(cartoon de Antero Valério)
Numa coisa estou de acordo com Passos Coelho: este país
precisa de uma “refundação” de alto a
baixo (eu chamar-lhe-ia antes “revolução”, mas sei que a palavra é
politicamente incorrecta…).
Contudo essa intervenção do primeiro-ministro cheira-me a
mero eufemismo para justificar a continuação da destruição do já de si
irrisório “Estado social” português e a desvirtuação dos direitos consignados
pela Constituição e pela lei.
Passos Coelho já deu provas daquilo que pensa em temos
sociais e sobre as funções do estado. Assim, só por ignorância ou ingenuidade
se pode acredita nas boas intenções dessa “refundação”.
Mas vamos fazer o exercício de acreditar na boa-fé daquela
afirmação de Passos Coelho. Neste caso, quando fala da “refundação”
“acreditamos” que só pode estar a falar que vai defender:
- que as funções fundamentais do Estado são as de garantir a
saúde, a educação, a segurança e a justiça a todos os cidadãos;
- que as funções fundamentais do estado são as de recolher
equitativamente e garantir o bom uso dos impostos, dos descontos sociais e das
poupanças feitos pelos cidadãos, com
vista a garantir a qualidade daqueles serviços e a dignidade no auxilio e apoio
a esses mesmos cidadãos em caso de desemprego e doença, garantindo igualmente
uma reforma digna;
- que estes auxílios e apoios não devem ser inferiores à
simples dignificação das pessoas, mas também não podem ser uma espécie de pensões dourada vitalícias
para aqueles que ocuparam cargos políticos ou funções publicas administrativas,
muitas vezes de nomeação política, durante uma dúzia (ou ainda menos) de anos.
Assim haja coragem de impor um leque nesses auxílios numa relação de 1 para 10
(por exemplo, um mínimo de 400 euros e um máximo de 4 mil euros no valor desses
auxílios e pensões);
- que, embora podendo ser assumido por entidades privadas,
cumprindo a lei e um verdadeiro serviço público, o Estado deve garantir o
acesso de todos à cultura, à informação (sem interferir nos conteúdos), aos
transportes, à energia, à água, ao saneamento e ao bom ambiente;
- que o Estado deve garantir a transparência na sua relação
com os funcionários públicos, nomeadamente garantindo a separação de águas
entre os trabalhadores públicos do quadro, propriamente ditos, par onde
entraram por mérito e concurso público, e aqueles que são nomeados por
inerência de nomeação política;
- que o Estado não possa pagar um salário superior àquele
que é auferido pelo primeiro-ministro e que recorra aos próprios serviços
existentes nos ministérios em vez de pagar a consultadorias externas;
- que o Estado defina e reduza drasticamente as ajudas de
custo, nomeadamente as frotas automóveis individualizadas, os cartões de
crédito sem limite, os telemóveis fornecidos a um leque vasto da altos cargos
da administração pública e políticos;
- que o Estado defina com transparência a sua relação com
Institutos, Fundações e outras instituições externas ao aparelho de estado;
- que o Estado vai tomar medidas drásticas para combater a
fuga de capitais, a fuga aos impostos e a corrupção generalizada do sector
financeiro e de alguns sectores económicos.
Se é disto que o nosso primeiro-ministro fala, quando se
refere à “refundação” do Estado, estamos de acordo. Mas só podemos estar de
acordo se for mesmo isto e não outra coisa, como as atitudes deste governo
fazem temer.
Se, há um ano, já emparceirávamos como os países nórdicos em
termos da carga fiscal, situação que se vai agravar no próximo ano, é tempo, de
facto, de todos exigirmos a “refundação” do Estado de acordo com as ideias
expressas acima ou de outras idênticas.
Como não somos ingénuos, sabemos, infelizmente, que o que se
pretende com essa “refundação” é desbaratar o Estado Social e entregar tudo
aquilo que deviam ser as funções do Estado à mera especulação financeira…
...e se fossem todos... "Refundar-se"!!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário