Como resposta a umas mentirolas que andam por aí a circular sobre as “virtudes” do Estado Novo em relação ao pós-25 de Abril, no que respeita às proibições do Carnaval de Torres, recordo aqui alguns factos.
Durante os anos de 1927 a 1929, o carnaval de rua organizado
conheceu a sua primeira interrupção, desde que se tinha iniciado nos princípios da década, facto a que não terá
sido estranho o inicio da Ditadura Militar, implantada em 28 de Maio de 1926,
talvez premonitório da forma como o novo regime lidou com os “excessos”
de liberdade permitida pela Carnaval.
Aliás, a história da censura e da perseguição ao Carnaval de
Torres, durante esse período, ainda está por fazer.
Por ocasião da 2ª Segunda Guerra, em 1940, o Carnaval foi mesmo proibido.
Para tornear esse obstáculo, constitui-se, Torres Vedras, uma comissão, formada por um representante de cada colectividade (Tuna, Grémio, Operário,
Casino e Sporting Club de Torres) que pediu ao presidente da Câmara para
autorizar a realização do tradicional carnaval de Torres. Este autorizou-o,
desde que não se fizesse propaganda, para não chegar ao conhecimento das
autoridades de Lisboa, e foi assim que o carnaval de Torres ainda se realizou nesse ano.
No ano seguinte, 1941,ensaiou-se o mesmo estratagema, desta
vez sem êxito, devido à pressão das autoridades, mantendo-se a proibição no ano
seguinte.
Em 1943, apesar da proibição do carnaval de rua, este
regressou às colectividades, no Grémio, no Operário, na Tuna e no Casino.
Nestas duas últimas colectividades exibiu-se a "Orquestra
Sulfidrofónica", diversão musical formada por alunos da Escola Secundária
Municipal de Torres Vedras. No Casino chegou mesmo a realizar-se uma recepção
ao rei carnaval e reviveu-se o célebre corso, com desfile de “carros” e o tradicional
discurso de carnaval.
O Carnaval regressou em 1947, mas com várias interrupções até 1960
Em 1959 realizou-se uma reunião magna no Teatro-Cine para
relançar o Carnaval de Torres, formou-se uma comissão que, apoiada na estrutura
organizativa da Física de Torres, recuperou, em 1960, o cortejo de rua, que teve
lugar durante dois dias, agora ao Domingo e à terça-feira.
Contudo, em 1963 e 1964, o Carnaval voltou a ser proibido. Desta vez a
desculpa das autoridades foi a do início da “guerra ultramarina”.
A partir de 1965 voltou a realizar-se, sem interrupções, até 1974.
Em 1975 foi
de facto interrompido, não por qualquer imposição ou proibição política, como tenho visto por aí escrito, sem povas documentais, a não ser o preconceito ideológico, fundamentado em fake news, mas devido à conjuntura política, que implicou mudanças na estrutura organizativa, quer na Câmara, quer nas associações organizadoras, para além do clima de agitação social que se vivia, dificultando a sua organização, mas não impedindo qualquer manifestaçao de rua.
Se no Estado Novo houve várias proibições, como vimos em cima, desde o 25 de Abril apenas se registaram interrupções por dificuldade de organização, no caso do Carnaval de 1975 e em 1984, devido a uma tragédia local, as cheias de 1983, e agora, em 2021 e 2022, por razões de saude pública.
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