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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

No país do "dito cujo"


Por cá, o “dito cujo” ficou em 2º, situação que se repetiu em 10 das 13 freguesias, com um total  de mais de 4 mil votos obtidos.

Ana Gomes só ficou à frente do “dito” na maior freguesia (a urbana), na do Turcifal (uma terra com pergaminhos, dominada por uma elite culta e endinheirada, alguma brasonada) e na freguesia onde o PCP tem mais peso, a da Carvoeira.

Muita da minha  gente que vota à esquerda, mesmo PCP, votou Marcelo, para evitar uma segunda volta, outros votaram Ana Gomes, para travar o xenófobo. 

As poucas pessoas que conheço que estão com o Ventura vieram maioritariamente do CDS, menos do PSD, outros da abstenção ressabiada com tantos anos de democracia, alguns têm origem na extrema-direita de sempre, saudosos de Salazar, há mesmo monárquicos, da monarquia mais retrógrada (ainda saudosos do miguelismo, onde militaram antepassados), e alguns "anarco-convencido", daqueles que falam mal de tudo.

Esta é a minha "análise" empírica.

“Cientificamente”, recordo uma sondagem publicada no Público de 6ª feira, com análise da origem dos eleitores de cada partido, onde a maioria dos votantes do Chega que não tinham votado já no Chega nas anteriores legislativas, tinham origem no PSD (cerca de 10%) e no CDS (outros 9%). Seguiam-se os que votaram na Iniciativa Liberal (6%),no BE (5%),no PS (3%) e, só então,  no PAN (2%) e na CDU (2%).

Esta situação, mais a que eu observei em cima de forma empírica, e uma análise fina dos resultados, mostra que, ao contrário da intervenção disparatada do Rui Rio, a origem do crescimento do Chega não está nos eleitores do PCP, mas da direita clássica.

A forte votação do “dito” no Alentejo deve-se, não tanto aos eleitores tradicionais do PCP, embora possa haver uma pequena minoria nessa situação, mas a uma espécie de coligação negativa anticomunista, ressabiada com a longa influência da esquerda nesse território, já que o candidato do PCP, numa situação de maior abstenção, teve, nessa região, quase os mesmos votos e percentagem do candidato desse partido em 2016.

O CDS, como se verá em próximas eleições, e as sondagens já revelam, é, para já, o mais penalizado com o crescimento da extrema-direita, o que mostra de onde vem o crescimento do Chega, mas, se Rui Rio continuar por esta via, de euforia pelos resultados do “dito”, normalizando-o, então o PSD corre risco idêntico, e, com o desaparecimento do CDS e o enfraquecimento do PSD à direita, é a nossa democracia vai estar em perigo.

Por outro lado, a esquerda, enquanto andar preocupada com as capelinhas próprias e a ver quem é a "verdadeira esquerda", numa espécie de campeonato dos pequeninos, sem se unir no essencial, também presta um grande favor ao dito intolerante.

Também não é numa posição de gritaria histérica “antifascista” que se combate o crescimento da “coisa”.

O “fascismo” teve o seu momento histórico, mas foi um movimento “pragmático”, de tal forma que  quem defenda que nunca houve um fascismo puro.

Enquanto andar à caça do “fascista”, vai continuar deixar escapar a verdadeira origem do crescimento do dito: a intolerância, o medo, a ignorância, a raiva, a pobreza, a desigualdade, a corrupção.

Embora com pontos em comum    na  origem do "coiso", esse conceito de “fascismo” não é o que melhor pode ajudar a compreender e combater o fenómeno.

É através de argumentos sólidos, do exemplo, da desmontagem das mentiras, do desmascarar das falácias, da informação fundamentada, mostrando a superioridade da democracia, da liberdade e da tolerância, que se consegue isolar esses intolerantes de discurso fácil, de promessas tentadoras, gente sinistra que gravita à volta do “dito”, remetendo-os para as "catacumbas" de onde vieram.

Esta é a minha modesta e superficial análise da trágica situação a que chegámos.

Que "são Marcelo" nos valha!

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