Todas as semanas este governo acrescenta uma palavra ou uma
frase à “novilíngua” em que transformou a sua retórica política: ela já foi “os
portugueses a viver acima das suas possibilidades”, ela já foi a “o desemprego
como oportunidade”, o convite à “emigração como solução para o desemprego jovem
e qualificado”, o povo “piegas” e “o melhor povo do mundo”, as “cigarras” que
não deixam as “formigas” do governo trabalhar para o “nosso bem”, e agora a “refundação” do memorando e, por
arrasto, da Constituição e do Estado Social.
Ao que parece, o
primeiro-ministro entusiasmou-se com esta última “invenção” e já vem “convidar”, de modo chantagista, o PS para participar nessa “refundação”.
Não que não acreditemos na necessidade de repensar as
funções do Estado, mas quando pensamos em “refundação” pensamos em coisas
diferentes daquelas que estão por detrás da retórica fundamentalista neoliberal deste governo. Já
ontem AQUI falámos na nossa idéia de “refundação”.
É o modo como o Primeiro-ministro se dirige ao PS para
participar nessa “refundação” que “cheira” a chantagem, até porque já vai insinuando
que, se o PS não colaborar, será necessário um segundo pedido de resgate .
Parece assim que Passos Coelho tenta desviar as atenções políticas, quer da
tragédia anunciada com a aprovação do Orçamento de 2013, quer do falhanço das
políticas de austeridade, comprovadas por todos os indicadores económico-sociais
que vão sendo conhecidos, quer pela crescente desconfiança dos portugueses em
relação a essas medidas.
Ou seja, já se sabendo que o programa de austeridade e a
aplicação do Orçamento vai conduzir o país para um dos maiores desastres da sua
história, e que vai obrigar o país a um novo resgate, mas não podendo recuar, não sei se por teimosia, se por ignorância,
se por incompetência, se por fé fundamentalista nos princípios neoliberais, se
por tudo isso, Passos Coelho tenta desde já arranjar um bode expiatório para o
tragédia para onde nos está a conduzir.
Também não deixa de ser estranho, depois de ter desbaratado
nos últimos dois meses todo o seu capital de estabilidade social (que tinha
conseguido través da Concertação Social e do compromisso com o PS em relação ao
cumprimento do memorando da troika), como
resultado da sua teimosia ideologicamente oportunistas de “ir para além da
troika”, como resultado da trapalhada à volta da TSU, como resultado dos
constantes avanço e recuos orçamentais, sem consultar parceiros sociais, os
partidos da oposição, o Presidente da República e, ao que parece, nem sequer os
parceiros da coligação, que Passos Coelho venha agora tentar encostar o PS à
parede para o fazer aceitar uma “misteriosa” “refundação” que pretende impor ao
país.
É um mito o peso do Estado em Portugal, como o demonstram
todos os indicadores comparativos com a União Europeia. O que acontece é que
muitos dos meios de que o Estado Social devia ter ao dispor do seu
desenvolvimento e funções têm sido desbaratados pela corrupção, pela fuga aos
impostos, por privilégios concedidos aos “boys” colocados em lugares chave da
administração pública, pelas opções erradas tomadas em relação à educação, à saúde,
aos transportes públicos, e em tantos outros sectores, transformando o Estado
num grande negócio para bancos, grandes empresas privadas, gabinetes de advogados ,
institutos, fundações…etc, etc, etc…
Mas não será essa a visão que o primeiro-ministro tem para “refundar”
o Estado. Por aquilo que já provou, pelo que disse e pelo que fez, o seu objectivo
será entregar a educação, a saúde, a segurança social, todas as funções até
hoje atribuídas ao Estado, aos apetites vorazes de bancos, grandes empresas,
multinacionais, dos “boys” do centrão, do dinheiro sujo de Angola e da China…
Portugal está a transformar-se num filme de terror social,
dirigido por um mau realizador de cinema
“gore” chamado Passos Coelho, produzido por um desumano e lunático Vitor Gaspar.
Veremos se o PS se vai deixar enredar na armadilha que
Passos Coelho lhe preparou ou vai despertar par a realidade do país, rompendo
de vez com o seu passado socrático e “refundando” o seu ideal em defesa de um Estado Social forte, organizado e justo. O
futuro político e a crediblidade de Seguro também se jogam agora.
1 comentário:
Quando recordo ensinamentos que tive na catequese, vejo que não existe moral neste Mundo; se Cristo morreu para nos salvar, como pode alguém como os nossos governantes, semear a soldo de Merkel a desgraça no Mundo:
FILHOS DE UMA OSGA
Estes filhos de uma osga
que nas patas tem azougue
cá põem um gajo pitosga
já não vê carne d'açougue;
-
não vê a carne de cavalo
e nem vê a carne de vaca
por haver tanto “chavalo”
ai que tudo corta sem faca;
-
e já não vê a carne gorda
daquele branco toucinho
ai apenas vê uma açorda
o nosso povo, pobrezinho;
-
Ó Nosso Senhor dos Passos
com teu coração nos guia
para unirmos nossos braços
em prol desta democracia;
-
manda embora governante
o que não parece cansado
antes parece mui radiante
pelo salário ter congelado;
-
conta-se em tom d'anedota
que Passsos dobrou calças
o Gaspar vê, logo lá nota
vê s'inda não te descalças;
-
logo o Passos lhe retorquiu
a este homem,o dos fortes
vão para a “puta qu'os pariu”
tenho que fazer meus cortes;
-
e o da troika, um escurinho
tomou nota da manifestação
também tomou pobrezinho;
que abdicou de sua pensão?
-
quando olho e vejo as aves
que vêm a voar la dos céus
logo me lembro do Chaves
é só desgraça ó meu Deus!?
-
quando lembro das crianças
sem terem o pão para tragar
se me perdem as esperanças
de harmonia em todo o lar?
-
ó povo que carregas a Cruz
que eu julgo muito pesada
como a que foi, a de Jesus
só faço versos, mais nada;
-
eu hoje perguntei ao vento
o que no meu País se passa
e ele respondeu no lamento
cada vez há mais desgraça!
-
Eugénio dos Santos
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