Fim da tarde do dia 28 de Julho de 1991. Estamos no aeroporto de Kiev
para apanhar o voo para Minsk, próxima etapa da nossa viagem, com partida
prevista para as 18.40.
Durante a espera conheci um jovem guineense que estava em Kiev a
estudar direito internacional e viajava, como nós, para Minsk, que ficou contentíssimo
por poder falar português.
O avião em que viajamos era um pequeno bimotor, movido a hélice, de 50
lugares, estremecia muito, o céu estava muito nublado, o que para mim, ainda
pouco à vontade a voar, tornou a viagem um pouco assustadora, estando sempre a
tentar ver os sinais dos passageiros habituados àquele voo. Se estivessem descontraídos,
era porque estava tudo a correr bem.
Ao meu lado ía sentado um velhote a ler o “Pravda”, com o peito coberto
de medalhas, com quem meti a conversa possível. Para surpresa minha ele foi a
única pessoa, em todas a viajem, que me identificou como português. Geralmente
pensavam que era italiano e até me confundiram com um turco ou um árabe.
Fiquei a saber que o velhote que estava ao meu lado era um antigo “partisant”
que tinha combatido os nazis na Segunda Guerra, tendo-os perseguido a partir da
Bielorrússia até à Áustria e Alemanha. Via-se que era um homem informado e
viajado.
Chegados a Minsk fomos para o hotel e fiquei com uma primeira impressão
da cidade, pareceu-me uma cidade de subúrbio, tipo Odivelas ou Amadora, mas com
mais espaços verdes.
O jantar no hotel foi muito animado, cheio de gente, com um conjunto a
tocar ao vivo e gente a dançar.
Dia 29 de Julho. O dia é para visitar a cidade de Minsk.É Domingo e
encontra-se quase tudo fechado.
De manhã fomos visitar um cemitério que funciona como memorial, pois aí
estão sepultados muitos dos cidadãos e “partisans” mortos durante a 2ª Guerra.
Minsk foi uma das cidades mais martirizadas pela guerra, pois foi no
solo da Bielorrússia que se registaram os
combates mais violentos e prolongados daquele conflito.
Minsk esteve ocupada pelos nazis e foi toda destruída, não existindo praticamente
edifícios antigos, sendo por isso uma cidade moderna, com largas avenidas e
imensas zonas verdes. Ao contrário de Moscovo e Kiev as pessoas aparentam viver
melhor aqui, as montras estão mais cheias e com maior variedade de produtos.
Tudo aqui é muito mais barato que em Moscovo ou Kiev.
Entre as recordações que aqui comprei, aproveitando os preços mais
baratos, está um xadrez em madeira que me custou 60 rublos, cerca de 300
escudos em moeda portuguesa (um euro e
meio, na actualidade).
Até o câmbio foi mais barato para nós, pois recebemos mais de 30 rublos
por cada dólar, quando nas cidades anteriores um dólar não dava mais de 27
dólares. Pelo que soubemos, o dólar foi revalorizado
na passada 6ª feira, não sabemos se apenas na União Soviética se à
escala mundial.
Por outro lado, foi aqui que vi a maior quantidade de pedintes. No
cemitério que visitámos, devido ao facto de aí se juntar muita gente para a
missa de domingo que se realizava na Igreja ortodoxa próxima, eles eram mesmo
muitos, velhotes e crianças.
Continuando a nossa visita pela cidade, a paragem seguinte foi numa
imensa praça com uma grande estátua de Lenine em frente de um gigantesco
edifício, tudo ao estilo da grandiosidade exagerada da arquitectura estalinista,
fazendo lembra as imagens de Bucareste.
A terceira paragem da manhã foi junto da “estátua da Victória”,
comemorativa da vitória sobre os nazis..
Após o almoço partimos para uma visita aos arredores de Minsk, que incluiu um museu etnográfico e uma visita ao memorial Khatyn.
As estradas, de 4 faixas, não são muito largas. A paisagem variava entre
grandes pinhais e grandes campos de trigo. Muito do trigo estava a estragar-se
nos campos, por não ter sido apanhado a tempo, mais um sinal da falta de
organização económica deste país.
A Bielorrússia é considerada o celeiro da União Soviética. Quando do
trágico acidente de Chernobyl, embora a central nuclear ficasse mais perto de
Kiev ( a cerca de 100 quilómetros), esta região foi a que mais sofreu porque os
ventos levaram as radiações para Minsk e arredores e a chuva radioactiva, que
então se abateu sobre a região, afectou a produção de cereais, embora de forma
diferente do previsto, aumentando a produção de cereais pelo efeito das
radiações.
Tenho comido pão aqui e lembro-me sempre se não estarei a comer pão
contaminado…
Por falar no pão da Bielorrússia, bebi aqui, pela primeira vez, uma das
bebidas mais características da União Soviética, o KBSC (lê-se “quevasse”),
feita à base do pão escuro muito característica do país.
Continuando a nossa viagem, a nossa primeira paragem foi no Museu
etnográfico da Bielorrússia, com duas salas demonstrativas do artesanato da
região, donde se destacam, pela originalidade, os vários objectos de artesanato
feitos em palha.
Seguimos depois para o Memorial de Khatyn, que fica a cerca de 40
quilómetros de Minsk. Fica localizado no sítio onde existiu uma aldeia
totalmente queimada pelos nazis durante a guerra, sendo os seus habitantes
queimados vivos dentro da Igreja da aldeia.
Um testemunho impressionante do sofrimento das populações locais durante
a Segunda Guerra.
Regressados ao Hotel, e depois do jantar, tive a oportunidade de dar um
pequeno passeio pelos arredores: casas baixas, parecendo vivendas, com grandes
quintais e jardins e muitos espaços para as crianças se divertirem, mas o
espaço estava mal tratado, com vegetação por cortar.
As ruas são patrulhadas por policias bastante jovens, em grupos de três, e
que se dedicam a prender os bêbados que encontram. Estes só não são presos se
estiverem acompanhados por alguém sóbrio, geralmente as próprias esposas.
Votando ao quarto de hotel, este é o primeiro quarto com televisão,
apesar de ser a preto e branco (as emissões são a cores) e apanhar apenas três
canais. Pude ver a transmissão de um festival de musica rock, com vários grupos
soviéticos, filmado, pelo que me pareceu, no estádio Olímpico de Moscovo , que
ficava próximo do nosso hotel moscovita.
Amanhã deixamos Minsk e partimos de avião até Leninegrado (hoje S. Petersburgo).
Sem comentários:
Enviar um comentário