A epidemia de COVID-19 revelou uma nova espécie de pensadores pós-modernos, a dos adivinhos.
Todos transportam o seu gráfico para explicar o que, dizem, “sempre” previram, e fazerem previsões sobre
o futuro.
Claro que, no futuro, ninguém se vai lembrar de confirmar se acertaram nas
previsões, e quanto às suas opiniões do passado, valem-se da falta de memória
colectiva, com a ajuda de fake news, realidades alternativas e argumentação “contrafactual”, esta uma
atitude mais racional e “culta” de construir realidades alternativas
Agora, toda a gente vem dizer que já previa esta terceira e trágica vaga
para depois do Natal e do Ano Novo, e acusam o governo pelas consequências da
irresponsabilidade colectiva de muitos durante o período festivo.
Perante a dimensão da tragédia que vivemos e a novidade de uma situação
que só tinha sido prevista por alguns cientistas ligados à área do ambiente,
sempre ignorados pelos políticos e pelos responsáveis e agentes económicos, ou por
autores de ficção científica,
toda a gente vem agora dizer, tal virgens ofendidas, o que se devia fazer.
É assim que vemos o desplante de líderes da oposição, com destaque para
Rui Rio e para o seu “ministro sombra para a área de saúde”, acusarem agora o governo
por não ter tomado medidas mais restritivas pelo Natal e Ano Novo, quando na
altura foram dos primeiros a defender e a congratularem-se por essa abertura.
Não deixa igualmente de ser curioso ouvir os mesmos que tanta raiva
nutriram por aí contra as comemorações do 25 de Abril, do 1º de Maio, a
realização da Festa do Avante e do Congresso
do PCP, momentos que não provocaram um único surto, terem-se congratulado com a
abertura no Natal e no Novo (é ver o que se passou na Madeira) e defenderem
agora, de forma veemente, a manutenção das escolas abertas.
Não deixa de ser estranha, aliás, manter todas as escolas e todos os níveis
de ensino em funcionamento, numa situação de total descontrole sobre o crescimento
da epidemia, como aquela que se regista desde há duas semanas.
Não deixa igualmente ser curioso ler um editorial do Público, assinado
pelo mesmo jornalista, defender há dois dias, de forma veemente, a manutenção
das escolas em funcionamento, e assinar hoje um editorial intitulando este
confinamento como um ”faz de conta”.
Se este confinamento está a ser um “faz de conta” deve-se muito ao facto de manter todas as escolas abertas.
Eu falo por experiência própria.
Vivendo perto de escolas, ontem assisti a um significativo movimento de
pessoas e automóveis, como se fosse um dia
normal. Hoje, que as escolas estão encerradas, já parece, de facto, que estamos
em confinamento. Segunda-feira voltará tudo ao “normal”, quando as escolas
voltarem a abrir.
Fechar as escolas, pelo menos a partir do 3º ciclo, por um mês, não
prejudica ninguém.
Mantê-las abertas, é contribuir para continuarmos a assistir a cenas
como as vividas esta madrugada à entrada do Hospital de Torres Vedras, localizado,
aliás, ao lado de duas das maiores escolas do concelho.
Haja coragem e bom senso para altera a situação, sem medo das opiniões dos “adivinhos” do costume.
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