O rápido avanço da extrema direita populista e neofascista nos últimos
anos tem explicação, em grande parte, pelos erros acumulados nas Democracias.
Entre esses erros estão as quatro doenças da Democracia: a
desigualdade, o deficit de representatividade, a corrupção e a liberdade
desvirtuada.
DESIGUALDADE
A forma como os regimes democráticos se deixaram dominar pelos grandes
interesse financeiros, tomando decisões contra os cidadãos e fomentando o
aumento de desigualdades como forma de destruir direitos socias e desvalorizar
o factor trabalho, apenas para beneficiar aqueles interesses, afastou muitos
cidadãos da participação democrática.
O melhor exemplo disso é a prática
das lideranças da União Europeia, pelo modo como tem lidado com a dívida e o
deficit, ou das decisões de organismos como a Organização Mundial do Comércio,
agindo a mando desses interesses e ignorando as situações socias que essas
decisões acarretam, fomentando o dumping social.
Contudo, se os cidadãos se conformarem, a desigualdade continuará a
aumentar ao ritmo daqueles interesses.
DEFICIT DE REPRESENTATIVIDADE
As imposições das organizações supranacionais, a maior parte delas não
eleitas, sobrepondo-se à escolha democrática dos cidadãos, submetendo o grande “centrão”
aos ditames dessas organizações, que obedecem apenas à logica financeira (o
célebre TINA), ao retirar poder aos organismos directamente eleitos, transformando os parlamentos e os
partidos em meras organizações “colaboracionistas” com a situação imposta por
essas organizações, leva os cidadãos, todos os dias prejudicados no seu
dia-a-dia pelas decisões daquelas, a afastarem-se da participação democrática.
Se os cidadãos nãos e sentem representados, nos seus anseios, pelas
instituições democráticas, passam a estar vulneráveis ao discurso demagógico,
baseado no medo e na xenofobia, vinculado pelas organizações populistas e
neofascistas, que defendem uma solução autoritária para “resolver” as
preocupações dos cidadãos abandonados à sua sorte.
Contudo, o que esses movimentos defendem, mesmo que de forma
disfarçada, é o aumento do controle do poder politico, retirando ainda mais aos
cidadãos o direito de participação, quando chegarem ao poder (existem por aí
muitos exemplos históricos que atestam esse resultado).
CORRUPÇÃO
A Corrupção é o grande cancro dos regimes democráticos.
Com uma classe politica que sobrevive à sombra do poder financeiro, transformados
em meros joguetes daqueles interesse acima denunciados, transformada numa casta
que circula entre o poder político , o
poder financeiro e cargos nas instituições supranacionais nãos eleitas, o
cidadão comum sente-se tentado pelo discurso fácil da “pureza” propagandeada pelos
tais populistas, que encontram nessa temática terreno fértil para a sua
demagogia.
Esquecem-se apenas de um “pormenor”. Nos regimes autoritários e nas
ditaduras “não existe” corrupção porque, por um lado, a simples divulgação
desta é proibida e censurada e os tribunais são controlados pelo poder
executivo. E se isto não chegar, mudam as leis para tornar o que é corrupção em “legalidade”.
LIBERDADE DESVIRTUADA
Por último, mas não menos importante, o uso incontrolado da liberdade
permitida pelas redes socias, onde se misturam verdades e mentiras, onde se
aplica cada vez mais o velho slogan nazi segundo o qual uma mentira várias
vezes mentira pode tornar-se verdade, aquilo que hoje se chama de fake news, onde a “verdade” de um ignorante tem
o mesmo peso que a verdade de um sábio, contribui para fazer passar,
entranhando-se nas nossas atitudes e
opções, um discurso de intolerância, de desrespeito pelos adversários, de
gritaria, de arrogância, as bases ideológicas onde assenta a construção de modelos
autoritários.
Há quem diga que as arruaças, que no anos trinta impuseram pelo medo os
regimes autoritários de então, foi substituído
pelo discurso intolerante, violento e intimidatório que hoje domina os “debates”
nas redes sociais.
A democracia está doente.
Os movimentos populistas e neofascistas renascem das cinzas explorando
as fraquezas da democracia.
Mas, creiam, não existe solução fora da democracia.
Combater aqueles sintomas fora da democracia só os vais agravar.
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