O argumento de muitos defensores de Bolsonaro, ou dos que são “neutrais” e
compreensivos para com o fenómeno
Bolsonaro, usado contra os que se
manifestam preocupados com a sua campanha e o resultado das eleição brasileiras , é a de que estes são antidemocráticos
e não respeitam os resultados democráticos.
Isto, claro, quando argumentam, porque o que por aí vejo
maioritariamente entre os defensores por cá de Bolsonaro é um assustador uso de grunhidos contra os “esquerdalhos”,
os “comunistoesquerdalhos” , os “venezuelanos”, “mandem os vermelhos para Cuba”,
ou, pior ainda, “ranhosos”, “escumalha vermelha”, “badamecos”, “javardos” e
outras epítetos no mesmo tipo…adiante!
Ora, uma das primeiras características da democracia é o direito de se
criticar e contestar, por vários meios legítimos, resultados eleitorais com os
quais não se concorde ou, como é o caso de Bolsonaro, ponham, nem que seja
hipoteticamente, em causa o próprio futuro da democracia.
O direito de existência e de actuação da oposição, por mais minoritária
que seja, está consignado na Constituição de qualquer país democrático.
Por isso criticar uma maioria democrática e legitimamente eleita é um
direito fundamental em democracia.
Além disso, em democracia, é muito raro a maioria eleita representar
mais de 30% de todos os habitantes de um país ou mais de 40% de todos os
eleitores.
Por isso, em democracia, existem direitos para a oposição, e as
minorias, culturais, sociais, ou ideológicas, são todas respeitadas, mesmo
aquelas que não aceitam a democracia.
Nem a democracia se esgota no acto eleitoral.
Existem muitas formas de participação ou de iniciativa fora
dos partidos e fora da vida parlamentar.
A eleição de Bolsonaro, que defende todos os valores contrários a uma
sã convivência democrática é preocupante, mas a defesa desses valores está
legitimada pelo resultado democrático.
Mas, agora, são as próprias instituições
democráticas que, se funcionarem como deve ser, se a democracia brasileira for
mesmo uma democracia madura, vão travar muitas das pulsões antidemocráticas de
Bolsonaro.
Ou seja, se Bolsonaro quiser levar para a frente o que prometeu, que é
perseguir as minorias, limitar Direitos Humanos e Sociais, destruir a Amazónia,
prender adversários políticos, instituir a tortura, só o pode fazer destruindo
a democracia.
Bolsonaro vai ser um verdadeiro “teste de stress” para a aferir da
maturidade da democracia brasileira (tal com acontece com Trump nos Estados
Unidos).
Uma democracia não é uma ditadura da maioria, ou então deixa de ser
democracia.
Vamos seguir com atenção o evoluir da situação brasileira, até porque,
do que lá acontecer, podemos sofre as consequências ( como já se vê no uso
crescente das redes sociais para gerar um clima de ódio e intolerância, ou, mais
a médio prazo, nas consequências ambientais da destruição da Amazónia, que afectará toda a humanidade).
Por agora, saudemos a democracia brasileira, esperando que tudo não
passe de um epifenómeno na sua curta história.
Ao menos que contribua para os democratas e a esquerda brasileira se
renovarem, emendando ou aprendendo com os seus próprios erros.
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