Por cá, o “dito cujo” ficou em 2º, situação que se repetiu em 10 das 13 freguesias, com um total de mais de 4 mil votos obtidos.
Ana Gomes só ficou à frente do “dito” na maior freguesia (a urbana),
na do Turcifal (uma terra com pergaminhos, dominada por uma elite
culta e endinheirada, alguma brasonada) e na freguesia onde o PCP tem mais peso,
a da Carvoeira.
Muita da minha gente que vota à
esquerda, mesmo PCP, votou Marcelo, para evitar uma segunda volta, outros
votaram Ana Gomes, para travar o xenófobo.
As poucas pessoas que conheço que estão com o Ventura vieram
maioritariamente do CDS, menos do PSD, outros da abstenção ressabiada com
tantos anos de democracia, alguns têm origem na extrema-direita de sempre,
saudosos de Salazar, há mesmo monárquicos, da monarquia mais retrógrada (ainda
saudosos do miguelismo, onde militaram antepassados), e alguns
"anarco-convencido", daqueles que falam mal de tudo.
Esta é a minha "análise" empírica.
“Cientificamente”, recordo uma sondagem publicada no Público de 6ª feira, com
análise da origem dos eleitores de cada partido, onde a maioria dos votantes do
Chega que não tinham votado já no Chega nas anteriores legislativas, tinham
origem no PSD (cerca de 10%) e no CDS (outros 9%). Seguiam-se os que votaram na
Iniciativa Liberal (6%),no BE (5%),no PS (3%) e, só então, no PAN
(2%) e na CDU (2%).
Esta situação, mais a que eu observei em cima de forma empírica, e uma
análise fina dos resultados, mostra que, ao contrário da intervenção
disparatada do Rui Rio, a origem do crescimento do Chega não está nos eleitores
do PCP, mas da direita clássica.
A forte votação do “dito” no Alentejo deve-se, não tanto aos eleitores
tradicionais do PCP, embora possa haver uma pequena minoria nessa situação, mas
a uma espécie de coligação negativa anticomunista, ressabiada com a longa
influência da esquerda nesse território, já que o candidato do PCP, numa
situação de maior abstenção, teve, nessa região, quase os mesmos votos e
percentagem do candidato desse partido em 2016.
O CDS, como se verá em próximas eleições, e as sondagens já revelam, é, para
já, o mais penalizado com o crescimento da extrema-direita, o que mostra de onde
vem o crescimento do Chega, mas, se Rui Rio continuar por esta via, de euforia
pelos resultados do “dito”, normalizando-o, então o PSD corre risco idêntico,
e, com o desaparecimento do CDS e o enfraquecimento do PSD à direita, é a nossa
democracia vai estar em perigo.
Por outro lado, a esquerda, enquanto andar preocupada com as capelinhas
próprias e a ver quem é a "verdadeira esquerda", numa espécie de
campeonato dos pequeninos, sem se unir no essencial, também presta um grande
favor ao dito intolerante.
Também não é numa posição de gritaria histérica “antifascista” que se combate
o crescimento da “coisa”.
O “fascismo” teve o seu momento histórico, mas foi um movimento “pragmático”,
de tal forma que há quem defenda que nunca houve um fascismo puro.
Enquanto andar à caça do “fascista”, vai continuar deixar escapar a
verdadeira origem do crescimento do dito: a intolerância, o medo, a ignorância,
a raiva, a pobreza, a desigualdade, a corrupção.
Embora com pontos em comum na origem do "coiso", esse conceito de “fascismo” não é o que melhor
pode ajudar a compreender e combater o fenómeno.
É através de argumentos sólidos, do exemplo, da desmontagem das mentiras,
do desmascarar das falácias, da informação fundamentada, mostrando a superioridade da
democracia, da liberdade e da tolerância, que se consegue isolar esses
intolerantes de discurso fácil, de promessas tentadoras, gente sinistra que
gravita à volta do “dito”, remetendo-os para as "catacumbas" de onde vieram.
Esta é a minha modesta e superficial análise da trágica situação a que chegámos.
Que "são Marcelo" nos valha!
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