Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta Bielorrussia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Bielorrussia. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Israel e Bielorrússia, os dois pesos e duas medidas da União Europeia.


O desvio de um avião de passageiros é um acto de terrorismo.

Quando esse acto ignóbil é organizado pelo governo de um Estado, reconhecido internacionalmente, estamos perante um acto de terrorismo de Estado que tem de ter uma resposta firme da comunidade internacional.

Foi isso que fez, e bem, a União Europeia, com rapidez e firmeza, rapidez e firmeza pouco habitual noutras situações.

Ainda recentemente tivemos uma semana de acções criminosas levada a cabo por um Estado “amigo” da União Europeia, o Estado de Israel.

Aliás, essa acção criminosa levada a cabo por Israel, ao contrário do acto de pirataria promovido pelo ditador Lukashenko, provocou mais de duas centenas de mortos, a maior parte civis.

Ao contrário do que aconteceu agora, a União Europeia, e o mesmo podemos dizer da NATO,  foi demorada e tímida e parca a condenar os crimes israelitas.

O que nos leva a concluir que a União Europeia usa dois pesos e duas medidas, para tomar posição contra actos tresloucados de figuras repugnantes como um Lukashenko ou um Natanyahu, cada um à sua maneira, “exemplos” de  “democratas iliberais”.

Aliás, tanto a União Europeia, como a NATO, têm os seus telhados de vidro, como Viktor Orbán no seio da UE, que tem seguidores em todos os países do leste, e não só, ou Recep Erdogan, na Turquia, país este com um dos mais poderosos exércitos da NATO.

Lukashenko, Natanyahu, Erdogan, Órban , tal como Putin, Maduro, Bolsonaro e, cada vez mais, tantos outros por esse mundo fora, estão todos ao mesmo nível no desrespeito pelos Direitos Humanos, pala Liberdade e pela Democracia.

Mas na União Europeia parece que,se são todos autoritários e repelentes, …. alguns são mais autoritários e repelentes do que outros!!!

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Nos Últimos Dias da União Soviética – 3 – Minsk, Julho de 1991


Fim da tarde do dia 28 de Julho de 1991. Estamos no aeroporto de Kiev para apanhar o voo para Minsk, próxima etapa da nossa viagem, com partida prevista para as 18.40.

Durante a espera conheci um jovem guineense que estava em Kiev a estudar direito internacional e viajava, como nós, para Minsk, que ficou contentíssimo por poder falar português.

O avião em que viajamos era um pequeno bimotor, movido a hélice, de 50 lugares, estremecia muito, o céu estava muito nublado, o que para mim, ainda pouco à vontade a voar, tornou a viagem um pouco assustadora, estando sempre a tentar ver os sinais dos passageiros habituados àquele voo. Se estivessem descontraídos, era porque estava tudo a correr bem.

Ao meu lado ía sentado um velhote a ler o “Pravda”, com o peito coberto de medalhas, com quem meti a conversa possível. Para surpresa minha ele foi a única pessoa, em todas a viajem, que me identificou como português. Geralmente pensavam que era italiano e até me confundiram com um turco ou um árabe.

Fiquei a saber que o velhote que estava ao meu lado era um antigo “partisant” que tinha combatido os nazis na Segunda Guerra, tendo-os perseguido a partir da Bielorrússia até à Áustria e Alemanha. Via-se que era um homem informado e viajado.

Chegados a Minsk fomos para o hotel e fiquei com uma primeira impressão da cidade, pareceu-me uma cidade de subúrbio, tipo Odivelas ou Amadora, mas com mais espaços verdes.

O jantar no hotel foi muito animado, cheio de gente, com um conjunto a tocar ao vivo e gente a dançar.

Dia 29 de Julho. O dia é para visitar a cidade de Minsk.É Domingo e encontra-se quase tudo fechado.

De manhã fomos visitar um cemitério que funciona como memorial, pois aí estão sepultados muitos dos cidadãos e “partisans” mortos durante a 2ª Guerra.







Minsk foi uma das cidades mais martirizadas pela guerra, pois foi no solo da Bielorrússia  que se registaram os combates mais violentos e prolongados daquele conflito.

Minsk esteve ocupada pelos nazis e foi toda destruída, não existindo praticamente edifícios antigos, sendo por isso uma cidade moderna, com largas avenidas e imensas zonas verdes. Ao contrário de Moscovo e Kiev as pessoas aparentam viver melhor aqui, as montras estão mais cheias e com maior variedade de produtos.

Tudo aqui é muito mais barato que em Moscovo ou Kiev.

Entre as recordações que aqui comprei, aproveitando os preços mais baratos, está um xadrez em madeira que me custou 60 rublos, cerca de 300 escudos em moeda portuguesa (um euro e meio, na actualidade).

Até o câmbio foi mais barato para nós, pois recebemos mais de 30 rublos por cada dólar, quando nas cidades anteriores um dólar não dava mais de 27 dólares. Pelo que soubemos, o dólar foi revalorizado  na passada 6ª feira, não sabemos se apenas na União Soviética se à escala mundial.

Por outro lado, foi aqui que vi a maior quantidade de pedintes. No cemitério que visitámos, devido ao facto de aí se juntar muita gente para a missa de domingo que se realizava na Igreja ortodoxa próxima, eles eram mesmo muitos, velhotes e crianças.

Continuando a nossa visita pela cidade, a paragem seguinte foi numa imensa praça com uma grande estátua de Lenine em frente de um gigantesco edifício, tudo ao estilo da grandiosidade exagerada da arquitectura estalinista, fazendo lembra as imagens de Bucareste.



A terceira paragem da manhã foi junto da “estátua da Victória”, comemorativa da vitória sobre os nazis..





Após o almoço partimos para uma visita aos arredores de Minsk, que incluiu um museu etnográfico e uma visita ao memorial Khatyn.

As estradas, de 4 faixas, não são muito largas. A paisagem variava entre grandes pinhais e grandes campos de trigo. Muito do trigo estava a estragar-se nos campos, por não ter sido apanhado a tempo, mais um sinal da falta de organização económica deste país.

A Bielorrússia é considerada o celeiro da União Soviética. Quando do trágico acidente de Chernobyl, embora a central nuclear ficasse mais perto de Kiev ( a cerca de 100 quilómetros), esta região foi a que mais sofreu porque os ventos levaram as radiações para Minsk e arredores e a chuva radioactiva, que então se abateu sobre a região, afectou a produção de cereais, embora de forma diferente do previsto, aumentando a produção de cereais pelo efeito das radiações.

Tenho comido pão aqui e lembro-me sempre se não estarei a comer pão contaminado…

Por falar no pão da Bielorrússia, bebi aqui, pela primeira vez, uma das bebidas mais características da União Soviética, o KBSC (lê-se “quevasse”), feita à base do pão escuro muito característica do país.

Continuando a nossa viagem, a nossa primeira paragem foi no Museu etnográfico da Bielorrússia, com duas salas demonstrativas do artesanato da região, donde se destacam, pela originalidade, os vários objectos de artesanato feitos em palha.

Seguimos depois para o Memorial de Khatyn, que fica a cerca de 40 quilómetros de Minsk. Fica localizado no sítio onde existiu uma aldeia totalmente queimada pelos nazis durante a guerra, sendo os seus habitantes queimados vivos dentro da Igreja da aldeia.


Um testemunho impressionante do sofrimento das populações locais durante a Segunda Guerra.

Regressados ao Hotel, e depois do jantar, tive a oportunidade de dar um pequeno passeio pelos arredores: casas baixas, parecendo vivendas, com grandes quintais e jardins e muitos espaços para as crianças se divertirem, mas o espaço estava mal tratado, com vegetação por cortar.

As ruas são patrulhadas por policias bastante jovens, em grupos de três, e que se dedicam a prender os bêbados que encontram. Estes só não são presos se estiverem acompanhados por alguém sóbrio, geralmente as próprias esposas.

Votando ao quarto de hotel, este é o primeiro quarto com televisão, apesar de ser a preto e branco (as emissões são a cores) e apanhar apenas três canais. Pude ver a transmissão de um festival de musica rock, com vários grupos soviéticos, filmado, pelo que me pareceu, no estádio Olímpico de Moscovo , que ficava próximo do nosso hotel moscovita.

Amanhã deixamos Minsk e partimos de avião até Leninegrado (hoje S. Petersburgo).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

TODOS SOMOS BIELORRUSSOS!

Foi em Minsk que, numa visita a essa cidade há largos anos, encontrei o verdadeiro “espírito soviético”, ou, para ser mais claro, uma cidade cinzenta, nas suas casas, nas suas ruas, nos seus mastodônticos edifícios oficiais e até nas suas gentes.

Já nem Moscovo (excluindo a visita ao túmulo de Lenine), e muito menos Kiev ou S. Petersburgo (então Leninegrado), respiravam esse ambiente humanamente tão frio e desesperançado como o de Minsk.

A Bielorrússia nasceu de um equívoco histórico, do puro oportunismo político do ocidente nos anos 90, que procurou apressar a decadência do gigante russo empurrando as antigas repúblicas soviéticas para uma independência irresponsável, mesmo aquelas que, como a Bielorrússia, não ofereciam as condições mínimas para ser um país. (o mesmo aconteceria com a antiga Jugoslávia).

Independente, a Bielorrússia, cujo território foi dos que mais sofreu com a segunda guerra (1/3 da sua população dizimada), tornou-se rapidamente um pária do ocidente, pois o seu presidente, Lukachenko, quase vitalício desde a independência, introduziu um modelo de economia de Estado, fechado à economia de mercado, com a agravante de usar o poder de modo autoritário.

Claro que foi eleito “democraticamente”, e este foi outro dos equívocos do ocidente: a pressa em aproveitar-se da decadência da Rússia levou-o a aceitar como democracia qualquer acto eleitoral disputado por mais do que um partido ou pessoa, aclamando como democracia o mero acto formal de colocar um voto numa urna.

Ora a democracia é muito mais do que isso, como depressa o povo da Bielorrússia percebeu e é contra isso que agora se manifestam nas ruas de Minsk, sendo violentamente reprimidos pela polícia (uma situação que não é muito diferente do que se tem passado em Atenas, Londres, Roma ou Paris).

O cinismo da indignação ocidental em relação a essa violação dos Direitos Humanos em Minsk só se manifesta porque o sistema económico da Bielorrússia não se coaduna com o modelo neo-liberal do ocidente.

Fosse Lukachenko um líder de um qualquer país de leste (ou de qualquer outra parte do mundo) , onde existisse uma “democracia” tão formal e corrupta como a da Bielorrússia, controlada pelas várias espécies de máfias (como aconteceu recentemente no Kosovo), mas onde fossem aceites as regras dos “mercados” ou representasse um bom "negócio", e a reacção do ocidente seria outra, mais condescendente.

Por isso, a minha solidariedade para com a população Bielorrussa que sofre na pele o efeito de um governo corrupto e autoritário não se confunde com essa aparente “solidariedade” do ocidente para com esse país.

É a mesma solidariedade que manifesto para com os irlandeses, os gregos, os espanhóis, e, em geral, par com todos os que vivem do rendimento do trabalho na Europa, dominada por instituições que, ainda pior que na Bielorrússia, não se sujeitam ao mínimo de controle democrático por parte dos cidadãos atingidos na sua dignidade e direitos, como o Conselho Europeu, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, os “mercados” e toda a euro-burocracia.

A nossa luta é a mesma da dos Bielorrussos.

…Todos somos Bielorrussos!