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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Um primeiro-ministro no país das maravilhas e um presidente vestido de anjinho


Ontem, no parlamento, “discutiu-se” o “estado da Nação”.

Hoje reúne um conselho de Estado para conseguir “compromissos”.

Ontem o primeiro-ministro veio anunciar que está aí à porta um país mais “próspero”, “justo” e “desenvolvido”, um país de “pleno emprego” de “oportunidades para todos”, apostado na “qualificação”.

Sim, o primeiro-ministro estava a falar de Portugal, o mesmo Portugal que ele ajudou a empobrecer, a acentuar desigualdades, a desrespeitar a lei e a Constituição, enquanto “ajuda” todos os dias os especuladores financeiros , os gabinetes de advogados em  assessorias, os amigos políticos em cargos administrativos de luxo em grandes empresas e na banca.

Sim, o primeiro-ministro estava a falar de Portugal, o mesmo Portugal onde as “oportunidades” que o seu governo gerou foram o acentuar dos salários de miséria, o aumento do trabalho precário, os cortes salarias e nas pensões, o aumento do desemprego, que atingiu níveis históricos no seu consulado, ou a emigração em massa das gerações mais jovens e qualificadas.

Também a aposta na “qualificação” está à vista: se, por um lado, o desemprego e a emigração entre a geração mais qualificada  de sempre mostra o que é que vale para esse governo a tal “qualificação”, por outro vê-se a importância dada ao ensino com o encerramento de escolas ,  os cortes à investigação e o tratamento dado aos professores.

O primeiro-ministro, parece viver noutro país, ou então é mesmo verdade que ele acha que o país (isto é, as estatísticas financeiras em folhas excel) é uma coisa e os portugueses são outra, meros números estatísticos, tal como os senhores feudais, que viam o seu feudo como um propriedade pessoal, onde terras, meios de produção, pessoas e animais estavam todos ao mesmo nível, não distinguindo os bens matérias das pessoas, a riqueza gerada pela exploração da terra, das condições de vida dos “servos”…

Mas se já nos habituámos ao cinismo deste primeiro-ministro, então que dizer da “ingenuidade” do Presidente da República?

Para este, apesar do nível de crispação provocado pelas medidas levadas a cabo por este governo, apesar do acentuar das desigualdades, apesar dos dramas sociais provocados pelas medidas de austeridade que ele tem apadrinhado, é preciso "consenso" e "compromisso", com a agravante de que, para ele, o consenso e o compromisso impõem a aceitação acrítica do actual programa de austeridade.

Talvez seja bom recordar ao senhor Presidente que vivemos em democracia e que uma das virtudes da democracia é a da existência de um pluralismo nas opções para o futuro do país.

Os consensos preconizados pelo sr. Presidente da República cheiram muito ao balofo “salazarista” da União Nacional, do “quem não é por nós (pela austeridade e pelo “consenso” sobre ela) é contra nós (o “compromisso” “auteritário” imposto pelos “mercados”)”…

Desgraçado país este entregue a um primeiro-ministro a viver num país de conto de fadas e a um Presidente vestido de anjinho papudo…






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