"Graças aos bombeiros
por Miguel Esteves Cardoso
"Ainda ontem.
"Anteontem quando voltávamos para Sintra, com a serra a arder,
passaram por nós dois carros dos bombeiros de Algés, que chegavam para ajudar.
Estava um ciclista parado em Galamares, a ver os helicópteros e os aviões. Não
se viam os bombeiros. Eram 281 a lutar. Houve dois feridos: os dois eram
bombeiros.
"Falámos com alguém que viu os feridos e ficou assustado e,
ao mesmo tempo, cheio de admiração. Por que se ferem os bombeiros, que conhecem
tão bem os perigos do fogo? Porque arriscam tudo e acreditam que é dever deles
arriscar até a vida, que muitas vezes dão, para salvar vidas que, o mais das
vezes, nem se sentem ameaçadas.
"Vivemos numa época de direitos e de vontades. A noção do
dever não como obrigação, mas como pagamento, necessariamente glorioso, de uma
dívida que outros contraíram em nosso nome, só não desapareceu porque ainda há
indivíduos teimosos e honrados, que se orgulham de pertencer a corporações que
juntam as forças para proteger e defender os fracos, os velhos, os indefesos,
os pobres, os vizinhos, os animais e até as pessoas estúpidas que nem sabem
quanto precisam da ajuda deles.
"Mais uma vez os bombeiros salvaram a serra de Sintra, para
todos os que cá vivem ou vêm.
"Entretanto não conheço ninguém que por aqui viva
que não tenha sido ajudada pelos bombeiros.
"Andam a ver se tramam os bombeiros.
"Não andem: vejam o que eles fazem. Ajudem quem nos ajuda.
Hoje foi só mais um dia: mais dois que se magoaram por nossa causa".
In Público de 13 de Julho de 2012.
Sem comentários:
Enviar um comentário