Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus
mantos
Tendo-me separado de adivinhos
mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da
tua face
Mas tu és de todos os ausentes o
ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua
mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo
em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de
silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do
tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu
silêncio
Porque tu és de todos os ausentes
o ausente
|
Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)
Sem comentários:
Enviar um comentário