Ontem, no parlamento, “discutiu-se” o “estado da Nação”.
Hoje reúne um conselho de Estado para conseguir “compromissos”.
Ontem o primeiro-ministro veio anunciar que está aí à porta um país
mais “próspero”, “justo” e “desenvolvido”, um país de “pleno emprego” de
“oportunidades para todos”, apostado na “qualificação”.
Sim, o primeiro-ministro estava a falar de Portugal, o mesmo Portugal
que ele ajudou a empobrecer, a acentuar desigualdades, a desrespeitar a lei e a
Constituição, enquanto “ajuda” todos os dias os especuladores financeiros , os
gabinetes de advogados em assessorias,
os amigos políticos em cargos administrativos de luxo em grandes empresas e na
banca.
Sim, o primeiro-ministro estava a falar de Portugal, o mesmo Portugal
onde as “oportunidades” que o seu governo gerou foram o acentuar dos salários
de miséria, o aumento do trabalho precário, os cortes salarias e nas pensões, o
aumento do desemprego, que atingiu níveis históricos no seu consulado, ou a
emigração em massa das gerações mais jovens e qualificadas.
Também a aposta na “qualificação” está à vista: se, por um lado, o
desemprego e a emigração entre a geração mais qualificada de sempre mostra o que é que vale para esse
governo a tal “qualificação”, por outro vê-se a importância dada ao ensino com
o encerramento de escolas , os cortes à
investigação e o tratamento dado aos professores.
O primeiro-ministro, parece viver noutro país, ou então é mesmo verdade
que ele acha que o país (isto é, as estatísticas financeiras em folhas excel)
é uma coisa e os portugueses são outra, meros números estatísticos, tal como os
senhores feudais, que viam o seu feudo como um propriedade pessoal, onde
terras, meios de produção, pessoas e animais estavam todos ao mesmo nível, não
distinguindo os bens matérias das pessoas, a riqueza gerada pela exploração da
terra, das condições de vida dos “servos”…
Mas se já nos habituámos ao cinismo deste primeiro-ministro, então que
dizer da “ingenuidade” do Presidente da República?
Para este, apesar do nível de crispação provocado pelas medidas levadas
a cabo por este governo, apesar do acentuar das desigualdades, apesar dos
dramas sociais provocados pelas medidas de austeridade que ele tem apadrinhado,
é preciso "consenso" e "compromisso", com a agravante de que, para ele, o consenso e o compromisso impõem a
aceitação acrítica do actual programa de austeridade.
Talvez seja bom recordar ao senhor Presidente que vivemos em democracia
e que uma das virtudes da democracia é a da existência de um pluralismo nas opções para o futuro do país.
Os consensos preconizados pelo sr. Presidente da República cheiram
muito ao balofo “salazarista” da União Nacional, do “quem não é por nós (pela
austeridade e pelo “consenso” sobre ela) é contra nós (o “compromisso”
“auteritário” imposto pelos “mercados”)”…
Desgraçado país este entregue a um primeiro-ministro a viver num país
de conto de fadas e a um Presidente vestido de anjinho papudo…
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