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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

No país do "dito cujo"


Por cá, o “dito cujo” ficou em 2º, situação que se repetiu em 10 das 13 freguesias, com um total  de mais de 4 mil votos obtidos.

Ana Gomes só ficou à frente do “dito” na maior freguesia (a urbana), na do Turcifal (uma terra com pergaminhos, dominada por uma elite culta e endinheirada, alguma brasonada) e na freguesia onde o PCP tem mais peso, a da Carvoeira.

Muita da minha  gente que vota à esquerda, mesmo PCP, votou Marcelo, para evitar uma segunda volta, outros votaram Ana Gomes, para travar o xenófobo. 

As poucas pessoas que conheço que estão com o Ventura vieram maioritariamente do CDS, menos do PSD, outros da abstenção ressabiada com tantos anos de democracia, alguns têm origem na extrema-direita de sempre, saudosos de Salazar, há mesmo monárquicos, da monarquia mais retrógrada (ainda saudosos do miguelismo, onde militaram antepassados), e alguns "anarco-convencido", daqueles que falam mal de tudo.

Esta é a minha "análise" empírica.

“Cientificamente”, recordo uma sondagem publicada no Público de 6ª feira, com análise da origem dos eleitores de cada partido, onde a maioria dos votantes do Chega que não tinham votado já no Chega nas anteriores legislativas, tinham origem no PSD (cerca de 10%) e no CDS (outros 9%). Seguiam-se os que votaram na Iniciativa Liberal (6%),no BE (5%),no PS (3%) e, só então,  no PAN (2%) e na CDU (2%).

Esta situação, mais a que eu observei em cima de forma empírica, e uma análise fina dos resultados, mostra que, ao contrário da intervenção disparatada do Rui Rio, a origem do crescimento do Chega não está nos eleitores do PCP, mas da direita clássica.

A forte votação do “dito” no Alentejo deve-se, não tanto aos eleitores tradicionais do PCP, embora possa haver uma pequena minoria nessa situação, mas a uma espécie de coligação negativa anticomunista, ressabiada com a longa influência da esquerda nesse território, já que o candidato do PCP, numa situação de maior abstenção, teve, nessa região, quase os mesmos votos e percentagem do candidato desse partido em 2016.

O CDS, como se verá em próximas eleições, e as sondagens já revelam, é, para já, o mais penalizado com o crescimento da extrema-direita, o que mostra de onde vem o crescimento do Chega, mas, se Rui Rio continuar por esta via, de euforia pelos resultados do “dito”, normalizando-o, então o PSD corre risco idêntico, e, com o desaparecimento do CDS e o enfraquecimento do PSD à direita, é a nossa democracia vai estar em perigo.

Por outro lado, a esquerda, enquanto andar preocupada com as capelinhas próprias e a ver quem é a "verdadeira esquerda", numa espécie de campeonato dos pequeninos, sem se unir no essencial, também presta um grande favor ao dito intolerante.

Também não é numa posição de gritaria histérica “antifascista” que se combate o crescimento da “coisa”.

O “fascismo” teve o seu momento histórico, mas foi um movimento “pragmático”, de tal forma que  quem defenda que nunca houve um fascismo puro.

Enquanto andar à caça do “fascista”, vai continuar deixar escapar a verdadeira origem do crescimento do dito: a intolerância, o medo, a ignorância, a raiva, a pobreza, a desigualdade, a corrupção.

Embora com pontos em comum    na  origem do "coiso", esse conceito de “fascismo” não é o que melhor pode ajudar a compreender e combater o fenómeno.

É através de argumentos sólidos, do exemplo, da desmontagem das mentiras, do desmascarar das falácias, da informação fundamentada, mostrando a superioridade da democracia, da liberdade e da tolerância, que se consegue isolar esses intolerantes de discurso fácil, de promessas tentadoras, gente sinistra que gravita à volta do “dito”, remetendo-os para as "catacumbas" de onde vieram.

Esta é a minha modesta e superficial análise da trágica situação a que chegámos.

Que "são Marcelo" nos valha!

domingo, 24 de janeiro de 2021

Votando


Já fui votar.

Havia movimento, mas bastante distanciamento e tudo bem organizado e espaçoso.

Ou, seja, por medo, não há razão para, pelo menos aqui na cidade de Torres Vedras, alguém deixar de exercer o seu direito de voto.

Infelizmente, muitos dos que se desculpam com o medo, como noutras alturas com o tempo, para não votarem, são os mesmos que hoje vejo aqui a encher o supermercado junto da minha casa, em condições de distanciamento e mobilidade muito mais arriscadas que aquelas que eu vi nas mesas de voto. 

Situação esta, idêntica a uma "visita" que tive de fazer ao Hospital da CUF, também meu vizinho, na semana passada, com muita gente a cruzar-se e com maior proximidade e mobilidade do que nas mesas de voto de hoje.

Por isso, votem em segurança.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Presidenciais – As minhas “previsões” : entre o desejável, o temido e a realidade.

(Cartoon da RTP)

Não sendo imprevisíveis os resultados, existe desde já uma incógnita que tudo pode baralhar: o efeito da Covid-19 na abstenção.

Uma grande abstenção, acima dos 50%, pode provocar alguns “cataclismos” e esboroar o que as mais recentes sondagens indicam, uma vitória à primeira volta de Marcelo, um despique pelo segundo lugar entre Ana Gomes e o extremista, e o afundamento das candidaturas de João Ferreira e Maris Matias, a disputar o penúltimo lugar com o candidato da Iniciativa Liberal.

Já se percebeu que vai haver uma grande transferência de votos do eleitorado do PSD e do CDS para o candidato xenófobo e populista, e algum para o candidato da Iniciativa Liberal.

Uma grande abstenção, muita dela oriunda provavelmente do PS, vai beneficiar, em termos percentuais, as candidaturas mais militantes, como a do racista  e a de João Ferreira e até pode forçar a uma segunda volta.

A minha “previsão desejável” era que Marcelo vencesse à primeira volta, os três candidatos da esquerda ficassem à frente do populista da extrema-direita, que este se quedasse abaixo dos 10% e que João Ferreira ficasse acima dos 6%.

A minha “previsão mais temida” é haver uma segunda volta, que o extremista fique em segundo ou terceiro, com mais de 10% dos votos e com mais votos do que João Ferreira e Marisa Matias juntos.

A Minha “previsão mais realista” é que Marcelo ganhe à primeira volta, que Ana Gomes seja a segunda candidata mais votada e que Marisa, João Ferreira e o racista tenham mais ou menos a mesma percentagem, não conseguindo o xenófobo ter mais votos do que a Marisa e o João Ferreira, embora se possa aproximar dos 10%.

Veremos o que acontece.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A Fotografia do Dia


 Uma fotografia de esperança, mas sem falsas ilusões.

Fechar as escolas ...sem fundamentalismo

 Não sou fundamentalista em relação às saídas à rua, desde que se cumpram as regras (máscara, distanciamento, desinfecção e etiqueta respiratória), até porque, a maior parte das contaminações, ou tiveram origem em casa, ou nos lares, de onde os nossos idosos não saem há um ano, ou, essas sim na rua, em grandes ajuntamentos ilegais, muitas vezes em espaços fechados e não arejados.

Há por aí muita demagogia e, em certos casos um "terrorismo alarmista", que só serve para desorientar.

Quanto às escolas, o problema não é dentro delas (apesar das faltas de condições para enfrentar o frio, perante a necessidade de arejar as salas, e do excessivo número de alunos por turma), mas nos ajuntamentos provocados á entrada e à saída, sem esquecer que professores e auxiliares são um grupo envelhecido, e de risco.

Está provado também que, ter as escolas abertas, faz diferença em relação ao movimento e às deslocações dos portugueses.

Era perfeitamente alcançável continuar o ensino não presencial, pelo menos para os mais velhos, aliviando assim o movimento e a capacidade das escolas.  

Por estarmos a falar no máximo de um ou dois meses, parece-me ridícula a justificação de alguns, para defenderem as escolas abertas, com o argumento de que "sacrifica a aprendizagem e a sociabilização dos mais jovens" ou "aumenta as desigualdades".


Não estamos a falar de uma situação permanente. Estamos a falar de algumas semanas.

Fiz parte de uma geração que viveu cerca de 3 anos de grande instabilidade escolar e não me parece que isso tenha contribuído para "sacrificar a aprendizagem", e a "sociabilização", ou mesmo "aumentar as desigualdades", embora a situação fosse diferente.

Sem os meios disponíveis dos nossos dias, tratava-se na altura de descobrir coisas diferentes do que nos era ensinado numa escola retrógrada, como era a desse tempo, com um misto de esperança na construção de uma nova sociedade e de descoberta de novas realidades. Mas isso é outra história.

Hoje, trata-se de salvar vidas e salvar o SNS, de aliviar o trabalho de médicos, de enfermeiros, de outros profissionais de saúde, de bombeiros, de polícias, e...de professores e auxiliares de educação.

Trata-se de travar o aumento da “curva”, para dar tempo a que a vacinação comece a contribuir para se atingir a imunidade de grupo, ou seja, para não “aumentar as desigualdades” com o aumento do  desemprego e a falência de  empresas que o prolongar da situação provocará, para não “sacrificar as aprendizagens”, que hoje se faz num clima de instabilidade e stress e para “não sacrificar a sociabilidade”, não só dos mais jovens, mas de todos, devido à instabilidade social e psicológica gerada pelo prolongamento e pelo agravamento da situação. 

Haja bom senso! 

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

“ANDRÉ VENTURA PELA VERDADE”, onde começa o humor e acabam as fake news?



Ontem caí na esparrela de divulgar uma fake new.

Era um texto, publicado num site credível, onde se reproduzia uma presumível afirmação de D. Manuel Clemente.

Punha na boca do Patriarca de Lisboa a seguinte afirmação:

“Esta narrativa de ódio aos nossos irmãos promovida pelo André Ventura e o seu partido Chega é totalmente contrário aos ensinamentos de Jesus, sendo uma aberração nesta sociedade que se pretende mais justa e mais fraterna. O Santo Padre foi claro quanto a isso na sua Encíclica Fratelli Tutti”.

Acontece que esse post fora retirado de um site intitulado “André Ventura pela Verdade”, acompanhado de um presumível comentário do “próprio” candidato da extrema-direita: “Também tu a atacar-me? Era só o que faltava…”.

Seguiam-se depois dezenas de comentários entre o apoio ao presumível Ventura atacado pelo presumível patriarca e a defesa do “ofendido” com ataques à Igreja.

Eu próprio caí na esparrela de acreditar que aquilo era verdade, mas, se tivesse parado um pouco para raciocinar, devia ter-me apercebido da estranheza daquela frase, por um lado porque aquele não é, não só o estilo de D. Manuel Clemente, que ainda  há poucas semanas se deixou fotografar ao lado do  líder do Chega em recepção cordial, por outro, porque a Igreja portuguesa costuma assumir uma postura mais metafórica e ambígua em termos políticos.

Também me deixei cair na esparrela porque me pareceu que uma frase como aquela era coerente com a nova atitude e a coragem do exemplo do Papa Francisco. Mas isto sou eu que sou um ingénuo…

Espantado fiquei com algumas reacções a esse texto no meu post. Algumas não se indignavam tanto com o facto de ser uma fake new, mas mais com a possibilidade de alguém da Igreja pensar nesses termos. Alguém até considerava aquelas palavras como um incitamento ao ódio (!!!).

Curioso e apercebendo-me do erro, procurei a origem e encontrei-a num site autointitulado “André Ventura pela Verdade”. É um site de humor que, explorando a arma da criação de “factos alternativos”, como se fosse um site do próprio candidato, e usando as próprias armas e argumentos do Ventura e dos seus apoiantes, desmonta assim, pelo ridículo da situação, os próprios argumentos.

Observando com tenção por baixo do cabeçalho, lá está o aviso que me escapou e a muita gente : "Sátira/Paródia" e no próprio cabeçalho outro aviso, em tom humorístico : "As Nossas Fake News São Mentiras Necessárias":



É curioso ver também a quantidade de gente que cai na esparrela de comentar tudo aquilo como se fosse verdade (como eu próprio, aliás, acabei por fazer), mas é um bom barómetro para ver o impacto do fenómeno “Ventura” e os próprios perigos do mesmo.

No fundo, este site faz aquilo que fazem páginas como o “Inimigo Público” ou, lá fora, um “Charlie Hebdo”, embora de forma mais disfarçada e não assumida.

O próprio título goza e glosa  com as muitas páginas “pela Verdade”, de divulgação de fake News e “verdades alternativas”, surgidas durante a actual crise, muita delas controladas pela extrema-direita.

Os extremistas não gostam de serem gozados este site mostra uma das formas mais eficazes de combater os "venturas" deste mundo.

(Em baixo o post falso):


sábado, 16 de janeiro de 2021

Os Adivinhos, as escolas abertas, o "confinamentozinho", e as suas consequências



A epidemia de COVID-19 revelou uma nova espécie de pensadores pós-modernos, a dos adivinhos.

Todos transportam o seu gráfico para explicar o que, dizem,  “sempre” previram, e fazerem previsões sobre o futuro.

Claro que, no futuro, ninguém se vai lembrar de confirmar se acertaram nas previsões, e quanto às suas opiniões do passado, valem-se da falta de memória colectiva, com a ajuda de fake news, realidades alternativas  e argumentação “contrafactual”, esta uma atitude mais racional e “culta” de construir realidades alternativas

Agora, toda a gente vem dizer que já previa esta terceira e trágica vaga para depois do Natal e do Ano Novo, e acusam o governo pelas consequências da irresponsabilidade colectiva de muitos durante o período festivo.

Perante a dimensão da tragédia que vivemos e a novidade de uma situação que só tinha sido prevista por alguns cientistas ligados à área do ambiente, sempre ignorados pelos políticos e pelos responsáveis e agentes económicos,  ou por  autores de ficção  científica, toda a gente vem agora dizer, tal virgens ofendidas,  o que se devia fazer.

É assim que vemos o desplante de líderes da oposição, com destaque para Rui Rio e para o seu “ministro sombra para a área de saúde”, acusarem agora o governo por não ter tomado medidas mais restritivas pelo Natal e Ano Novo, quando na altura foram dos primeiros a defender e a congratularem-se por essa abertura.

Não deixa igualmente de ser curioso ouvir os mesmos que tanta raiva nutriram por aí contra as comemorações do 25 de Abril, do 1º de Maio, a realização da  Festa do Avante e do Congresso do PCP, momentos que não provocaram um único surto, terem-se congratulado com a abertura no Natal e no Novo (é ver o que se passou na Madeira) e defenderem agora, de forma veemente, a manutenção das escolas abertas.

Não deixa de ser estranha, aliás, manter todas as escolas e todos os níveis de ensino em funcionamento, numa situação de total descontrole sobre o crescimento da epidemia, como aquela que se regista desde há duas semanas.

Não deixa igualmente ser curioso ler um editorial do Público, assinado pelo mesmo jornalista, defender há dois dias, de forma veemente, a manutenção das escolas em funcionamento, e assinar hoje um editorial intitulando este confinamento como um ”faz de conta”.



Se este confinamento está a ser um “faz de conta” deve-se muito ao facto de manter todas as escolas abertas.

Eu falo por experiência própria.

Vivendo perto de escolas, ontem assisti a um significativo movimento de pessoas e automóveis, como se fosse  um dia normal. Hoje, que as escolas estão encerradas, já parece, de facto, que estamos em confinamento. Segunda-feira voltará tudo ao “normal”, quando as escolas voltarem a abrir.

Fechar as escolas, pelo menos a partir do 3º ciclo, por um mês, não prejudica ninguém.

Mantê-las abertas, é contribuir para continuarmos a assistir a cenas como as vividas esta madrugada à entrada do Hospital de Torres Vedras, localizado, aliás, ao lado de duas das maiores escolas do concelho.

Haja coragem e bom senso para altera a situação, sem medo das opiniões dos “adivinhos” do costume.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

João Ferreira, Obviamente!


Já tinha prometido AQUI que me ia pronunciar sobre a minha escolha para as próximas eleições presidenciais.

Pela segunda vez, em mais de 40 nos de democracia, vou votar num candidato do PCP, em João Ferreira.

A última vez que o fiz foi em 1991, quando votei em Carlos Carvalhas.

Nas últimas eleições votei e declarei apoio público a Sampaio da Nóvoa.

Claro que espero um bom resultado para Marisa Matias e para Ana Gomes, e não nego alguma simpatia pela simplicidade e espontaneidade de um Vitorino Silva.

O célebre “Tino de Rãs” foi, aliás, o único que deixou o Ventura ko nos debates a dois, com as suas metáforas e a melhor resposta ao racismo anti-cigano do candidato da extrema  direita.

Estas são umas das eleições mais atípicas de sempre, não só porque a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, o melhor presidente de sempre em democracia, está garantida, mas também por causa da situação de crise sanitária em que se vive.

Claro que há um grande risco de se atingir o record de abstenções, e que essa situação pode baralhar tudo, inclusive levar a uma inesperada segunda volta. Neste caso votaria em Marcelo.

Pelo que tenho visto até agora, e confirmou-se no debate de ontem, só existem dois candidatos credíveis e com um discurso estruturado, Marcelo e João Ferreira.

Marisa Matias é uma candidata credível, mas não vem trazer nada de novo à campanha, a não ser segurar o eleitorado fiel do BE. Pela minha parte, enquanto me lembrar da posição do BE na votação do último orçamento, não voltarei a votar em candidatos do BE, como aconteceu pontualmente no passado.

Ana Gomes tem um passado que a honra, foi das raras militantes do PS que denunciou desde o princípio, o clima de corrupção que se instalou no PS nos tempos de Sócrates, mas tem uma  postura demasiado turbulenta, roçando por vezes o mais boçal e arruaceiro populismo, que, quanto a mim, não se coaduna com o cargo de Presidente da República.

Estando garantida a reeleição de Marcelo, existem outras situações que estão em jogo nestas eleições.

À direita o candidato da IL e o candidato do Chega procuram reforçar a mensagem antissocial e neoliberal do primeiro e antidemocrática e extremista do segundo.

O candidato do IL é o mais fraquinho de todos, com uma retórica muito básica de preconceitos ideológicos de cariz neoliberal, apesar da simpatia que por ele nutrem os comentadores da SIC e do Expresso, e dele não é de esperar melhor que o último lugar. Pelo contrário, se por absurdo esse candidato conseguisse ultrapassar pelo menos um candidato da esquerda, poderá cantar "vitória".

Já a posição do Ventura é mais preocupante. Se conseguir ficar à frente de, pelo menos, dois dos candidatos da esquerda, conseguindo o objectivo de disputar a segunda posição com Ana Gomes e ter mais votos que os candidatos do BE e do PCP juntos, pode gerar uma preocupante dinâmica de crescimento da extrema-direita em Portugal.

Claro que, um resultado que não seja esse, vai esvaziar rapidamente o projecto antidemocrático e xenófobo desse candidato, o que seria uma benesse para o país.

Pela nossa parte, o único candidato à esquerda que trás algo de novo e pode dar um contributo para mudar alguma coisa nesta área, é João Ferreira, já que, para além de ser o candidato melhor preparado, a par de Marcelo, conseguindo um resultado significativo, poderá dar inicio a uma dinâmica que o leve a ser escolhido para substituir Jerónimo de Sousa na liderança do PCP, à frente do qual pode contribuir para a necessária renovação de um partido fundamental para manter acesa a chama defesa dos direitos socias e de quem trabalha, inovando o discurso e abrindo o partido.

O melhor que podia acontecer a João Ferreira era ficar em 3º ou 4º lugar, à frente de Ventura, conseguindo, com os votos de Marias Matias, ou por si só, ter mais votos que o candidato da extrema-direita.

Se ficar atrás deste candidato e atrás de Marisa Matias e com uma votação abaixo de 5%, João Ferreira perderá as condições para liderar o PCP e este partido deixará de ter condições para se renovar, acentuando o seu declínio dos últimos anos.

Por tudo isto, declaro aqui, publicamente, o meu voto no candidato João Ferreira.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Os “portugueses de bem”!!!

(original de "irmaolucia")

Tenho assistido a muitas campanhas presidenciais e, em comum, há o  facto de todos os candidatos prometerem, para além de cumprirem e fazerem cumprir a Constituição,  serem “o presidente de todos os portugueses”.

Este ano, para além da “novidade” de uma campanha em epidemia, temos um candidato que, caso seja eleito (…Lagarto!, Lagarto, Lagarto!!!!), para além de  negar cumprir a Constituição, promete ser o presidente de apenas  alguns portugueses.

E quais são esses portugueses?...os “portugueses de bem”!!!!.

O candidato introduz assim um “novo conceito” de ciência política, o  “português bem”.

Esse “conceito” traz-me à memória outros conceitos de “superioridade pela bondade”, como o de “civilização de bem”, tão útil para justificar o colonialismo e as suas atrocidades, o de “nação de bem”, tão útil para justificar as carnificinas nas frentes de batalha da  primeira guerra mundial, o de “classe social de bem”,  aplicado por Stalin para justificar os crimes do Gulag, ou de “raça de bem” aplicado pelos nazis para justificar o pior crime da história, o holocausto.

Em Portugal também já tivemos, no passado recente, a aplicação de algo parecido com a ideia de “português de bem”, no celebre “estatuto do indígena”, aplicado nas colónias entre 1926 e 1961, com várias alterações legais, onde se definiam os direitos, e principalmente os deveres, dos habitantes originais dessas colónias, e onde se justificava o facto de tais “indígenas”  não terem direitos civis, jurídicos ou de cidadania, estabelecendo-se, aliás, um mecanismo de transição entre o “não cidadão” e  o “português de bem” no decreto de 20 de Maio de 1954, classificando três grupos de habitantes das colónias: os “indígenas”, os “assimilados” e os “brancos”. Para a condição “superior” de “assimilado”, os” indígenas” tinham de saber ler e escrever português, deviam vestir como os brancos, professar a religião católica e os hábitos e costumes ocidentais. Mesmo assim nunca passariam de “assimilados”. Tão aberrante situação acabou em 1961 por iniciativa de Adriano Moreira, o que lhe terá custado a antipatia de muitos colonialistas e salazaristas.

Aliás, a primeira coisa que me veio à memória ao ler tal slogan eleitoral, foi a ideia de superioridade da raça ariana, numa versão soft adaptada ao século XXI.

Um ariano também era um “alemão de bem”, em contraste com um judeu, um cigano ou um eslavo (ou mesmo um latino), um comunista ou um social-democrata, ou mesmo um “simples” democrata.

A ideia de raça ariana tinha, pelo menos, o “mérito” de ser fácil de identificar, ao contrário da Ideia de  “português de bem”.

Um “ariano” era um louro, de olhos azuis, de porte atlético,” tudo”, aliás, que “saltava à vista” olhando para a imagem dos mais altos dignatários do regime nazi, como um Goering, um Gobbel, um Himmler, ou um Hitler… todos “autênticos arianos”….

Não sendo claro o que é o tal “português de bem”, podemos tentar definir o conceito pelo seu contrário, a partir de afirmações do candidato ou do programa do seu partido.

Não é “português de bem” quem estiver a cumprir pena de prisão, seja qual for o motivo da mesma, incluindo presumíveis “criminosos” ainda não julgados, a não ser pelas redes socias e pelas fake news.

Não é “português de bem” um homossexual, uma mulher que abortou, um casal em união de facto.

Não é “português de bem” um cigano, um africano, um emigrante, um muçulmano, um habitante de bairro social.

Não é “português de bem” um “subsídio-dependente”, ou seja, um cidadão pobre, um desempregado, um doente crónico, um deficiente ou um pensionista.

Não é “português de bem” um funcionário público ou um sindicalista.

Não é “português de bem” um “esquerdalho”, isto é, um  comunista, um  socialista ou mesmo um social-democrata ou um simples defensor do Estado Social.

Não é “português de bem”, um “traidor” da direita, um democrata-cristão, um critico do extremismo das suas propostas, que “pactue” com o regime democrático que ele pretende substituir pela “IV República” ( talvez uma ….”República de Mil Anos”!!??).

Pelo contrário, talvez seja “um português de bem” alguém que falsifique assinaturas para legalizar um partido político extremista, como aconteceu com o partido desse candidato.

Talvez seja “um português de bem” alguém que usa de todos os estratagemas para fugir ao pagamento de impostos, recorrendo a paraísos fiscais, com a ajuda do próprio candidato enquanto exerceu a advocacia.

Também deve ser “um português de bem” todo aquele que fez fortuna através de negócios obscuros, como aconteceu com muitos dos apoiantes e financiadores dessa candidatura.

Pela minha parte, porque não sou esse “ português de bem” , talvez por  “ser um criminoso” ( já fui multado algumas vezes), “subsídio-dependente” (trabalhei no ensino público e sou pensionista) e um “esquerdalho” incorrigível, espero, talvez de forma egoísta, para fugir a um “campo de reeducação”, contribuir para a derrota desse candidato e do seu projecto.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

As imagens da vergonha : Assalto ao Capitólio


Estamos habituados a ver imagens como as de ontem, no Capitólio, em países onde a democracia é uma caricatura.

Vimos cenas parecidas na Rússia, com as tropas de Iesltsin a atacarem um parlamento que lhe era hostil, aí pelos meados da década de 90, não se sabendo ainda hoje o número exacto de deputados assassinados.

Vimos cenas idênticas, mais recentemente, na Ucrânia e na Venezuela.

Recuando ainda mais no tempo, todos se recordarão de, em pleno PREC, se ter assistido ao cerco do parlamento, mas, apesar de tudo, sem invasão do edifício, sem actos de vandalismo, nem com a violência como a que ontem se viu.

O que não se esperava era ver tais cenas  no país que se gaba de ser um exemplo de democracia, como os Estados Unidos, ainda por cima por instigação do presidente em exercício.

Uma verdadeira tentativa de golpe de estado, que, em qualquer democracia, implicaria o julgamento dos líderes e instigadores.

Se isto se tivesse passado noutro sítio qualquer, não faltariam as ameaças de comentadores e políticos do mundo dito ocidental, apelando a sanções e a uma intervenção militar da NATO.

Este vai ser o modelo insurrecional a seguir pelos trumpistas de todo o mundo, o momento de glória para os "chega" e populistas de toda a espécie.

As imagens que retirámos da imprensa e agências internacionais falam por si: