depurada, mais rítmica e mais rica em analogias. Um edifício verbal solidamente construído.» [A propósito de «Cão Velho entre Flores].

«Uma obra-prima. Um livro sublime.» [A propósito de «Viagem de um Pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura»].

CARLOS DE OLIVEIRA - «Os livros desertos não interessam a este “bebedor” de quotidiano. Um estilo original: deflagrar de flashes, remíntones, telexes; e a expressão popular, a palavra fora de uso, a moderna argúcia literária. Quer dizer: uma escrita veloz e densa, ao mesmo tempo.»

LUIZ PACHECO - «Jornalismo feito literatura. Isto é, ascendendo ao plano da literatura: na contenção irónica, na capacidade de denúncia e intervenção, obrigando-nos à exploração psicológica dos tipos, no humor dos circunlóquios, principalmente no poder de síntese. Leiam o livro todo. São trabalhos jornalísticos exemplares. Há talento, há verve, há ousadia, há um homem, há um escritor.» [A propósito de «As Palavras dos Outros»]".
in site do Jornal de Negócios

 
FRASES SOLTAS DE BAPTISTA BASTOS:
 
“A nossa sociedade está a desmoronar-se e ninguém lhe acode. Os laços sociais estão a desaparecer, substituídos por um sistema de valores em que impera a vacuidade, o poder da «competitividade» como força motriz - e não é. Há tempo para tudo, diz o Eclesiastes. Mas a verdade é que os «tempos» foram pulverizados pela urgência de não se sabe bem o quê. A frase mais comum que ouvimos é: «Não tenho tempo para»; para quê? A correria mina as relações de civismo e de civilidade; está a roer os alicerces da família; a família deixou de ser o núcleo das nossas próprias defesas; e vamos perdendo o rasto dos nossos filhos, dos nossos amigos, dos nossos camaradas, dos nossos companheiros. A azáfama nos locais de trabalho é o sinal das nossas fragilidades e dos nossos medos. Estamos com medo de tudo, inclusive de confiar em quem, ainda não há muito, seríamos capazes de confidenciar o impensável.”
in Jornal de Negócios / 2009/11/20
 
“A degradação da vida empresarial resulta dessa cartografia de horrores que consiste nos objectivos a atingir, nas etapas que se tem de percorrer, e dos lucros que terão de ser rápidos e vultosos. O «gestor» é muitíssimo bem pago para ser um cão-de-fila. Um universo sem paixões, gelado, uma mistura de indiferença humana com uma selvajaria abstracta”.
in Jornal de Negócios / 2009/10/09

“insistência doentia, quase hora a hora, no futebol, nos comentários, nas previsões, nas análises remove do português comum qualquer reflexão acerca da sua própria situação social. As agendas dos jornais, os alinhamentos e as opções das televisões e das rádios merecem uma vigilância crítica dos próprios profissionais. O que não existe. Manifesta-se uma total subserviência aos imperativos do que dizem ser as exigências do público. É uma velha pecha e uma desculpa fatigante de quem abdicou do dever mais sagrado da comunicação social: informar e esclarecer para formar”.
in Jornal de Negócios / 2009/04/03

“Há qualquer coisa de podre, há qualquer coisa de decadente e de vil neste tempo. Repare-se no rosto dos que estão no poder, e no daqueles que estão preparados para os substituir. Sempre aquelas caras que pouco se alteram. Sempre os mesmos hábitos. Sempre o mesmo sarro da aldrabice, da dissimulação, do desdém por todos nós”.
in Jornal de Negócios / 2009/02/27

“O afastamento das pessoas da política e do acto cívico resulta do facto de os dirigentes não se distinguirem uns dos outros - a não ser no modo de vestir”.
in Diário de Notícias / 2009/01/21
 
“Os grupos de pressão podem, durante períodos escassos ou longos, provocar o esquecimento, cultivar a omissão, propagar os amigalhaços. Mas não possuem um poder eterno: as coisas recompor-se-ão, e os melhores virão à tona”.
in Jornal de Negócios / 2008/11/14
 
“O mundo actual semelha-se ao mito de Sísifo. Anda de baixo para cima e de cima para baixo, infinitamente sem encontrar o recto caminho, e carregado pelo peso de um rochedo que, mais tarde ou mais cedo, irá rolar pela encosta. Há muitos anos que não dispomos de dirigentes à altura das mudanças do mundo. Guiam-se, todos, à Direita e à Esquerda, pela mesma cartilha. Removeram a ideologia e as convicções do calendário político. Ao contrário de Sísifo, que recusa, obstinadamente, a derrota, eles submeteram-se às consequências desta união no vazio”.
in Jornal de Negócios / 2008/09/12
 

“A globalização é um dado adquirido. A unilateralidade do processo deu origem a uma brutalidade que, por vezes, atinge a selvajaria. Só não vê quem não quer. Os retrocessos sociais são impressionantes. E a derrota dos conceitos de Esquerda absolutamente notórios.”
in Jornal de Negócios / 2008/05/16

“Não pertenço à falange dos que lisonjeiam a juventude como bálsamo para todos os males. Essa de os jovens serem o futuro, tem que se lhe diga. Na verdade, o futuro da juventude – é a velhice. E há quem nasça velho. Mas gosto muito dos mais novos, do irrespeito sem planificação que corporizam, da ignorância atrevida que não dissimulam, da sua inteligência mais demolidora do que crítica. (...) Gosto muito dos mais novos porque não permitem que eu envelheça.”
in Jornal de Negócios / 2007/08/31

terça-feira, 8 de novembro de 2016

SAUDADES DE OBAMA


Recordo-me, desde criança, de seguir, em casa dos meus pais, com atenção e entusiasmo, as eleições norte-americanas, tomando-se partido sempre pelos democratas, embora nem sempre pelo candidato oficial.

Era a forma permitida de viver, virtualmente, como hoje se diria, a democracia, num país governado por um ditador, no seio de uma família da oposição.

Recordo-me até de, no liceu, durante os intervalos, ingenuamente, nos envolvermos em disputada gritaria pró ou contra candidatos dos longínquos e míticos Estados Unidos, por ocasião das eleições norte-americanas.

Lembro-me, especialmente, da campanha de 1972, em que os “betinhos” do Liceu gritavam por Nixon e nós, os “rebeldes” gritávamos, ingenuamente, pelo candidato democrata, McGovern.

Reconheço que a cultura americana esteve sempre presente na minha formação, através da banda desenhada (nos suplementos dominicais do Primeiro de Janeiro, primeiro, nas revistas da Disney que o meu avó me dava, depois, e, mais tarde, na irreverência da série Peanuts seguida nas páginas do Diário de Lisboa), do entusiasmo como se seguia a conquista do espaço ( ver a chegada do homem à Lua, em directo, em 1969, é uma das recordações que me acompanhará ao longo da vida), da descoberta do mundo através do cinema de Hollywood (outra noite sagrada era a da transmissão, em diferido, da entrega dos óscares), ou da descoberta da rebeldia do rock and roll (com os intervenientes de Woodstock de 1969 a dominarem) .

Mas o entusiasmo por esse lado da cultura norte-americana era contrabalançada pela crescente consciência da existência de um  lado obscuro dessa grande nação, como o assassinato dos irmão  Kennedy e de Luther King, a segregação racial, a politica internacional de apoio a ditadores (como os ibéricos) e de intervenções militares violentas, com aconteceu no Vietname, ou o reacionarismo de largos sectores das elites políticas norte-americanas.

Vem-me tudo isto à memória no dia em que se disputam umas das mais decisivas eleições presidenciais da história norte-americana, em que se confrontam dois candidatos que não oferecem grandes garantias de estabilidade num mundo cada vez mais violento e agressivo, dominado por um poder financeiro sem freio e por populismos antidemocráticos.

Ao contrário do que aconteceu com a eleição de Obama, o primeiro presidente negro eleito naquele país, o que só por si já foi uma grande vitória, que  representou uma lufada de ar fresco, uma  ruptura importante na atitude dos Estados Unidos face ao mundo, um presidente dialogante, que procurou internamente alargar a justiça social, apesar da forte oposição da geração mais retrógrada e reacionária que domina o partido republicano, que domina o Senado e o Congresso, a escolha de hoje é entre o regresso ao tradicional establishement  democrata, arrogante e corrupto, representado por Hillary, ou um presidente proto-fascista, retrógado, incompetente, internacionalmente perigoso, representado por Trump.

A escolha não é pela esperança de mudança ou melhoria, mas pelo mal menor.

O mal menor é Hillary Clinton, que, apesar de tudo, esperemos que seja o próximo presidente dos Estados Unidos.

A sua postura arrogante, o seu militarismo, a sua cedência aos lobbies financeiros e ao governo intolerante de Israel,  representam sem dúvida o regresso a um poder norte-americano que se pensava ultrapassado com Obama, mas, por ser o que conhecemos, é preferível ao aventureirismo reacionário, antidemocrático  e xenófobo de um ridículo, incompetente e perigoso Trump.

Apesar de tudo,a vitória de  Hillary pode trazer um aspecto novo, a eleição de uma mulher, o que representa uma novidade, um acontecimento que, naquele país é  mais difícil do que eleger um negro. E essa novidade pode abrir as portas, a prazo, a outra novidade, esta sim realmente entusiasmante, que é a de vermos um dia Michelle Obama na presidência.

Apesar de desejar, para bem da humanidade, a vitória de Hillary, já começo a ter saudades de Obama.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Um Dia no NOS ALIVE.


Objectivo: levar a minha filha e uma amiga dela ao primeiro grande festival da vida dela e ir ver ao Arcade Fire..

Cheguei no início da última tarde de festival (Sábado 9 de Julho).

Uma segurança competente, sem ser agressiva logo à entrada, deixava-nos mais à vontade (nos dias que correm este é um bom postal de visitas para este tipo de eventos…).

Depois de entrar foi começar a tomar o pulso ao ambiente.

Aí até ao inicio da noite a minha sensação é que eu era o mais velho naquele recinto (parecia-me que só ultrapassado pelo Jimmy Page, que tinha aí estado dois dias antes!!!).


 
Aqui há uma maior proximidade entre todos os espaços do que aquela que existe no Rock in Rio, única comparação que podia fazer, sem que o som dos palcos se sobrepusesse em demasia. Era possível atravessar os espaços ouvindo o que se passava em cada palco, como uma espécie de “banda sonora” de fundo.

Primeira paragem num palco em forma de pequeno coreto onde actuavam grupos menos conhecidos.

Assisti algum tempo à actuação dos Savanna, grupo lisboeta, no “Raw Coreto By G-Star Raw”, com um público pequeno mas rendido ao folk – rock do grupo (aproveitando alguns para, ao mesmo tempo que os ouviam, disputar uma partida de matraquilhos nos vários “tabuleiros” existentes numa lateral dessa espaço).




 
Às 17 e 50 a minha “estreia” no Palco Heineken”, talvez o mais importante a seguir ao palco principal para ver a actuação de “Little Scream” a primeira grande surpresa do dia, cantora norte-americana a viver em Montreal (Canadá),  e a surpresa de aparecer par a acompanhar num tema um dos elementos dos Arcade Fire, grupo da mesma cidade, o baixista Richard Perry, aparição que se explica pelo facto de  este ter sido o produtor do primeiro álbum dessa grupo prometedor, “The Golden Recoird”. Vão ouvir falar no futuro em Little Scream.
 







Uma das coisas que me fui apercebendo foi o cumprimento rigoroso do horário programado para os vários espectáculos.

Depois do fim da actuação daquele grupo, aproveitei o intervalo para ir dar uma volta ao palco principal, para ver com era, percorrendo-o todo à volta, na mesma altura em que actuavam os portugueses AGIR. Não são a minha onda, nas notava-se o seu profissionalismo e a forma como agarraram o público, nem todo constituídos pelos fãs do grupo.


 
Regressei ao Palco Heineken para ver a actuação de um grupo que me tinham recomendado, os Calexico, e não sai defraudado. Grupo norte-americano de Tucson (Arizona), tocam uma mistura de  ritmos latinos com rock/blues, com instrumentos variados, bastante interessante, a fazer lembra os “Los Lobos”, embora originais e diferentes.









Chegado ao fim da sua actuação, mais uma volta por outros recinto do festival, como o recinto EDP, onde se reproduziam vários edifícios portugueses, com várias actividades, entre as quais uma casa de fado ao vivo . Frente às fachadas, uma fila de caixotes do lixo decorados numa original intervenção artística (ver AQUI).

Hora de “jantar” (uma sandes e uma bebida). Aqui deparei-me com o primeiro reparo. Foi difícil encontra um sítio onde se vendessem bebidas não alcoólicas, um dos problemas deste tipo de festivais, em grande parte dominado pelo marketing das grandes marcas de cervejas.
 
Aproximava-se a noite, e, depois de uma tarde calma, onde se podia andar à vontade, o recinto começava a encher-se, e as deslocações entre espaços começavam a ser feitas mais lentamente.


Em direcção ao palco principal, para arranjar um bom lugar para ver os Arcade Fire, tempo para um curta paragem no Palco Nos Clubbing, uma espécie de montra para grupos mais novos, portugueses quase todos, pelo que me apercebi, tendo ouvido ainda um pouco da actuação da musica electrónica de Francis Dale, um artista da casa, já que era natural de Algés.

Desloquei-me então para a última maratona do dia, o palco principal. Consegui chegar-me bem à frente, mas vi-me rodeado de espanhóis e ingleses, muito mais altos do que eu, bem bebidos e tinha alguma dificuldade em ver o palco, mas arrisquei ficar por ali, pois sente-se melhor o ambiente.

Aqueceram o palco para o espectáculo da noite os Band of Horses, grupo que não conhecia, mas era muito popular entre o pessoal à minha volta, mas que não me encheu as medidas (defeito talvez de quem ouve muito rock and rol desde os anos 60 e que já se surpreende com pouco).


 
Finalmente os Arcade Fire. Quase ao mesmo tempo, um problema com uma das máquinas fotográficas que levava comigo, exactamente aquela que tinha o zoom melhor, ficando impedido de tirar fotografias de jeito (o problema era simples mas só o consegui resolver mais tarde, com luz…).





No meio da confusão, entalado entre espanhóis e ingleses com o dobro do meu tamanho, ainda consegui gravar este pequeno trecho de um dos momentos altos dos Arcade Fire, o tema Keep the car Running.

Inicialmente tive alguma dificuldade em fixar o palco, entre braços e cabeças.
 
Ainda perdi o tampo da máquina, recuperado com muita dificuldade entre pés que pulavam e se agitavam constantemente.

Voltando aos Arcade Fire, foi mesmo um grande momento, um dos melhores espectáculos de sempre, um momento de grande festa.

Tocaram todos os seus temas mais antigos, os melhores da sua carreira e, pelo que constou, os Caleexico ainda os acompanharam num tema. Tocaram também Nirvana e Sex Pistols.

Após quase duas horas de actuação (eu estava ali há umas três…nunca pensei aguentar tanto tempo de pé!!!), muita gente a sair e a grande confusão. Percorri vários metros sem ver mais nada a não a gente à minha volta e, depois de, por pouco tempo, ter encontrado uma clareira, num sítio combinado com a minha filha, fiz a asneira da noite, tentar ir à casa de banho…pela primeira vez na minha vida vivi um momento de pânico…multidões em várias direcções, empurrando-se, tentavam chegar ao WC. Salvo e aliviado, voltei para uma zona mais recuada do palco principal, preparando-me para sair, mas aproveitando para ver ainda uma parte da actuação dos franceses M83, uma  boa surpresa, melhores em palco até do que aquilo eu já conhecia deles (a banda sonoro da série Versalhes e do filme Intersteller, entre outras).






Ainda ouvi o tema “Midnight City”. A voz de Mi Lan é de outro mundo.Tive pena de não ver mais, mas era necessário evita a confusão da saída, se bem que a confusão já fosse muita, até porque a saída era mais longa que a entrada, já que tinham fechado o túnel de acesso da estação de comboios, por razões de segurança, e tivemos de percorrer dois viadutos, cerca de dois quilómetros, até ao outro lado da rua.

No geral, valeu a pena, pela qualidade dos espectáculos e pelo ambiente, para mim muito melhor e mais inovador que o Rock in Rio…Para o ano há mais!!