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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

O pessimismo realista de Arturo Pérez-Reverte.

O escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte esteve em Portugal para participar no Festival Internacional de Cultura em Cascais e promover o seu mais recente romance, dando uma interessante entrevista hoje editada nas páginas do jornal "Público", que pode ser lida integralmente AQUI.

Nessa entrevista, que navega entre excelentes ideias para pensarmos e um pessimismo demasiado negro, mas realista à luz  dos nossos dias, Reverte defende, por exemplo, que repensemos, portugueses e espanhóis, o papel da Peninsula no mundo, defendendo um federalismo ibérico como resposta à decadência desse outro federalismo decadente, o Europeu, já que, para ele, a Liberdade está a morrer no velho continente, muito por culpa da classe política medíocre e ignorante da sua história que hoje lidera o projecto europeu.

O seu pessimismo leva-os a profetizar que o ocidente vai perder a guerra com o islão e o regresso do fascismo e do nazismo à Europa nos próximos 20 anos.

Reverte mostra-se aliás muito critico em relação a todas as religiões, vendo na literatura  o último refúgio a uma sociedade imbecilizada e governada por imbecis ("Não escrevo para que o mundo seja melhor.Eu escrevo romances em legítima defesa").

Da obra de Pérez-Reverte, escritor espanhol nascido em 1951 e que teve uma carreira premiada e reconhecida como repórter de guerra antes de se tornar escritor, conheço a sua trilogia sobre as Invasões Francesas na Península Ibérica, escritas como autênticas, bem documentadas e intensas "reportagens de guerra".

Refiro-me às obras "O Husardo" (de 1986, editada em Portugal em 2006), " A Sombra da Águia" ( de 1993, com edição portuguesa em 2009) e "Um Dia de Cólera" (de 2007, em português no ano seguinte).



"O Husardo" descreve a história de um soldado hussardo combatendo em Espanha, um libelo intenso sobre a guerra, onde se encontra uma das mais brilhantes descrições de uma batalha, baseando-se o autor na sua própria experiência de repórter de guerra.



"A Sombra da Águia" baseia-se numa história real, a de um grupo de prisioneiros espanhóis obrigados a combater no exército napoleónico na frente russa, em 1812, e que, ao tentarem desertar para o lado russo, provocam um mal entendido, que será interpretado por Napolão como uma acto heroico, uma história escrita com ironia corrosiva.



"Um Dia de Cólera", quanto a mim o melhor livro da trilogia, descreve os célebres acontecimentos do 2 de Maio de 1808, com os fuzilamentos  em Madrid, baseando-se numa ampla investigação histórica e onde se faz uma rigorosa reconstituição das ruas de Madrid naquela data.

Existe ainda uma outra obra, não editada em Portugal que tem as Guerras Napoleónicas como tema, mais narrativa e menos ficcionada, "Cabo Trafalgar", de 2004, sobre a célebre batalha marítima. 

 

quarta-feira, 11 de março de 2009

UM DIA DE CÓLERA

Em “Um Dia de Cólera”, Arturo Pérez-Reverte consegue misturar o romance e a grande reportagem.
Este grandioso fresco literário relata um dos dias mais violentos da história de Madrid, o célebre 2 de Maio de 1808.
Para o seu autor, esta obra “não é ficção nem livro de História”, mas pretende “devolver a vida àqueles que, durante duzentos anos, foram apenas personagens anónimas em gravuras e telas contemporâneas, ou concisa relação de vítimas nos documentos oficiais”.
Baseado em relatos verídicos, com personagens que existiram de facto, Pérez-Reverte faz uma descrição minuciosa dos acontecimentos desse trágico dia.
Apesar da narrativa ser cruzada pelas histórias de muitos anónimos que deram a sua vida por Espanha, que ganham aqui um rosto e um nome, existe, como fio condutor, a acção de dois dos poucos militares espanhóis que, nesse dia, se puseram ao lado do seu povo, os capitães Pedro Velarde y Santillan e Luis Daoiz Y Torres, que resistiram até ao fim, até à sua morte, naquele que foi o último baluarte da resistência madrilena, o parque Monteleón.
Um povo, considerado por Napoleão uma “chusma de aldeões embrutecidos e ignorantes, governada por padres” conseguiu resistir várias horas ao mais poderoso exército do mundo, na maior parte armado com navalhas, facas de cozinha e machados de cortar lenha.
A população que participou nessa insurreição era maioritariamente formada por “gente do povo miúdo, operários, artesãos, funcionários humildes e pequenos comerciantes”, quase não contando com a participação dos mais abastados, dos representantes da nobreza e da hierarquia militar.
A vingança sobre os franceses foi terrível e cruel.
A descrição dos excessos de parte a parte, o sangue derramado, o fumo e a pólvora, enfim a tragédia humana desse acontecimento, conhece um retrato fiel na vivacidade da escrita de Pérez-Reverte , só possível de fazer por quem, noutros tempos, foi um exímio repórter de guerra, experiência que enriquece imenso este romance.
Às três da tarde dessa segunda-feira sangrenta, já os franceses dominavam a situação, iniciando uma das jornadas repressivas mais brutais que Madrid conheceu, imortalizada no célebre quadro de Goya, “3 de Maio”.
Para escrever este romance o autor efectuou “longos passeios pelas ruas de Madrid”, e, para acompanhar a narrativa pelo emaranhado de ruas dessa cidade no ano de 1808, o leitor pode socorrer-se do mapa, incluído no livro, dentro da lombada (pessoalmente, só me apercebi deste precioso auxiliar de leitura quando já ia a meio da leitura).
Com este romance, não temos dúvidas em afirmá-lo, Pérez-Reverte torna-se um dos grandes escritores espanhóis deste século.
Em Portugal, esta obra foi editada pela ASA.