Parece que as afirmações de D. Januário Torgal acusando o
governo se ser “profundamente corrupto” provocaram a indignação de governantes,
comentadores e até de alguns membros bem instalados da própria Igreja.
De facto, do ponto de vista meramente formal e legal não se
pode “ainda” provar a corrupção dos atuais governantes.
Como toda a gente sabe, em Portugal não há corrupção, mesmo
aquilo que pensamos condenável está sempre legal, ou pela prescrição dos
processos, ou pelas armadilhas processuais, ou por leis que legitimam as
maiores barbaridades contra os cidadãos, os trabalhadores, a sociedade e a
economia em geral, ou pelo simples facto de tudo aquilo que é feito
ilegalmente, tal com uma Máfia bem organizada, ser feito sem testemunhas e sem
provas, ou por figuras secundárias que, em caso de serem apanhados, protegem os
seus “padrinhos”.
Nesse ponto de vista, D. Januário Torgal nunca vai conseguir
provar que estes (e os anteriores) governantes são corruptos.
Agora, se retirarmos o termo “corrupção” da simples
formalidade legal e o analisarmos a nível da ético e humana, aí sim, ninguém
conseguirá desmentir o corajoso bispo.
Quando se lançam políticas que conduzem o país para a recessão, para o desemprego e para a pobreza, quando se
tomam medidas sociais que penalizam sempre os mesmos e os mais fracos, quando
se tomam medidas como encerramento de escolas e centros de saúde, semeando o
medo entre populações isoladas e
contribuindo para acentuar a desertificação do pais, quando se aplicam medidas
de “engelharia social” que colocam milhares de professores no desemprego ou na
instabilidade, quando convidam os jovens
desempregados a emigra, quando a maior parte dos políticos de hoje nunca
tiveram atividade profissional conhecida ou tiraram cursos sem estudar, eles
fazem tudo de acordo com a lei, mas, do ponto de vista humanitário e ético são,
de facto, “governantes corruptos”.
É assim obvio que,
quando um membro da Igreja fala em corrupção, não pode estar a falar da
corrupção do ponto de vista legal, mas sim da corrupção do ponto de vista ético
e humano, daí a o incómodo das afirmações corajosas de D. Januário Torgal.
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