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terça-feira, 31 de outubro de 2017

A História “repete-se” na Catalunha, primeiro como tragédia (em 1934),depois como farsa(em 2017).


Foi Karl Marx  que  escreveu que a história se repete duas vezes, a primeira como tragédia e a segunda como farsa.

Não creio muito nas teorias da “repetição da história”, mas os acontecimentos na Catalunha parecem confirmar aquela velha e estafada máxima.

Se for verdade que o governo da Catalunha e o seu presidente Puigdemont, demitido por Madrid, se encontra na Bélgica para pedir asilo politico, estamos perante mais um estranho acto desta “ópera bufa” em que se transformou a “independência” da Catalunha.

Esta iniciativa do “governo da Catalunha”, agora no “exílio”, foi antecipada por outra farsa, liderada pelo comediante-mor de toda esta situação, o incompetente Rajoy e o seu partido, filho legítimo do franquismo, ao nomear para “governanta” da Catalunha uma das figuras mais odiadas na Catalunha, ( e numa grande parte da Espanha), a autoritária, a carreirista,e se não comprovadamente corrupta,a eticamente condenável Soraya Sáenz de Santamaría, braço direito de Rajoy (houve noticias, não confirmadas, mas também pouco claras, segundo as quais ela seria neta ou familiar do general franquista J. António Sáenz de Santamaría, responsável pelos últimos fuzilamentos do franquismo em 1975).

Recorde-se que o seu partido, o PP, representa apenas 8% dos eleitores catalães.

Convém também recordar que esta triste história não teve inicio este mês, mas é a consequência da própria acção de Rajoy e do PP que, em 2006, numa acção que teve Soraya como principal protagonista, rasgou o estatuto autonómico da Catalunha, aprovado em referendo e já aprovado pelo Senado, mas que foi desvirtuado, iniciando-se assim a crescente tensão entre a Catalunha e o poder central.

E também convém recordar que essa história não termina hoje.

Toda a situação que se tem vivido em Espanha trouxe ao de cima o pior dos seus políticos e da sua comunicação social.

O rei foi o primeiro a ser atingido pela crise, mostrando-se uma figura incapaz de unir os espanhóis e desbaratando o património politico construído pelo seu pai, que tinha feito da monarquia uma instituição respeitada. Em vez de unir e pacificar tem contribuído para atear o fogo do nacionalismo, quer o da extrema-direita franquista, quer o regionalista.

O PP e Rajoy, por sua vez, fizeram estalar o verniz “democrático” e ”liberal” em que se escondiam a sua verdadeira natureza autoritária de raiz franquista.

A total desorientação do PSOE, que já vinha de trás, na total incapacidade que havia demonstrado em dialogar à esquerda, vai implodir, à medida que os acontecimentos venham a avançar, revelando-se um partido sem alternativas credíveis, fazendo pouco mais do que de moleta de Rajoy.

O "Ciudadanos" demonstrou a sua verdadeira natureza de partido direitista, mas que pode ser um dos beneficiados pela desorientação do PP e do PSOE, tornando-se a única alternativa credível ao eleitorado dos partidos do centrão espanhol.

O próprio Podemos sai beliscado deste processo, dividindo-se entre defensores da independência e os que a consideram precipitada, embora esta última facção ainda seja a dominante.

Pelo contrário, todos os partidos regionalistas vão sair reforçados deste conflito, o que vai gerar um novo impasse nas eleições catalães de 21 de Dezembro e reforçar, à distancia, o nacionalismo basco, cujos partidos votaram contra o Senado na aplicação do artigo constitucional 155 que travou o independentismo catalão.

A única solução para o conflito seria a realização de um referendo na Catalunha que clarificasse a vontade dos catalães.

Não deixa de ser curioso que sejam os que se opõem ao referendo que afirmam que a “maioria” dos catalães está contra a independência. Então, se é assim, porque temem o referendo clarificador? É que a melhor e maior sondagem é que  é feita em actos eleitorais democráticos.

O que provavelmente vai acontecer é que as próximas eleições na Catalunha mantenham ou reforcem o poder dos partidos independentistas, voltando tudo à mesma.

A não ser que o governo espanhol opte pela repressão, pura e dura, proibindo partidos políticos e candidaturas. Neste caso a União Europeia tem a última palavra, a não ser que queira perder toda a sua autoridade e legitimidade para criticar a falta de democracia noutros lugares ou o direito à autodeterminação dos povos noutras partes do mundo.

A União Europeia também tem responsabilidades em toda esta situação:

- por um lado, pelo modo como levou ao descrédito as instituições democráticas, desrespeitando as próprias Constituições nacionais e as escolhas politicas que não fossem do seu agrado, para aplicar, a seu belo prazer, a austeridade do  “ajustamento” e as "reformas estruturais", principalmente nos países do sul;

- por outro lado, pela forma como abandonou os principio solidários da subsidiaridade, para agradar aos “mercados”, em detrimento dos cidadãos, e pela forma como desvirtuou a importância das regiões, em detrimento do aumento do poder dos Estados, com o único objectivo de beneficiar a super-nação Alemã e os seus interesses.

Os nacionalismo e populismos de toda a espécie, em crescendo na União Europeia, são "filhos" legítimos dessas politicas.

Na Catalunha a sua história vive a fase de “comédia”, mas a tragédia pode estar à espreita, pois os políticos espanhóis e europeus, e a própria comunicação social (veja-se o triste caso do El País), pela forma como se comportaram em todo este processo, não merecem um pingo de credibilidade por parte dos cidadãos.

...A História continua!!

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Pelo direito dos catalães escolherem o seu destino

Hoje é mais um dia decisivo para a Catalunha.

Mais um dia onde as saídas se estreitam cada vez mais, onde as posição se continuam a extremar, não se vislumbrando uma saída racional e justa para a situação.

A falta de diálogo e de espírito democrático conduzem a Catalunha e a Espanha para o abismo.
Parece que a Espanha e os seus líderes nada aprenderam com 40 anos de democracia.

E a solução é democrática: eleições para a Catalunha e para a Espanha, seguidas de um referendo na Catalunha onde a sua população possa escolher livremente o que pretende, se mais autonomia, se a independência.

A não ser que se assista a mais uma reviravolta de ultima hora, não parece que é essa a solução que se avizinha.

Mais uma vez os burocratas de Bruxelas lavam as mãos do assunto, abandonando espanhóis e catalães à sorte de políticos incompetentes.

Espero estar cá no dia em que a situação se repita, mas desta vez na Escócia, para poder comparar os dois pesos e as duas medidas de muitos, comentadores e políticos, usados para argumentar, dessa vez a favor de uma Escócia independente que vingue o Brexit, mas invertendo o argumentário que usam contra o direito da Catalunha escolher o seu destino.

Pela minha parte, não sei o que é melhor para a Catalunha e para a Escócia, mas sei que catalães e escoceses sabem, e isso, só o diálogo e a democracia, e o direito à autodeterminação de cada povo, podem resolver.

…tudo o que falta no debate sobre a Catalunha!


quinta-feira, 26 de outubro de 2017

As tragédias que vendem e dão votos.

Ando por aqui há 6 décadas, testemunhei muitas tragédias por esse mundo fora, umas por “culpa” da Natureza, outras com origem natural, mas potenciadas por mão humana, outras totalmente provocadas pelo homem.

Quando a tragédia é provocada por mão humana existem autoridades policiais para investigar e condenar os responsáveis.

Quando as tragédias são naturais, mas potenciadas por erro humano, existem autoridades que investigam e exigem responsabilidades, ao mesmo tempo que apresentam sugestões para que não se repitam.

Quando essas tragédias têm origem natural, não há muito a fazer a não ser a prevenção.

É natural a revolta das vítimas e todas as interrogações.

O que não é natural, e a isso nunca assisti em vida, é o despudorado aproveitamento politico à volta da tragédia dos incêndios, antes de se investigar a sério as suas causas .

E nessas causas mistura-se:

- a mão humana (onde estão os terroristas que atearam os incêndios, quem lhes pagou, que ideologia politica professam?);

- a imprevisibilidade das condições atmosféricas (onde estavam os comentadores e políticos, agora tão preocupados com as “responsabilidades do Estado” , quando ambientalistas e ecologistas alertavam para essas alterações e as suas consequências numa estrutura florestal dominada pelo eucalipto?);

-a desertificação e envelhecimento do interior (onde andavam esses mesmos jornalistas, comentadores e políticos quando se tentou avançar com a regionalização, quando se acabou com os governos civis, quando se encerraram serviços públicos nesse interior esquecido);

-e a falta de meios para combater eficazmente estes super-fogos (onde estavam esses mesmos quando se entregou a privados o combate aos fogos ou quando se cortou a eito nos serviços florestais em nome do “ajustamento”?).

Já percebemos que a preocupação dos comentadores, dos jornalistas e dos políticos de carreira já está a desviar-se para as tricas, a interpretação de atitudes, frases, ou gestos que mostrem o efeito da tragédia nas relações entre Costa e Marcelo, e, em breve, esse interior vai voltar ao esquecimento dessa gente, virando-se a sua atenção para a aproxima crise partidária ou para o próximo “caso”, se este servir par abalar a “geringonça”.

... até que uma nova tragédia se torne terreno fértil para as manifestações demagógicas de “caridadezinha” e “pesar” pelos eternos esquecidos deste país !

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Porque não fui à “manif”

(Fotografia do site EPHEMERA)

Já fui a muitas manifestações, menos nos últimos tempos do que na minha juventude ou nos tempos do “socratismo-coelhismo”, mas gosto de saber ao que vou.

As manifestações convocadas para o último Sábado, para além de legítimas, revelavam, nas suas palavras de ordem, uma intensão que todas as pessoas de bem subscrevem por baixo: “solidariedade para com as vítimas dos incêndios”, “pela defesa da floresta”, “agradecimento aos bombeiros” e “nunca mais!”.

O problema era o que se escondia por detrás da organização dessas manifestações, principalmente em Lisboa, já que nas outras localidades essas manifestações nos pareceram mais genuínas ( mesmo que fossem visíveis cartazes contra Costa no Porto…).

Em vésperas da apresentação de uma moção e censura do CDS ao governo, por puro oportunismo político, depois de termos sido bombardeados na comunicação social por uma miserável propaganda de uma direita ressabiadas que se aproveitou de forma indigna da tragédia para atacar o governo, o que se devia exigir, nessas manifestações, era clareza de intensões,

Pela minha parte fiquei esclarecidos sobre a intensão de quem estava por detrás dessas manifestações, à medida que fui conhecendo os “organizadores”:

- Um dos grupos que convocou a "manif" para Lisboa, era liderado por um tal Paulo Gorjão, um dos apoiantes de longa data de Passos Coelho, uma espécie de ideólogo do “passoscoelhismo” , homem ligado à obscura loja maçónica “Mozart”;

- Noutro dos grupos,o único lider que revelava a sua ideologia, um tal Nuno Pereira da Cruz ,, poucos dias antes dos incêndios, no dia 10 de Outubro, publicava, na sua página do facebook a seguinte prosa:

“PSD: 3,2,1 go! 

“É certo que Costa está a viver um estado de graça, mas o dificil seria não o viver. Costa governa sem os sindicatos nas ruas, sem a contestação do PCP e BE, tem a economia a crescer e distribui rendimentos todos os dias às pessoas. Mas Costa não é imbatível. Não considero que o senhor que se segue no PSD esteja condenado a ser um líder de transição e que a vitória de Costa seja certa.

“Agora, o importante é que esse líder seja o líder desejado, que esta eleiçãoseja disputada, intensa, com grandes discussões e reflexões. Para isso é preciso integrar todos os militantes neste processo e seduzir a sociedade civil.

“Gostaria que a eleição do proximo líder fosse procedida de um congresso onde os candidatos se defrontassem, onde o PSD fizesse uma demonstração de força e vitalidade. E dois dias depois do congresso, as eleições. Abertas a todos os militantes e simpatizantes. Mas não é isso que vamos ter. Talvez venha a ser um dos temas desta campanha.

“Venha então o debate interno necessário dentro do único partido genuinamente português. Que não é herdeiro de nada, nem segue qualquer ideologia internacional. Paz, pão, povo e liberdade. 3,2,1 go!”.

Atrás deste último escudava-se um pequeno número de gente anónima, mas nos quais, vasculhando as suas páginas do facebook, se pode descobrir um estilo muito próximo daquela ideologia.

-Uma terceira convocatória e que acabou por absorver os outros era liderada por Rui Maria Pêgo, talvez o rosto mais credível das três organizações que convocaram a manifestação para Lisboa.

Mesmo assim, o aparente “apartidarismo” e caracter “independente” desta manifestação ficou manchada e revelou a sua natureza quando apareceu um cartaz acusando todos os governos “PS,PSD e CDS” , sendo os responsáveis deste cartaz, ligados ao MAS, um grupo dissidente do BE,  agredidos por manifestantes, não tanto pela acusação ao “governo”, mas porque incluiu o PSD e o CDS no lote. Alguns manifestantes deixaram mesmo cair o seu verniz “independente” e “apartidário” berrando para as televisões que “a rua não é da esquerda”.

As vitimas da tragédia, os bombeiros e a nossa floresta agora destruída, não mereciam esse comportamento.

Uma direita que se esconde por detrás do anonimato e de um pseudo “independentismo” e “apartidarismo” não merece a nossa confiança, mesmo que se escude em palavras de ordem que todos podemos subscrever.

Chega de manipulação.


 É tempo de arregaçar as mangas e fazer como em 1755: “enterrar os mortos e cuidar dos vivos”.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

A “noite de cristal” da direita Portuguesa.

(Cartoon de Vasco Gargalo)

Ontem foi um dia “mágico” para direita portuguesa ou, parafraseando o título de uma notícia do Público de hoje, a Direita “inchou” com o “ralhete de Marcelo ao Governo”.

O dia começou com todos os jornais exibindo, a toda a largura da primeira página, fotografias do presidente, com frases descontextualizadas da sua intervenção, ameaçando o governo, como se estivéssemos perante um golpe de Estado.

Pouco tempo depois foi anunciada a demissão da Ministra da Administração Interna.

Veio-se a saber durante o dia que a maior parte dos jornalistas já sabia da demissão da ministra ainda antes da intervenção de Marcelo, mas retiveram a notícia,  para dar a idéia que aquela demissão era uma consequência directa da intervenção do presidente, até porque, perante essa notícia, seriam obrigados a alterar a primeira página, retirando impacto à abusiva interpretação que quiseram fazer do discurso do presidente.

Menos de uma hora depois de se saber da demissão da ministra, caia a notícia de que as armas de Tancos tinham aparecido, sabendo-se, mais tarde, que a Policia Judiciária , que investigava o caso, só foi informada daquela descoberta depois das armas terem sido retiradas do local onde estavam, e depositadas novamente em Tancos.

Essa foi uma notícia que também era conveniente que só se conhecesse depois da demissão da ministra!

Mas o dia perfeito para a direita portuguesa não se ficou por aqui.

Pouco depois, começou a ganhar impacto, nas redes sociais, uma convocatória feita no dia anterior para uma manifestação de uma “maioria silenciosa” “contra os incêndios”, que já tinha sido ensaiada na noite anterior.

Contudo, sabe-se que essa convocatória não é tão inocente como isso. O Próprio Público, na sua edição de ontem, referia, numa noticia convenientemente “escondida” numa pequena caixa de texto, que, por detrás da manifestação da noite anterior estava um site não identificado e outro ligado a gente do PSD próxima de Passos Coelho. Ao longo do dia soube-se mais sobre quem está por detrás da convocação dessa manifestação, marcada para o próximo Sábado: figuras ligadas a Passos Coelho.

Para além da sessão parlamentar de ontem, onde a direita, com todo o oportunismo e falta de vergonha que a tem caracterizado nos últimos tempos, aproveitou para desancar no governo e anunciar formalmente a apresentação de uma moção de censura, deu-se a aparição de um Passo Coelho rejuvenescido, desaparecido de circulação desde que anunciou que não se recandidatava à liderança do partido, mas agora em posse de quem não está de partida. A partir de ontem é caso para dizer a Santana Lopes e Rui Rio   que se cuidem.

Na minha opinião, esta foi a ocasião esperada por Passos Coelho para criar uma “vaga de fundo” que o reconduza à liderança do PSD….a ver vamos!!

Mas também, no meio da sua euforia, a direita deu alguns  tiros nos pés, pois forçou muita gente a investigar, descobrir e recordar  leis, medidas politicas na área do ordenamento florestal  e do território que conduziram ao desastre ambiental que potenciou a tragédia a que assistimos no Domingo, leis e medidas essas assinadas , entre outras, pelo próprio Passos Coelho e por Assunção Cristas (ver AQUI e AQUI).

Além disso, o momento eufórico em que vive a direita, põe em causa a desejada conciliação nacional e acordo de regime, defendidas pelo Presidente, para levar para a frente as necessárias e verdadeiras reformas estruturais nas áreas da prevenção e combate a incêndios e um profundo e urgente ordenamento florestal e do território.

Tudo isto contribui para fazer esquecer quem esteve por detrás dos “atentados terroristas” de Domingo, bem como passou para segundo plano a descoberta do envolvimento de gente próxima de Passos Coelho na “operação marquês”, noticia também conhecida ontem.

António Costa está a passar a sua verdadeira prova de fogo, e terá de agir rapidamente, pondo em prática as reformas propostas pelas comissões que analisaram os incêndios deste ano e encontrando a melhor forma de as financiar.

A direita, essa, já ameaçou que vai continuar a boicotar a acção do governo e a aproveitar todas as tragédias que venham a acontecer, mesmo que muitas delas sejam a consequência lógica de anos de cavaquismo e de políticas de austeridade.

O Respigo da Semana :"O clima não explica tudo", por António Galopim de Carvalho

O clima não explica tudo

Por António Galopim de Carvalho

“A sorte do Governo é que a mais do que fragilizada oposição não tem nada a propor aos portugueses.

In Público de 19 de Outubro de 2017.

“Eu, António Marcos Galopim de Carvalho, com 86 anos de idade, professor catedrático jubilado da Universidade de Lisboa, nas Faculdades de Ciências e de Letras, ex-director do Museu Nacional de História Natural (durante 20 anos), doutorado pela Universidade de Paris e de Lisboa, autor de cerca de 300 títulos, entre artigos científicos, de divulgação e de opinião, de centenas de “posts” em blogues e no Facebook, de 20 livros dirigidos aos ensinos secundário e superior e à divulgação científica e de seis de ficção. Colaborador, sempre a título gracioso (e borla, como diz o povo), com dezenas de escolas, autarquias (de todas as cores políticas) e universidades de todo o país.

 “Isto tudo, ao estilo de quem está a “puxar pelos galões” (que todos os que me conhecem e me lêem sabem que não puxo), para conferir algum peso ao desabafo de uma convicção muito minha, muito séria, como cidadão declaradamente independente dos aparelhos partidários.

“O Verão quente e extremamente seco que vivemos (as alterações climáticas estão a alertar-nos para tempos difíceis) justifica a dimensão e a intensidade dos incêndios florestais que tanta dor infligiram a tantas famílias e tantos prejuízos causaram à economia do país. Mas não explica o elevado número de focos de incêndio, em locais diversos, detectados durante a noite, sem trovoadas secas nem fundos de garrafas de vidro ao sol. O calor e a secura propagam e alastram os fogos mas não os iniciam.

“Os imensos e trágicos incêndios do passado fim-de-semana (falou-se em mais de 500), alguns iniciados de noite, afiguram-se-me como que um “aproveitar” os últimos dias deste Verão que nos entrou Outono adentro (pois sabia-se que a chuva vinha aí) para dar continuidade a uma guerra surda contra o Governo legítimo cujos sucessos são, por demais, conhecidos cá dentro e lá fora.

“Basta ler e ouvir os comentadores dos jornais e das televisões ao serviço dos poderosos, para perceber como esta tragédia nacional continua a ser utilizada por eles nesta guerra. E a verdade é que têm tirado algum proveito (não todo) desta estratégia. É notório que o Governo está fragilizado. Também por culpa sua, diga-se, que, em minha opinião, não soube ou não quis “partir a loiça” na altura certa. Neste momento, e com tamanha e bem orquestrada campanha contra a “geringonça”, a sorte do Governo é que a mais do que fragilizada oposição não tem nada a propor aos portugueses”.

Professor catedrático jubilado

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Atitude Ignóbil


O tratamento dado pela comunicação social e pela oposição de direita à Ministra da Administração Interna foi ignóbil.

Se existem responsáveis pela tragédia que o país viveu nos últimos meses, Constança Urbano de Sousa, que terá as suas responsabilidades políticas, não é a pessoa com mais responsabilidades pelo desordenamento regional e florestal que conduziu o país à catástrofe.

Claro que, no jogo de aparências em que se transformou a politica nacional, era preciso encontrar bodes expiatórios para desviar a atenção dos verdadeiros responsáveis pela decadência da nossa floresta e pela desertificação do nosso país.

Claro que , depois de se ter repetido a tragédia de há quatro meses e depois da intervenção do Presidente da República, tornou-se obvio que a manutenção da actual equipa do Ministério da Administração Interna estava condenada a prazo e este parece ter sido o momento certo para isso acontecer, dias depois de nova tragédia e em vésperas do conselho de ministros extraordinário previsto para a próxima 6ª feira.

Quanto a nós esta demissão deve ser uma oportunidade para chamar a funções membros da Comissão Técnica Independente que analisou a causa dos fogos, apresentando propostas, que devem ser postas em prática.

Agora que a voracidade da oposição e da comunicação social por um bode expiatório teve consequências, abre-se caminho para se exigir que se vá mais longe na responsabilização pela situação, cortando-se a eito, de alto a baixo e ao longo do tempo:

- os incendiários devem ser punidos exemplarmente e as suas motivações devem ser investigadas, ao mesmo tempo que se deve englobar esse crime no âmbito de crime de  “terrorismo “, agravando as mesmas penas;

-a irresponsabilidade cívica dos que deixam as terras ao abandono, não limpam aquilo que lhes pertence, acumulam lixo de todo o tipo junto de anexos e casas, fazem queimadas ilegais, deve ser agravada penalmente;

- a incompetência que algumas autoridades locais (freguesias e municípios) demonstraram em fiscalizar aqueles actos criminosos, na denuncia daquelas situações junto das autoridades e na responsabilidade que têm na autorização de construções urbanas , industrias e rurais sem atentarem na segurança dos seus habitantes, devem ser fortemente denunciadas e investigadas, com consequências penais e politicas  pesadas;

- a incompetência dos ministérios da administração interna, da agricultura e da justiça ao longo dos últimos 30 anos, responsáveis por enxamearem com “boys” incompetentes as instituições responsáveis pela prevenção e combate aos incêndios e pelo ordenamento do território e da sua floresta, deve ser investigada e denunciada publicamente, com pesadas consequências penais e politicas ( e aqui ninguém se pode ficar a rir, não é srº Asssunção Cristas??);

- os responsáveis pelos cortes cegos (os “troikistas”) que levaram à extinção dos governos civis, ao encerramento de serviços essenciais que contribuíram para acelerar a desertificação e empobrecimento do interior, à extinção se serviços essenciais a nível da prevenção, vigilância e combate aos incêndios na nossa floresta, devem ser igualmente conhecidos publicamente e devem responder criminalmente e politicamente pela consequência dos seus actos.

Quem abriu a caixa de Pandora, deve agora aceitar as consequências de uma “caça às bruxas” que afaste de vez da responsabilidade politica, económica e da social todos os responsáveis pelo nosso desordenamento florestal e regional que conduziu o país ao desastre.

Quem usou métodos ignóbeis para acusar uma ministra deve estra preparado para receber como ricochete o mesmo tratamento, principalmente se não tem as mãos limpas nem é isento de responsabilidades neste processo todo, como acontece com muitos dos detractores da ministra agora demitida.




terça-feira, 17 de outubro de 2017

A tragédia dos Incêndios e a demagogia de comentadores "liberais"


Tem sido um nojo miseravelmente demagógico e oportunista aquilo que temos ouvido de comentadores encartados, que discutem tudo, do futebol à politica, da economia aos incêndios, da realidade internacional ao pequeno escândalo de aldeia, sempre cheios de certezas, mas que pouco acrescentam ao debate necessário que urge fazer (ou saber) sobre incêndios e ordenamento do território.

Tem-se salvo o trabalho da Antena 1, da RTP 1, 2 e 3, que, pelo contraste com os restantes órgãos de comunicação social, mostra porque é importante continuar a manter um serviço público de comunicação social.

O que ouvimos e vimos de interessante e de valor acrescentado sobre o tema, ouvimos e vimos quase exclusivamente nesses órgãos de comunicação que chamaram técnicos e especialistas, nas várias áreas relacionadas com o problema dos incêndios florestais: meteorologistas, bombeiros especializados, técnicos de protecção civil, silvicultores, professores universitários....

Claro que isto não dá “espectáculo”, mas isto deve ser o objectivo nobre de qualquer órgão de comunicação social democrático, que deve dar lugar a um debate sereno, independente, crítico e diverso sobre qualquer tema em agenda.

Se, nos outros canais, o objectivo era queimar a ministra da administração interna, esmiuçando, com gritaria e frases feitas,  até ao ridículo, alguma falta de jeito que aquela tem demonstrado para enfrentar a voracidade assassina da comunicação social controlada pela oposição à “geringonça”, os canais publico revelaram  preocupação em esclarecer com serenidade, mantendo a independência critica em relação aos erros que podem ser imputados ao governo, mas não lançando a confusão boçal, apanágio da maioria dos comentadores de serviço nos canais privados.

Não deixa de ser curioso que os ideólogos do neoliberalismo e do “ajustamento” se mostrem agora tão escandalizados com a “falta do Estado” na prevenção de incêndios, como se não soubessem que:

-  foi a austeridade neoliberal, que tanto defendem, que afastou serviços públicos do interior (encerramento de escolas, centros de saúde, tribunais, policias, guardas florestais…), desertificando-o;

- foi a economia neoliberal que tanto defendem que entregou a floresta ao total desordenamento levado a cabo por interesse privados, floresta que hoje é, de forma esmagadora, de gestão privada;

- foi o “ajustamento” que tanto defendem que, ao  desagregar a organização das freguesias e ao acabar com os governos civis, desregulou toda a organização da protecção civil e deixou que, entre o poder central, bastante afastado, e o poder municipal, de dimensão demasiado pequena, se pudesse responder atempadamente a tragédias de grandes dimensões, dificultando a coordenação e a tomada de decisões urgentes,

- enfim, foram esses mesmos que passaram a vida a desdenhar e a ridicularizar os alertas de ambientalistas e cientistas da área do ambiente para os riscos provocados pelas alterações climatéricas.

A não ser que desejem que o Estado passe a vigiar cada cidadão que lança uma beata pela janela do carro, que não limpa o terreno à volta da sua casa, que não cuida do terreno florestal, geralmente um minifúndio, num local desconhecido e isolado, enfim, que seja o mesmo Estado, que essa gente tanto   abomina, a responsabilizar-se pela falta de civismo de muitos.

Leia-se, aliás, a propósito, a reportagem de Ana Fernandes, editada no Público de hoje, alertando para a responsabilidade civica a que muitos, alguns mais tarde, transformados em vítimas dos seus próprios actos, tentam escapar, tentando fugir ao controle do tal Estado, a quem depois vêm pedir responsabilidade.(uma reportagem a contra-corrente com o conteúdo desta edição).

Enfim, é de facto urgente e necessário uma profunda reforma (talvez fosse mais adequado falar em “revolução”, palavra que esses tais tanto temem) no ordenamento do território e no ordenamento florestal, bem como na prevenção e no combate aos incêndios, mas isso só se pode fazer com uma verdadeira e corajosa regionalização do país, outra coisa que esses hipócritas comentadores abominam.

É caso para se dizer que, juntamente com a floresta, ardeu também a credibilidade e a independência política de grande parte da comunicação social privada, e dos seus comentadores, liderada ideologicamente pelo Observador e logo secundada pela SIC e pelo Expresso, sem esquecer a cada vez mais aguerrida “facção Dinis” que procura forçar uma mudança de rumo no projecto “Público”.

Além das cinzas da floresta, também a credibilidade e independência da chamada comunicação social “liberal” ficou em cinzas nesta tágica época de incêndios.


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Jornalismo e incêndios : querem mesmo encontrar responsáveis "políticos"?

(foto: Paulo Novais,  LUSA)

Esta notícia foi publicada na semana passada: "Altri e Navigator atingem Novos Máximos" (clicar para ler).

Já aqui afirmámos e que o verdadeiro jornalista, se quer esclarecer o que está mesmo por detrás dos incêndios, devia investigar: quem  lucra com os incêndios, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista económico

Se fosse jornalista de economia, em vez de andar a perseguir a ministra da administração interna, há muito que tinha começado a investigar a  teia de interesses que liga accionistas,administradores, clientes e fornecedores dos dois principais conglomerados de empresas de pasta de papel, cotados em bolsa, e as ligações destas com o mundo da política, da finança e do jornalismo, sim, do jornalismo, porque algumas delas tem interesses em jornais.

Também investigava todo o processo legal das últimas décadas, ligado ao ordenamento florestal , à extinção dos vigilantes florestais, às autorizações para plantar eucaliptos e alargar a sua àrea com os políticos que estiveram nas bases dessas decisões e a sua ligação com as grandes empresas de celuloses.

Por último, querem medidas contra  a criminalidade ligada aos incêndios?: - suspendam a presença dessas empresas florestais no mercado das acções durante a época de incêndios ou durante todo o mês a seguir aos grande incêndios fora de época e tabelem o preço da venda da madeira queimada, ainda antes da época de incêndios e talvez tenhamos a "agradável surpresa" de vermos a redução drástica de incêndios de grandes dimensões.

Claro que existem outras causas que já referimos AQUI, mas comecem pela investigação que propomos e talvez encontrem os verdadeiros "responsáveis políticos" pela tragédia.

Não acredito em "bruxas", mas .....




sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Os amigos de Rajoy

Estas são algumas das imagens do 12 de Outubro que a imprensa espanhola tentou esconder.

Confessamos que foi dificil recolhê-las e separá-las de imagens mais antigas.

Com alguma pesquisa em jornais espanhois e sites menos comprometidos reunimos aqui algumas das fotografias das manifestações da extrema-direita em Barcelona, (algumas noutras cidades espanholas) ontem dia 12.

Estes são os amigos inconvenientes dos unionistas, mas que se têm vindo a aproveitar do conflito catalão e do discurso cada vez mais radical e nacionalista do governo espanhol.




 



O Cartoon da Semana


Vai começar mais uma edição do AMADORA BD (27 de Outubro a 12 de Novembro)

BêDêZine: Vai começar mais uma edição do AMADORA BD: Está marcada para 27 de Outubro a abertura da 28ª edição do AMADORA BD - Festival Internacional de Banda Desenhada. (clicar para ver mais informações).

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Operação Marquês- a justiça fica-lhes tão bem.

(Cartoon de Vasco Gargalo - Revista Sábado)

Depois de 4 anos de investigação chegou-se finalmente à acusação.

Agora, o que todos os cidadãos devem exigir, é que a justiça seja célere e clara, não deixando escapar ninguém, não deixando qualquer dúvida sobre inocência ou culpabilidade.

A mim, o que me espantou não foi a “qualidade” da gente envolvida, mas o facto de nunca se ter ido tão longe noutros casos de corrupção politica, como no caso BPN.

As ligações quase mafiosas entre o poder financeiro e o poder político, envolvendo também empresários, e gozando da conivência de alguma comunicação social (o próprio BES chegou a financiar “féria de sonho” a dezenas de jornalistas da área económica, como se soube AQUI), eram de há muito conhecidas e ganharam dimensão com a afluência a Portugal de milhões em fundos estruturais e europeus, aliando-se a um certo espírito “novo-riquista” de uma classe politica, alojada no chamado “centrão” e à sombra do maná desses fundos.

Todo o percurso biográfico de Sócrates encaixa perfeitamente nesse novo tipo de políticos formados no “centrão” e no cavaquismo, que gerou dezenas de casos nas últimas décadas, muitos dos quais ficando-se pela superfície ( casos BPP e BPN), outros nem sequer avançando (tecnoforma), mas que eram o resultado lógico desse “nova mentalidade”, políticos esses que colocavam no topo da sua vaidade um qualquer título académico forjado ou  comendas distribuídas entre amigos em solenes cerimónias (leia-se, aproposito, o que AQUI escrevi em 2014 e AQUI em 2016).

Além disso, casos como o de Sócrates revelam-se exemplares, mesmo na Europa, pois não são muito diferentes de muitos outros mal esclarecidos envolvendo, só para citar alguns de memória, um Tony Blair, um Juncker ou um Rajoy, com a diferença de que estes morreram no ovo de uma justiça muito dependente do poder politico e financeiro.

Esperemos que este caso e o seu consequente julgamento faça escola, não só na história da justiça portuguesa, mas como modelo a seguir numa Europa que se deseja renovada.

Nós, os cidadãos, que pagámos para a festa, não vos largaremos, nem um momento, até que seja feita justiça, uma justiça que deve ser também pedagógica, para que todos os novos candidatos a Sócrates, em Portugal ou por essa Europa fora, saibam que não estão acima da lei.

Que se faça justiça, e de forma célere!


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Os patriotas estão em Barcelona, os nacionalistas em Madrid


Dizem que o General De Gaulle afirmou um dia que o “patriotismo é quando o amor pelo seu próprio povo vem primeiro e o nacionalismo, quando o ódio pelos demais povos vem primeiro”.
Li algures que essa frase não pertencia a De Gaulle, que a citou o adaptou doutro autor que não consegui identificar. Mas o que interessa é o seu conteúdo, que distingue patriotismo ( e Nação, diremos nós…) de nacionalismo.

Nos dias que correm é importante distinguir o sentido dessas palavras, em vez de as tentar misturar no mesmo significado, como o fazem, por um lado os fascistas xenófobos em crescimento por essa Europa fora ( mas que, curiosamente, escondem o seu ideal fascista, consciente ou inconscientemente, atrás do seu “nacionalismo”) e por outro, todos aqueles que procuram rotular pejorativamente de “nacionalistas” todos aqueles que criticam os excessos da globalização, o “austeritarismo” das instituições Europeias e a sua politica a favor do sector financeiro (os célebres “mercados”)  contra os cidadãos europeus, metendo tudo no mesmo “saco” do “populismo” (outro conceito abusivamente utilizado por estes).

A confusão tem vindo agora a ser ainda mais acentuado pelos mesmos comentadores, jornalistas e políticos na forma como tratam a situação Catalã.

E o que confunde ainda mais essa gente é o facto de os catalães afirmarem o seu patriotismo defendendo o direito a terem uma “nação”, ao mesmo tempo que defendem o seu direito de se manterem na União Europeia, fazendo tudo de forma democrática (mas não “legalista”) e pacífica.

É ainda mais curioso ver, ao lado dos defensores da “legalidade democrática” e do “direito” da Espanha sobre as nações ibéricas, todos os fascistas e nacionalistas espanhóis, cantando os velhos hinos fascistas e desembainhando as velhas bandeiras do franquismo, marchando ao lado dos “democratas” do PP, dos “Cidadanos” ou do envergonhado PSOE, mesmo que, no domingo em Barcelona, tenham sido “aconselhados” a disfarçar esses símbolos.

E eu pergunto-me: onde está o “nacionalismo”? entre os defensores da “Espanha Una e indivisível” ou entre os defensores do direito dos Catalães a construírem a sua “pátria”?

Mas não me admiro com os que confundem tudo, pois são os mesmos que classificam toda a esquerda como “extrema-esquerda”, classificação tão absurda, no caso de Portugal (PCP e BE), da Espanha (Podemos e IU) , da França (Mélanchon) , da Grécia (Syriza) ou até da Grã-Bretanha (Corbyn) e Estados Unidos(Sanders), como o seria o de classificar o CDS ou o neoliberalismo de extrema direita.

Uma coisa é ser extremista, outra é ser radical. Existe uma esquerda que, para ser coerente com os seus valores, deve ser “radical” ( mas não intolerante, antidemocrática ou antiliberal), assim como existe uma direita radical (mas não extremista ou intolerante) no seu conservadorismo ou no seu neoliberalismo.

A confusão de conceitos foi sempre usada historicamente pelos fascistas de todas as tendências (como no pretenso “socialismo” do “nacional-socialismo” ) para melhor fazerem chegar a água ao seu moinho.

Que a mesma confusão seja alimentada por gente “democrática” e “liberal” já nos parece mais grave, como é grave que, nessa confusão alinhe alguma imprensa de referência ( em Espanha é triste ver o rumo de um jornal como o El País…).

Para desmentir todo o tipo de atoardas contra  catalães, estes têm vindo a demonstrar uma grande resiliência face a todo o tipo de provocações e atitudes intolerantes lançadas pelo governo de Madrid (com o beneplácito da coroa e o silêncio cúmplice do PSOE), revelando a sua grandeza e que, mais uma vez,  são os primeiros a saber recuar para evitar o desastre, e estender a mão aos “adversário”, colocando agora a batata quente nas mãos do intolerante Rajoy.

Saberá Rajoy (… e o rei …e o PSOE) estar à altura dos acontecimentos? Duvido.

Até aqui o “extremismo”, a “intolerância” e o “nacionalismo” tem estado do lado do PP ( …e do rei …e do silêncio cúmplice do PSOE) e o desejo de decidir democraticamente, em diálogo e com abertura,  tem estado, mesmo com erros pontuais, do lado dos catalães.

Os patriotas estão na Catalunha. Os nacionalistas em Madrid!


terça-feira, 10 de outubro de 2017

Portugal a arder : - investigue-se!


A época de incêndios em Portugal iniciou-se este ano muito mais cedo do que o habitual, e de forma trágica, e está a prolongar-se muito para além do habitual, como se viu pela situação desta semana.

Se existe uma causa genérica para essa situação, atribuída às alterações climatéricas e a um ano de seca prolongada, estas foram potenciadas por erros cometidos, ao longo de décadas, na gestão da floresta portuguesa.

Não é preciso ser especialista para enumerar algumas delas:

- a grande alteração desse tecido florestal, com a introdução em larga escala de uma espécie como o eucalipto, que se tornou dominante, muitas vezes plantado em locais inadequados. Desde que me lembro, e desde que existem movimentos ambientalistas em Portugal que somos alertando para os perigos da plantação excessiva do eucalipto, pela facilidade como o fogo se propaga nas zonas onde existe essa espécie, pela própria violência dos fogos nesse cenário, assim como pela destruição em massa de outras espécies, vampirizadas pelo eucalipto, para além de secarem os terrenos onde são plantados;

- a falta de meios adequados à nova realidade florestal, associada à desertificação humana das zonas do interior, ao abandono dos que ficam nessas zonas à sua sorte e à redução de forças de prevenção e vigilância, é outra das situações que potencia a dimensão desses fogos;

- a falta de civismo, ainda muito enraizada na população, como o simples facto de atirar beatas pelas janelas dos automóveis, fazer queimadas fora da lei, lançar foguetes em locais desapropriados, transformar as florestas em lixeiras ou a falta de tratamento das matas também contribuem para uma situação cada vez mais trágica;

- a mão criminosa de muitos, num contexto legal permissivo e pouco rigoroso, muitas vezes com motivações obscuras que ficam por investigar, é outro motivo para a rápida propagação de muitos incêndios.

Mas existe um outro motivo, raramente abordado, que são os interesses que, implícita ou explicitamente, beneficiam com esta situação.

Um deles prende-se com o incentivo que as grandes empresas de celulose têm vindo a dar à plantação de eucaliptos. A responsabilidade dessas empresas e dos seus accionistas em relação à grave situação da floresta portuguesa raramente é investigada, até porque essas empresas envolvem interesse poderosos (bancos, jornais, políticos…).

Não me posso esquecer de uma situação que observei em Agosto passado: aí, uns dias antes de 10 de Agosto, e depois do governo, na sequência da tragédia de Pedrogão Grande, ter avançado com um projecto de lei para limitar a plantação do eucalipto e apressar a aprovação de um projecto de ordenamento florestal, uma determinada empresa, cotada em bolsa, uma das maiores celuloses existente em Portugal, ameaçava sair de Portugal se esse projecto avançasse.

Dias depois desta notícia iniciou-se o período de grandes fogos que durou semanas, interrompido por pouco tempo em Setembro e que regressou em força nestes primeiros dias de Outubro.

O que me chamou a atenção é que, poucos dias depois do inicio desses incêndios, as acções em bolsa dessa empresa, e de outras do sector, ter conhecido uma subida acentuada, mostrando assim a relação directa entre os incêndios e o lucro dessas empresas, à custa do facto de possuírem em armazém uma matéria prima que se torna rara, ao mesmo tempo que conseguem reduzir o preço pelo qual compram madeira queimada aos particulares vitimas dos incêndios ( baixa de preço que também foi noticiada na comunicação social de Setembro).

Pode ser coincidência ou mero oportunismo económico, mas qualquer investigação sobre a tragédia deste ano devia ter em conta a investigação sobre esses empresas.

Aguardamos, pois, com expectativa, essa investigação.