Na novilíngua neoliberal que se expandiu por cá nos anos da troika,
como uma espécie de antecipação à portuguesa das “fake news” , numa atitude
revisionista na utilização de conceitos, com o objectivo de lançar a confusão,
há três “conceitos” que continuam a fazer o seu caminho, ao sabor da propaganda
e das conveniências de cada momento.
São eles os de “coporação”, “extremismo” e “populismo”.
Hoje, muitos jornalistas e comentadores, alguns, pasme-se, com formação
universitária, usam a abusam desses conceitos de forma falaciosa e tendencioso,
pois, não acredito que o façam por ignorância.
É assim que confundem,propositadamente, interesses “corporativos” com
lutas sindicais ou reivindicações profissionais.
Existem milhares de obras a explicar as diferenças entre “sindicato” e “corporação”,
mas essa gente insiste em usar, de forma pejorativa,esta designação,
exactamente porque sabem que as “corporações” são conotadas com um passado medieval
não liberal nem democrático, ou com a recuperação dessas instituições pelos
regimes fascistas ou de filiação ideológica próxima, corporações que apareceram e estiveram
na base institucional destes regimes para, entre outros objectivos, retirarem influência aos sindicatos.
Por cá, existem ainda corporações, devidamente enquadradas no regime
democrático e com um funcionamento legal, mas que nada têm a haver com os objectivos
da luta sindical, embora possam colaborar nesta em certas conjunturas, mas com a designação de “ordem” em vez de “corporação”, como
as ordens dos médicos, dos advogados, dos enfermeiros, dos engenheiros …
e, embora, neste caso, sim gerador de alguma confusão, um sindicato dos
jornalistas que, na realidade, funciona como uma “ordem”.
Outro conceito abusivamente usado, quase sempre pelos mesmos
comentadores e jornalistas, é o de “extrema-esquerda” para designar, a nível
português, mas que também usam e abusam a nível internacional, o BE e o PCP e, lá fora, a actual liderança trabalhista britânica, o
Melanchot e o seu movimento, o Podemos, o Syryza e outros movimentos do género,
confundindo, propositadamente, o radicalismo, no sentido de defesa de mudanças
estruturais anticapitalistas e o radicalismo, no sentido da coerência de
valores, ou a ideia de ir à raiz dos problemas, com a intolerância, o
sectarismo e a violência, caractaristicas do verdadeiro Extremismo (que existe
tanto à esquerda como à direita), apenas para lançar a confusão e o anátema
sobre forças politicas que, em democracia, têm um importante e legitimo papel
de absorver as vozes de protesto, de defenderem minorias ou de manterem acesos
ideais de justiça social.
Uma classificação tão idiota como seria o de classificar o CDS de "extrema-direita"...
Uma classificação tão idiota como seria o de classificar o CDS de "extrema-direita"...
Por último, há um terceiro conceito abusivamente usado por essa gente,
hoje muito actual, que é o de “populismo”, confundindo essa característica, que
existe em quase todas as formas de actuar politicamente, transversal a todos os
partidos, da direita à esquerda, que têm, ou deviam ter por objectivo, ouvir as
preocupações da população e darem voz a essas preocupações, com um conceito,
este sim ligado a uma tendência politica,a extrema-direita neofascista, que tem
como principal motor da sua existência fazerem-se porta-voz de preocupações
populares, mas arvorando-se, ao mesmo tempo, como únicos responsáveis por essa vontade,
ditos representantes de um “povo” que fazem coincidir com a “Nação” e a “raça”.
Ao confundirem a legitima defesa de direitos socias e económicos, no
seio de uma Europa (que, em vez de se preocupar com os seus cidadãos e o seu bem-estar,
tem como preocupação quase exclusiva agradar aos “mercados”), com o dito “populismo”,
onde misturam tudo numa amálgama “antieuropeia” (como se defender esses
direitos sociais, não fosse uma forma de ser Europeu…), apenas procuram
desacreditar essas legitimas e democráticas reivindicações.
Quem usa o termo “corporação” para caracterizar lutas sindicais, quem
usa a designação de extrema-esquerda (em vez de esquerda ou esquerda radical)
para caracterizar BE, PCP, Podemos e outros movimentos do género, quem chama “populistas”
aos que criticam a destruição do estado social europeu e defendem os seus cidadãos contra os
interesses dos ditos “mercados”, não tem, para mim , qualquer credibilidade,
mesmo que embrulhe as suas diatribes em belas palavras ou numa argumentação
aparentemente fundamentada e “informada” (mas, quem usa aqueles conceitos no contexo
referido, destrói, à partida, a
credibilidade dessa mesma “fundamentação” ou “informação”…).
Hoje, quando procuro saber da credibilidade de um jornal ou de um comentador, uso como forma de aferir, o modo com aplicam esses três conceitos.
Quem fomenta,deliberadamente, a ignorância, não merece credibilidade.
Quem fomenta,deliberadamente, a ignorância, não merece credibilidade.
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