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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Brasil - Por enquanto é democracia



A Democracia funcionou no Brasil.

Foi eleito um presidente por cerca de 55 milhões de eleitores, entre um total de 140 milhões de eleitores.

Outros 45 milhões votaram Haddad e 10 milhões anularam o seu voto ou votaram em branco..
Uma das características da democracia é que uma imensa minoria, geralmente cerca de 30% dos eleitores, consegue eleger parlamentos com maioria absoluta e eleger presidentes.

Mas uma outra das características da Democracia é que essas imensas minorias têm de respeitar a imensa maioria que vota (ou não vota) noutras minorias e tem de respeitar cada cidadão.

O problema é quando uma imensa minoria vitoriosa ameaça tudo o resto e se sente legitimado, mais do que pelo voto, por qualquer poder divino.

Foi assim que mutas democracias se perderam, foi assim que Hitler chegou ao poder, que, nos nossos dias, chegaram ao poder Putin, Órban, Maduro….

Durante a campanha eleitoral brasileira, um jornalista perguntava a uma eleitora porque ía votar em Bolsonaro. “Porque gosto do programa dele”, respondeu. Replicou o jornalista. “e qual é esse programa?”. E ela respondeu “Não sei, mas concordo com o programa dele”.

O discurso de vitória de Bolsonaro nada esclareceu sobre o programa da sua presidência, mais parecendo que  estávamos numa missa de uma qualquer igreja evangélica, repetindo meia dúzia de frases feitas, repetindo pelo meio as palavras “democracia” e “liberdade”, palavras que se tornam vazias de tanto repetidas sem convicção. (Muitos dos regimes mais antidemocráticos da história também se definiam como “repúblicas democráticas” e muitos dos partidos de extrema direita intitulam-se “da liberdade” ou  “liberais”).

Quando se faz um discurso vazio é porque se pretende esconder a verdade, talvez para agradar aos “mercados” e à “comunidade internacional”.

E a verdade foi aquela que ele foi revelando quando falou sem limites ou constrangimentos: apelar à violência contra os opositores, perseguir as minorias, desvalorizar as mulheres, os negros e os trabalhadores, e, aquilo que muito deve preocupar qualquer cidadão do mundo, a promessa de destruir a Amazónia. Este é o seu verdadeiro programa.

Para o cumprir vai ter de, ou corromper o senado, o congresso e os tribunais e/ou violar a Constituição e destruir a democracia.

Costuma-se dizer que, principalmente quando isso  se faz por via eleitoral,  cada povo tem o governo que merece.

Por mim, embora lamente a escolha de 55 milhões de brasileiros, até podia estar descansado  por estar longe dessa gente (embora olhe, daqui para a frente, com alguma preocupação, quando me cruzar com brasileiros, sabendo que 64% dos que vivem em Portugal apoiaram Bolsonaro e podem usar em Portugal os mesmos métodos defendidos pelo seu ídolo) .

Mas, pela  forma como a campanha de Bolsonaro contaminou as redes sociais portuguesas, legitimando o discurso de ódio e intolerância usado no Brasil e, mais grave ainda, a perspectiva de  destruição da Amazónia, envolvendo-nos a todos no holocausto ambiental que essa decisão vai ter no bem estar da humanidade e no futuro da vida dos nosso filhos, não posso deixar de me preocupar com a decisão de 55 milhões de brasileiros.

Por isso, temo que aquilo que foi uma decisão democrática legitima redunde, como aconteceu muitas vezes na história, passada e recente, numa imensa tragédia.

Hoje foi um dia de festa democrática. 

Mas temo que tenha sido um dos últimos por aqueles lados. 

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