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segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Legislativas 2022 – “perdas e ganhos”


Nenhuma sondagem, ao longo da última semana, previu uma maioria absoluta para o PS, nem um resultado tão penoso para o PSD.

Quase todas acertaram, no limite, nos resultados dos restantes partidos, mas todas indicavam uma possível maioria de direita no parlamento, fosse qual fosse o resultado, o que não se concretizou.

Tendo sido esta eleição a que registou uma das mais baixas abstenções de sempre nas últimas duas décadas, 42%, e se tivermos em conta mais de um milhão de “votos fantasma”, o que reduz, na realidade, os números da abtenção real para perto dos 30%, também fica desmentida a versão segundo a qual a “maioria silenciosa” que se costuma abster é de “direita” ou mesmo de “extrema-direita”, pois uma redução da abstenção favoreceu o PS e não beneficiou assim tanto o Chega, como se temia.

Quase tudo o que o BE e a CDU perderam em percentagem contribuiu para a maioria absoluta do PS.

Por sua vez terá havido uma percentagem mínima do PS, o voto mais centrista, que voou para o PSD, o que justifica que este partido, apesar de derrotado, tenha crescido em votos e percentagem em relação às legislativas de 2019.

Se somarmos a percentagem do IL e do CDS em 2019 e 2022, ela mantem-se quase idêntica, mostrando que agora houve uma transferência maciça de votos do CDS para o IL.

Este último cresceu, mesmo assim, cerca de 1% para além dessa transferência, votos que terá ido buscar ao PSD.

O Chega terá crescido, em parte com votos oriundos do PSD e do CDS, mas, talvez e principalmente, de alguma abstenção.  

O LIVRE conseguiu aumentar a sua votação, em grande parte com votos oriundos do BE, mas também à CDU e até ao PS.

Uma incógnita é saber para onde se esfumaram os votos do PAN, talvez equitativamente pelo PS e pelo LIVRE.

Embora uma eleição não seja um campeonato de futebol, como muitos comentadores procuram fazer crer, o que é verdade é que houve vencedores e derrotados, embora o exercício da democracia, seja qual for o resultado, é sempre uma vitória.

Diríamos até mais: houve “grandes vitórias”, “vitórias de Pirro”, “pequenas vitórias”, “pequenas derrotas” e “grandes derrotas”.

GRANDES VITÓRIAS:

O PS foi o grande vitorioso da noite, duplamente vitorioso, diga-se em abono da verdade. Para além de vencer as eleições, conseguiu uma maioria absoluta, a segunda da sua história. Ao contrário da maioria de Sócrates, esta maioria só foi possível com o voto útil de esquerda.

Ao contrário de Costa,  Sócrates beneficiou do voto do centro e do centro-direita, tendo governado, por isso, à direita, contra funcionários públicos, sindicatos e trabalhadores, com uma prática de destruição de direitos sociais, com o resultado que se conhece.

Costa já percebeu que deve a sua maioria a um eleitorado diferente do que deu a vitória a Sócrates, e terá de lutar, internamente, como a tralha socrática que já começa a levantar a cabeça, procurando beneficiar com a situação e...como os fundos do PRR.

Outro dos vencedores da noite foi o CHEGA, que se tornou a terceira força política, embora não conseguindo os almejados “10%”.

VITÓRIA DE PIRRO

O CHEGA é assim o primeiro “candidato” à “vitória de PIRRO”, pois nada pode fazer num parlamento de maioria absoluta de um partido à esquerda, a não ser o “chavascal” do costume, agora multiplicado por 12, ainda por cima um partido sem programa, a não ser uma federação de descontentamentos, “formados” em fake news e nalguma ideias aberrantes, um autêntico saco de lacraus, cujo espectáculo, agora público no parlamento, não será agradável de se ver e vai por a nu, durante 4 anos, as suas próprias contradições.

A outra vitória de Pirro vai para o Presidente da República, que, apesar de desejar a estabilidade que este resultado permite,  fica com pouco poder de manobra perante um governo de maioria absoluta.

UM PEQUENA VITÓRIA.

O IL é “candidato” à “pequena vitória” do dia, já que, conseguindo o feito de ficar à frente da CDU e do BE, fica atrás do CHEGA e também fica sem poder de influência, de que podia beneficiar, se, quer o PS, quer o PSD, ganhassem estas eleições sem maioria absoluta.

O IL foi buscar quase todos os seus votos ao CDS, funcionando como reservatório do voto de protesto dos eleitores democratas-critãos, e talvez alguns votos ao PSD, por simbolizar a tendência “passos coelhista”, descontente com o rumo social-democrata do PSD de Rui Rio. Tem 4 anos para mostrar que é mais do que o partido “engraçadinho” e “arejado” com as antigas ideias de sempre do neoliberalismo do século XIX.

Outra pequena vitória foi a do LIVRE, que, apesar da desastrada prestação da candidata que elegeu na última legislatura, tem agora uma oportunidade de mostrar que não é apenas um BE mais arejado, mas que tem, de facto, uma visão nova para a esquerda. Rui Tavares, mesmo num parlamento de maioria absoluta e estando isolado, pode fazer a diferença nesta legislatura.

UMA PEQUENA DERROTA

O PSD não sofreu assim uma derrota tão esmagadora como pode parecer, pois até conseguiu aumentar o número de votos e a percentagem, consolidando-se como alternativa de direita ao PS. Pode-se dizer que foi “uma pequena derrota” para o partido, mas uma “grande derrota” para Rui Rio.

Uma pequena derrota foi, apesar de tudo, a do PAN, que, mesmo assim, conseguiu eleger um deputado, voltando à fórmula inicial, sendo um partido cujas causas é importante que tenham voz no parlamento.

UMA GRANDE DERROTA

Vamos agora às grande derrotas, que podemos dividir em grandes derrotas “esmagadoras”  e Grandes derrotas que podem ser "conjunturais".

A primeira grande derrota esmagadora vai para o CDS que, pela primeira vez na sua história, não tem representação no parlamento, uma tragédia para uma direita civilizada e democrática, tanto pior que essa tragédia ter contribuido para a ascensão de dois partidos radicais, antissociais e antissistema, cada um à sua maneira, o CHEGA e IL.

A segunda derrota esmagadora vai para o BE, o mais penalizado com a sua opção em relação ao orçamento e ao derrube da geringonça, derrota que só não será conjuntural se nada aprender com o que se passou, podendo começar a perder força, quer para o PS, quer para o LIVRE.

Uma derrota que pode ser conjuntural, mas que também pode revelar-se fatal, é a da CDU, perdendo quase toda a sua influência. Se teimar em adiar a sua renovação ,não rejuvenescendo a sua liderança, recusando e aceitar o regresso de dissidentes, como Carlos Brito e sem alterar a sua postura sobre o que foi o comunismo real e o seu silêncio em relação a regimes como o da Rússia de Putin, o chinês, o venezuelano ou o norte-coreano, provavelmente começa aqui um doloroso e injusto processo de auto destruição.

Não podemos esquecer outros derrotados, a maioria dos pequenos partidos, algumas com alguma esperança de visibilidade, como o VOLT, o Aliança, o MAS, mas que se tornaram quase irrelevantes.

Em Portugal abre-se assim um novo ciclo, que se espera de estabilidade, mas que prove, como diz Costa, que as maiorias absolutas não são um prejuízo para a democracia.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Adeus “Esquerda”!!!??


Fixem esta data: Dia 25 de Outubro de 2021.

Este foi o dia em que a esquerda portuguesa fez haraquíri.

A história do suicídio da “esquerda” portuguesa não começa hoje.

Começou quando, no início desta legislatura, o PS resolveu dificultar um acordo escrito com, pelo menos, um dos partidos à sua esquerda, jogando no medo destes em serem penalizados por não deixarem passar orçamentos pouco ambiciosos, do ponto de vista social, e com medo de confrontar os burocratas de Bruxelas.

Ficou evidente que esta legislatura não chegaria ao fim quando o BE resolveu colocar-se ao lado da direita para votar contra o anterior orçamento.

O PCP cedeu então na abstenção, convencido que iriam ser cumpridas algumas das medidas com ele negociadas, mas que o governo se foi “esquecendo” pelo caminho, ficando por cumprir muto desse orçamento.

Em relação a este orçamento para 2022, já se percebia que havia um impasse e uma desconfiança mútua entre os partidos da esquerda, situação que culminou na confirmação de que este orçamento não vai passar com os votos à sua esquerda.

A catadupa de medidas apressadas, apresentadas nos últimos dias pelo PS, para tentar agradar à sua esquerda, mais não eram do que o início da campanha eleitoral, por parte desse partido, para entalar os partidos à sua esquerda, que ficam com o ónus de derrubarem o governo mais à esquerda que tivemos desde o 25 de Abril.

Claro que, pelo meio, estava o desejo de alguns sectores do PS, a tralha socrática, com o incendiário Carlos César à cabeça, de controlar a “BazuKa” e de beneficiar, com esta, as suas habituais clientelas .

Mas, à esquerda, havia sempre a possibilidade da abstenção, quanto a mim a única forma de saírem “airosos” desta situação.

Agora, mesmo que possam ter razão nas críticas ou em sentirem-se enganados, os partidos à esquerda do PS vão ficar com o ónus, entre a maior parte do eleitorado de esquerda, de terem optado por uma situação bem pior que é a que vai resultar do chumbo deste orçamento.

Existem 3 alternativas, todas piores para a esquerda, para os trabalhadores, para os pensionistas e para os cidadãos comuns em geral.

A primeira alternativa é as eleições darem um resultado ainda mais complexo de ingovernabilidade, mas favorável ao malfadado centrão das negociatas e da corrupção, com capacidade de desbaratar, a seu favor e da sua clientela habitual, os fundos da “Bazuka”.

A outra alternativa é um PS com maioria absoluta, igualmente marcando o regresso da tralha socrática, das negociatas e da corrupção, igualmente com capacidade de desbaratar a favor da sua clientela os fundos da “Bazuka".

A terceira alternativa é o regresso da direita “além-da-Troika”, revanchista, desejosa de retomar as medidas antissociais que foram interrompidas pelo primeiro governo de Costa, a direita das negociatas e da corrupção, desbaratando os fundos da “Bazuka”, desta vez apenas a favor do poder financeiro e das grandes empresas, pois o que temos à direita não é, nem o PSD liberal, a roçar alguns princípios da social-democracia, do tempo de Sá Carneiro, nem o CDS, democrata-cristão, com preocupações sociais, do tempo de Freitas do Amaral.

Pelo contrário, à direita o que vamos ter, muito provavelmente, é um radical como Paulo Rangel, à frente do PSD, e um extremista, como Nuno Melo, à frente do CDS, com um discurso para agradar à extrema-direita, com o desejo de privatizar tudo, da escola pública à saúde, de agradar ao corrupto sistema financeiro que rege a União Europeia, de agradar aos defensores das politica “austeritárias” da União Europeia, que estão de volta, para continuar na senda, iniciada nos tempos do  “ir além da Troika”, de destruir tudo o que lhes cheire a “Estado Social”, de combate às desigualdades ou de serviço público.

Por isso, tudo o que vier, como resultado do chumbo deste Orçamento, é sempre pior.

Infelizmente, ao contrário da direita, que se divide quando está na oposição, mas se sabe unir, no essencial do seu projecto antisocial, quando chega ao poder, a esquerda, que se une no “protesto” quando está na oposição, tem dificuldade em unir-se, com pragmatismo, para executar as suas políticas sociais, quando chega ao poder, como estamos a assistir mais uma vez.

Claro que nem tudo será negativo com a antecipação de eleições.

Em primeiro lugar, prevendo-se uma situação de grande instabilidade económica e social que se vai viver, um pouco por todo o mundo, e na União Europeia, nos próximos anos ( em resultado da tempestade perfeita, que combina os trágicos efeitos socias da pandemia, com a degradação ambiental sem fim à vista, motivada e acentuada pelos grandes interesses financeiros ligados ao sector energético, com o agravamento da própria crise energética, com o regresso das politicas orçamentais autotitárias da “troika” à União Europeia, com as crescentes tensões político-militares entre a China e os Estados Unidos e a Rússia e a União Europeia...) que vai provocar o aumento do descontentamento e das desigualdades sociais, com um impacto muito maior em países com uma economia frágil, como a portuguesa, o regresso de partidos, como o PCP e o BE à oposição poderá evitar que todo esse descontentamento fique refém do populismo e do oportunismo de extrema-direita, voltando alguma esquerda a absorver e a enquadrar esse crescente descontentamento num combate mais consequente e positivo contra aqueles males crescentes.

Em segundo lugar, em democracia, o voto é sempre soberano e, perante a desagregação das relações entre os partidos à esquerda nos últimos dois anos, nada melhor do que clarificar a situação com a força e a legitimidade do voto.

Lamento que a esquerda, mais uma vez, não se consiga entender no essencial.

Lamento que, mais uma vez, a esquerda não se consiga unir no essencial para por em prática uma verdadeira política social, de combate aos salários baixos, às desigualdades sociais e de progresso que beneficie quem trabalha .

Provávelmente não voltaremos a ter oportunidade de ver aplicadas essas políticas sociais nas próximas décadas e, seja qual for o resultado eleitoral, vamos assistir à degradação de salários e de pensões, dos serviços de saúde e de educação, dos direitos socias e laboriais.

Mas, em democracia, não há que dramatizar.

Vá-se a voto, e clarifique-se a situação porque o voto é a arma do Povo!

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Cuba Livre


Hoje é o dia mundial da liberdade de pensamento.

Neste mesmo dia, em Cuba, o poder reforça a repressão sobre os que defendem essa liberdade de pensamento, prendendo e reprimindo manifestantes, impondo a censura, desligando a internet.

Não podemos defender a liberdade (ou as “liberdades”) em Portugal e tentar justificar ou defender que ela seja negada em Cuba, com as mais variadas desculpas.

Uma das desculpas é a defesa dos “feitos” do regime a nível social, principalmente na saúde e na educação, como contrapartida para uma “aceitável” falta de liberdade .

Por cá, vimos, recentemente, no “congresso das direitas”,  argumentos parecidos para desculpar o salazarismo, enaltecendo os seus “feitos” económicos.

Claro que não podemos negar o efeito nefasto de um criminoso embargo de 60 anos, imposto pelos Estados Unidos ao seu vizinho, embargo que, mais do que penalizar as elites dirigentes, penalizou o povo cubano, servindo ainda de alibi para a retórica do regime.

Sabemos que muitos políticos norte-americanos e ocidentais usam dois pesos e duas medidas, não negando o apoio a regimes autoritários e ditatórias, muitos deles bem mais sangrentos do que o Cubano, como aconteceu no passado com o apoio de Saddam Hussein ou a Ossama Bin Laden, antes de estes lhes fugirem do controlo, ou, actualmente,  à Arábia Saudita e a Israel, entre tantas outras “ditaduras convenientes”.

Também não podemos negar a falta de credibilidade de uma oposição dominada pelos extremistas de Miami, sedenta de vingança, muitos deles ligados ao crime organizado e entusiastas apoiantes de Trump.

Tudo o que essa gente tem para oferecer, como alternativa, é o apelo a uma intervenção militar norte-americana.

Esperamos que os Estados Unidos e o  “Ocidente” tenham aprendido com a forma desastrosa como intervieram militarmente do Afeganistão, no Iraque, na Líbia e na Síria, em nome da “defesa da democracia e da liberdade”. O resultado está à vista.

Esperamos também que a preocupação ocidental em relação aos cubanos, se o regime cair,  não seja a mesma que tiveram com a Rússia depois da queda da União Soviética, que foi a de humilhar os “vencidos” em vez de os ajudar, e, assim, “criaram” um Putin.  

Seja como for, têm de ser os cubanos, os que vivem em Cuba e os exilados, a resolver o problema do seu país, devendo o Ocidente, em vez de acicatar ódios, tentar mediar as partes, para conseguir ainda uma transição pacífica para a democracia, que salve as bandeiras sociais do regime, como a saúde e a educação, evitando uma política de “terra queimada”, o que conduziria Cuba a uma nova tragédia.

Mas nada disso desculpa a forma como o regime Cubano trata o seu povo, quando este exige liberdade, democracia e respeito.

Em último caso, a culpa pela desgraça de um povo ou de um país, é sempre dos seus governantes, sejam eles legítimos ou não.

Esperemos que, antes de agravar a repressão ou provocar um banho de sangue, o regime tenha um momento de discernimento para ouvir as justas reivindicações do seu povo, porque, apesar de tudo, Cuba não é a Coreia do Norte.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Freitas do Amaral – um Senador da Democracia



Com a morte de Freitas do Amaral desaparece a última figura de referência na construção da democracia portuguesa, o último dos seus quatro pilares (os outros três foram Sá Carneiro, Álvaro Cunhal e Mário Soares).

Morre também um dos últimos políticos que souberam cultivar o humanismo e a coerência  de princípios.

Era um verdadeiro liberal, que não confundiu liberalismo com neoliberalismo.

Era um democrata cristão que sempre se manteve coerente na defesa da componente social dessa ideologia que ajudou a construir a Europa Social que hoje muitos tentam destruir.

Revelou, no fundo, que a verdadeira ideologia democrata-cristã tem uma forte componente social, que não se confunde com a “caridadezinha”.

Para ele, ser democrata-cristão era combater a pobreza, as desigualdades e as injustiças sociais.

Por isso, por coerência, afastou-se do seu próprio partido e aproximou-se do centro-esquerda.

Há que não esquecer também o seu importante papel no plano internacional, não só nos Negócios Estrangeiros, mas também no importante papel que desempenhou como Presidente da Assembleia Geral da ONU, o primeiro papel importante desempenhado por um português naquela instituição, e que contribuiu para afirmação do regime democrático português no seio da comunidade internacional.

Registe-se também as suas posições firmes de condenação da Guerra do Iraque ou, mais recentemente, a sua preocupação com o rumo político do Brasil.

Freitas do Amaral era igualmente um grande professor de Direito, com obra de referência publicada e um “historiador amador”, com inclinação para a ficção histórica, procurando perceber através dela identidade portuguesa (é excelente a sua biografia de Afonso Henriques).

Era, além disso, um adversário leal, respeitável e respeitador par quem não partilhasse das suas ideias política.

Hoje vão correr por aí muitas lágrimas de crocodilo, a quem Feitas do Amaral responderia com o seu sorriso afável e maroto.

Sem ele, ficámos todos mais pobres.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Jacinda Ardern – Um exemplo para o Mundo.

Jacinda Ardern ,  primeira ministra da Nova Zelândia, revelou-se um exemplo do grande estadista democrático, num mundo dominado por líderes cada vez mais medíocres, incompetentes e corruptos. 
A forma como lidou com os ataques terroristas de que o seu país foi alvo, revelou o conjunto de atitudes que é necessário tomar neste tipo de situações: coragem, determinação, frontalidade, e humildade, fugindo aos lugares comuns do costume.
Sem demagogia, sem aproveitamento politico de tragédias e sem retórica securitária barata, tomou uma atitude frontal, inovadora, inteligente e certeira para enfrentar a ameaça terrorista quando afirmou : “Ele é um terrorista, um criminoso, um extremista, mas quando eu falar, ele não terá nome. E imploro-vos: falem dos nomes dos que perderam a vida em vez do homem que as levou. Ele pode ter procurado notoriedade mas na Nova Zelândia não lhe vamos dar nada – nem mesmo o nome”.
Nem se desculpou com o facto daquele acto bárbaro ter partido de um estrangeiro:  “Sim, a pessoa que cometeu esses actos não era daqui, não foi criado aqui. Não encontrou a sua ideologia aqui. Mas isso não quer dizer que esses mesmos ideais não vivam aqui. Eu sei que enquanto nação queremos dar todo o conforto que pudermos à comunidade muçulmana nestes tempos tão negros (…) Eles são nós”
A frontalidade e a coragem de Jacinda Ardern, agora revelada ao mundo, já é de há muito conhecida pelos cidadãos da Nova Zelândia.
Líder do Partido Trabalhista da Nova Zelândia, conseguiu fazer o partido renascer das cinzas e tornou-se primeira ministra dirigindo uma “gerigonça” local em aliança com os Verdes, já que o ultra reacionário Partido Nacional, que teve mais deputados eleitos nas eleições de 2017, ficou em minoria com essa “maioria de esquerda”.
O Partido Nacional é o seguidor local de Donald Trump, com um discurso xenófobo e islamofóbico idêntico ao do presidente dos Estados Unidos.
Este mesmo partido tem dirigido desde então, com o apoio local de alguma comunicação social, uma campanha negra contra Jacinda, nomeadamente contra as opiniões da primeira ministra a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a favor do aborto e a favor de medidas ambientais, e de medidas sociais a favor dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos.
Chegando ao poder com 37 anos, a sua gravidez chegou mesmo a ser usada na campanha negra contra ela preconizada por aquela gente.

Numa entrevista a uma estação de rádio, chegou a ser questionada por um jornalista  sobre esse facto, afirmando este  que os neozelandeses tinham “o direito de saber” se existia a possibilidade de a potencial futura primeira-ministra tirar uma licença de maternidade. “Se for o patrão de uma empresa, precisa de saber esse tipo de coisas acerca da mulher que estou a empregar. É aceitável que um primeiro-ministro tire licença de maternidade quando está em funções?”.
A reposta de Jacinda ficou célebre naquele país: “É uma decisão das mulheres e [a maternidade] não deve predeterminar se recebem ou não oportunidades de trabalho”.
Segundo revelou uma notícia do jornal Público, quando “anunciou que iria ser mãe, em 2018, esclareceu de imediato que iria ser “primeira-ministra e mãe” e que seria o seu namorado, Clarke Gayford, apresentador televisivo de um programa de pesca, quem ficaria em casa com o bebé. "Não sou a primeira mulher a trabalhar e a ter um bebé. Sei que estas são circunstâncias especiais, mas irão existir muitas mais mulheres a fazê-lo e muitas já o fizeram antes de mim”.

Foi aliás ao enfrentar essa situação que Jacinda Ardern se tornou pela primeira vez conhecida fora da Nova Zelândia, quando apareceu, em plena Assembleia Geral das Nações Unidas a amamentar a filha, tudo porque, sendo uma acérrima defensora de medidas para fazer frente às alterações climatéricas, achou que a sua presença era fundamental nessa assembleia para defender as suas ideias, já que estavam presentes os negacionistas liderados por Trump.
Num mundo cada vez mais liderado por gente medíocre ou incompetente, a postura de Jacinda é uma lufada de ar fresco e uma mensagem de esperança para quem acredita que a democracia ainda pode gerar grandes lideres a uma humanidade carente de figuras politicas honestas, com convicções, justas e corajosas.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O Socialismo tem futuro?



Depois de décadas de crimes cometido em nome da “construção” da “sociedade socialista”, depois de, em nome do “socialismo”, se terem cometido aos mais ignóbeis actos de corrupção (jurídica e/ou ética) (Blair, Sócrates, Maduro…), será que ainda há lugar para acreditar no Socialismo?

Se olhássemos para as sociedades actuais e víssemos as sociedades humanas caminhando para um mundo mais justo, equilibrado, menos desigual, vivendo em pleno a democracia e a liberdade, e caminhando para sociedades mais pacificas, com menos guerras, e mais respeitadoras do ambiente e da vida animal, então talvez pudéssemos acreditar que o fim do “socialismo real” e a decadência de todas a tendências do chamado socialismo democrático estavam a conduzir o mundo para uma nova era de prosperidade (que é o que nos têm vindo a anunciar os defensores do actual modelo “neoliberal”, governado pelos “mercados” e pela difusa ideologia do novo capitalismo) e podíamos dizer que as premissas das “velhas” ideias socialistas estavam erradas, mortas e enterradas.

Mas não é isso que temos visto acontecer nos últimos vinte anos.

O que vemos é o aumento das desigualdades sociais, o crescente desrespeito pela democracia, transformada num simples e caricato acto formal de recondução ou “renovação” de uma elite profissional ao serviço do corrupto poder financeiro, o aumento de conflitos cada vez mais violentos e descontrolados, o total desrespeito pelo ambiente e pela vida na Terra, uma sociedade dominada por um modelo cada vez mais selvagem de capitalismo neoliberal.

Apesar da má fama de que goza, devido aos modelos históricos e à corrupção que se tem colado à pele dos seus lideres recentes, o socialismo, o verdadeiro socialismo, aquilo que está na sua origem, é uma opção cada vez mais urgente.

Mas um socialismo que deve renovar todos os seus métodos de actuação e, essencialmente, deve respeitar, em coerência, princípios como a democracia, a liberdade e a justiça, aos quais deve acrescentar o seus valores de sempre,( que tão maltratado têm sido por muitos que se arvoraram em detentores do “verdadeiro socialismo”), como os valores da igualdade (de oportunidades, de tratamento na justiça e na economia..) do respeito pelos direitos sociais e pelos Direitos Humanos Universais consignados na carta das Nações Unidas.

Sim, o Socialismo (ou outro qualquer nome que lhe queiram dar) tem futuro, desde que se saiba renovar e demarcar dos erros e crimes do passado, porque a alternativa ao actual modelo neoliberal de selvajaria social e económica que se está a prefigurar é um novo “canto da sereia” de um fascismo disfarçado de “populismo”.

Liberdade, Democracia, Direitos Sociais, Direitos Humanos, Justiça económica, combate à corrupção,  Igualdade de oportunidades, Respeito pelo ambiente e pela vida animal, Mais educação e cultura, uma tecnologia ao serviço do bem estar da Humanidade, eis as novas “palavras de ordem”, à volta das quais se deve construir o Socialismo de Futuro…ou então quem não terá  mesmo futuro...é a própria humanidade!

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Por favor, salvem o PSD!



Não, não me converti ao PSD.

Não, não simpatizo com um partido que se diz popular e tem sido apoiante e executor de medidas antipopulares, como aconteceu com o “ir além da troika”.

Também não simpatizo com um partido que anda por  aí a enganar toda a gente a dizer-se “social-democrata”, mas tudo o que tem feito é apoucar o nosso já de si débil Estado Social e a retirar direitos a quem trabalha.

Muito menos simpatizo com o mal disfarçado neoliberalismo que é a matriz actual desse partido.

Sim, simpatizei, mantendo-me à distância, com a coragem de Sá Carneiro que disse e escreveu coisas sobre Portugal, tanto antes como depois do 25 de Abril,  que hoje seriam consideradas, pela maior parte dos seus actuais militantes e simpatizantes, como sendo de “extrema-esquerda” ou “venezuelanas” (acham que estou a exagerar? Então leiam o que ele escreveu, ele que era, de facto, um social-democrata).

Mas, apesar das distâncias e das divergências, penso que esse partido é fundamental para o funcionamento da democracia portuguesa, nem que seja para travar o avanço do populismo de extrema-direita.

O PSD tem um papel pedagógico na direita portuguesa, canalizando para a democracia os órfãos do Estado Novo salazarista e as novas gerações populistas da direita e neoliberais.

Se esse partido se desboroar, abre-se espaço em Portugal para a extrema-direita e esse é, para mim, o maior perigo que a democracia portuguesa vai ter de enfrentar nos próximos tempos.

Por isso apelo às pessoas de bom senso e democráticas que, dentro do PSD, sobreviveram ao cavaquismo e ao passos-coelhismo, para não deixarem morrer o PSD e o salvem da confusão que os está a devastar.

E, não, não estou a ironizar.

Eu sou de esquerda, não desejo que o PSD volte ao poder nos próximos tempos, mas também sei que não há democracia sem um forte partido democrático de direita. O PSD  (e o CDS…mas isso é outra história..) ainda é esse partido.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

No Brasil ou em qualquer lado : Democracia não é ditadura da maioria!



O argumento de muitos defensores de Bolsonaro, ou dos que são “neutrais” e compreensivos para com  o fenómeno Bolsonaro, usado  contra os que se manifestam preocupados com a sua campanha e o resultado das  eleição brasileiras , é a de que estes são antidemocráticos e não respeitam os resultados democráticos.

Isto, claro, quando argumentam, porque o que por aí vejo maioritariamente entre os defensores por cá de Bolsonaro  é um assustador uso de grunhidos contra os “esquerdalhos”, os “comunistoesquerdalhos” , os “venezuelanos”, “mandem os vermelhos para Cuba”, ou, pior ainda, “ranhosos”, “escumalha vermelha”, “badamecos”, “javardos” e outras epítetos no mesmo tipo…adiante!

Ora, uma das primeiras características da democracia é o direito de se criticar e contestar, por vários meios legítimos, resultados eleitorais com os quais não se concorde ou, como é o caso de Bolsonaro, ponham, nem que seja hipoteticamente, em causa o próprio futuro da democracia.

O direito de existência e de actuação da oposição, por mais minoritária que seja, está consignado na Constituição de qualquer país democrático.

Por isso criticar uma maioria democrática e legitimamente eleita é um direito fundamental em  democracia.

Além disso, em democracia, é muito raro a maioria eleita representar mais de 30% de todos os habitantes de um país ou mais de 40% de todos os eleitores.

Por isso, em democracia, existem direitos para a oposição, e as minorias, culturais, sociais, ou ideológicas, são todas respeitadas, mesmo aquelas que não aceitam a democracia.

Nem a democracia se esgota no acto eleitoral. 

Existem muitas  formas de participação ou de iniciativa fora dos partidos e fora da vida parlamentar.

A eleição de Bolsonaro, que defende todos os valores contrários a uma sã convivência democrática é preocupante, mas a defesa desses valores está legitimada pelo resultado democrático.

Mas, agora, são as próprias instituições democráticas que, se funcionarem como deve ser, se a democracia brasileira for mesmo uma democracia madura, vão travar muitas das pulsões antidemocráticas de Bolsonaro.

Ou seja, se Bolsonaro quiser levar para a frente o que prometeu, que é perseguir as minorias, limitar Direitos Humanos e Sociais, destruir a Amazónia, prender adversários políticos, instituir a tortura, só o pode fazer destruindo a democracia.

Bolsonaro vai ser um verdadeiro “teste de stress” para a aferir da maturidade da democracia brasileira (tal com acontece com Trump nos Estados Unidos).

Uma democracia não é uma ditadura da maioria, ou então deixa de ser democracia.

Vamos seguir com atenção o evoluir da situação brasileira, até porque, do que lá acontecer, podemos sofre as consequências ( como já se vê no uso crescente das redes sociais para gerar um clima de ódio e intolerância, ou, mais a médio prazo, nas consequências ambientais da destruição da Amazónia, que afectará toda a humanidade).

Por agora, saudemos a democracia brasileira, esperando que tudo não passe de um epifenómeno na sua curta história.

Ao menos que contribua para os democratas e a esquerda brasileira se renovarem, emendando ou aprendendo com os seus próprios erros.

Brasil - Por enquanto é democracia



A Democracia funcionou no Brasil.

Foi eleito um presidente por cerca de 55 milhões de eleitores, entre um total de 140 milhões de eleitores.

Outros 45 milhões votaram Haddad e 10 milhões anularam o seu voto ou votaram em branco..
Uma das características da democracia é que uma imensa minoria, geralmente cerca de 30% dos eleitores, consegue eleger parlamentos com maioria absoluta e eleger presidentes.

Mas uma outra das características da Democracia é que essas imensas minorias têm de respeitar a imensa maioria que vota (ou não vota) noutras minorias e tem de respeitar cada cidadão.

O problema é quando uma imensa minoria vitoriosa ameaça tudo o resto e se sente legitimado, mais do que pelo voto, por qualquer poder divino.

Foi assim que mutas democracias se perderam, foi assim que Hitler chegou ao poder, que, nos nossos dias, chegaram ao poder Putin, Órban, Maduro….

Durante a campanha eleitoral brasileira, um jornalista perguntava a uma eleitora porque ía votar em Bolsonaro. “Porque gosto do programa dele”, respondeu. Replicou o jornalista. “e qual é esse programa?”. E ela respondeu “Não sei, mas concordo com o programa dele”.

O discurso de vitória de Bolsonaro nada esclareceu sobre o programa da sua presidência, mais parecendo que  estávamos numa missa de uma qualquer igreja evangélica, repetindo meia dúzia de frases feitas, repetindo pelo meio as palavras “democracia” e “liberdade”, palavras que se tornam vazias de tanto repetidas sem convicção. (Muitos dos regimes mais antidemocráticos da história também se definiam como “repúblicas democráticas” e muitos dos partidos de extrema direita intitulam-se “da liberdade” ou  “liberais”).

Quando se faz um discurso vazio é porque se pretende esconder a verdade, talvez para agradar aos “mercados” e à “comunidade internacional”.

E a verdade foi aquela que ele foi revelando quando falou sem limites ou constrangimentos: apelar à violência contra os opositores, perseguir as minorias, desvalorizar as mulheres, os negros e os trabalhadores, e, aquilo que muito deve preocupar qualquer cidadão do mundo, a promessa de destruir a Amazónia. Este é o seu verdadeiro programa.

Para o cumprir vai ter de, ou corromper o senado, o congresso e os tribunais e/ou violar a Constituição e destruir a democracia.

Costuma-se dizer que, principalmente quando isso  se faz por via eleitoral,  cada povo tem o governo que merece.

Por mim, embora lamente a escolha de 55 milhões de brasileiros, até podia estar descansado  por estar longe dessa gente (embora olhe, daqui para a frente, com alguma preocupação, quando me cruzar com brasileiros, sabendo que 64% dos que vivem em Portugal apoiaram Bolsonaro e podem usar em Portugal os mesmos métodos defendidos pelo seu ídolo) .

Mas, pela  forma como a campanha de Bolsonaro contaminou as redes sociais portuguesas, legitimando o discurso de ódio e intolerância usado no Brasil e, mais grave ainda, a perspectiva de  destruição da Amazónia, envolvendo-nos a todos no holocausto ambiental que essa decisão vai ter no bem estar da humanidade e no futuro da vida dos nosso filhos, não posso deixar de me preocupar com a decisão de 55 milhões de brasileiros.

Por isso, temo que aquilo que foi uma decisão democrática legitima redunde, como aconteceu muitas vezes na história, passada e recente, numa imensa tragédia.

Hoje foi um dia de festa democrática. 

Mas temo que tenha sido um dos últimos por aqueles lados. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Haddad não é Lula, nem Lula é Maduro.




Na grande mentira em que se tornou a campanha eleitoral brasileira, deixou de haver tempo para pensar.

Entre o chorrilho de mentiras da campanha histérica, a destilar ódio, de Bolsonaro e dos seus apoiantes, com muitos seguidores em Portugal, vem aquela de misturar tudo no mesmo saco.

Se Haddad é do PT logo é corrupto, porque Lula está preso, com acusações, no mínimo ridículas ou que fariam corar de vergonha qualquer juiz europeu.

Claro que não ponho as mãos no lume pela inocência de Lula ou do PT.

Sabe-se que o PT só pode governar porque teve de fazer cedências aos “establishement” financeiro e económico brasileiro, para, em  troca, tentar combater as gritantes desigualdades sociais que explicavam o descalabro social brasileiro.

Quem o empurrou para essas cedências foram figuras como Fernando Henriques Cardoso que, agora, cobardemente, se escondem na “neurtralidade” para deixar passar Bolsonaro.

Cedendo a essa gente, Lula deixou rabos de palha que acabaram por lhe ser fatais, num país habituado a funcionar na base da corrupção financeira e económica. 

Mas, mesmo assim, o tipo de acusações que apresentam e que o levaram à prisão são ridículas.

Pior ainda foi a destituição de Dilma, há dois anos, após outros dois anos em que a impediram de governar, destituição que foi conduzida por criminosos que acabaram na prisão ainda mais depressa do que Lula e com acusações bem mais graves e fundamentadas, nunca tendo conseguido encontra algo contra ela, a não ser o facto de terem maioria nos “parlamentos” e terem votado os seu afastamento, por razões meramente politicas, antes de irem quase todos presos.

Que há corrupção no Brasil, há. Que essa corrupção atingiu em força o PT, é verdade.

Mas ela atingiu o PT e todos os partidos e toda classe politica, e vinha muito detrás, e mesmo o “impoluto”  Bolsonaro e os seus apoiantes mais directos têm contas a prestar à justiça.

Só que a justiça está politizada de tal maneira, com muitos dos juízes mais conhecidos a apoiar directa ou indirectamente Bolsonaro, que este e os seu apoiantes nunca vão ser acusados, muito menos se, como tudo parece indicar, Bolsonaro se tornar o próximo presidente do Brasil.

Seja como for, esteja Lula inocente ou não, em relação a Haddad não existe nenhuma acusação de fraude, a não ser em “fake news” do costume, logo, por aí, Haddad não é Lula.

E Haddad também não é Lula do ponto de vista politico, já que representa a ala mais moderada do PT, algo que, em termos europeus, andaria próximo do centro-esquerda, nada da “extrema-esquerda” de que o acusam os fanáticos intolerantes  e ignorantes de lá e de cá.

Mas, por outro lado, nem Lula nem Haddad são Maduro, outra mentira que tentam colar ao PT e aos seus líderes.

De facto, durante os governos de Lula e os primeiros tempos de Dilma, ao contrário do que aconteceu na Venezuela de Maduro, o Brasil conheceu um dos seus períodos de maior prosperidade, enriquecimento e desenvolvimento.

Também ao contrário de Maduro, e apesar das pressões da ala mais radical do PT, Lula recusou-se a alterar a Constituição para se perpetuar no poder.

Aliás, se à comparação a fazer, não é entre Haddad e Maduro, mas entre Maduro e Bolsonaro. 

Se há alguém tão demagógico, tão extremista, tão incompetente e irresponsável como Maduro é Bolsonaro.

E, sim, é com Bolsonaro, e não com Haddad, que o Brasil se vai tornar uma nova Venezuela.

Tudo descarrilou quando Dilma foi impedida de governar, sendo toda a sua acção sabotada por um Congresso e um Senado dominados pela direita e por corruptos, hoje quase todos na prisão, sendo destituída e seguindo-se dois anos de governo Temer.

Assim, nos últimos quatro anos, a sociedade brasileira conheceu um retrocesso que fez o país regressar à violência, à miséria e à desigualdade que tinha recuado nos tempos de Lula.

Hoje dá jeito aos fanáticos fanfarrões que estão por detrás de Bolsonaro misturar tudo, e colar o PT à realidade actual, que teve origem nestes últimos quatro anos de desgovernação, que tanto jeito deram ao crescimento do “fenómeno” Bolsonaro.

Pode-se ou não gostar de Haddad ou do PT.

Deve-se combater a corrupção (mas também a partidarização da justiça).

Mas Haddad não é igual a Lula e, muito menos, a Maduro.

E, não, não está em causa uma luta entre extremos, mas uma luta entre um candidato do centro-esquerda, Haddad, que respeita a democracia, e sem maioria no senado e no congresso, que o controlará nos seus excessos, e um candidato da extrema-direita, Bolsonaro, que controla a maioria do senado e do congresso, que já disse preferir a ditadura à democracia e que elogia e fomenta o ódio e a violência como forma de governar…o resto é (má) conversa!

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

As Quatro doenças da democracia: Desigualdade,Déficit de Representatividade, Corrupção, Liberdade desvirtuada.



O rápido avanço da extrema direita populista e neofascista nos últimos anos tem explicação, em grande parte, pelos erros acumulados nas Democracias.

Entre esses erros estão as quatro doenças da Democracia: a desigualdade, o deficit de representatividade, a corrupção e a liberdade desvirtuada.

DESIGUALDADE

A forma como os regimes democráticos se deixaram dominar pelos grandes interesse financeiros, tomando decisões contra os cidadãos e fomentando o aumento de desigualdades como forma de destruir direitos socias e desvalorizar o factor trabalho, apenas para beneficiar aqueles interesses, afastou muitos cidadãos da participação democrática.

O melhor exemplo disso é  a prática das lideranças da União Europeia, pelo modo como tem lidado com a dívida e o deficit, ou das decisões de organismos como a Organização Mundial do Comércio, agindo a mando desses interesses e ignorando as situações socias que essas decisões acarretam, fomentando o dumping social.

Contudo, se os cidadãos se conformarem, a desigualdade continuará a aumentar ao ritmo daqueles interesses.

DEFICIT DE REPRESENTATIVIDADE

As imposições das organizações supranacionais, a maior parte delas não eleitas, sobrepondo-se à escolha democrática dos cidadãos, submetendo o grande “centrão” aos ditames dessas organizações, que obedecem apenas à logica financeira (o célebre TINA), ao retirar poder aos organismos directamente  eleitos, transformando os parlamentos e os partidos em meras organizações “colaboracionistas” com a situação imposta por essas organizações, leva os cidadãos, todos os dias prejudicados no seu dia-a-dia pelas decisões daquelas, a afastarem-se da participação democrática.

Se os cidadãos nãos e sentem representados, nos seus anseios, pelas instituições democráticas, passam a estar vulneráveis ao discurso demagógico, baseado no medo e na xenofobia, vinculado pelas organizações populistas e neofascistas, que defendem uma solução autoritária para “resolver” as preocupações dos cidadãos abandonados à sua sorte.

Contudo, o que esses movimentos defendem, mesmo que de forma disfarçada, é o aumento do controle do poder politico, retirando ainda mais aos cidadãos o direito de participação, quando chegarem ao poder (existem por aí muitos exemplos históricos que atestam esse resultado).

CORRUPÇÃO

A Corrupção é o grande cancro dos regimes democráticos.

Com uma classe politica que sobrevive à sombra do poder financeiro, transformados em meros joguetes daqueles interesse acima denunciados, transformada numa casta que circula entre o poder político ,  o poder financeiro e cargos nas instituições supranacionais nãos eleitas, o cidadão comum sente-se tentado pelo discurso fácil da “pureza” propagandeada pelos tais populistas, que encontram nessa temática terreno fértil para a sua demagogia.

Esquecem-se apenas de um “pormenor”. Nos regimes autoritários e nas ditaduras “não existe” corrupção porque, por um lado, a simples divulgação desta é proibida e censurada e os tribunais são controlados pelo poder executivo. E se isto não chegar, mudam as leis para tornar o que é corrupção em “legalidade”.

LIBERDADE DESVIRTUADA

Por último, mas não menos importante, o uso incontrolado da liberdade permitida pelas redes socias, onde se misturam verdades e mentiras, onde se aplica cada vez mais o velho slogan nazi segundo o qual uma mentira várias vezes mentira pode tornar-se verdade, aquilo que hoje se chama de  fake news, onde a “verdade” de um ignorante tem o mesmo peso que a verdade de um sábio, contribui para fazer passar, entranhando-se nas nossas atitudes  e opções, um discurso de intolerância, de desrespeito pelos adversários, de gritaria, de arrogância, as bases ideológicas onde assenta a construção de modelos autoritários.

Há quem diga que as arruaças,  que no anos trinta impuseram pelo medo os regimes autoritários de então,  foi substituído pelo discurso intolerante, violento e intimidatório que hoje domina os “debates” nas redes sociais.

A democracia está doente.

Os movimentos populistas e neofascistas renascem das cinzas explorando as fraquezas da democracia.

Mas, creiam, não existe solução fora da democracia.

Combater aqueles sintomas fora da democracia só os vais agravar.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

REDES SOCIAIS : Entre a manipulação e democracia.



O papel das redes sociais na divulgação de mentiras e na promoção do ódio e da ignorância tem sido um dos mais vivos temas de discussão.

O debate não é muito diferente daquele que, desde o século XIX, de faz sobre a massificação da comunicação social, desde a expansão do jornalismo no século XIX por obra das grandes inovações das técnica tipográficas, passando pela expansão do cinema e da rádio, no inicio do século XX, até à expansão da televisão no pós-guerra.

Perder o controle da comunicação e da palavra, democratizando-a, sempre incomodou as elites e os poderosos de todos os tempos.

A questão é sempre a mesma. A expansão desses meios de comunicação, ao mesmo tempo que expandia e democratizava o acesso à informação, tornava-se uma forma cada vez mais eficaz de manipular essa mesma informação ao serviço de ideologias antidemocráticas.

O nazismo e o stalinismo foram os exemplos mais gritantes dessa nova realidade.

Hoje as redes sociais são o meio privilegiado dos novos demagogos, e, porque não dizê-lo, dos novos fascismos deste inicio de século. Trump e Putin são os melhores exemplos do poder de manipulação dessas redes sociais.

Mas, tal como aconteceu com a imprensa, o cinema, a rádio ou a televisão, as redes socias vieram para ficar e não é limitando-as, com um novo tipo de censura, que se combate o seu lado negro.

As redes sociais são uma ferramenta. O seu conteúdo depende de quem as usa e do objectivo como é usado.

Manipulação, mentira, falácia, mau-gosto, ignorância, ódio,  intolerância e demagogia também existiram e existem nos outros meios de comunicação.

A diferença é na dimensão e na rapidez da expansão de todas essas atitudes perversas e perigosas.

A liberdade, a democracia e a verdade não podem recorrer à censura para evitar os abusos, mas podem combate-los com melhor informação, denunciando e combatendo, taco a taco, essas perversões.

Este é um combate diário de todos os que abominam a manipulação, a mentira, a falácia, o mau-gosto, a ignorância, a intolerância e a demagogia.

Esse combate é uma obrigação daqueles que, usando as redes socias no sentido de divulgar e esclarecer, apresentar vozes diferentes, mostrar outras realidades, debater de forma ponderada os temas do momento, acreditam que as redes sociais podem tornar-se, maioritariamente, o grande porta voz da democracia e da liberdade.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A História “repete-se” na Catalunha, primeiro como tragédia (em 1934),depois como farsa(em 2017).


Foi Karl Marx  que  escreveu que a história se repete duas vezes, a primeira como tragédia e a segunda como farsa.

Não creio muito nas teorias da “repetição da história”, mas os acontecimentos na Catalunha parecem confirmar aquela velha e estafada máxima.

Se for verdade que o governo da Catalunha e o seu presidente Puigdemont, demitido por Madrid, se encontra na Bélgica para pedir asilo politico, estamos perante mais um estranho acto desta “ópera bufa” em que se transformou a “independência” da Catalunha.

Esta iniciativa do “governo da Catalunha”, agora no “exílio”, foi antecipada por outra farsa, liderada pelo comediante-mor de toda esta situação, o incompetente Rajoy e o seu partido, filho legítimo do franquismo, ao nomear para “governanta” da Catalunha uma das figuras mais odiadas na Catalunha, ( e numa grande parte da Espanha), a autoritária, a carreirista,e se não comprovadamente corrupta,a eticamente condenável Soraya Sáenz de Santamaría, braço direito de Rajoy (houve noticias, não confirmadas, mas também pouco claras, segundo as quais ela seria neta ou familiar do general franquista J. António Sáenz de Santamaría, responsável pelos últimos fuzilamentos do franquismo em 1975).

Recorde-se que o seu partido, o PP, representa apenas 8% dos eleitores catalães.

Convém também recordar que esta triste história não teve inicio este mês, mas é a consequência da própria acção de Rajoy e do PP que, em 2006, numa acção que teve Soraya como principal protagonista, rasgou o estatuto autonómico da Catalunha, aprovado em referendo e já aprovado pelo Senado, mas que foi desvirtuado, iniciando-se assim a crescente tensão entre a Catalunha e o poder central.

E também convém recordar que essa história não termina hoje.

Toda a situação que se tem vivido em Espanha trouxe ao de cima o pior dos seus políticos e da sua comunicação social.

O rei foi o primeiro a ser atingido pela crise, mostrando-se uma figura incapaz de unir os espanhóis e desbaratando o património politico construído pelo seu pai, que tinha feito da monarquia uma instituição respeitada. Em vez de unir e pacificar tem contribuído para atear o fogo do nacionalismo, quer o da extrema-direita franquista, quer o regionalista.

O PP e Rajoy, por sua vez, fizeram estalar o verniz “democrático” e ”liberal” em que se escondiam a sua verdadeira natureza autoritária de raiz franquista.

A total desorientação do PSOE, que já vinha de trás, na total incapacidade que havia demonstrado em dialogar à esquerda, vai implodir, à medida que os acontecimentos venham a avançar, revelando-se um partido sem alternativas credíveis, fazendo pouco mais do que de moleta de Rajoy.

O "Ciudadanos" demonstrou a sua verdadeira natureza de partido direitista, mas que pode ser um dos beneficiados pela desorientação do PP e do PSOE, tornando-se a única alternativa credível ao eleitorado dos partidos do centrão espanhol.

O próprio Podemos sai beliscado deste processo, dividindo-se entre defensores da independência e os que a consideram precipitada, embora esta última facção ainda seja a dominante.

Pelo contrário, todos os partidos regionalistas vão sair reforçados deste conflito, o que vai gerar um novo impasse nas eleições catalães de 21 de Dezembro e reforçar, à distancia, o nacionalismo basco, cujos partidos votaram contra o Senado na aplicação do artigo constitucional 155 que travou o independentismo catalão.

A única solução para o conflito seria a realização de um referendo na Catalunha que clarificasse a vontade dos catalães.

Não deixa de ser curioso que sejam os que se opõem ao referendo que afirmam que a “maioria” dos catalães está contra a independência. Então, se é assim, porque temem o referendo clarificador? É que a melhor e maior sondagem é que  é feita em actos eleitorais democráticos.

O que provavelmente vai acontecer é que as próximas eleições na Catalunha mantenham ou reforcem o poder dos partidos independentistas, voltando tudo à mesma.

A não ser que o governo espanhol opte pela repressão, pura e dura, proibindo partidos políticos e candidaturas. Neste caso a União Europeia tem a última palavra, a não ser que queira perder toda a sua autoridade e legitimidade para criticar a falta de democracia noutros lugares ou o direito à autodeterminação dos povos noutras partes do mundo.

A União Europeia também tem responsabilidades em toda esta situação:

- por um lado, pelo modo como levou ao descrédito as instituições democráticas, desrespeitando as próprias Constituições nacionais e as escolhas politicas que não fossem do seu agrado, para aplicar, a seu belo prazer, a austeridade do  “ajustamento” e as "reformas estruturais", principalmente nos países do sul;

- por outro lado, pela forma como abandonou os principio solidários da subsidiaridade, para agradar aos “mercados”, em detrimento dos cidadãos, e pela forma como desvirtuou a importância das regiões, em detrimento do aumento do poder dos Estados, com o único objectivo de beneficiar a super-nação Alemã e os seus interesses.

Os nacionalismo e populismos de toda a espécie, em crescendo na União Europeia, são "filhos" legítimos dessas politicas.

Na Catalunha a sua história vive a fase de “comédia”, mas a tragédia pode estar à espreita, pois os políticos espanhóis e europeus, e a própria comunicação social (veja-se o triste caso do El País), pela forma como se comportaram em todo este processo, não merecem um pingo de credibilidade por parte dos cidadãos.

...A História continua!!