A Democracia funcionou no Brasil.
Foi eleito um presidente por cerca de 55 milhões de eleitores, entre um
total de 140 milhões de eleitores.
Outros 45 milhões votaram Haddad e 10 milhões anularam o seu voto ou
votaram em branco..
Uma das características da democracia é que uma imensa minoria,
geralmente cerca de 30% dos eleitores, consegue eleger parlamentos com maioria
absoluta e eleger presidentes.
Mas uma outra das características da Democracia é que essas imensas
minorias têm de respeitar a imensa maioria que vota (ou não vota) noutras
minorias e tem de respeitar cada cidadão.
O problema é quando uma imensa minoria vitoriosa ameaça tudo o resto e
se sente legitimado, mais do que pelo voto, por qualquer poder divino.
Foi assim que mutas democracias se perderam, foi assim que Hitler
chegou ao poder, que, nos nossos dias, chegaram ao poder Putin, Órban, Maduro….
Durante a campanha eleitoral brasileira, um jornalista perguntava a uma
eleitora porque ía votar em Bolsonaro. “Porque gosto do programa dele”,
respondeu. Replicou o jornalista. “e qual é esse programa?”. E ela respondeu “Não
sei, mas concordo com o programa dele”.
O discurso de vitória de Bolsonaro nada esclareceu sobre o programa da
sua presidência, mais parecendo que
estávamos numa missa de uma qualquer igreja evangélica, repetindo meia dúzia
de frases feitas, repetindo pelo meio as palavras “democracia” e “liberdade”,
palavras que se tornam vazias de tanto repetidas sem convicção. (Muitos dos
regimes mais antidemocráticos da história também se definiam como “repúblicas
democráticas” e muitos dos partidos de extrema direita intitulam-se “da
liberdade” ou “liberais”).
Quando se faz um discurso vazio é porque se pretende esconder a
verdade, talvez para agradar aos “mercados” e à “comunidade internacional”.
E a verdade foi aquela que ele foi revelando quando falou sem limites
ou constrangimentos: apelar à violência contra os opositores, perseguir as
minorias, desvalorizar as mulheres, os negros e os trabalhadores, e, aquilo que
muito deve preocupar qualquer cidadão do mundo, a promessa de destruir a
Amazónia. Este é o seu verdadeiro programa.
Para o cumprir vai ter de, ou corromper o senado, o congresso e os
tribunais e/ou violar a Constituição e destruir a democracia.
Costuma-se dizer que, principalmente quando isso se faz por via eleitoral, cada povo tem o governo que merece.
Por mim, embora lamente a escolha de 55 milhões de brasileiros, até
podia estar descansado por estar longe dessa gente (embora olhe, daqui para a frente, com
alguma preocupação, quando me cruzar com brasileiros, sabendo que 64% dos que
vivem em Portugal apoiaram Bolsonaro e podem usar em Portugal os mesmos métodos
defendidos pelo seu ídolo) .
Mas, pela forma como a campanha de Bolsonaro contaminou as redes sociais
portuguesas, legitimando o discurso de ódio e intolerância usado no Brasil e,
mais grave ainda, a perspectiva de
destruição da Amazónia, envolvendo-nos a todos no holocausto ambiental
que essa decisão vai ter no bem estar da humanidade e no futuro da vida dos
nosso filhos, não posso deixar de me preocupar com a decisão de 55 milhões de
brasileiros.
Por isso, temo que aquilo que foi uma decisão democrática legitima redunde,
como aconteceu muitas vezes na história, passada e recente, numa imensa
tragédia.
Hoje foi um dia de festa democrática.
Mas temo que tenha sido um dos últimos por aqueles lados.
Mas temo que tenha sido um dos últimos por aqueles lados.
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