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segunda-feira, 16 de junho de 2025

Rússia e Israel , Guerra e Paz, Paralelos e ...absurdos !!!???


A Rússia ataca a Ucrânia. É uma Grave violação do Direito Internacional.

Israel, depois de já ter atacado a Síria e o Líbano, ataca o Irão. Estão a “defender a Democracia”.

A Rússia desculpa-se pela invasão com a presença de grupos neonazi que dominam o poder da Ucrânia, situação comprovada por fontes independentes,  e perseguem, desde 2014, as populações de origem russa, cometendo crimes de guerra contra essas populações (cerca de 10 mil em 8 anos), como aconteceu em Odessa.

Israel desculpa-se, para bombardear o Irão, com o apoio do regime dos aiatolas a grupos terroristas como o Hamas e outros que atacam Israel.

A Rússia, onde estão proibidos vários partidos políticos, assassina adversários políticos e mantém em prisão muitos outros é uma ditadura.

A Ucrânia que proibiu mais de uma dezena de partidos com a desculpa de serem pró russos, que persegue e assassina populações russófona e opositores desde 2014, é uma “democracia”.

O Irão, que persegue mulheres e opositores em nome da religião há anos, é uma autocracia religiosa.

Israel que pratica apartheid contra os palestinianos, obrigados, há décadas, a abandonar as suas terras e casas, enviado para ghettos, sem liberdade de circulação na sua própria terra, com grandes limitações para usufruírem dos mesmos direitos dos israelitas é a “única democracia do região”.

Os russos bombardeiam a Ucrânia, atingindo hospitais, escolas e edifícios civis, raramente matando mais de uma dezena de civis por dia, praticam crimes de guerra.

Os israelitas bombardeiam Gaza, atingindo deliberadamente hospitais, escolas e edifícios civis, raramente matando menos de uma centena de civis, estão a "defender a democracia" e a defender-se dos terroristas.

Os ucranianos recebem do ocidente ajuda militar para enfrentar a invasão russa. Quem vier com “conversas pacifistas” é um “apoiante de Putin”.

Os palestinianos não recebem ajuda humanitária porque esta “beneficia o Hamas” e se alguém falar em armar os palestinianos para se defenderem da agressão de décadas por parte de Israel, estão a “defender o terrorismo”.

O Batalhão Azov e outros grupos extremistas estão em roda livre, desde 2014, na Ucrânia, infiltrados nas forças armadas e de segurança e na maior parte dos partidos legais  que dominam o parlamento, em muitos caso em cargos de liderança. São “heróis”.

O Hamas, cujo crescimento e acção foram facilitados por Israel para “tramar” a autoridade palestiniana, assim como outros grupos jihadistas que combatem Israel, são considerados, e bem, grupos terroristas (Sabe-se entretanto que  Israel está a apoiar grupos jhiaditas, rivais do Hamas, para combater estes, grupos esses tão terroristas como o Hamas).

A Rússia, quando efectou bombardeamentos e ataques perto de centrais nucleares ucranianas, foi um “escabeche” danado, um alarmismo desmedido, entre as lideranças ocidentais e os comentadores de serviço.

Agora que Israel bombardeia directamente centrais nucleares iranianas, é o silêncio, a desvalorização e/ou a procura de justificações esfarrapadas por parte do “ocidente” e dos mesmos comentadores. Se calhar a vida das populações em risco com essas acções tem valor diferente. Um Europeu e um “cristão” “radioactivo” vale mais que mil muçulmanos, árabes ou persas, "radioactivos".

No meio de tudo isto, a Ucrânia continua a apoiar, no mínimo pela abstenção, as acções criminosas de Israel, o que não deixa de ser tristemente irónico. Mais um prego na credibilidade da liderança ucraniana.

Resumindo e concluindo: as lideranças europeias e os seus proxies na nossa comunicação social, estão em força a branquear o governo criminoso de Israel, usando argumentos que são exactamente os opostos que usam para a guerra na Ucrânia.

Quem perde? Para além da verdade, o povo palestiniano, os judeus, que perdem toda a credibilidade que ganharam como vítimas do Holocausto e séculos de perseguição, e não vão ter paz nas próximas décadas, o causa ucraniana, porque fica evidente para todos o mundo os dois pesos e duas medidas usados pelas lideranças ocidentais. Perde a ONU, e todas as organizações humanitárias, cada vez mais isoladas na sua acção.

Quem ganha? A liderança criminosa de Israel, que desvia a atenção dos crimes cometidos em Gaza, os yatolas radicais do Irão, que vão aumentar a sua força na defesa do Irão e o próprio Hamas que ganha "razão" para o seu ódio a Israel, e outro criminoso, Putin , que surge como "defensor da paz" e do "direito internacional" (!!??).

Perdem também os pacifistas, olhados agora, com os argumentos falaciosos do costume, como “sionistas” e “apoiantes” do Hamas ou de Putin,.

Pois! também ganham os negociantes de armas,  as petrolíferas e o sector financeiro que está na base de tudo isto.

quinta-feira, 20 de março de 2025

O Novo "nazifascismo"


Não deixa de ser curioso.

Os Estados Unidos e a Rússia (herdeira da antiga União Soviética, que então incluía a Ucrânia), foram os principais responsáveis pela derrota do nazi-fascismo no século XX.

Os judeus,  os povos do leste e da antiga União Soviética foram os que mais sofreram como a violência do nazismo.

Os judeus fundaram Israel como consequência da violência que sobre eles se abateu com o Holocausto.

E o que vemos hoje?

Estados Unidos,  Rússia, Ucrânia e Israel,  nesse passado “antifascista” os principais combatentes ou vitimas do nazi-fascismo, são hoje os responsáveis pela disseminação, a nível mundial, dos ideais da extrema-direita, um novo "Nazismo", com várias vertentes e variantes, nalguns casos combatendo-se entre si, adaptado aos dias de hoje (a Rússia de Putin, algumas milícias e batalhões  ucranianos, os Estados Unidos de Trump e Israel de Nethanyhu).

Uma total e preocupante inversão e desrespeito pelo  passado histórico dessas nações e povos.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Mural pela Ucrânia em Bruxelas


No passado dia 24, em plena Praça Schuman, na fachada do Serviço Europeu de Acção Externa, sede do serviço diplomático da União Europeia, deparámo-nos com a execução de um mural de homengem à Ucrânia.

Não encontrámos qualquer outra informação sobre a sua autoria, mas aqui fica uma idéia do trabalho de execução desse mural, com várias frases que completavam o mote "Por quanto mais tempo"? (uma pergunta que deve ser feita a muita gente,à própria União Europeia, passando pela NATO, pelo Estados Unidoe e, obviamente, a Zelensky e Putin):







Numa outra região de Bruxelas ainda podemos encontrar outro mural de homenagem à Ucrânia, elaborado por ocasião do primeiro aniversário da Invasão Russa, na Rue Haute, junto ao popular bairro dos Maroles, da autoria dos artistas ucranianos Mishel e Nicol Feldman e da artista belga Teresa Sdratevich:


quarta-feira, 10 de julho de 2024

Os assassinos “bons” e os assassinos “maus”

 


Guerra é guerra, como diriam as freiras da anedota.

A resposta de Israel ao criminoso ataque do Hamas de 7 de Outubro, pôs em questão a forma como muitos olhavam para a guerra, desde a criminosa invasão da Ucrânia pela Rússia de Fevereiro de 2022.

A forma diferente como, no “ocidente”, se começou a olhar para os dois conflitos militares (enquanto outros, como no Iémen, no Paquistão, na Líbia, na Síria, no Iraque, no Afeganistão, no Congo ou no Sudão, caiam no esquecimento), trouxe ao de cima toda hipocrisia da narrativa dominante.

Falar de paz tornou-se “perigoso”, pois, rapidamente, os que a defendem, desde sempre, os que defendem uma solução para os conflitos militares, começaram a ser tratados de forma agressiva, nas redes sociais e na “informação de referência”, impondo-se cada vez mais um discurso militarista.

Os pacifistas têm sido acusados de “apoiantes de Putin” ou de “antissemitas”, uma forma de inviabilizar qualquer discussão sobre as soluções para esses conflitos militares.

Sabe-se que, por detrás desse discurso militarista, estão interesses ligados à indústria de armamento e ao mundo financeiro, as “ditaduras” sem rosto que, na realidade, decidem a vida de milhões de cidadãos por todo o mundo e que sustentam a economia neoliberal dominante.

A forma como têm sido noticiados, até à náusea, os crimes da Rússia na Ucrânia, comparativamente com a mesma atenção dada aos crimes israelitas na Palestina, é demonstrativo dos “dois pesos e duas medidas” da narrativa “ocidental”.

Exemplo disso tem sido o tratamento dado à destruição de um hospital pediátrico em Kiev , presumivelmente por um míssil russo.

Esta tipo de ataques tem sido recorrente na Ucrânia, desde a guerra civil iniciada em 2014, principalmente na região do Donbass, com responsabilidades nos dos dois lados do conflito. Contudo, ataques destrutivos com a dimensão deste último, são esporádicos e raros, comparativamente com o que se passa na Palestina.

O mesmo não se pode falar dos ataques israelitas à Palestina desde há nove meses, onde, diariamente, são relatados ataques a instalações hospitalares, com um número de vítima igual ou superior àquele outro ataque criminoso a Kiev.

É caso para se dizer que aquilo que aconteceu em Kiev é a realidade diária na Palestina.

Chegamos à conclusão que, a “ocidente”, existem dois pesos duas medidas e que a morte de crianças palestinianas parece valer menos que a morte de crianças ucranianas, que a destruição diária de Hospitais e outras instalações humanitárias na Palestina é menos grave que um ataque, raro, mas regular, ao mesmo tipo de instalações por parte da Rússia (ou da Ucrânia no Donbass, desde 2014, que também existem).

Criança morta é criança morta, Hospital destruído é Hospital destruído, tudo actos criminosos, sejam crianças morenas ou crianças brancas de olhos azuis, seja em solo Palestiniano ou em solo Ucraniano.

Não deixa também de ser significativa a diferença de tratamento dado à Rússia e a Israel, percebendo-se as sanções sobre os primeiros, nomeadamente expulsando esse país de provas desportivas, mas não se percebendo a falta de sanções do mesmo tipo sobre Israel.

Esta forma diferente de encarar os dois conflitos está a por a nu toda a hipocrisia “ocidental” e reflecte-se na quebra de simpatia inicial pela causa ucraniana, situação agravada pela própria posição oficial do governo ucraniano em relação ao conflito palestiniano.

Solução? O cessar fogo, a negociação e a paz justa, por muito difícil que ela seja de alcançar ou correndo o risco de beneficiar o infractor.

A Guerra permanente e infindável é o pior de todas as soluções. Quem é que ainda não percebeu?

 

 

sexta-feira, 28 de junho de 2024

A Guerra a Leste – 8 meses no Donbass


Foi anunciado esta semana que o governo Russo proibiu uma série de jornais e televisões da Europa de serem consultados e vistos naquele país.

Recorde-se que essa atitude censória aconteceu mais de dois anos depois de, na União Europeia, se ter tomado a mesma atitude censória em relação a órgão de informação da Rússia.

Se a censura é uma arma “lógica” num regime autoritário, ela é menos compreensível em regimes democráticos.

Ou seja, desta vez um governo autoritário, como o russo, limitou-se a seguir o modelo que já tinha sido aplicado pela União Europeia.

Isto vem a propósito da forma como o livro de Bruno Amaral Carvalho tem sido recebido, sujeito à perseguição e a ameaças por quem acusa o autor de “fazer propaganda russa”.

Só por sectarismo doentio, por falta de cultura democrática ou por intoxicação propagandística se pode “aceitar” as perseguições e as acusações  feitas a esse livro e ao seu autor.

O livro em causa relata o outro lado da guerra, aquele que, por censura e propaganda, não costuma chegar aos órgãos de comunicação social ocidentais, para não estragar a narrativa dos “russos maus” e dos “ucranianos bons”.

O que esse livro descreve é o outro lado de uma guerra, para uns iniciada com o golpe de Estado do “maiden” em 2004, quando se iniciou a perseguição e o massacre das populações de origem russa, por parte de milícias ucranianas, algumas assumidamente de ideologia nazi, seguidores do criminoso de guerra Banderas, situação que serviu de “pretexto” para a invasão da Crimeia pelos russos e para o inicio de uma guerra civil na região do Donbass, e que, para outros , se iniciou com a ilegal e criminosa invasão da Ucrânia, em 2022,  pela Rússia de Putin.

O livro de Bruno Amaral de Carvalho faz um relato independente e objectivo daquilo que ele viu no Donbass e, quando no futuro, os ânimos se acalmarem, este livro será de leitura obrigatória para se conhecer o que se passou num dos lados da guerra, tal como irá acontecer com um outro conjunto de crónicas, divulgadas neste blog, da autoria do jornalista Pedro Caldeira Cabral, descrevendo o que se passou do lado da Ucrânia, com a mesma objectividade e tarimba de um experiente jornalista de guerra.

Chama-se a isso, PLURALISMO INFORMATIVO.

O resto não passa de propaganda e sectarismo.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

A Invasão da Ucrânia pela Rússia. Diversos antecedentes - UMA GUERRA QUE NECESSITA DE CONTEXTUALIZAÇÃO Por Pedro Caldeira Rodrigues


A Invasão da Ucrânia pela Rússia. Diversos antecedentes - UMA GUERRA QUE NECESSITA DE CONTEXTUALIZAÇÃO

 Por Pedro Caldeira Rodrigues

(jornalista da LUSA)

 Etnonacionalismos

No dia 22 de abril de 2022, no decurso de uma cerimónia em Moscovo que assinalou o nascimento de Lenine, o Partido Comunista da Federação da Rússia (KPRF) manifestou o seu apoio à invasão militar à Ucrânia desencadeada por Vladimir Putin, definida sem hesitações como um confronto entre Moscovo e Washington.

“Os anglo-saxões vieram [à Ucrânia] para combater com o objetivo de dominar o planeta”, afirmou o primeiro-secretário, Guennadi Ziuganov, nessa celebração que decorreu na Praça Vermelha, em Moscovo.

“Hoje, nas planícies ucranianas, está em disputa a questão de saber se o mundo será unipolar sob o seu comando [dos anglo-saxões] ou multipolar”, acrescentou.

Insistiu ainda ser "necessário defender o Estado”, acusando a NATO e os Estados Unidos de combaterem “o mundo russo”, e quando este partido, representado na Duma, há muito que pressionava para o reconhecimento por Moscovo das repúblicas secessionistas de Donetsk e Lugansk, leste da Ucrânia, um passo que Putin apenas dará em 21 de fevereiro de 2022, três dias antes do início da invasão.

Estas afirmações enquadram-se afinal na versão da História impulsionada por Putin baseada no nacionalismo étnico, e quando há pouco menos de um ano acusou diretamente as elites ucranianas de perpetrarem um genocídio contra o "mundo russo", e que também permitiu justificar a invasão militar. 

Num artigo de 12.000 palavras publicado no início de julho de 2021 intitulado Sobre a unidade histórica de russos e ucranianos, Putin desenvolveu uma versão da história da Rússia e da Ucrânia destinada a diminuir a consistência deste último país como Estado-nação.

Neste texto apresenta uma imagem negativa da designada "Revolução de Maidan" ou "Euromaidan" que implicou a queda do Presidente “pró-russo” Viktor Fedorovych Yanukovych, que eclodiu após a sua decisão de suspender um acordo de associação com a UE em finais de 2013 que considerava nefasto para os interesses nacionais, e reforçar a cooperação económica com a Rússia.

Um dos principais argumentos de Putin consiste em afirmar que o fim da URSS colocou 25 milhões de russos fora da Federação da Rússia, um drama "humanitário". Uma observação sobre a catástrofe geopolítica e humanitária soviética que constitui um alento para a sua estratégia política, diplomática, cultural, económica e militar de longo prazo. 

Putin divulgou este seu artigo num momento em que, nessa primavera, decorriam grandes manobras militares junto à fronteira da Ucrânia.

E em dezembro de 2021, a coincidir com a concentração de mais de 100.000 soldados na Bielorrússia e junto às fronteiras ucranianas, emitiu uma acusação mais grave a Kiev, a do "genocídio dos russos".

No seu artigo refere-se a uma unidade orgânica e substancial, que russos e ucranianos "formam um só povo, um todo", com destaque para o aspeto religioso desta "unidade" e onde a religião ganha supremacia sobre a política. E considera que as ligações entre a Ucrânia e outros países e instituições devem ser estabelecidas de acordo com a Rússia, lamentando que os dois países se tenham afastado.

Insiste na fraqueza do Estado ucraniano, na conjunção de forças internas e externas e de “agentes externos negativos” que comprometeram essa "unidade" primordial. E que fizeram erguer um "muro" que separou "um espaço histórico e espiritual de facto partilhado". Uma "tragédia" devido aos nossos "erros", mas também a "forças" que querem sabotar a "unidade" e que permanecem ameaçadoras e ativas, sublinhou então o Presidente da Federação da Rússia.

Putin considera que o Rus' de Kiev originário é a casa comum de russos, ucranianos e bielorrussos, e que a conversão de Vladimir I (958-1015) ao cristianismo originou os laços "parentais" dos três povos.

Sugere que, para fazer face às ingerências do estrangeiro próximo (Polónia, Alemanha), a independência da Ucrânia deveria ser controlada por Moscovo, e sempre considerou a possibilidade inscrita na Constituição soviética de as repúblicas federadas poderem separar-se da URSS – anunciada logo em 1924 mas ignorada até Gorbatchov – como uma "bomba ao retardador".

Na sua abordagem, também critica a política bolchevique de "indigenização" (desenvolvimento das especificidades locais dos povos constitutivos da URSS) que produziu "três povos eslavos distintos", russos, bielorrussos e ucranianos, em detrimento de uma "grande nação russa". Na sua perspetiva, a "Ucrânia moderna" é uma consequência artificial da política soviética.

Putin considera assim que a Ucrânia foi criada "em larga medida à custa da Rússia histórica" e que a "Rússia foi despojada". 

Os efeitos de Maidan

Em 2014, com a revolução de Maidan, que Moscovo define como um "golpe de Estado", foi acentuada uma ativa política de "descomunização" seguida de "desrussificação", e uma aproximação aos Estados Unidos, União Europeia e NATO, com um profundo impacto negativo nas trocas económicas e culturais com a Rússia.

Na perspetiva da liderança do Kremlin, a Ucrânia torna-se assim numa "testa de ponte" virada contra a Rússia, num inaceitável projeto "anti-russo". Diz que atual Ucrânia arriscava-se a ser forjada pela hostilidade à Rússia e ataca a política linguística do Governo ucraniano após 2014, que conduz os russos da Ucrânia a renunciar às suas "raízes" e a considerar a Rússia um "inimigo".

Assim, um Estado ucraniano "etnicamente puro" conduziria ao desaparecimento de centenas de milhares ou milhões de russos, uma verdadeira arma de "destruição massiva".

Religião, cismas, laços familiares

O cisma com o patriarcado de Moscovo, a cisão entre as igrejas russa e ucraniana foi outro dos argumentos de Putin para justificar a oposição de Kiev pós-Maidan a um espaço que partilhasse a língua, religião e referência partilhada a um passado comum.

Neste cenário, assinala que as regiões de Donetsk e Lugansk, no leste ucraniano,  pegaram em armas na primavera de 2014 para lutar contra a "limpeza étnica" que os ameaçava, o perigo de "pogroms" que podiam ser perpetrados pelos adeptos de Stepan Bandera (1909-1959), numa referência ao polémico líder ultranacionalista ucraniano e chefe da Organização dos nacionalistas ucranianos (OUN-B) e dirigente do Exército insurrecional ucraniano (UPA), que colaborou com os nazis após da invasão a URSS pela Alemanha de Hitler em 1941.

Assim, Putin recorreu à retórica para justificar uma intervenção na Ucrânia por motivos humanitários.

Mas também indica que "nós" respeitaremos a língua e tradições ucranianas e o desejo dos ucranianos num Estado "livre e próspero". Mas acrescenta que "é em parceria com a Rússia que esta verdadeira soberania é possível". E que o "parentesco" entre russos e ucranianos "transmite-se de geração em geração", que a pertença ao povo russo se transmite hereditariamente.

"Formamos um único povo", insiste no final. Para Putin, a história é antes de tudo o instrumento de uma política baseada no nacionalismo étnico, uma evidência considerada comprovada pela emergência do nacionalismo radical ucraniano, caracterizado por uma russofobia permanente e consistente.

Em oposição, Putin define-se como Presidente da Federação da Rússia e líder do povo russo. Nega a especificidade da Ucrânia enquanto Estado-nação, para afirmar a pertença da população russófona da Ucrânia ao "povo" russo e negar que a Ucrânia possa ter uma trajetória histórica diferente da Rússia ou da Bielorrússia.

A vasta abordagem de Putin, que remonta ao final do século X e ao Rus' de Kiev, destinava-se afinal justificar uma operação militar "humanitária" contra a Ucrânia, que deveria ser "desnazificada" e "desmilitarizada", que acabou por acontecer.

Aposta no expansionismo

A devastação provocada pela intervenção militar da Rússia na Ucrânia correspondeu em paralelo a um aumento da presença militar dos EUA na Europa e novas perspetivas de alargamento da NATO.

Nos corredores do poder em Washington, a invasão russa suscitou um amplo debate em torno de duas correntes principais: a primeira considera a ação militar um reflexo das fricções que a expansão da NATO em direção ao leste criou entre a Rússia e os Estados Unidos; o segundo campo contesta os “argumentos falaciosos” de Putin, sublinha a sua animosidade à democracia, e que um triunfo militar na Ucrânia e os seus efeitos na Rússia, e no mundo, constituem o único motivo da guerra.

No entanto este complexo conflito não pode ser reduzido a um único fator, e não impedir que se abordem as diversas circunstâncias que o provocaram.

Assim, qual a função da NATO, em particular a queda do "socialismo real" a partir de 1989, e que segurança europeia se pretende?

À semelhança da invasão do Iraque pelos EUA em 2003, o ataque da Rússia contra a Ucrânia pode ser considerado uma "guerra preventiva", movida contra um inimigo que no futuro poderia constituir uma séria ameaça. Mas são guerras que, para além de terem violado o direito humanitário internacional, tornam o mundo mais perigoso. 

“A mais vermelha de todas as linhas vermelhas”

O facto de Putin ser o principal responsável pela intensificação da guerra na Ucrânia, não implica que a atitude da NATO possa ser considerada irrepreensível. Quando a tensão subia e a guerra se aproximava, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, e o Presidente dos EUA Joe Biden continuavam a insistir que a declaração da Aliança Atlântica na cimeira de Bucareste em 2008, sobre a adesão da Ucrânia e a Geórgia, se mantinha atual, e que não era negociável a exigência de Putin em tornar a Ucrânia num estado "neutro", mesmo que as hipóteses de adesão da Ucrânia fossem escassas a curto prazo.

Durante 14 anos, a Ucrânia bateu à porta da NATO, e em vão. Mas essa possibilidade fez aumentar os receios da Rússia, colocando a Ucrânia em crescente perigo. Kiev foi deixada na incerteza, após uma decisão insensata, pela qual a Ucrânia paga hoje um pesado tributo, enquanto a NATO nada pagou. Pelo contrário.

Para quem considera a Rússia um país "naturalmente agressivo" e "irrecuperável", a expansão da NATO constituiria um "contrapeso" às ações presentes e futuras de um país, e que são explicadas pelo seu passado.

De facto, a oposição russa ao alagamento da NATO é muito anterior à presidência de Putin, remontando à década de 1990 quando sob a presidência de Boris Ieltsin a Rússia era aclamada como uma democracia, e um parceiro. Mas para os neoconservadores em Washington, Putin – que num discurso em 25 de abril de 2005 perante a Duma (Parlamento) considerou a dissolução da URSS como a “maior catástrofe geopolítica do século XX” – permanece o único responsável pela deterioração das relações russo-norte-americanas, mais uma justificação para o expansionismo da Aliança militar ocidental.

Documentos desclassificados demonstram que Ieltsin manifestou por diversas vezes junto da administração de Bill Clinton a sua oposição à expansão da NATO, posição que foi transmitida a Washington por importantes diplomatas dos EUA.

Em 10 de maio de 1995, durante um encontro em Moscovo, Ieltsin abordou a questão de forma direta com Clinton: "Desejo compreender claramente a vossa ideia de expansão da NATO, que se for em frente apenas entendo como uma humilhação para a Rússia. Como pensa que nós ficaríamos se um bloco continuar a existir enquanto o Pacto de Varsóvia foi abolido? (...) Talvez a solução consista em adiar a expansão da NATO até 2000, para que de seguida possamos propor nova ideias".

Uma sugestão totalmente ignorada.

Num despacho de fevereiro de 2008, redigido pouco antes da controversa cimeira de Bucareste e dirigido ao secretário de Estado, ao secretário da Defesa e aos chefes militares, o então embaixador dos Estados Unidos na Rússia, William Burns, atual chefe da CIA, considerava que "o alargamento da NATO, em particular à Ucrânia, permanece uma questão 'sensível e nevrálgica' para a Rússia" que a entende como uma "potencial ameaça militar". Burns também manifestava os receios de que esta questão "dividisse a Ucrânia em dois, implicando violências ou mesmo, segundo alguns, uma guerra civil, e que obrigaria a Rússia a determinar se deveria intervir".

Numa nota dirigida à então secretária de Estado Condoleezza Rice, ainda em fevereiro de 2008, Burns insistiu: "A entrada da Ucrânia na NATO é para a elite russa, e não apenas para Putin, a mais vermelha de todas as linhas vermelhas", considerando-a "um desafio direto aos interesses russos".

Assim, será redutor reduzir a aversão russa à expansão da NATO a uma "paranóia" de Putin e ao seu receio pela democracia, ou mesmo à autoritária tradição histórica da Rússia.

Mas durante Ieltsin, devido à sua fraqueza e dependência económica face ao ocidente, em particular face aos Estados Unidos, Moscovo teve de assinar o Ato fundador NATO-Rússia em maio de 1997, e ainda o Conselho NATO-Rússia, criado em maio de 2002, já com Putin no poder.

Após o consulado de Ieltsin, com uma Rússia à beira do colapso económico e Forças Armadas enfraquecidas, a chegada de Putin ao poder permite que a Rússia recupere a potência económica e militar necessária para uma nova posição de força.

O catalisador foi a já citada cimeira da NATO de Bucareste entre 2 e 4 de abril de 2008 (adesão da Ucrânia e Geórgia), com o primeiro sinal expresso na guerra entre 7 e 12 de agosto entre a Rússia e a Geórgia, quatro meses após a conclusão da cimeira.

Recorde-se ainda que no início de 2008, o Kosovo, antiga província da Sérvia, declarou unilateralmente a independência à revelia das instâncias internacionais, e que foi de imediato reconhecida pelos EUA e posteriormente pela generalidade dos países ocidentais, e de outras regiões do mundo.

Outro sinal sobre a prevalência do unilateralismo sobre o multilateralismo e que irá alterar de forma decisiva a abordagem geopolítica e a nova estratégia nacional de segurança do Kremlin. Ainda hoje, cerca de 100 países, incluindo Rússia, China, Brasil, Índia, África do Sul, Indonésia, para além de cinco Estados-membros da União Europeia, recusam reconhecer a independência do Kosovo.

E após a “revolução de Maidan” em 2014, por recear que este desfecho implicasse um exclusivo alinhamento com a NATO e UE, a Rússia anexou a Crimeia e apoiou as duas regiões separatistas no Donbass, Donetsk e Lugansk, em rebelião contra Kiev.

Depois, vieram os acordos de Minsk I e II, nunca respeitados, o Formato de Normandia envolvendo Rússia, Ucrânia, França e Alemanha, que não resultou, a guerra el larga escala e a decisão de anexação à Rússia dos ‘oblasts’ de Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson, para além da já consumada integração da península da Crimeia.

Mas este desfecho também poderá servir para questionar se os Estados Unidos, e a NATO, não falharam a ocasião, a partir de 1989, de fomentar uma ordem europeia que incluísse a Rússia, em detrimento de uma ordem que a manteve de fora, aumentando o seu sentimento de alienação e exclusão.

Regresso a Gorbatchov

Após a queda do Muro de Berlim, o colapso dos regimes do leste europeu aliados de Moscovo, e a dissolução do Pacto de Varsóvia em meados de 1991, surgiu um desafio decisivo: a possibilidade de existir uma nova forma de organizar a Europa que não implicasse o alargamento da Aliança em direção à fronteira russa como a única escolha possível.

Quando a unificação da Alemanha se tornou iminente, Mikhail Gorbatchov propôs a dissolução da NATO e do Pacto de Varsóvia em nome de uma nova ordem de segurança transeuropeia inclusiva, do Atlântico aos Urais.

O Presidente dos EUA George H. W. Bush rejeitou a ideia, tal como a de uma Alemanha unificada mas neutra. Em posição de fraqueza, o último líder da URSS não conseguiu contrariar as intenções dos EUA em manter a NATO na Europa e englobar na organização militar o conjunto da Alemanha unificada.

A “arrogância” ocidental intensificava-se. Os EUA renunciavam à “promessa” feita a Moscovo, nunca firmada num documento oficial, de renunciar à expansão da NATO em direção a leste, em troca da unificação alemã e a incorporação da extinta RDA na organização militar aliada.

A posição de Bush sugere que, mesmo com o final da Guerra Fria, os EUA pretendiam uma NATO alargada e com tropas e armas na Alemanha de leste, corredor em direção ao centro-leste europeu.

Hoje, os que possuem maior influência na política externa dos EUA não perdem tempo a meditar sobre as diversas ocasiões perdidas. A intervenção militar da Rússia passou a ser interpretada como uma resposta à decisão de prosseguir a expansão da NATO.

A opinião dominante defendia que os EUA redobrassem os esforços e aumentassem a sua presença militar na Europa, incluindo no flanco oriental da NATO. Mesmo que a secção IV do Ato fundador NATO-Rússia estipulasse que não haveria "estacionamento permanente suplementar de importantes forças de combate" nessa região.

Já os defensores do "modelo europeu" consideram que à Europa falta vontade política...  E que a verdadeira lição a tirar da invasão da Ucrânia pela Rússia é que a Europa deve, a um ritmo moderado mas deliberado e efetivo, evoluir para uma maior autonomia em termos de defesa, mesmo que evite o objetivo mais ambicioso da "autonomia estratégica".

Em jeito de conclusão

Desencadear uma guerra é a parte "fácil". Pelo contrário, é difícil, mesmo impossível, servir-se desse argumento para obter o que possa ser entendido como um sucesso estratégico.

Uma guerra significa que um número indiscriminado de pessoas vê as suas vidas, num amplo sentido, expostas à destruição.

A invasão da Rússia e a devastação que está a provocar não nos deve inibir de tentar entender as causas do conflito, também um exercício necessário para tentar forçar à sua resolução.

Será premente que a ética da palavra pública se afirme, de reconhecer a complexidade da situação, de garantir a possibilidade de "tomar uma posição".

Surgiram tentativas de intimidação, apelos ao silêncio, um aumento da violência verbal, a multiplicação dos insultos. E entre sentimentos de insegurança e culpabilidade, consideram-se cúmplices do "agressor" quem se opõe às suas opções e conclusões.

Afinal, o paradoxo de nos pronunciarmos sobre um tema, com os riscos do erro, da intriga, mesmo do ridículo. Mas num momento em que uma guerra global se tornou numa possibilidade concreta no nosso horizonte, que nem a “Conferência da Paz” organizada pelos aliados de Zelensky não consegui dissipar.

Afinal, a Rússia ainda não desistiu de reassumir a função de decisivo ator na geopolítica internacional, de voltar a ser considerado um interlocutor imprescindível na arena internacional. Afinal, um dos principias objetivos de Putin e que tenta concretizar, custe o que custar.

Pedro Caldeira Rodrigues , Abril 2022/Junho 2024   

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

ESPELHO MEU, ESPELHO MEU, há alguém mais criminoso do que eu? (sem esquecer o Hamas e o Batalhão Azov, entre outros)

 


As origens dos conflitos são diferentes, as histórias também. O Conflito Israelo-Palestiniano dura deste 1948 e o conflito na Ucrânia dura desde 2014.

Em 24 de Fevereiro de 2022 a Rússia invadiu criminosamente a Ucrânia, de forma ilegal, à luz das relações internacionais, com o pretexto de combater ao “nazis” e defender as populações de origem russófona,  alvo das perseguições e dos crimes por parte de bandos nacionalistas, que se digladiavam desde 2014, já tendo provocado entre 10 a 20 mil vítimas, a maioria civis, assistindo-se a massacres de parte a parte, o mais famoso o massacre de Odessa em que foram queimados vivos vários apoiantes da Rússia.

A Rússia tem destruído escolas, hospitais e outras infraestruturas civis ao longo da guerra, com o pretexto (nalguns casos comprovado) de que essas estruturas e os seus ocupantes são usado como escudo humanos por tropas ucranianas, ou foram atingidas acidentalmente por fragmentos de mísseis e drones atingidos pela defesa ucraniana.

Ao longo do mês de Outubro último Israel começou a bombardear, de forma desproporcionada e criminosa, a população civil de Gaza (e também a da Cisjordânia) com o pretexto de combater os terroristas do Hamas, que massacraram, num atentado sem precedentes,  mil e quatrocentos civis israelitas e fizeram reféns mais de 200.

Israel têm destruídos centenas de escolas e hospitais na Faixa de Gaza, sem se desculpar com erros de pontaria, mas com a desculpa da sua utilização militar ou logística por parte do Hamas, situação nunca comprovada por fontes independenetes.

A zona em guerra ou sob ocupação russa na Ucrânia tem a dimensão de grande parte da Península Ibérica.

A zona de guerra na Faixa de Gaza tem metade do tamanho do Algarve.

Segundo dados, já desactualizados (foram publicados pela revista Visão em 5 de Novembro), a invasão russa da Ucrânia que dura há quase 2 anos, provocou, entre a população civil do país, 9 614 mortos e 17 535 feridos, entre os quais 554 crianças mortas e 1180 feridas.

Segundo os mesmos dados, até aquela data, os bombardeamentos de Israel provocaram, na Faixa de Gaza, em cerca de 1 mês de guerra, 9 061 mortos e 24 mil feridos, entre os quais 3 648 crianças mortas e 9 600 feridas.

Nos violentos bombardeamentos da Rússia à Ucrânia, são reportadas, por dia, pelas próprias autoridades ucranianas, um número de vítimas raramente superior à 10, e muitas vezes “apenas” feridos, e sempre que isso acontece apontam para crimes de guerra, enquanto que nos bombardeamentos israelitas morrem centenas de civis por dia, número de que o próprio exército de Israel se gosta de gabar.

Qualquer morto civil numa guerra é sempre um crime de guerra. A violência das situações não se mede pelos números.

Mas, perante os dois pesos duas medidas como essas guerras têm sido comentadas ou divulgadas e os dois pesos e duas medidas da atitude dos responsáveis políticos “ocidentais” (será porque os ucranianos são louros de olhos azuis e os palestinianos são mais escurinhos?) é caso para perguntar: espelho meu, espelho meu, há alguém mais criminoso do que eu? (…eu sei que há, mas entre aqueles dois criminosos que lideram Israel e a Rússia é caso para dizer…venha o diabo e escolha. E já agora, que o Tribunal Penal Internacional tenha coragem para os levar, aos dois, à barra do tribunal para serem condenados como criminosos de guerra, que o são, e se deixe de usar, também, dois pesos e duas medidas).

terça-feira, 31 de outubro de 2023

A ONU e os “Incoerentes”


Todos os países que fazem parte da ONU, cerca de 200, assinaram a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Infelizmente são poucos os que cumprem os princípios desses documentos, ao mesmo tempo que ignoram a maior parte das resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança e pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

Quando terminou a “Guerra Fria”, nos anos 90 do século XX muitos viram o início de uma nova era de paz e de respeito pelos Direitos Humanos, alguns até preconizaram o “fim-da-história”, num mundo “iluminado” pela democracia e pela liberdade.

Infelizmente não foi o que aconteceu.

O clima de violência generalizado, a proliferação do populismo de extrema-direita e de “democracias” “iliberais”,  o aumento de guerras de grande intensidade, aliados aos graves problemas climatéricos, acelerados pelo o domínio da selvajaria do capitalismo neoliberal capturado pelo corrupto mundo financeiro ( fruto da lavagem de dinheiro de várias máfias ligadas à especulação imobiliária, ao negócios do armamento e ao tráfico de droga) , destruíram a oportunidade de construir um mundo de paz, democracia, liberdade, prosperidade e de respeito pelos Direitos Humanos.

A incapacidade de reformular a ONU foi o principal factor que nos levou ao ponto onde estamos.

Os Estados Unidos, que começaram a desvalorizar aquela instituição e as suas associadas (como a Unesco, a Unicef, a OMS, a OIT, entre outras), agindo muitas vezes à revelia dessas instituições, ou a China e a Rússia, com sonhos imperialistas, travaram qualquer reforma no funcionamento dessa instituição, nomeadamente impedindo a revisão do direito de veto, que trava qualquer acção da ONU e desrespeita a crescente importância global de outros países, como o Brasil, a Argentina, o México, a África do Sul ou a Índia e travando o acesso, por razões históricas ultrapassadas pelo fim da Guerra-fria, de países importantes como a Alemanha ou o Japão, sem esquecer outras nações com dimensões importantes, quer do ponto de vista demográfico, quer do ponto de vista económico, como o Canadá, a Austrália, a Indonésia ou o Egipto e a Turquia.

Essa reforma, para tornar a ONU funcional, devia abandonar o direito de veto, substituindo-o pela maioria qualificada e reforçando o papel da Assembleia Geral, alargando o número de membros permanentes do Conselho de Segurança e reforçando o papel de uma força militar de manutenção da paz, papel que, na actualidade, está entregue ao livre arbítrio da NATO, controlada pelos Estados Unidos, organização militar que, depois do final da guerra-fria, abandonou as suas caracteristicas defensivas, intervindo militarmente em muitos sítios (ex-Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia…),  agindo várias vezes  à revelia das decisões da ONU .

Para analisar a incoerência de muitos dos países que fazem parte da ONU em relação à defesa do Direito Internacional e dos Direitos Humanos, basta analisar o sentido de voto de muitos desses países em duas ocasiões recentes, condenando a invasão ilegal da Ucrânia pela Rússia ou, agora, defendendo a criação de corredores humanitários para salvar os civis da Faixa de Gaza.

A boas notícia, comparando essas duas  votações, a 1º de 12 de Outubro de 2022 defendendo a integridade territorial da ONU, à luz da Carta das Nações Unidas, a segunda de 27 de Outubro de 2023, defendendo o direito de Protecção humanitária em relação à populações da Faixa de Gaza, é que houve 79 países que, coerentemente, votaram a favor de ambas as resoluções, pese o facto de alguns desses votantes o fazem de forma hipócrita, já que, muitos deles, não respeitam os mais elementares Direitos Humanos dos seus próprios cidadãos, como é o caso, por exemplo, do Afeganistão e da Arábia Saudita.

É também boa notícia que, entre os que, de forma coerente, votaram favoravelmente ambas as resoluções, estão Portugal e outros países da União Europeia como a Bélgica, a Irlanda, o Luxemburgo, Malta, Eslovénia e Espanha. Entre os países europeus que não pertencem à EU, também votaram, em coerência, Andorra, Bósnia, Liechtenstein, Moldávia, Noruega e Suiça.

Destacam-se ainda, na coerência da defesa da Carta da ONU, países como Angola, Argentina, Brasil, Guiné-Bissau, México, Marrocos, Nova Zelândia, Timor-Leste e Turquia.

A má notícia é que muitos países, em especial a maior parte dos membros permanentes do Conselho de Segurança, não se encontram na lista desses 79 países, mostrando que só respeitam os “Direitos” de acordo com os seus projectos políticos ou os seus preconceitos ideológicos. Entre esses membros permanentes, apenas a França aprovou ambas as resoluções.

Ainda pior é a falta de coerência, reveladora dos dois pesos e duas medidas, de 21 dos 27 países da União Europeia !!!???. Sem esquecer a escandalosa posição da Ucrânia!!!

Com essa diferente votação, muitos desses países deixam de ter “moral” para falar em Direitos Humanos ou em respeito pelo Direito Internacional.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

…Outra vez???


Quando a Rússia invadiu ilegal e criminosamente a Ucrânia, em 24 de Fevereiro de 2022, a condenação por esse acto hediondo foi generalizada, e bem.

O problema é que esse dia, mais do que um ponto de partida no conflito interno que existia na Ucrânia, desde o golpe fascista (sim, fascista, sem aspas) do “Maiden”, em 2014, foi um ponto de chegada de um período marcado pela perseguição mútua, muitas vezes com o recurso a acções criminosas, como o célebre incêndio do sindicato em Odessa ("pró-russos" queimados vivos dentro da sede), entre as populações ucranianas e as de origem russa, situação que foi o pretexto para o ditador Putin ocupar a Crimeia e apoiar as milícias do Donbass.

A situação de pré-guerra civil que se viveu na Ucrânia, entre 2014 e 2022, provocou cerca de 10 mil mortos de ambos os lados, e permitiu o aparecimento e fortalecimento de milícias terroristas, de tipo fascista, em ambos os lados da barricada, como o Batalhão Azov,  o Grupo Wagner ou os bandos de criminosos pró-russos do Donbass.

Ou seja, condenar a violação do direito internacional e os actos criminosos das forças russas, desde a invasão, é uma coisa, esquecer o que vinha de trás, é outra.

O problema é que, quem ousou interrogar-se sobre o que se passava na Ucrânia antes daquela data, ou separe o legitimo direito de defesa do povo ucraniano da situação no interior do próprio poder ucraniano, que também recorre a crimes de guerra, embora em menor número que os russos, e é dominado pela corrupção generalizada, é automaticamente rotulado de pró-putin, uma falácia intelectualmente desoneste, mas que tem feito o seu caminho.

O mesmo terrorismo intelectual, falacioso e desonesto, está agora a fazer o seu caminho, a propósito da situação palestiniana.

Também parece que, na Palestina, os hediondos e horrorosos crimes agora perpetrados por esse bando terrorista que domina a Faixa de Gaza, o Hamas, foi o início de tudo e foram os únicos actos criminosos realizados naquele território.

Condenar os crimes do Hamas é uma coisa. Pretender aproveitar-se da situação para fazer esquecer o papel dos recentes governos de Israel no massacre e no desrespeito pelos direitos dos Palestinianos é outra coisa totalmente diferente. Chama-se oportunismo político e má-fé.

Também agora, quem queira recordar o que está por detrás desta acção criminosa, que tem uma história de mais de cem anos de conflitos nunca resolvidos, e na qual o recurso a massacres e crimes de guerra de ambos os lados é prática comum, anda a ser enxovalhado como “apoiante de terroristas”.

É caso para exclamar: …outra vez? Chega de intolerância e de terrorismo intelectual!

quarta-feira, 24 de maio de 2023

"A Europa foi cumplice da cliptocracia russa"

(oligarcas russos com negócios em Portugal)

Delia Ferreira, a argentina que preside à organização  "Transparencia Internacional", denuncia AQUI, no jornal El País, a complacência das autoridades europeias para com os oligarcas russos, benificiando igualmente das relações com a China e os capitais deste país.

(É possivel que, não tendo uma assinatura do jornal espanhol,  não seja possivel ler o artigo, mas o título fala por si).

De facto, seria bom investigar quem andou a beneficiar e a alimentar os oligarcas russos e a beneficiar dos negócios chineses (podendo acrescentar, por cá, os angolanos...). 

Provávelmemte, numa invetigação levada até às últimas consequências, teriamos muitas surpresas!!!

Claro que chamar "oligarcas" apenas aos criminosos vindos do leste é redutor.

 Os tão "adorados" "mercados" deste lado são o sinónimo de "oligarcas" para os criminosos do mundo financeiro, do lado ocidental, protegidos pela srª Lagarde do BCE e pelos burocratas de Bruxelas.

E será bom que os oligarcas russos, que alimentam a guerra ilegal e criminosa de Putin, não venham, no futuro, a ser substiudos por "oligarcas" ucranianos, como acontece por cá (conforme já foi denunciado pelo jornal Tal & Qual, em meados do ano passado). Basta fazer uma visita aos estacionamentos no aeroporto de Lisboa, ou circular por Cascais,  para ver quais são os carros de matricula ucraniana, a maior parte topos de gama, pertencentes a esses "novos" oligarcas que, tal como a máfia, ocupam agora o lugar deixado pelos russos (ver AQUI quem eram, ou ainda são, alguns dos mais importantes oligarcas russos com negócios em Portugal). 

terça-feira, 18 de abril de 2023

Falar de paz é “estar ao serviço de Putin"??


..tanta gente “ao serviço de Putin”!!!: Guterres, o papa Francisco, Macron…e agora Lula!

Não deixa de ser curioso o terrorismo intelectual exercido pelas redes socias, pelos “comentadeiros” televisivos ou pela maior parte da classe política, sobre aqueles que acham que a paz é a melhor solução para acabar com uma guerra criminosa e mortífera, como aquela que está a decorrer na Ucrânia.

Defender a paz não é negar o direito de justa defesa de um povo agredido, nem o de levar a tribunal os responsáveis pelos crimes de guerra cometidos (de ambos os lados), nem o de condenar publicamente quem violou o direito internacional ao invadir um país soberano.

Contudo, o objectivo último é chegar o mais rapidamente possível a uma situação negociada que conduza à paz no terreno dessa guerra.

Sabemos que existem, na comunidade internacional, dois pesos e duas medidas, como vimos noutras guerras recentes ou que continuam, como na questão palestiniana, na destruição da Jugoslávia, na invasão do Iraque e do Afeganistão, na destruição do Líbano, da Síria,  da Líbia, e do Íemen, nas muitas guerras de África, com o desenvolvimento recente registado no Sudão.

Mas o objectivo final deve ser sempre o de obter a paz.

Claro que no caso da Ucrânia a questão é complexa, até porque não se pode beneficiar o infractor russo, residindo aqui uma das dificuldades em obter a paz.

Qualquer paz negociada deve ter no centro os interesses ucranianos em manter e recuperar territórios ilegalmente ocupados pelo invasor, alguns desde 2014.

Mas, com realismo, alguns desses territórios não podem ser recuperados nos anos (ou décadas) mais próximos.

Com realismo, a reconquista total dos territórios ocupados só será possível numa guerra ainda mais violenta, eventualmente com a entrada da NATO nessa guerra, com todas as consequências que isso acarreta para a paz no mundo e, mesmo, para a sobrevivência da vida humana.

Por isso é irrealista que, a curto ou médio prazo, a reconquistar do Donbass ou da Crimeia seja possível sem um banho de sangue, muito pior do que aquele vivido pela Ucrânia até hoje.

Isto não quer dizer que a situação no Donbass ou na Crimeia não tenha de ficar em aberto numa futura negociação, criando condições, quer para a futura autonomia desses territórios no seio do Estado Ucraniano, quer para um futuro referendo onde esses territórios possam decidir democraticamente o seu futuro (regiões autónomas dentro da Ucrânia, repúblicas integradas na Federação Russa ou mesmo a sua independência).

Um referendo desses, com todas as garantias, só pode ocorrer com acordo internacional, envolvendo a ONU, num futuro em que a Rússia tenha abandonado a sua politica imperialista e autocrática, e num futuro em que uma Ucrânia de facto democrática respeita a população russófona do seu território.

Todas essas condições parecem por agora impossíveis, mas tem de ficar em aberto em qualquer futura negociação de paz, sob o risco dessa mesma paz ser de pouca dura.

Por isso, mesmo com ambiguidades, falta de clareza, até de forma desajeitada ou injusta  para com uma das partes, é bom que, no meio do reforço da linguagem bélica dominante, que não vai levar a lugar nenhum, a não ser a mais destruição e sofrimento humano, a grandes negócios com a indústria do armamento, a um futuro cargo chorudo na estrutura da NATO, continuem a existir vozes a falar de paz.

Falar de paz, nos dias de hoje, é cada vez mais um dos últimos actos de coragem e sensatez, no meio do desvario geral provocado por esta guerra criminosa.