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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A suspensão do Carnaval de Torres...ou, comparar o incomparável..ou, combatendo aproveitamentos políticos e as fake news..

(foto jornal Público)

Como resposta a umas mentirolas que andam por aí a circular sobre as “virtudes” do Estado Novo em relação ao pós-25 de Abril, no que respeita às proibições do Carnaval de Torres, recordo aqui alguns factos.

Durante os anos de 1927 a 1929, o carnaval de rua organizado conheceu a sua primeira interrupção, desde que se tinha iniciado  nos princípios da década, facto a que não terá sido estranho o inicio da Ditadura Militar, implantada em 28 de Maio de 1926, talvez premonitório da forma como o novo regime lidou com os “excessos” de liberdade permitida pela Carnaval.

Aliás, a história da censura e da perseguição ao Carnaval de Torres, durante esse período, ainda está por fazer.

Por ocasião da 2ª Segunda Guerra, em 1940,  o Carnaval foi mesmo proibido.

Para tornear esse obstáculo, constitui-se, Torres Vedras, uma comissão, formada por um representante de cada colectividade (Tuna, Grémio, Operário, Casino e Sporting Club de Torres) que pediu ao presidente da Câmara para autorizar a realização do tradicional carnaval de Torres. Este autorizou-o, desde que não se fizesse propaganda, para não chegar ao conhecimento das autoridades de Lisboa, e foi assim que o carnaval de Torres ainda se realizou nesse ano.

No ano seguinte, 1941,ensaiou-se o mesmo estratagema, desta vez sem êxito, devido à pressão das autoridades, mantendo-se a proibição no ano seguinte.

Em 1943, apesar da proibição do carnaval de rua, este regressou às colectividades, no Grémio, no Operário, na Tuna e no Casino. Nestas duas últimas colectividades exibiu-se a "Orquestra Sulfidrofónica", diversão musical formada por alunos da Escola Secundária Municipal de Torres Vedras. No Casino chegou mesmo a realizar-se uma recepção ao rei carnaval e reviveu-se o célebre corso, com desfile de “carros” e o tradicional discurso de carnaval.

O Carnaval regressou em 1947, mas com várias interrupções até 1960

Em 1959 realizou-se uma reunião magna no Teatro-Cine para relançar o Carnaval de Torres, formou-se uma comissão que, apoiada na estrutura organizativa da Física de Torres, recuperou, em 1960, o cortejo de rua, que teve lugar durante dois dias, agora ao Domingo e à terça-feira.

Contudo, em 1963 e 1964, o Carnaval voltou a ser proibido. Desta vez a desculpa das autoridades foi a do início da “guerra ultramarina”.

A partir de 1965 voltou a realizar-se, sem interrupções, até 1974. 

Em 1975 foi de facto interrompido, não por qualquer imposição ou proibição política, como tenho visto por aí escrito, sem povas documentais, a não ser o preconceito ideológico, fundamentado em fake news, mas devido à conjuntura política, que implicou mudanças na estrutura organizativa, quer na Câmara, quer nas associações organizadoras, para além do clima de agitação social que se vivia, dificultando a sua organização, mas não impedindo qualquer manifestaçao de rua.

Se no Estado Novo houve várias proibições, como vimos em cima, desde o 25 de Abril apenas se registaram interrupções por dificuldade de organização, no caso do Carnaval de 1975 e em 1984, devido a uma tragédia local, as cheias de 1983, e agora, em 2021 e 2022, por razões de saude pública.

Espero assim, com este breve resumo, repor a verdade e impedir o aproveitamento político que alguns estão a procurar fazer com a actual situação de excepção motivada, volto a repetir, por razões de saúde pública.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

A SIC e o Carnaval de Torres ou...uma forma subtil de fazer Censura


 A Censura tem sido uma presença constante no Carnaval de Torres (ver AQUI o que escrevemos sobre o tema).

Costumamos estar habituados a uma censura feita "à descarada" e escapa-nos, muitas vezes, a censura mais subtil, muitas vezes exercida nos bastidores.

O que aconteceu este ano enquadra-se neste último caso.

Como todos sabem, o Carnaval de Torres deste ano ficou-se pela inauguração de um monumento, que procurou homenagear os profissionais que têm estado na linha da frente, para combater a epidemia ou manter o país em funcionamento (talvez com um esquecimento mais notado, o da actividade dos professores nesta conjuntura).

Para além do monumento, a crítica social e política habitual neste Carnaval foi, de forma inteligente, incluída no écran de um conjunto de "telemóveis" gigantes, uma referência ao meio de comunicação mais usado pelos cidadãos, obrigados ao confinamento e ao distanciamento físico.

A SIC, no passado dia 12 de  Fevereiro, realizou uma reportagem onde deu grande destaque aos "cartoon´s" incluídos num dos lados do tais "telemóveis" gigantes (ver AQUI) .

Ao visionarmos a reportagem, confirmámos o que já desconfiávamos, que não iriam mostrar  um desses "cartoon´s", aquele que reproduzimos em cima.

Porque é que não nos espantámos? Porque no dia em estivemos a fotografar o tal monumento estava lá uma equipa da RTP  (uma jornalista e um operador de Câmara) e, ainda antes de percebermos o alvo da conversa, ouvimos a jornalista a dizer para o operador :"vamos lá ver se nos deixam passar isto".

O "isto" era o mesmo "cartoon" "censurado" na reportagem da SIC.

Ou seja, o poder da SIC é tal na comunicação social que até  condiciona as opções editoriais de outros orgãos de comunicação.

E qual o motivo do subtil acto de censura, na televisão que se acha a campeã da liberdade de informação? Uma alusão à SIC, à TVI e à CMTV como metáfora de uma esquina de prostitutas.

Claro que é um acto subtil de censura, o de optar por  não reproduzir um cartoon de Carnaval, quando a reportagem reproduz quase todos, disfarçado de "opção editorial", uma forma civilizada e legal de censura em democracia, mas revelador da forma como se condiciona a informação nalguns órgãos de comunicação social, e até do poder corporativo de um classe profissional como a dos jornalistas.