Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta Maria Laura Madeira. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Maria Laura Madeira. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Enfim, a História Aproxima-se dos Povos - o século XVIII em Portugal visto por uma historiadora brasileira - um texto escolhido por Maria Laura Madeira.

Enfim, a História aproxima-se dos povos

 por Maria Laura Madeira

A História vai-se aproximando dos povos e realizando o velho sonho de discretos investigadores, aos quais interessa sobremaneira, antes das ditas façanhas, entender e fazer entender os conceitos por que se pautaram...

Alguns povos, como o nosso, sofrem ainda hoje como vítimas dum conceito feudal da organização social, levado ao extremo, e até contando com a anuência servil dos povos. Afinal, já nos nossos dias, vemos como os deputados se auto-promoveram com vencimentos e regalias muito acima dos governados, sem lhes importar a miséria e a injustiça lançadas sobre a grande maioria deles. Entre outros escândalos, que vamos conhecendo. Esquecem um princípio fundamental da República: o exemplo.

Sem embargo de termos alcançado entretanto um nível cultural que já nos permitiria ser bem mais exigentes no cumprimento de princípios fundamentais. A Educação e a Cultura, como a Cidadania, deverão merecer-nos o maior dos cuidados, para que o sentido crítico e a liberdade de expressão efectivamente se exerçam e dêem frutos nas novas gerações.

Ou continuaremos pasmados, manipulados, fascinados como tolos diante do exibicionismo de alguns, perigosamente, como no tempo de D. João V e de suas frívolas cortes e ambições...(como exemplo).

Parabéns aos jovens historiadores e investigadores que enfim se debruçam e esmiúçam o testemunho suado e sofrido dos que sempre ficaram à margem da História...A civilização agradece.:

 MLM/2014

P.S. A Globo passa pelas 20 horas uma novela notável, que já tem uns aninhos, acerca de como nasceu a cidade do Rio de Janeiro, logo a seguir à libertação dos escravos e ao aparecimento  das actuais «favelas». A não perder, na linha do que atrás deixei dito. 
Mlaura

Heranças de Portugal


Paço Real - Lisboa
(pintura a óleo do séc. XVIII)

"Apesar da forte influência inglesa na economia, e que aumentava cada vez mais a ponto do historiador britânico Eric J. Hobsbawn (1920-2012) se referir a Portugal como colônia não oficial do Império Britânico no século XIX, a França era o modelo em termos de moda, cultura e vida cortesã no Brasil Colonial. Após terminada a Unificação Ibérica, em 1640 (vista pelos portugueses como uma humilhante dominação que durou 80 anos), criou-se uma atmosfera de rejeição aos hábitos da Espanha, passando assim a França a ser a grande fonte inspiradora.
Dom João V

"Dom João V (1689-1750) sonhava em passar para a História como o Rei-Sol lusitano. O monarca e os nobres copiavam as roupas e os acessórios franceses, e sempre com grande ostentação. Vários viajantes relataram os excessos da elite lusitana. Lisboa, porém, não estava nem perto de se tornar Paris. Nem todos as sedas, rendas, joias e perucas conseguiam disfarçar a precária situação financeira de Portugal. Ainda assim, o ouro e os diamantes levados do Brasil alimentavam as manias da nobreza empobrecida.
Rainha Dona Maria Ana
"As atividades sociais e culturais em Lisboa eram poucas. O rei e a rainha não transformavam o cotidiano em um espetáculo, como era comum em Versalhes. As trocas de roupas não eram um ato público, o casal real fazia as refeições sozinho, o rei caçava com poucos acompanhantes. A rainha Dona Maria (1683-1754) era chamada de carola à boca pequena, só saindo para ir às missas. As construções também seguiam o estilo da corte. O Paço Real, o Rossio, os palacetes dos nobres mais importantes, todos apresentavam o mesmo ar pesado e sem imaginação (Lilia Schwarcz discute detalhadamente este tema em “A Longa Viagem da Biblioteca dos Reis”). O Convento de Mafra, era a mais grandiosa obra do barroco português e a menina dos olhos de Dom João V, mas era um Palácio-Convento considerado feio e faraônico (ver o belíssimo “Memorial do Convento”, de José Saramago).
Convento de Mafra
"Não havia praticamente vida social. Com exceção de alguns espetáculos teatrais e dos eventos religiosos (missas, procissões e autos-de-fé), os nobres não tinham muito o que fazer. As artes, como pintura, escultura, música, teatro, ópera e até literatura (terreno onde sempre floresceram grandes nomes lusitanos), enfrentavam uma fase de marasmo. Somente a religião vivia um furor cada vez maior. Diziam as más línguas que Dom João V era tão católico, que buscava as amantes entre as freirinhas dos conventos…A religiosidade exacerbada, nos moldes da Idade Média, era uma das peculiaridades da sociedade portuguesa. A Europa via os portugueses como supersticiosos e ignorantes.
Imagem inline 1
Procissão portuguesa séc. XVIII
"O que aconteceu com as glórias e as conquistas lusitanas? Como explicar a penúria que convivia com abundância de ouro, diamantes, açúcar e escravos do Brasil? Além de apegado à Igreja, que é uma instituição essencialmente conservadora, Portugal sempre se manteve isolado em relação às novidades e ideias que transformaram o mundo. A Reforma Protestante, o Iluminismo, os ideais das Revoluções Francesa e Industrial, os conflitos dos Estados Unidos, tudo sempre parecia chega atrasado a Portugal, ou a nem mesmo interessar aos lusitanos (salvo a pequenos grupos da elite), que insistiam em olhar para o passado das grandes navegações. Na economia, Portugal se contentava em esbanjar o ouro brasileiro em projetos grandiosos e inúteis. Sem investimentos em infraestrutura, sem se preocupar em fortalecer as manufaturas e as indústrias incipientes, a economia portuguesa afundava rodeada de riquezas. Nem os esforços de Dom João V, nem a mão de ferro do Marquês de Pombal (1699-1782) conseguiram reverter a situação.
Sebastião José de Carvalho e Melo
"A vida na corte no Antigo Regime era um jogo complexo de aparências. Portugal tentava seguir este modelo mesmo com uma corte pobre e pequena. E continuou insistindo nestes hábitos cortesões, mesmo quando já estavam obsoletos. Sabemos que no Brasil as coisas foram muito semelhantes: uma elite sem título que vivia de aparências, investindo o que podia e o que não podia em tecidos, joias, roupas, sapatos, escravos, carruagens e liteiras.
Imagem inline 2
Senhora brasileira do séc. XVIII
"A herança portuguesa é paradoxal e cheia de interrogações, sem deixar de ser também bela e rica. Conhecendo-a. podemos refletir bastante sobre a realidade brasileira e sobre alguns hábitos de tempos passados, que permanecem até hoje entre nós".
Texto do historiadora  Márcia Pinna Raspanti

domingo, 4 de agosto de 2013

As Crónicas de Maria Laura Madeira



A partir de Setembro contamos abrir o espaço de Pedras Rolantes a novas colaborações, procurando tornar assim este “idoso” blogue num espaço mais plural e com ideias e visões diferentes e mais inteligentes do que aquelas que eu por aqui, á flor da pele e em cima do joelho vou debitando.
É o caso da minha amiga Maria Laura Madeira.
Para abrir um pouco o “apetite”, aqui vos deixo três crónica da sua autoria
Voltaremos em Setembro
VM
:

 Uma aula de Catroga, na SicNotícias,
 por Maria Laura Madeira

 Correrei o risco de ser apedrejada ao distinguir hoje, em entrevista a Ana Lourenço, uma aula
de Eduardo Catroga acerca da «história da crise», como eu ouso chamar-lhe. Veio a propósito da interessantíssima trica sobre a Ministra Maria Albuquerque que, mentiu não mentiu, lá vai justificando os honorários de alguns.

Apreciei sobremaneira a sua capacidade de síntese, se calhar porque, nos meus trabalhos de jornalismo, depois de aprimorar a matéria, o léxico e a pontuação, eu recebia da coordenadora um sorriso aliviado e quase sempre uma ordem: «reduz para dois terços». Então, ao menos por isso, que ninguém se melindre da minha admiração episódica por Eduardo Catroga.

 Tão simples como o raciocínio de cada um de nós sobre a questão, mas desta vez sem brejeirices, o Professor fez o historial das crises do nosso país, a começar pela bancarrota dos finais do séc. XIX. Seguiu até Guterres e Cadilhe, para acentuar que foram estes quem desmanchou o organismo que entre nós controlava as matérias financeiras, empréstimos externos incluídos. Não disse por que razão Cadilhe abriu o curro, certamente uma razão de último recurso; tão último que Guterres acabou por sair espavorido e bem recompensado, com um bonito cargo. Mas a crise conheceu aí a grande hemorragia. Ou seja, as empresas públicas e mistas puderam tourear à vontade, com um «inteligente» que, fosse quem fosse, uma certeza tinha: quando a besta saltar será em cima do povo, como sempre.

Só havia de acautelar o rendimento de uns quantos, para que a pancada, quando viesse, não os deixasse sem pinga de sangue, como a milhões de nós. 

Catroga concluíu o óbvio, de que a gente parece esquecer-se. A responsabilidade dos gastos, excessivos, dos empréstimos tóxicos, de tudo o que tem sido a hemorragia nacional deve-se principalmente à tutela, a quem devia governar e não governou. Crime doloso, acrescento eu, de resultados previsíveis, cometido com a consciência de que recairia sobre os menos favorecidos o ónus de pagar a crise. As sucessivas crises. Os desfavorecidos do sistema que, se morrerem ou matarem, tanto melhor, mais fica.

E a força do trabalho, os que trabalham, que lhes aconteça como aos antigos escravos alforriados, livres e ao Deus dará. Enquanto alguns se lambuzam de marisco e dançam o samba, cumprindo alegremente o calendário religioso. 

 Justiça? Casos de polícia? Declaração de calamidade pública? Não, apenas silêncio.

Com tranquila graça Ana Lourenço rematou, a propósito das dívidas ocultas: «Saíram de todos os buracos».

Obrigada por me lerem, 

MLM/2013

A visão fria de António Barreto - SicNotícias, noite de 1/8/2013
por Maria Laura Madeira

Muito a propósito e recorrente da «aula de Catroga», António Barreto foi ontem convidado de Ana Lourenço. Um barulho danado, no resguardo discreto da conversa que travaram. A inteligência, no seu melhor.
 
Sem demérito algum para a densa e deveras interessante conversa que travaram, passo a destacar apenas o que parece responder à pergunta implícita na aula de Catroga, que frontalmente colocámos no nosso atrevido comentário. Ou seja, feito o diagnóstico da situação de crise que vivemos, por que não são responsabilizados todos aqueles que, de um modo frio e a diversos níveis, reiteradamente nos levaram ao abismo. 

Tecer conjecturas ao nível da nossa ingenuidade não é o mesmo que ouvir António Barreto. Como um cirurgião experimentado, com a calma e a frieza que o torna destro e quase indiscutível, o ilustre convidado retira-nos qualquer esperança: Não temos, não foram criadas as instâncias que possam dinamizar sequer uma acção de auditoria. Todas as inúmeras culpas ao longo do tempo e das circunstâncias que as envolveram, são hoje um verdadeiro convento de «freiras crísicas» que vão morrer solteiras.

E a democracia? Pergunta Ana Lourenço em coro connosco. Está reduzida aos actos eleitorais e aos aspectos formais daí naturalmente recorrentes; é o que pudemos entender. Donde que nem a «Casa da Democracia» prece ter nada a ver com nada.

Afinal, segundo bons autores com obra recentemente publicada sobre estas matérias, é na AR que estão as cabeças desta arrepiante Medusa.

De resto, quem ousaria colocar o país no banco dos réus, para gáudio dos seus grandes inimigos? Que Tribunal, que réus, mas sobretudo que propósito gorado. Fomos todos dados como chulos dos povos do Norte, tidos como preguiçosos, entre outras ofensas que ouvimos recentemente do nosso chefe do governo. 

Mas a matéria vazou, foi vazando de há muito. Usando provérbios, como ele gosta, diria que não adianta tapar o sol com a peneira.

 Já não será no meu tempo de vida, porém, creio que teremos de volta um organismo nacional e não só, para controlar os que se dão bem com a exploração do povo e, à posteriori, com a imunidade e a impunidade que os faz navegar em cruzeiro de luxo, enquanto o povo se afoga.

Obrigada por me lerem.

MLM/2013

Ana Drago com Ana Lourenço, em 2 de Agosto de 2013
Por  Maria Laura Madeira

Ana Drago é uma figura que irá comigo até ao fim. Dela sei apenas que é deputada pelo Bloco de Esquerda. Guardo o registo emocionado de inesquecíveis intervenções, onde defendeu ideias e propostas de actuação com profundidade, força, riqueza e sobriedade no discurso e nas imagens. Elegância e estilo são características que a distinguiram e distanciaram, infelizmente, da maior parte dos que vêm partilhando com ela o habitáculo da AR. Ana Drago tem aquele brilho nato que a uns prende e a outros ofusca; temos pena. É para mim uma das mulheres de sempre, na cena portuguesa.

Pela sua juventude, gostaria que muito ainda tivesse para transmitir a ensinar aos que agora começam a dar pelo fenómeno da vida, das causas e das escolhas.

Tal como ela o disse hoje a Ana Lourenço, eu acredito que a sociedade precisa de se encarar para trocar ideias, esboçar e levar por diante objectivos comuns. 

Precisamos de despir o velho figurino de carneiros obedientes e ainda assim invejosos, com síndrome de mal-amados, desfeiteando quem fere a zona de conforto onde cada um se acha aconchegado e protegido. Todos somos humanos, sempre haverá um modo de nos podermos entender sem hostilidade e demasiado apego ao seu ponto de vista.

 Temos muito trabalho pela frente, muita coisa para mudar.

 Ana Drago, felicidades, não se deixe apagar. A senhora até a mim faz falta. 

LM/2013