Hoje é o dia mundial da liberdade de pensamento.
Neste mesmo dia, em Cuba, o poder reforça a repressão sobre os que
defendem essa liberdade de pensamento, prendendo e reprimindo manifestantes,
impondo a censura, desligando a internet.
Não podemos defender a liberdade (ou as “liberdades”) em Portugal e
tentar justificar ou defender que ela seja negada em Cuba, com as mais variadas
desculpas.
Uma das desculpas é a defesa dos “feitos” do regime a nível social,
principalmente na saúde e na educação, como contrapartida para uma “aceitável”
falta de liberdade .
Por cá, vimos, recentemente, no “congresso das direitas”, argumentos parecidos para desculpar o
salazarismo, enaltecendo os seus “feitos” económicos.
Claro que não podemos negar o efeito nefasto de um criminoso embargo de
60 anos, imposto pelos Estados Unidos ao seu vizinho, embargo que, mais do que
penalizar as elites dirigentes, penalizou o povo cubano, servindo ainda de
alibi para a retórica do regime.
Sabemos que muitos políticos norte-americanos e ocidentais usam dois
pesos e duas medidas, não negando o apoio a regimes autoritários e ditatórias,
muitos deles bem mais sangrentos do que o Cubano, como aconteceu no passado com
o apoio de Saddam Hussein ou a Ossama Bin Laden, antes de estes lhes fugirem do
controlo, ou, actualmente, à Arábia
Saudita e a Israel, entre tantas outras “ditaduras convenientes”.
Também não podemos negar a falta de credibilidade de uma oposição
dominada pelos extremistas de Miami, sedenta de vingança, muitos deles ligados
ao crime organizado e entusiastas apoiantes de Trump.
Tudo o que essa gente tem para oferecer, como alternativa, é o apelo a
uma intervenção militar norte-americana.
Esperamos que os Estados Unidos e o “Ocidente” tenham aprendido com a forma desastrosa
como intervieram militarmente do Afeganistão, no Iraque, na Líbia e na Síria, em
nome da “defesa da democracia e da liberdade”. O resultado está à vista.
Esperamos também que a preocupação ocidental em relação aos cubanos, se
o regime cair, não seja a mesma que
tiveram com a Rússia depois da queda da União Soviética, que foi a de humilhar
os “vencidos” em vez de os ajudar, e, assim, “criaram” um Putin.
Seja como for, têm de ser os cubanos, os que vivem em Cuba e os
exilados, a resolver o problema do seu país, devendo o Ocidente, em vez de
acicatar ódios, tentar mediar as partes, para conseguir ainda uma transição
pacífica para a democracia, que salve as bandeiras sociais do regime, como a
saúde e a educação, evitando uma política de “terra queimada”, o que conduziria
Cuba a uma nova tragédia.
Mas nada disso desculpa a forma como o regime Cubano trata o seu povo,
quando este exige liberdade, democracia e respeito.
Em último caso, a culpa pela desgraça de um povo ou de um país, é
sempre dos seus governantes, sejam eles legítimos ou não.
Esperemos que, antes de agravar a repressão ou provocar um banho de
sangue, o regime tenha um momento de discernimento para ouvir as justas reivindicações
do seu povo, porque, apesar de tudo, Cuba não é a Coreia do Norte.
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