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quarta-feira, 2 de julho de 2014

O DIA DE SOPHIA:

A propósito da passagem do 10º aniversário de Sophia e da sua trasladação para o panteão nacional , que pode ser acompanhada na edição especial da ANTENA 1, aqui recordamos e reproduzimos alguns documentos que a recordam, como o dossier  a ela dedicado pela Biblioteca Nacional, uma pouco conhecida entrevista concedida a uma televisão francesa em 1988.

Reproduzimos também aqui o seu poema Pátria, uma dos mais belos sobre o país que tanto amou:

PátriaPor um país de pedra e vento duro 
Por um país de luz perfeita e clara 
Pelo negro da terra e pelo branco do muro 

Pelos rostos de silêncio e de paciência 
Que a miséria longamente desenhou 
Rente aos ossos com toda a exactidão 
Dum longo relatório irrecusável 

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento 

E pela limpidez das tão amadas 
Palavras sempre ditas com paixão 
Pela cor e pelo peso das palavras 
Pelo concreto silêncio limpo das palavras 
Donde se erguem as coisas nomeadas 
Pela nudez das palavras deslumbradas 

- Pedra   rio   vento   casa 
Pranto   dia   canto   alento 
Espaço   raiz   e água 
Ó minha pátria e meu centro 

Me dói a lua me soluça o mar 
E o exílio se inscreve em pleno tempo 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'
Por último, aqui deixamos um dos seus poemas mais conhecidos, cantado por Francisco Fanhais:

segunda-feira, 23 de julho de 2012

UM POEMA DE SOFIA PARA ESTES DIAS:



Eis-me

Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Evocando Sophia, no 90º aniversário do seu nascimento



Se fosse viva, Sophia de Melo Breyner Andresen completaria hoje 90 anos.

A sua poesia, mas também a prosa, revelaram sempre uma enorme sensibilidade e humanismo.
Criativa e interventiva, a sua poesia tornou-se intemporal.
Aquela que foi a primeira mulher portuguesa a receber o Prémio Camões, e a quem José Saramago dedicou o seu Prémio Nobel, ao considerar que ela era o único escritor português que teria merecido esse prémio, falecida apenas há cinco anos (em 2 de Julho de 2004), continua actual e inspiradora, como se pode ler no seu poema que escolhemos para evocar esta data:


"AS PESSOAS SENSÍVEIS


As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas


O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo


Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra


"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."


Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito


Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem".

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Cinco anos sem Sophia de Mello Breyner Andresen


Recordo-me, no dia em que foi atribuido o prémio Nobel da Literatura a José Saramago, deste escritor referir que a única pessoa em Portugal que teria merecido receber esse prémio era Sophia de Mello Breyner (recordo-me também da atitude mal-criada e deselegante de Miguel Sousa Tavares nesse mesmo dia, mas isso é outra história).
Hoje, quando passam cinco anos do desaparecimento de Sophia, recordamos aqui um dos seus poemas mais actuais:



Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.


Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.


Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.