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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A minha vida sem o “Expresso”.

Interrompi um jejum, de pouco mais de 12 anos sem ler o “Expresso”,  para comprar as duas últimas edições, comemorativas da edição nº 2500 desse semanário.

Dei por mim a pensar como evoluiu a minha relação com o “Expresso” ao longo dos anos.

Acompanhei o nascimento do “Expresso” em 6 de Janeiro de 1973, porque o meu pai comprava e lia avidamente esse semanário desde o primeiro número,

Penso que ainda estão, num canto do escritório do meu pai, religiosamente guardados, os primeiros números desse semanário.

Lá em casa, por essa altura, entravam diariamente o “Diário de Lisboa” e o “República”, e, semanalmente, a “Vida Mundial”, para além das revistas Vértice, Seara Nova e o “Correo” (em espanhol) da Unesco.

Habituei-me, por isso, a ler o “Expresso” ao longo dos seus primeiros tempos.

Durante os tempos do pós 25 de Abril não havia muito tempo para ler jornais e, na voragem dos tempos, o “Expresso” foi substituído lá em casa pelo “O Jornal”, fundado em 2 de Março de 1975.

Por altura do PREC entravam lá em casa, além de “O Jornal”, o “Jornal Novo”, fundado em 17 de Abril de 1975 e o “Diário de Lisboa”, para além da revista “Vida Mundial”.

Eram as escolhas do meu pai, porque eu, com o pouco dinheiro das mesadas, no meu período "esquerdista", remando contra a maré da moda maoista, comprava o “República”, então gerido pelos trabalhadores, que tinham ocupado esse jornal, e alguns jornais esquerdistas, como “A Batalha”, o “Fronteira” da LUAR ou o “Revolução” do PRP, esporadicamente “A Voz do Povo”, da UDP.

Em 1976 surgiram dois importantes títulos de esquerda, o diário “Página Um” e o semanário “Gazeta da Semana” que eu comprava regularmente.

Por vezes comprava “A Capital”, por causa do suplemento de banda desenhada, o "Diário Popular", principalmente à 5ª feira, se não estou em erro, por causa do seu magnífico suplemento literário e cultural, continuando a comprar regularmente o “Diário de Lisboa”, e o semanário “O Jornal”, aos quais juntaria, pouco tempo depois, o "Sete", o "Jornal de Letras" e, um pouco mais tarde, o "Blitz".

Em finais dos anos 1970 voltei a comprar regularmente o “Expresso” que viveu, entre o final dessa década e o final da década seguinte, os seus anos dourados, com grandes jornalistas como Augusto de Carvalho e Vicente Jorge Silva, que deram um cunho de grande qualidade a esse jornal, situação irrepetível na sua história.

Destacava-se então a “Revista” do semanário, dirigida por Vicente Jorge Silva, com grandes reportagens, as melhores até hoje publicadas nesse jornal, algumas das melhores de sempre da imprensa nacional

No ano de 1988 o “Expresso” sofreu um forte abanão na sua qualidade, coma saída de Augusto de Carvalho para fundar o “Europeu” e outros redactores importantes, como o Miguel Esteves Cardoso, para o “Independente”.

Não tendo abandonado a tradição de comprar o “Expresso”, acompanhei igualmente a leitura daqueles dois novos títulos.

Infelizmente o “Europeu”, um pronuncio do viria a ser o “Público”, durou pouco tempo.

Mas em 1990, ano marcado pelo encerramento do histórico “Diário de Lisboa”,  dá-se uma nova revolução na imprensa nacional que vai abalar em definitivo o “Expresso”.

Nesse ano alguns dos melhores jornalistas do semanário abandonam-no para fundar o diário “Público”, editado pela primeira vez em 5 de Março de 1990.

Pela minha parte, como leitor habitual de jornais, “mudei-me” de “armas e bagagens” para o novo diário, não falhando a compra de um único número até 2017, ano em que o jornal passou a ser dirigido por David Dinis, que iniciou um processo de crescente descaracterização desse jornal, em nome da defesa de uma visão economicista e de impor uma agenda ideológica neoliberal. Mas isto é outra história. Felizmente o “Público” tem vindo a recuperar desse período negro. Talvez não por acaso, David Dinis é hoje um importante quadro do “Expresso”.

Durante vários anos continuei, mais por hábito e tradição do que por gosto, a comprar semanalmente o “Expresso”.

O “Expresso” recorria cada vez mais a títulos bombásticos, muitas vezes descontextualizados, intriguistas, tendenciosos, copiando o que de pior se fazia em jornais populistas como o “Correio da Manhã”, tornando-se uma espécie de “Correio da Manhã”  para políticos e “intelectuais”.

As reportagens objectivas, fundamentadas e esclarecedoras de outros tempos foram dando lugar a textos cada vez mais opinativos, tendenciosos (a tender para uma certa direita neoliberal e economicista), apesar de continuar ter no seu seio alguns bons jornalistas e colunistas, embora minoritários.

Não por acaso, data dessa época um significativo slogan publicitário, anunciando o "Expresso" como um jornal que "fazia"(sic) opinião, como se a função de um jornal fosse "fazer" opinião. Um jornal deve sim contribuir para ajudar cada um a formar  sua opinião, o que é uma coisa bem diferente.

Para mim houve três “gotas de água” que me deram alento para tomar a definitiva decisão de “abandonar” o “Expresso”, enquanto simples leitor: o “Público” inclui diariamente informação aprofundada e de boa qualidade e tinha um leque de comentadores mais pluralista, o que tornava a leitura do “Expresso” dispensável; o “Expresso” revelava crescentemente uma agenda em defesa da receita neoliberal e seguidista em relação aos Estados Unidos na desastrosa 2ª Guerra do Golfo, iniciada em 2003; finalmente, a cereja em cima do bolo, a entrada como “cronista mor” do semanário, de Miguel Sousa Tavares, durante o governo Sócrates, porta voz e defensor das malfeitorias antissociais de Sócrates, grande defensor do ataque de Maria de Lurdes Rodrigues contra toda uma classe profissional.

Foi assim que, a partir de 2007, deixei, em definitivo, de comprar o “Expresso”, a não ser esporadicamente, como aconteceu nestas duas últimas semanas e, tal com aconteceu noutras ocasiões, continuo a não me arrepender dessa decisão.

Claro que ainda existe um pequeno leque de bons jornalistas sobreviventes da razia, como Clara Ferreira Alves, Henrique Monteiro, Luísa Schmidt ou Nicolau Santos, mas não chegam para me convencer a retomar o "vício" semanal.

Espero, uma longa vida ao “Expresso”, mas continuo fora desse “barco”.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Regresso a Lisboa


Foi em Fevereiro passado, aí pelo período do carnaval, que me desloquei pela última vez, até este mês de Setembro, à minha segunda cidade, Lisboa.

Tendo circulado então pelo Chiado, o verdadeiro coração da bela cidade, lembro-me de ter de andar quase à cotovelada para poder calcorrear aquelas ruas, tal a multidão de turistas que enchia aquele espaço. Lembrei-me na altura de, uns meses antes, ter pago por um gelado raquítico quase 5 euros e de, uma outra vez, para levantar 20 euros numa caixa multibanco, ter sido obrigado a levantar 50, porque as caixas do Chiado não davam quantias inferiores a esta.

Estava a acontecer em Lisboa, principalmente na zona do Chiado, o que já tinha acontecido no Algarve: os indígenas lisboetas e o visitantes nacionais e outros residentes, como nós, eram expulsos pelos preços incomportáveis, pelo atendimento em inglês, mesmo quando eramos portugueses, pelo excesso de gente, caminhando-se para matar, rapidamente, a galinha dos ovos de oiro do turismo.

Era só uma questão de tempo até tudo rebentar, não se esperava é que fosse de modo tão rápido e radical.

Roguei então, e pela segunda vez em pouco tempo, uma praga: tão depressa, e para meu desgosto, não voltaria àquele espaço que sempre calcorreie desde miúdo, quando ía com a minha mãe à consulta dos Drs. Damas Mora ou dr. Rhua, ou para as compras de Natal, não me esquecendo do modo como ficava embasbacado frente às montras cheias de brinquedos que não existiam em Torres Vedras.

Mal sabia eu que a praga que lancei ia resultar poucos dias depois, para meu “arrependimento”.

De facto, devido ao “confinamento” e à COVID, não voltei tão depressa a Lisboa, e ainda menos depressa ao Chiado.

Desde que me lembro, não me recordo de estar tanto tempo seguido sem ir ao coração da cidade.

Durante o confinamento fiz uma rápida incursão pelos arredores do Parque das Nações, passei duas vezes por Lisboa ao longe, atravessando a ponte Vasco da Gama e só no dia 14 de Setembro entrei por Lisboa, embora tendo-me ficado por perto do Campo Grande ,pela Cidade Universitária e pela Biblioteca Nacional.

Finalmente, esta 2ª feira, “aventurei-me” até ao coração da cidade, de automóvel, tendo seguido pela Avenida do Brasil, Areeiro, Avenida de Roma, Alameda, Almirante Reis, Martim Moniz, Rossio, Liberdade, Marquês, subindo ao Príncipe Real, Bairro Alto, Largo de Camões, seguindo para o Cais do Sodré, tendo finalmente estacionado junto ao Mercado da Ribeira.

Para meu alivio e para meu espanto, era fácil, olhando para quem circulava pelas ruas, distinguir os lisboetas e os trabalhadores da cidade, do  novamente exagerado número de turistas.

Os “indígenas” circulavam, na  maioria esmagadora dos casos, com máscara. Os turistas, muitos vindo de países onde o COVID atinge ou está atingir proporções trágicas, raramente tinham máscara.

Por isso mesmo decidi não estacionar junto ao Chiado, e ficar-me pela zona da Ribeira, menos movimentada, ao contrário do que é habitual.

A intensão era dar um pequeno passeio, com máscara posta, pelas ruas e ruelas à volta do Cais do Sodré, tirando algumas fotografias.

Só que, ao pretender usar a máquina fotográfica, apercebi-me que tinha deixado o seu cartão em casa.

Lá tive de subir a colina até ao Largo de Camões, por uma escadaria paralela ao elevador da Bica, à procura de um sitio onde vendessem os cartões. E foi aí que aprendi a diferença entre calcorrear as ruas e colinas de Lisboa em tempos normais, os tais em que “eramos felizes sem sabermos” e os de agora, em tempos COVID. Fiquei rapidamente sem fôlego a meio da subida, devido à dificuldade de respirar muito tempo e em esforço com a máscara colocada.

Claro que vou ter de esperar pelos tempos “normais” para comprovar se fiquei sem fôlego por causa da máscara…ou é a “velhice” a insinuar-se…

Quase a desistir e a pensar voltar para trás (com a sensação que nem isso conseguia), lá fui, depois de descansar e de recuperar o fôlego, subindo até ao cimo, descendo depoia ao Largo de Camões, onde consegui comprar um cartão, visitar saudosamente uma livraria de livros antigos, a Sá da Costa, e voltar a descer até ao Cais do Sodré. Não me atrevi descer o resto do Chiado, para não abusar do fôlego e porque era cada vez mais denso o número de turistas, maioritariamente sem máscara.

Gostei de retomar as minhas saudosas caminhadas lisboetas, mas fiquei ciente que só as poderei repetir quando for possível respirar à vontade o ar de Lisboa.

 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Três Momentos, ao entardecer

Ontem, no final de tarde, na Praia Azul:



Presidenciais 2021 – “desenhando” opções

(Fonte: Sic)
O quadro dos candidatos às próximas eleições presidenciais começa a ficar definido, faltando ainda formalizar a sua legalização.

Este passo vai deixar pelo caminho alguns dos 10 presumíveis candidatos, quando ainda falta formalizar a candidatura do 11º e o mais esperado/provável candidato vencedor, o actual presidente professor Marcelo.

A não ser que se desse uma surpreendente reviravolta, isto é, se Marcelo decidisse não se recandidatar, o mais certo é a sua recandidatura e, neste caso, mais certo ainda, uma vitória folgada, logo à primeira volta.

Pela minha parte considero que, apesar de não ser da minha área política, Marcelo Rebelo de Sousa tem-se revelado um bom presidente da República, até por contraste com a presidência de Cavaco, uma das piores da nossa história recente, ao mesmo tempo que tem conseguido travar, absorvendo-o, o populismo que tem minado os sistemas democráticos europeus.

Sendo segura a sua vitória, não pertencendo eu à sua área política e prevendo um segundo mandato mais interventivo e até conflituoso com a esquerda, irei votar num candidato à esquerda, até para travar um resultado esmagador que daria a Marcelo um força desproporcionada que fragilizaria a relação institucional entre Presidente, Governo e Parlamento, factor de maior conflitualidade social e política, prejudicial para a resolução e atenuação da  gravidade do momento que se vive.

Não surgindo à esquerda um candidato que me “encha as medidas”, como aconteceu com Sampaio da Nóvoa nas últimas eleições, a minha opção terá de ser, a não surgir uma surpresa de última hora, entre um dos três candidatos que se perfilam nessa área: Ana Gomes; Marisa Matias; João Ferreira.

Qualquer um desses candidatos tem pontos positivos e negativos, mas são, cada um com as suas características, bons candidatos para a esquerda.

Em comum, têm a sua ligação ao Parlamento Europeu, o que poderá contribuir para anular algumas pulsões mais antieuropeístas de uma grande parte do eleitorado de esquerda.

Por outro lado, podendo contribuir para recentrar o debate na “Europa”, podem também contribuir para uma visão mais crítica e, ao mesmo tempo construtiva, sobre algumas decisões da burocracia europeia, mostrando que podem existir alternativas para o modelo Europeu que essa burocracia insiste em impor como via única.

Podem, por exemplo, contribuir para recentrar o papel dos cidadãos na construção europeia, como alternativa daquele modelo que nos têm imposto desde a Troika, que tem sido o de favorecer as negociatas obscuras das grandes empresas e as imposições do corrupto sistema financeiro.

Sobre as características positivas e negativas de cada um daqueles candidatos, análise que, juntamente com a forma como se vão portar durante a campanha, será decisiva para a minha decisão final sobre o candidato em quem irei votar, fá-la-ei em próxima crónica.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

A Vida de uma Rua de Alcácer do Sal (Rua da República) em Quadras Populares

                                                     

Um poeta popular de Alcácer do Sal, o "Cuba", resolveu escrever e divulgar, penso que por ocasião dos Santos Populares,  de forma espontânea (colando nas paredes)  várias quadras populares dedicadas aos habitantes, comércio e instituições da rua onde mora, a Rua da República.

O resultado é o que divulgamos em baixo, através da recolha fotográfica que efectuámos numa visita, em Agosto,  a essa bela localidade alentejana:














quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Vicente Jorge Silva (1945-2020)


Ainda sou do tempo em que um jornal e o jornalismo valia pelo nome e pelo prestígio dos seus jornalistas.

Nesse tempo tinham opiniões fundadas, grandes reportagens, entrevistas históricas e uma informação plural.

Era assim em jornais como o “Diário de Lisboa” ou o “República”, mas também no “Diário Popular” e n’ “A Capital”.

Surgiram depois títulos que revolucionaram tudo, como “O Jornal” ou o “Expresso”.

Neste último destacavam-se, desde os anos 80, as grandes reportagens e os excelentes ensaios da “Revista”, exemplo da independência e criatividade em jornalismo.

Vicente Jorge Silva, que tinha transformado um pequeno jornal regional, o “Comércio do Funchal”, num jornal de referência e num bom exemplo de como se pode fazer bom jornalismo com poucos meios, fora o responsável pela qualidade acima da média daquele suplemento do “Expresso”, ao ponto de, a partir de certa altura, muitos, como eu,  comprarem esse semanário apenas pela revista.

A sua saída  para fundar o “Público” foi uma machadada na qualidade daquele semanário, que passou a viver apenas do prestígio passado, nunca mais recuperando a qualidade perdida.

Pelo contrário, Vicente Jorge Silva levou para o “Público” o melhor desse histórico semanário.

Quando saiu do jornal que fundou, também o “Público” se ressentiu da sua perda.

Ainda existem alguns, mas Vicente Jorge Silva é um dos últimos jornalistas cujas qualidades pessoais se impunham no órgão de imprensa onde trabalhava e que faziam a imagem e a marca do mesmo jornal.

Felizmente Vicente Jorge Silva deixou “escola”, o pouco com qualidade, independência e criatividade ainda sobrevivente na (cada vez mais rara) imprensa de referência, mais no “Público”, na “Visão” ou no “Diário de Notícias”, menos no “Expresso”.

Nos momentos agitados que se avizinham, Homens com a clarividência de um Vicente Jorge Silva vão-nos fazer muita falta.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Os “meus” Presidentes da República

 


Sempre votei.

Umas vezes votei por convicção, outras para escolher o que eu, erradamente ou não, considerava o “mal menor”, outras ainda apenas como um voto de protesto ou contra a corrente.

Nas eleições presidências as minhas escolhas têm sido mais heterogéneas, embora votando sempre à “esquerda”, seja lá o que isso for.

Empenhei-me a fundo logo nas primeiras eleições presidenciais democráticas, em 1976, no apoio a Otelo Saraiva de Carvalho, tendo participado na distribuição de propaganda, distribuição de cartazes e na colagem de cartazes. Nesse mesmo ano ainda fui candidato pelos GDUP’s. movimento surgido dessas eleições , à Câmara de Torres.

Nas eleições presidenciais seguintes, as de 1980, já votei em Otelo apenas como um voto de “protesto” e contra corrente , não tanto por convicção, tendo ficado contente com a reeleição de Ramalho Eanes, de quem posso afirmar, à distância da história, que, não tendo votado nele, foi um grande presidente e é, ainda hoje, um exemplo, cada vez mais raro, de honestidade na vida política.

Em 1986 voltei a estar activamente ligado a uma candidatura, tendo mesmo privado de perto com a candidata e o seu staff eleitoral, um dos momentos de maior actividade política da minha parte, apoiando Maria de Lurdes Pintasilgo. Como ela não passou à segunda volta, acabei por “engolir o sapo” Mário Soares.

Nas eleições de 1991, apenas como voto de protesto, sem grande convicção, votei pela primeira vez, e única até hoje, num candidato presidencial do Partido Comunista, Carlos Carvalhas, na certeza, então, que Soares seria reeleito. Mário Soares não foi nenhum “sapo” difícil de ingerir e até considero que foi um bom presidente.

Em 1996 voltei a assumir publicamente e a participar activamente numa eleição presidencial, apoiando, desde a primeira hora, Jorge Sampaio, em quem votei por convicção, dando-me, pela primeira vez, a oportunidade de saborear uma vitória eleitoral.

Prevendo que a sua reeleição estava garantida votei, em 2001, como voto de contra corrente, mas também por consideração intelectual, no candidato Fernando Rosas. Não apreciei tanto o segundo mandato de Sampaio. Não me esqueço do modo como ele apoiou a ascensão de José Sócrates a primeiro-ministro.

Em 2006 votei em Francisco Louçã, como voto de protesto. Foi o ano da eleição de Cavaco Silva, o pior Presidente que tivemos até hoje, conivente com o descalabro financeiro da Banca e responsável pelo êxito inicial da politica anti social de Sócrates. Mas o pior viria no segundo mandato, com a forma como foi conivente no ir “além da Troika”, com os resultados conhecidos

Em 2011 voltei a manifestar publicamente o meu apoio a um candidato, Fernando Nobre,  mas esse apoio resumiu-se a assumi-lo em post’s no meu blog Pedras Rolantes. Ferenando Nobre desiludiu-me ao aceitar dar apoio a Passos Coelho e a entrar para o parlamento pelo PSD, embora lhe tenha acabado enxovalhado e maltratado por estes. Cavaco foi reeleito e confirmou-se como o pior Presidente.

Nas últimas eleições voltei  a manifestar publicamente o meu apoio convicto a um candidato, desta vez a Sampaio da Nóvoa. Mas não me desagradou de todo a eleição de Marcelo Rebel de Sousa, um dos raros candidatos da direita a este cargo com competência intelectual e política.

Sobre as eleições deste ano, ainda não decidi o meu apoio, mas terei oportunidade de o fazer aqui em breve, assim que esteja confirmada a lista de candidatos…e, não… Marcelo, apesar da imagem positiva que tenho do seu primeiro mandato, não será esse candidato.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Os profetas da desgraça. em tempos de epidemia.

Já existia o jornalismo de sarjeta, agora temos o jornalismo de adivinhação.

Títulos como este podem vender jornais, mas, a fazer fé noutros exemplos, mesmo em jornais ditos de “referência”, estamos mais uma vez a assistir a uma tentativa de lançar o medo e o pânico com base em “estudos” mais que duvidosos ou, no mínimo, tirando conclusões apressadas e abusivas desses “estudos”.

Antigamente tínhamos os curandeiros, adivinhos ou bruxos para explicar fenómenos desconhecidos ou que atemorizavam as populações, muitas vezes usando o medo para lucrarem ou ganharem poder à custa das grandes desgraças.

Nos tempos trágicos do socratismo e da troika tivemos os “estudos” económicos de “especialistas” para justificar as malfeitorias sociais impostas pelas políticas de austeridade.

Houve até um célebre “estudo à OCDE”, fabricado num gabinete da ministra Lurdes Rodrigues para justificar o ataque contra os professores.

Com a epidemia de COVID-19 têm proliferado os “estudos” de “especialistas” com as previsões mais catastróficas sobre essa mesma epidemia, usados com objectivos políticos precisos ou apenas para dar aos seus autores os sempre desejados “15 minutos de fama”.

Previsões catastróficas como as daquele “estudo” norte-americano (ser norte-americano, para a nossa mentalidade provinciana, dá sempre “estatuto” à coisa) também foram divulgadas por “epidemiologistas” locais no início da epidemia, em Março.

Claro que o erro dessas previsões já foi convenientemente esquecido, até porque a nossa memória é curta, e hoje a memória dura o tempo de um Twett ou de um post.

Mas alguns desses “adivinhos” tornaram-se em astros da comunicação social, sem nunca se terem retractado daqueles cálculos falhados, beneficiando da tal memória curta e da espuma dos dias.

Claro que até pode acontecer que, à custa de tanto adivinharem e do uso abusivo de previsões baseadas em cálculos “científicos”, existindo fórmulas estatísticas para todos os gostos, um desses adivinhos acerte um dia nas previsões.

Aconteceu com alguns economistas da nossa praça, décadas a fio a fazerem previsões catastrofistas, acabando por acertar uma vez, na célebre crise de 2008.

De qualquer modo, dizer que em Dezembro vamos ter 20 mil casos diários de COVID-19 e 4 a 8 mil mortos, implicaria que, em apenas três dias, se atingisse um número de infectados igual ao total dos registados desde Março até hoje, ou que, nos próximos 3 meses se multiplique por três ou por cinco o número de mortos registados nos últimos 6 meses. Apesar de tudo este número pode ser um pouco mais realista.

Em Dezembro já ninguém se vai lembrar desta primeira página…a não ser que, como acontece no euromilhões, por tanto nos atirarem com números catastrófico, um dia acertem.

sábado, 5 de setembro de 2020

“Festa do Avante” – o lugar mais seguro do país, este fim-de-semana…mas…

(foto de Rita Carmo/Blitz)

Não tenho dúvida, e sempre o afirmei desde o início, que o recinto da “Festa do Avante” é um dos lugares mais seguros do país, do ponto de vista sanitário e de outros.

Tenho-o dito desde o princípio. Não duvido da segurança dentro do recinto, ainda por cima com a redução para um máximo 16 mil pessoas.

Só quem não conhece a dimensão do espaço se pode espantar com aquele número.

Tenho lá ido nos últimos anos e, mesmo em dia de enchente, consigo movimentar-me à vontade, mesmo entre a frente e o final do recinto do palco principal, ao contrário do que acontece nos espaços dos grandes festivais de verão.

Nesses festivais é impossível sair sem perder o lugar e foi num desses festivais que me senti em situação de pânico, arrastado pela multidão no final da actuação de um dos grupos do cartaz, para além do autêntico caos nas saídas.

Nada disso se passa na “Festa do Avante”, mesmo em época normal.

Por isso é idiota comparar a Festa do Avante com outros festivais de Verão.

Penso também que partiu do PCP o alimento para a vergonhosa campanha na comunicação sociais e nas redes sociais contra o evento, devido a alguma falta de bom senso quando quis insistir em manter a lotação de 100 mil, depois reduzida para 33 mil, devidamente corrigida pela DGS para os 16 mil.

Não deixa de ser curioso que agora, a preocupação dos que recorreram a todo o tipo de processos, até ao conteúdo de palavras cruzadas, para criticar a Festa, já não seja o excesso de lotação…mas o “fracasso” no número de participantes!!!!

Este ano só não vou lá porque, se confio na segurança dentro do recinto, tenho dúvidas sobre o transporte para lá e sobre a segurança fora do recinto.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Festa do Avante - a "manipulação" jornalística chega às palavras cruzadas

 

O jornal Público optou pelo sub-refúgio das Palavras Cruzadas para manipular os sentimentos em relação à realização da Festa do Avante, num exemplo  que vai ficar na história da mais abjecta manipulação jornalística.

Na sua secção de Palavras Cruzadas do dia de ontem, 5ª feira 3 de Setembro, página 35, propõe, para ajudar a preencher a 5ª coluna da vertical, a seguinte frase . "Queira Deus que não haja (...), dizem os vizinhos da Festa do Avante".

A palavra correcta é... "CONTÁGIO".

Sem mais palavras, aqui deixamos a reprodução desse exemplo de manipulação ideológica, bem como a confirmação da solução do problema publicada hoje.


A Abstracção das árvores


A FORMA E A LUZ: A Abstracção das árvores: Clicar para ver Fotografias tiradas às árvores do parque fechado para passear os cães, no Parque da Várzea, em Torres Vedras.  

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Uma Revolta Que terminou em Torres Vedras (1931)

                                                

Podem ler AQUI a História da revolta militar de 1931, contra a Ditadura Militar do 28 de Maio, que terminou em Torres Vedras.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

FESTA DO AVANTE. Os “prós” e os “contra”

 


Como tudo na vida, nem tudo é preto, nem tudo é branco.

Infelizmente o debate nas redes sociais, contaminando cada vez mais o debate na comunicação social, alimenta um discurso fundamentalista e extremista sobre todos os temas.

Quem pensa ou concorda como nós é bestial, quem pensa de forma diferente e discorda de nós é uma “besta”.

Este discurso de ódio e intolerância contamina cada vez mais a opinião pública, impedindo um debate sereno e aberto.

A COVID-19 tem alimentado esse discurso, com muita gente a assumir tentações totalitárias e fundamentalistas sobre saúde pública, discurso alimentado, aliás, por instituições pseudoindependentes (mas maioritariamente ligadas a um partido político), como a Ordem dos Médicos, o Sindicato Independente do Médicos e, embora de forma mais atenuada e disfarçada, a Associação de Médicos de Saúde Pública, com palco diário privilegiado na comunicação social para expandir o seu discurso mais de  propaganda do que de esclarecimento.

Já tivemos o discurso do “ir além da Troika”, temos agora o discurso do “ir além das recomendações da OMS e da DGS”.

O debate sobre a realização da Festa do Avante não tem escapado a esse discurso fundamentalista, de ambos os lados, diga-se em abono da verdade.

Já se tinha visto uma discussão idêntica por ocasião das comemorações do 25 Abril e da realização da manifestação do 1º de Maio.

Com sabem, apoiei a realização do 25 de Abril nos moldes em que se comemorou, revelei algumas dúvidas sobre o 1º de Maio, mas reconheço que a sua realização foi um bom exemplo de como se podiam realizar eventos públicos em segurança.

Contudo, a Festa do Avante é um evento bastante diferente daqueles, quer pela sua dimensão, quer pela sua localização, quer pela sua duração.

Ao mesmo tempo é totalmente absurda qualquer comparação entre a Festa do Avante e os grandes festivais de musica de Verão ou a realização de jogos de futebol com público.

A diferença começa logo no tipo de público, jovem e dinâmico nos festivais de Verão, irresponsável e violento nos estádios de futebol, familiar na Festa do Avante, logo com comportamentos diferentes, difícil de controlar nos dois primeiros casos, mais fácil de controlar no segundo.

Claro que muita da polémica foi gerada pelos próprios organizadores da Festa que continuaram a insistir numa Festa igual à outras, falando mesmo na presença de 110 mil pessoas por dia, reduzindo depois o número para 33 mil, números discutíveis e “perigosos” mesmo para um espaço de 33 hectares ( equivalente, aproximadamente, a 33 campos de futebol).

Coube à DGS publicar um conjunto de normas mais realistas (VER AQUI) , de acordo aliás com o que já tinha afirmado a Ministra da Saúde (que não seria permitido o que está proibido, nem proibido o que está permitido).

Aliás, basta olhar para a normas de  ocupação de praias, outros eventos, como a Feira do Livro, espectáculos vários, ocupação de espaços de lazer e restaurantes, para perceber o alcance das  palavras da Ministra da Saúde.

Cruzando as normas impostas pela DGS com as normas já assumidas pelos organizadores da festa (VER AQUI), se forem todas cumpridas com rigor, para se perceber que, agora, finalmente se pode dizer que o espaço da Festa é um espaço seguro, embora, como em todo o lado, não isento de riscos.

Aliás, a leitura atenta dessas normas, mostra a má fé e a falácia de algumas afirmações de comentadores, muitas revelando um grande desconhecimento do espaço em causa e sem terem lido as normas: ao contrário de algumas afirmações que já ouvi, haverá um máximo de 2 mil pessoas, sentadas, no espaço do palco principal, haverá, à entrada medição de temperatura, embora voluntária (quanto a nós devia ser obrigatória) e é obrigatório o uso de máscaras para os maiores de 10 anos em todos os espaços.

Claro que existem algumas dúvidas. Como é que a organização vai cumprir o limite de 16 mil pessoas? Como é que vai conseguir controlar rigorosamente o distanciamento e a ocupação dos espaços?

Se neste momento não tenho grandes dúvidas sobre a segurança no interior do recinto, continuo a achar exagerado o tempo, a quantidade de realizações e a dificuldade em evitar grandes movimentações entre espaços.

Para mim, o principal problema continua a ser a movimentação de pessoas no exterior e nas ruas circundantes do espaço da Festa e, principalmente, os transportes para o local.

É aliás esta questão e esta dúvida que me levou a decidir não me deslocar este ano à Festa do Avante.

Podia ir de carro até próximo da festa, mas sei da dificuldade em encontrar estacionamento. Por isso teria de tomar dois transportes públicos, comboio de Lisboa até próximo do Seixal e autocarro, sempre superlotado, até à festa.

Acho por isso que teria sido mais sensato seguir o exemplo das Festas irmãs do PC espanhol e do PC francês, que foram suspensas e substituídas por actos simbólicos.

Sabemos que para muitos fundamentalistas de serviço nas redes sociais e na comunicação social, teriam a mesma atitude intolerante, tivesse a festa mil pessoas ou 200 mil.

Pela nossa parte vamos analisar se existe algum impacto no número de casos devido à Festa, acompanhando, nos próximos dias, a evolução nos concelhos próximos da Festa, comparativamente com a evolução nacional. Os resultados serão apresentados daqui a uns 15 dias.

Esperamos também alguma responsabilidade por parte dos órgão de comunicação social no acompanhamento do evento, com menos manipulação visual ( é diferente mostra público filmado a partir do chão ou a partir de um drone) e mais informação independente e credível.