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segunda-feira, 6 de novembro de 2017

"Fake News" e "novilingua" :“corporação” , “extremo” e “populismo”


Na novilíngua neoliberal que se expandiu por cá nos anos da troika, como uma espécie de antecipação à portuguesa das “fake news” , numa atitude revisionista na utilização de conceitos, com o objectivo de lançar a confusão, há três “conceitos” que continuam a fazer o seu caminho, ao sabor da propaganda e das conveniências de cada momento.

São eles os de “coporação”, “extremismo” e “populismo”.

Hoje, muitos jornalistas e comentadores, alguns, pasme-se, com formação universitária, usam a abusam desses conceitos de forma falaciosa e tendencioso, pois, não acredito  que o façam por ignorância.

É assim que confundem,propositadamente, interesses “corporativos” com lutas sindicais ou reivindicações profissionais.

Existem milhares de obras a explicar as diferenças entre “sindicato” e “corporação”, mas essa gente insiste em usar, de forma pejorativa,esta designação, exactamente porque sabem que as “corporações” são conotadas com um passado medieval não liberal nem democrático, ou com a recuperação dessas instituições pelos regimes fascistas ou de filiação ideológica próxima, corporações que apareceram e estiveram na base institucional destes regimes para, entre outros objectivos, retirarem influência aos sindicatos.

Por cá, existem ainda corporações, devidamente enquadradas no regime democrático e com um funcionamento legal, mas que nada têm a haver com os objectivos da luta sindical, embora possam colaborar nesta em certas conjunturas, mas com a designação de “ordem” em vez de “corporação”, como  as ordens dos médicos, dos advogados, dos enfermeiros, dos engenheiros … e, embora, neste caso, sim gerador de alguma confusão, um sindicato dos jornalistas que, na realidade, funciona como uma “ordem”.

Outro conceito abusivamente usado, quase sempre pelos mesmos comentadores e jornalistas, é o de “extrema-esquerda” para designar, a nível português, mas que também usam e abusam a nível internacional, o BE e o PCP e, lá fora, a actual liderança trabalhista britânica, o Melanchot e o seu movimento, o Podemos, o Syryza e outros movimentos do género, confundindo, propositadamente, o radicalismo, no sentido de defesa de mudanças estruturais anticapitalistas e  o radicalismo, no sentido da coerência de valores, ou a ideia de ir à raiz dos problemas, com a intolerância, o sectarismo e a violência, caractaristicas do verdadeiro Extremismo (que existe tanto à esquerda como à direita), apenas para lançar a confusão e o anátema sobre forças politicas que, em democracia, têm um importante e legitimo papel de absorver as vozes de protesto, de defenderem minorias ou de manterem acesos ideais de justiça social.

Uma classificação tão idiota como seria o de classificar o CDS de "extrema-direita"...

Por último, há um terceiro conceito abusivamente usado por essa gente, hoje muito actual, que é o de “populismo”, confundindo essa característica, que existe em quase todas as formas de actuar politicamente, transversal a todos os partidos, da direita à esquerda, que têm, ou deviam ter por objectivo, ouvir as preocupações da população e darem voz a essas preocupações, com um conceito, este sim ligado a uma tendência politica,a extrema-direita neofascista, que tem como principal motor da sua existência fazerem-se porta-voz de preocupações populares, mas arvorando-se, ao mesmo tempo, como únicos responsáveis por essa vontade, ditos representantes de um “povo” que fazem coincidir com a “Nação” e a “raça”.

Ao confundirem a legitima defesa de direitos socias e económicos, no seio de uma Europa (que, em vez de se preocupar com os seus cidadãos e o seu bem-estar, tem como preocupação quase exclusiva agradar aos “mercados”), com o dito “populismo”, onde misturam tudo numa amálgama “antieuropeia” (como se defender esses direitos sociais, não fosse uma forma de ser Europeu…), apenas procuram desacreditar essas legitimas e democráticas reivindicações.

Quem usa o termo “corporação” para caracterizar lutas sindicais, quem usa a designação de extrema-esquerda (em vez de esquerda ou esquerda radical) para caracterizar BE, PCP, Podemos e outros movimentos do género, quem chama “populistas” aos que criticam a destruição do estado social europeu  e defendem os seus cidadãos contra os interesses dos ditos “mercados”, não tem, para mim , qualquer credibilidade, mesmo que embrulhe as suas diatribes em belas palavras ou numa argumentação aparentemente fundamentada e “informada” (mas, quem usa aqueles conceitos no contexo referido, destrói, à partida,  a credibilidade dessa mesma “fundamentação” ou “informação”…).

Hoje, quando procuro saber da credibilidade de um jornal ou de um comentador, uso como forma de aferir, o modo com aplicam esses três conceitos.

Quem fomenta,deliberadamente, a ignorância, não merece credibilidade.

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