Quem tem ou conhece amigos com aquários, sabe bem o que são os “limpa
fundos”.
São uns peixinhos que se alimentam e têm como função limpar a porcaria
que os outros peixes fazem e que se vai acumulando no fundo do aquário.
Metaforicamente, nas últimas semanas temos visto a entrar em acção os “limpa fundos” para limpar o rasto de “porcaria” deixado
pelas opiniões racistas da “catedrática” Bonifácio.
Não voltei ao assunto na semana passada porque não quis conspurcar uma
semana marcada por um acontecimento tão nobre como o cinquentenário da chegada
à lua com a referência a tão ignóbil criatura. Estive mesmo para não voltar ao
assunto, mas como as ondas de choque daquela “ignóbil porcaria” continuam a
ecoar na comunicação social, não quis deixar de dar o meu humilda contributo
para o “debate”, reforçando o que na altura escrevi sobre o tema.
Embora, com a exclusão de Vasco Pulido Valente, do bando do "Observador" do PNR, ninguém se tenha
atrevido a defender os argumentos da dita senhora, tenho assistido a uma
tentativa de branquear, não o que ela disse, mas o que ela representa para uma
certa direita portuguesa.
É bom não esquecer que ela foi uma das principais apoiantes de Passos Coelho
e Cavaco, uma espécie de legitimadora moral e intelectual das medidas do tempo
da troika e da ideologia neoliberal portuguesa por aqueles ensaiada, com as resultado
sociais conhecidos.
Começando todos por se demarcar do tal artigo, tentam depois desculpá-lo
pelo feitio provocador de Bonifácio, em
defesa de tão tenebrosa figura.
Uns acham que as afirmações racistas e as bacoradas históricas do dito
artigo (já referidas por vários intervenientes e por nós próprios em post anterior) foram um mero lapso ou uma mera provocação, como se o que ela
escreveu nesse artigo não fosse o corolário lógico de todo o pensamento
politico, intelectualmente “bem” elaborado, de Bonifácio, revelado aliás noutras intervenções
públicas em artigos de opinião ou em debates televisivos.
De facto, Fátima Bonifácio sabe o que escreveu e concorda com o que
escreveu, não foi um simples lapso. Dizer que ela não queria escrever o que
escreveu é mesmo um atentado contra a reconhecida inteligência da dita “catedrática”.
Pelo menos reconheça-se a coragem de Fátima Bonifácio, coragem que não abunda
muito entre os seus apaniguados e seguidores que, lá no fundo, concordam com o
que ela escreveu, e o dizem nos bastidores, mas nãos se atrevem a escrevê-lo o
dize-lo em público.
Outra forma de “limpar o fundo” da porcaria de Fátima Bonifácio é
desviar a atenção do conteúdo daquele artigo.
Que o objectivo era nobre, dizem, o de questionar a questão da quotas e
que aquela afirmações racistas foram um mero berloque a “enfeitar” a “intenção”
principal do mesmo artigo.
Claro que, também nós questionamos a questão das quotas, embora se deve
reconhecer que, em certas circunstâncias é a única forma de combater o
preconceito, seja ele de género ou de “raça”. Toda a gente sabe que, em mais de
90% dos casos, se se apresentarem um cigano, um negro e um branco, em igualdade
de circunstâncias de formação, sociais e económicas, para concorrerem a um
emprego, a um lugar na Universidade ou a um simples aluguer de casa, e havendo
lugar apenas para um, o branco é o escolhido.
Nesse tipo de situações parece-me que se justifica a imposição de um
sistema de quotas.
Já noutra situação, onde apareça um branco com melhor nota e maior
experiência, concorrendo contra outros brancos, ou negros, ou ciganos, ou
mulheres, apresentando estes menor
formação ou experiência, o sistema de quotas torna-se injusto.
Ao contrário daqueles que desviam a atenção para a temática das quotas
no dito artigo, o racismo revelado por Bonifácio não foi um assunto secundário.
Para nós a questão das quotas é que foi pretexto para as afirmações boçais e
racistas da dita “catedrática”.
Outros desviam a discussão para a questão da liberdade de opinião,
mesmo quando esta é abjecta (leia-se, a propósito, AQUI a forma, meio irónica, como o insuspeito Pedro Marques Lopes desmascara esta situação, nas páginas do Diário de Notícias deste fim-de-semana).
Claro que afirmações boçais, racistas e ignorantes como as de Fátima
Bonifácio são o preço a apagar pela liberdade de informação.
Mas Fátima Bonifácio tem lugar cativo em colunas de opinião e em
debates televisivos devido ao seu “prestígio” como historiadora e, neste
artigo, Fátima Bonifácio atropelou os mais elementares princípios da sua profissão,
deturpando a própria História da Declaração dos Direitos do Homem, do
Cristianismo e da Civilização Ocidental.
(As "Boas" companhias de Fátima Bonifácio)
Se era o seu prestígio como historiadora que lhe deu lugar como “fazedora”
de opinião, o artigo em causa borrou toda a pintura e a suas opiniões não podem
ter, a partir de agora, mais peso e importância que os mais reles argumentos
que pululam nas redes sociais, estando ao nível de um Trump ou de um Bolsonero….a
menos que a própria se venha retratar das ditas afirmações!
Mas, se Maria de Fátima Bonifácio tem o “direito” (discutível, basta ler
a lei de imprensa, a Constituição Portuguesa, a legislação sobre o assunto ou mesmo a Declaração Universal dos Direitos do Homem) de
ofender comunidades inteiras, porque é que reagir às opiniões da dita senhora
passa a ser uma “condenável acto de ataque pessoal” ou uma tentativa de atentar
contra ao direito de opinião?
Ou seja, umas opiniões têm o direito de se exprimir, outras não passam
de “linchamentos públicos” de uma alta dignatária da Universidade Portuguesa.
Se há um discurso que legitima linchamentos públicos de minorias é o de Maria de
Fátima Bonifácio.
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