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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

PEDRAS ROLANTES : bem posicionado no site "Blogs Portugal"


Há cerca de um mês integrámos o nosso blog, Pedras Rolantes, e os outros três a ele associados, Vedrografias, A Forma e a Luz e Bêdêzine, no portal de blogues portugueses BLOGS PORTUGAL.

Neste momento esse é o maior portal de blogs de Portugal, onde hoje estavam inscritos mais de 25 mil blogues, dos quais cerca de 4 mil entram no ranking diário, substituindo o Blogómetro, que está em decadência (apenas com 500 blogues inscritos), devido às constantes falhas dos Sitemeter.

Em apenas um mês,  qualquer um desses quatro blogues por nós administrados, não só estão todos entre os 640 blogues mais visitados, num total de  25 mil, como todos eles estão no top ten da categoria em que estão inscritos, um deles ocupando o pódium há algum tempo.

Os blogs daquele portal estão distribuidos por 41 temas.

Pedras Rolantes estava hoje classificado na 182ª posição geral e em 4º lugar na temática "Outros", a quarta mais numerosa, com 354 blogues inscritos.

O blogue Vedrografias estava hoje classificado na 254ª posição do geral e no 3º lugar na temática "Cidade/Local", com 39 blogues inscritos.

A Forma e a Luz e o Bêdêzine, ambos inscritos no tema "Artes e Cultura" (com 113 blogues), ocupavam hoje, respectivamente,a 468ª e a 636ª posição geral e a 8ª e 10ª posição na sua temática.

É provável que a partir de agora essas posições se estabilizem, um pouco para cima ou para baixo. 

A todos os que nos têm seguido nesses blogues agradecemos a atenção que nos têm dado e que nos permitiu ocupar essas honrosas posições no panorama dos blogues portugueses.

Recordar Ansel Adams (1902-1984), fotógrafo e um dos primeiros ambientalistas

A FORMA E A LUZ: Recordar Ansel Adams (1902-1984), um dos primeiros...: Pianista de formação, Ansel Adams (site oficial AQUI )  decidiu dedicar-se à fotografia quando visitou e fotografou pela primeira vez o parque nacional californiano de Yosemite (clicar para ler mais)

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Assumo o apoio ao XXIº governo constitucional, com pragmatismo, sem ilusões, livremente e com sentido critico.


É a primeira vez que declaro, desde o primeiro momento,  apoio a um governo constitucional.
Antes tive especial simpatia pelo curto governo de Maria de Lurdes Pintasilgo e pelo primeiro governo de António Guterres, este apenas à posteriori.

Por contraste, os piores governos constitucionais que, na minha opinião, passaram por Portugal, os responsáveis pela grave situação social e económica em que vivemos, foram os governos de maioria absoluta de Cavaco Silva, esbanjando fundos em consumo, consolidado no "modelo  ideológico" do "patobravismo", e na corrupção do sistema financeiros,  o de José Sócrates, pelo descalabro financeiro a que conduziu  o país e por ter aberto as portas ao modelo e ao discurso “austeritário” e, pior ainda, o governo de Passos Coelho, que combinou o pior daqueles dois governos, mas lançando ainda  portugueses contra portugueses, aumentando os níveis de desemprego, falências, pobreza e desigualdade, que fizeram o país regredir décadas.

Não tenho ilusões sobre a continuidade de medidas de austeridade, mas penso que é tempo de essa austeridade não ser aplicada à custa do Estado Social, dos salários e das pensões.

Há que ter coragem e aplicar a austeridade aos verdadeiros privilegiados, àqueles que lucraram com a crise e aos muitos que pouco sentiram na pele as consequências dessa crise .

Como se vê pelos lucros dos sectores de especulação financeira e de algumas grandes empresas, pelos salários pagos a gestores de topo, pelas sete mil pensões de mais de cinco mil euros mensais (que custam ao país 500 milhões por ano), pelo parque automóvel em circulação na àrea de Lisboa, há muito espaço para a “austeridade”.

No combate à corrupção e à fraude fiscal sobra também muito espaço para ir buscar meios financeiros para uma política diferente em termos sociais e salarias.

Basta levar até ao fim investigações como os “Vistos Gold”, o BES, o BPN e o BPP, os “submarinos”, o recurso a off-shores para fugir ao fisco, sem abandonar a pressão sobre o “caso Sócrates”, para ir buscar muito dinheiro, ao mesmo tempo que se pode contribuir para moralizar a vida política.

Depois, como se viu com a acção do Tribunal Constitucional, que conseguiu travar o agravamaento das medidas de austeridade aplicadas exclusivamente sobre os salários, os rendimentos do cidadãos e as pensões, reduzir a pressão sobre o factor trabalho e sobre a classe média pode contribuir para os resultados económicos deste último ano, mérito, convém recordar, daquele tribunal e não de qualquer medida do governo deposto. Se este tivesse aplicado as medidas que preconizava o resultado não teria sido de melhoria, mas de trágico agravamento da situação social e económica.

Recuperar o poder de compra, melhorar a vida das classe médias, desagravar as situaçãos dramáticas de pobreza de atingem cerca de  30% da população por causa de pensões de miséria, salários indignos ou do desemprego, reduzir o desemprego, aliviar a situação fiscal e financeira das pequenas e médias empresas, onde está quase 90% do emprego, é a única forma de  contribuir para aumentar o PIB e com isso reduzir o deficit e a dívida pública que aumentaram dramáticamente com o modelo “austeritário” aplicado pelo último governo.

Não tenho ilusões que o caminho é difícil, vai encontrar o boicote permanente por parte do Presidente da República, enquanto o puder fazer, vai encontrar pela frente uma direita neoliberal radicalizada, uma comunicação social maioritariamente refém dos grandes interesses financeiros e controlada politicamente por essa mesma direita, onde pontificam maioritáriamente como comentadores os pequenos gobelzinhos da propaganda “austeritária”, e vai ter pela frente uma instituição não democrática, cada vez mais isolada na Europa, mas ainda com muito poder, como o eurogrupo, para além da pressão das corruptas e eticamente reprováveis agências de rating.

Existem algumas condições que podem aliviar um pouco a pressão sobre este governo e permitir que realize as verdadeiras reformas estruturais que sirvam os portugueses e o país:

- que a esquerda não se deixe fascinar pela proximidade do poder e saiba ter alguma paciência e pragmatismo, de modo a não criar, nem falsas expectativas no imediato, nem grandes conflitos de poder ;

- que, externamente, as eleições em Espanha corram de feição para a esquerda espanhola;

- que a Alemanha e o Eurogrupo, que se vão ver brevemente confrontadas com o impacto do modelo austeritário que tentaram impor, com os trágicos resultados socias e económicos que se registam na Europa, se apercebam,rapidamente, para salvarem o euro e a Europa,  do seu erro, baixando a arrogância dos seus actos e afirmações. A Alemanha , aliás, vais ser a primeira a ter de mudar, se quiser sobreviver a prazo como motor económico da Europa, pois vai ter de se confrontar com o impacto do escândalo VW, com a estagnação da sua economia e com a situação dos refugiados;

- que no eurogrupo os países do sul se batam pela igualdade de tratamento em relação ao euro, que só pode funcionar com a uniformidade dos salarios, dos preços, dos impostos e das pensões no seio de países da eurozona. Se se impõe a uniformidade do deficit nos 3%, as diferenças a aplicar em termos salariais, de preços,de  impostos e de pensões no seio dos países que usam a mesma moeda, também se deve aproximar dos mesmos 3%;

- que se mantenha a pressão, junto das instituições europeias, para o cabal esclarecimento do “luxleaks” e para  exigir o fim de paraísos fiscais no seio de países da União Europeia, situação que muito tem contribuído para as desigualdades entre países do norte e do sul;

A resolução de alguns desses problemas serão muito mais urgentes do que uma rápida reposição de salários e pensões, pois, a prazo, pois podem contribuir para a melhoria geral das condições de vida das populações.

Sabemos todos que o anterior governo deixou o terreno armadilhado para o seu sucessor, pois teve dois meses para o fazer, contando ainda com o apoio do Presidente da República, mas penso que a atitude dos que apoiam este governo deve passar por chamar à assembleia os responsáveis pelas armadinhas que forem descobrindo, como o fizeram ainda ontem em relação à grande fraude que foi a promessa de reembolso da sobretaxa de  IRS.

Por tudo o que acabo de dizer, apoio este governo, mas sem ilusões e com total liberdade critica.

A BANDA DESENHADA EM DESTAQUE NO COMIC CON PORTUGAL 2015

BêDêZine: A BANDA DESENHADA EM DESTAQUE NO COMIC CON PORTUGA...: Nos próximos dias 4, 5 e 6 de Dezembro vai realizar-se mais uma vez o “ COMICCON PORTUGAL ” na  Exponor em Matosinhos. (clicar para ler mais)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Carlos Miguel -Um Torriense no governo da nação

Síria: “Moderados”, apoiados pelo ocidente, cometem e gabam-se de crime de guerra

(fotografia de alguns dos criminosos de guerra, mostrando restos do pára-quedas do piloto russo abatido)

Devo confessar que fiquei perplexo ao ver, na terça-feira à noite, o comandante de um grupo, dito “moderado”, apoiado pela Turquia e pelos Estados Unidos, que combate o Assad na Síria, gabar-se de ter disparado sobre pilotos russo que se tinham ejectado de um avião abatido, em circunstâncias ainda por esclarecer.

Desde a segunda-guerra mundial que disparar sobre pilotos aviadores que se ejectam de pára-quedas depois dos seus aviões serem abatidos é considerado um dos piores crimes de guerra, o mesmo acontecendo quando se assassinam prisioneiros de guerra.

Essa notícia foi confirmada pelas notícias ontem e hoje publicadas na imprensa escrita e pelas imagens em baixo reproduzidas.

Um dos pilotos conseguiu escapar e acabou por ser resgatado. O outro morreu, abatido quando ainda descia de pára-quedas.

Os terroristas que praticaram esse acto bárbaro não pertencem , nem á Frente al-Nasura, braço armado da Al-Qaeda na Síria, nem ao auto-proclamdo “estado islâmico”, mas às milícias turcomanas Alwiya al-Ashar, armadas e apoiadas pela Turquia, pelos Estados Unidos e pela NATO.

Fiquei ainda mais perplexo quando, em conferência de imprensa, o porta-voz da NATO, não só não condenou esse acto bárbaro, como o tentou justificar.

Este acontecimento vem assim dar razão ao ditador Assad e a Putin, quando afirmam que todas as milícias que combatem o governo sírio são terroristas e devem ser combatidas como tal e por igual. 

Aguarda-se agora que a ONU desencadeei os mecanismos habituais para levar aquele comandante e aquelas milícias a tribunal de guerra.

A Prova do crime de Guerra:

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O meu 25 de Novembro de 1975


O que aqui escrevo hoje, escrevo de memória e ao correr da pena, não é  um ensaio histórico, é apenas a minha visão, pelo que pode conter algumas ligeiras incorrecções temporais.

Para falar do “meu” 25 de Novembro é necessário recuar um pouco no tempo.

Todo o período entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro apanhou-me numa idade muito especial, entre os 18 e o 19 anos, uma idade que, em qualquer época e geração, é uma idade de descobertas e de utopia, situação que potenciou muito a esperança e a utopia desse período, que foi marcante para o destino da minha geração.

Para essa geração não havia ainda uma componente ideológica muito assumida, não havia uma grande consciência política ou das consequências económicas e sociais provocadas por um período de grande euforia e criatividade, avesso a qualquer lógica de poder e onde dominava o voluntarismo em todas as atitudes.

Também não trazíamos connosco as velhas rivalidades históricas no seio da oposição ao Estado Novo, entre republicanos e comunistas, comunistas e maoistas, e entre todos estes e os socialistas, sem esquecer os trotskistas, os anarquistas, os guevaristas .Estas só começaram a vir ao de cima ao longo do desenrolar do processo revolucionário.

Também não tínhamos uma  grande consciência sobre os impactos da Guerra Fria, cujos representantes se movimentavam na sombra e já eram marcantes nas decisões dos grandes partidos surgidos da revolução (PSD e CDS)  ou saídos da clandestinidade(MDP, PCP, PS).

Para a minha geração, educada no autoritarismo do Estado Novo, cujo destino cada vez mais próximo era ir combater nas colónias ou, entre os mais esclarecidos, exilar-se na Europa para fugir à tropa, o 25 de Abril surgiu como libertação desses medos e sempre associado à total liberdade, em oposição ao clima opressivo, no quotidiano, nas relações sociais e na cultura, que se vivia com o salazarismo.

Ao longo desse período a minha vida cruzou-se em várias realidades, uma como estudante do liceu e membro activo da sua associação de estudantes, outra como membro activo do Cine-clube local, actividade que vinha de antes do 25 de Abril, desde 1973 e outra como um jovem que despertava para a realidade política, esta também iniciada nos finais de 1973 participando activamente e na clandestinidade na organização local do MDP-CDE, colaborando com o PCP, mas não militando nesse partido.

Considerava-me então social-democrata e nutria alguma admiração por Mário Soares, pelo que aderi ao PS logo a seguir ao 25 de Abril, em Junho de 1974.

Se os primeiros meses foram de grande euforia e de grande voluntarismo, o tal “dia inicial inteiro e limpo” tão bem descrito por Sophia De Mello Breyner Anderson, a partir dos princípios de 1975, mas principalmente a partir do 11 de Março, a ingenuidade política começou a perder-se e as clivagens e conflitos começaram a avolumar-se, tendo como pano de fundo a radicalização do confronto político pelo poder entre os grandes partidos políticos e no seio dos próprios militares .

Nos finais de 1974 comecei a entrar em ruptura com o PS e, em Janeiro de 1975, acompanhei a saída de Manuel Serra, que, no primeiro congresso do Partido Socialista na legalidade, realizado em Dezembro de 74, havia perdido a sua candidatura à liderança do partido para Mário Soares.

Aderi então a um dos poucos partidos da esquerda radical que não era stalinistas, e trazia em si uma imagem romântica, a LUAR de Palma Inácio, que muitos consideravam que era uma espécie de “braço armado” do PS.

Devo dizer que só vi uma arma por uma ocasião, numa noite do verão de 75, onde se anunciava um golpe de estado iminente e nos “preparámos” para nos defendermos, passando uma noite em claro na “Galeria 70” com uma pistola, que nunca soube se estava carregada ou não, que eu mexia a medo, receando que disparasse por si, e que ficou á minha guarda até que, no principio da madrugada, um responsável da organização, conhecido por Fernando Belga, e que se deslocava num Porche de matrícula belga, a veio recolher, já que o tal golpe de Estado da direita não tinha tido lugar.

A situação política começou a azedar-se ao longo do ano de 1975, a sociedade dividiu-se em quatro grande tendências, a tendência terrorista de direita, do MDLP e do ELP, a tendência “democrática”, legitimada pelas eleições Constituintes de 25 de Abril de 1975, do PS, PSD e CDS, liderada por Mário Soares , com o apoio do embaixador dos Estados Unidos e da “europa” democrática, e à qual se juntou o chamado “Grupo dos Nove”, formalizado em Agosto de 1975 sob a liderança de Melo Antunes, a tendência "comunista", MDP , PCP e CGTP, organizada à volta de Vasco Gonçalves, e a tendência “esquerdista” e “revolucionária”, que juntava vários grupúsculos da esquerda radical, à volta de Otelo Saraiva de Carvalho, sendo nesta tendência que eu e a Luar então gravitávamos. Havia ainda outras tendências menos significativas, mas bastante activas e barulhentas, os maoistas do PCP(m-l) e do MRPP, para além dos anarquistas, um grupo já muito envelhecido e pouco activo, com quem tive alguns contactos, nomeadamente como assinante de "A Voz Anarquista"  e do jornal "A Batalha", tendo conhecido o velho e histórico Emídio Santana, célebre pelo atentado contra Salazar em 1937.

O Verão de 1975 foi vivido sob constantes rumores de golpes e contra-golpes, com manifestações de rua cada vez mais descontroladas e violentas, com a extrema-direita muito activa, desencadeando vários ataques bombistas, assassinatos políticos e destruição de sedes de partidos de esquerda .

Em 8 de Agosto de 1975 tomou posse o V governo provisório, liderado por Vasco Gonçalves, com a oposição frontal do PS e dos partidos à sua direita e no qual, pela primeira vez, não participava nenhum representante do PS ou do PSD. Também não participava nenhum elemento de topo do PCP, embora fosse apoiado por este partido.

Se olharmos para a composição desse governo ficamos perplexos com a s acusações que sobre ele recaiu de “extremismo de esquerda”. Nela participaram figuras como Mário Ruivo, Mário Murteira, ou Pereira de Moura, ou ainda o conhecido economista, recentemente falecido José da Silva Lopes.

Esse governo, o único verdadeiramente “gonçalvista”,  durou pouco mais de um mês, sendo derrubado em 19 de Setembro e substituído por aquele que seria o último governo provisório, liderado por Pinheiro de Azevedo e com a participação activa do PSD e do PS.

Os meses que se seguiram à tomada de posse deste VIº governo foram de grande vertigem política e de grande radicalismo, uma luta cada vez mais acesa entre a “esquerda” , que fugia cada vez mais ao controle do PCP, e a “direita” que se mostrava cada vez mais agressiva .

A contagem de armas entre as três facções militares do MFA, “otelistas”, “gonçalvistas” e “melo-antunistas”, pareciam conduzir o país para a guerra-civil ou para um golpe militar.

Pessoalmente, comecei nessa altura a desiludir-me com  a vida política e a “fechar-me” mais noutro tipo de actividades, mais ligadas à vida cultural. Por outro lado, tinha acabado o liceu e iniciava um período de “travessia no deserto”, que durou até Outubro de 1976, e de espera para entrar na faculdade, pois tinha sido criado um ano de interregno para entrar no ensino superior, o chamado “serviço cívico”, que daria lugar, mais tarde, ao “ano propedêutico” e que “corresponde” ao actual 12º ano.

Pessoalmente sofreria um drama pessoal com o falecimento do meu pai, no dia 9 de Outubro de 1975, o que muito me destabilizou emocionalmente .

Durante algumas semanas, após o falecimento do meu pai, isolei-me voluntariamente de quase tudo, voltando à actividade cultural e política em  meados de Novembro, indo cair numa realidade cada vez mais tenebrosa e perigosa.

O mês de Novembro de 1975 foi fértil em acontecimentos preocupantes.

Entre 11 e 13 de Novembro os trabalhadores da construção civil cercaram a Assembleia Constituinte, exigindo aumento de salários, abandonando o cerco depois do governo ceder às suas reivindicações, mas deixando grandes marcas no clima crispado que então se vivia.

Depois de termos assistido a um governo que mandou fazer rebentar uma bomba no retransmissor da Rádio Renascença, que tinha sido há meses ocupada por trabalhadores conotados com a esquerda radical, esse mesmo governo, liderado por Pinheiro de Azevedo toma uma decisão mundialmente inédita, entra em “greve” suspendendo a sua acção, em protesto contra a oposição que lhe é feita nas ruas, isto no dia 20 de Novembro.

No dia seguinte, Otelo Saraiva de Carvalho é destituído de comandante da Região Militar de Lisboa, substituído por um homem dos “nove”, Vasco Lourenço, o que é visto como uma provocação pelos sectores militares mais à esquerda.

Também, por essa altura, o chefe do Estado maior da Força Aérea, Morais da Silva, decide passar à disponibilidade mil militares pára-quedistas de Tancos, o que provoca grande descontentamento nesta unidade, conhecida por ter sido apoiante de Spínola no golpe de 11 de Março, mas que agora estava virada à esquerda.

Na noite de 24 de Novembro, antecipando-se ao golpe de estado eminente, a CAP, ligada à extrema direita, corta as estradas de acesso a Lisboa na zona de Rio Maior.

Este foi um episódio nunca devidamente esclarecido e comprometedor para a narrativa dos que defendem que o 25 de Novembro resultou de uma conspiração da esquerda.

Este acto é uma das provas que o 25 de Novembro não foi um golpe perpetrado pela “esquerda”, de forma pensada e ponderada, mas que teve origem no objectivo do sector “moderado” do MFA de levar a esquerda  militar a cair na armadilha da provocação.

E foi isso que aconteceu no dia 25 de Novembro, quando os pára-quedistas, descontentes com a decisão de Morais e Silva, resolvem ocupar Tancos e várias bases aéreas.

Reagindo, mais na defensiva do que num qualquer movimento de tomada de poder revolucionários, várias unidades militares conotadas com a esquerda ocuparam posições. O RALIS toma posições em Lisboa, a Escola Prática de Administração Militar ocupa a RTP e a Polícia Militar toma a Emissora Nacional.

Mas não recebem, nem o apoio de Otelo, retido entretanto pelo Presidente Costa Gomes em Belém, nem do PCP, que, embora de prevenção, se recusa a mobilizar os seus militantes para qualquer acção revolucionária ou golpista.

Costa Gomes decreta o Estado de Sítio em toda a região militar de Lisboa.

Entregues a si próprios, os militares que caíram na armadilha são rapidamente dominados, pois o “grupo do 9” tinha tudo preparado para aproveitar qualquer passo em falso da esquerda militar para tomar conta da situação e conseguir afastar de vez qualquer hipótese de tomada do poder por revolucionários.

O acontecimento mais sangrento aconteceu no dia 26, quando os comandos da Amadora, liderados por Jaime Neves, assaltaram o Regimento de Polícia Militar na Ajuda, provocando 3 mortos. A atitude de Jaime Neves, que terá agido por conta própria, contrastou com a de Ramalho Eanes que resistiu aos apelos de sectores da direita para bombardear as unidades de Lisboa.

Neste mesmo dia Melo Antunes trava a tentativa de aproveitamento revanchista da direita, declarando que o PCP era “indispensável à consolidação da Democracia”.

Pessoalmente, embora o ambiente fosse escaldante, de pré guerra civil, e frequentes os rumores de golpes de estado eminentes, fui apanhado de surpresa pelos acontecimentos desse dia que, inicialmente, encarei como mais uma mera manifestação de desagrado de sectores da extrema esquerda militar pela demissão de Otelo.

Ao longo do dia, entretanto, fui-me apercebendo que algo de mais grave se passava e recordo-me que, no início da noite, passando na Avenida 5 de Outubro, já não me lembro de/ou para onde ía, passar frente ao café Vera Cruz, situado frente ao local onde hoje está a Câmara Municipal de Torres Vedras, toda a gente virada para a televisão onde falava Duram Clemente e de repente este dizer que lhe estavam a fazer sinal, que a emissão tinha de ser interrompida e, de repente,  todo o écran ficar escuro e a  RTP passar a exibir um filme, para grande alegria dos que estavam nesse café, muito frequentado por gente da direita, alguns até, dizia-se, ligados ao MDLP.

Nessa noite, e perante a censura à imprensa então imposta, lembro-me que o pessoal da minha área se juntou na sede da UDP, o único partido da esquerda radical que possuía sede em Torres Vedras, situada no inicio da escadaria da rua dos Cavaleiros da Espora Doura, que dava acesso ao Castelo.

Não era militante da UDP, continuava ligado à LUAR,  mas tinha aí amigos que me tinham acompanhado na associação de estudantes no ano lectivo de 1974/75. Esta associação tinha, no inicio de 1975, sido vencedora das eleições contra um lista da UEC (do PCP), e tinha sido formada por uma coligação de gente de vários grupúsculos de esquerda para onde tinham ido muitos antigos militantes dissidentes  da Juventude Socialista, reunindo gente anarquista, do MRPP, da futura UDP, trostskistas, da LUAR, do PRP e outros sem filiação e com o apoio, não declarado, das juventudes do PSD e do CDS, que votaram na nossa lista.

Como a única informação que rompia a censura eram os comunicados da UDP, participei na distribuição, ao longo dessa noite de 25 de Novembro, pelas ruas de Torres Vedras , dos comunicados desse partido, com a sua versão dos acontecimentos.

Lembro-me de um episódio que me surpreendeu.

Fui distribuir esses panfletos no café Avenida, no final da Av. 5 de Outubro, onde hoje está o prédio com o túnel de ligação entre essa avenida e o Largo da Graça, e que era um café frequentado maioritariamente por gente do PCP, julgando que esse partido estava do mesmo lado do resto da esquerda, mas, para grande surpresa minha, fomos recebido com hostilidade, o que me levou a concluir que o PCP nada tinha a haver com o 25 de Novembro. Soube-se mais tarde que o PCP já se tinha comprometido em nada fazer nesse dia.

No dia seguinte, dia 26,  as notícias continuavam escassas e, à noite, junto ao Largo do café Império, onde me costumava encontrar com o pessoal amigo, alguns de nós resolvemos ir a Lisboa para saber o que se passava. Tínhamos de voltar cedo por causa do recolher obrigatório, mas lá partimos, num carro conduzido pela Guilhermina, nossa amiga e  professora no liceu, um Fiat 127, salvo erro de cor avermelhada, eu, o Carlos Ferreira, e o saudoso Jorge Barata.

Devemos ter partidos pouco depois das oito horas da noite. A viagem para Lisboa levava então cerca de hora e meia, não havia auto-estrada. Chegados a Lisboa, pouco depois das nove da noite, fomos a casa de um amigo da Guilhermina, o Carlos Godinho, que vivia na rua Actor Taborda , perto do Saldanha. Aí recolhemos mais informações, não sei se alguns documentos para distribuir em Torres e metemo-nos à estrada, já eram quase onze da noite, um pouco preocupados porque só chegaríamos a Torres depois da meia-noite, já com o recolher obrigatório em vigor.

Quando entrámos em Loures, numa curva pronunciada, junto ao posto da policia de viação, onde hoje há o desvio para a A8, junto ao jardim, o carro começou a derrapar porque havia uma fuga de água que atravessava o asfalto nesse sítio e o Barata, que segui ao lado do condutor, assustado, puxou o travão de mão e o carro começou a entrar em pião só parando contra uma árvore. A Guilhermina desmaiou com traumatismo na cabeça, eu parti a cabeça, os outros ficaram apenas aturdidos.Escusado será dizer que nessa altura ninguém usava cintos de segurança.

Quando chegou a ambulância já estávamos todos fora do carro, a Guilhermina já tinha acordado e fomos levados para o Hospital de Santa Maria. Aqui a Guilhermina, como tinha desmaiado, teve de ficar internada, eu fui cozido na cabeça  com 5 pontos, e deram-me alta juntamente com o Carlos e o Barata.

Só que agora tínhamos um problema. Lisboa já estava sob recolher obrigatório e não havia transportes.  O polícia de plantão no hospital não nos deixou telefonar para casa e só se comprometeu em telefonar para que uma ambulância nos viesse buscar para nos deixar nalgum sitio em Lisboa. Nós só conhecíamos um lugar, a casa do Carlos Godinho, mas também não lhe podíamos telefonar. O Policia lá mandou vir a ambulância.

Estávamos eu, o Carlos e o Barata sentado no lado de fora das urgências do hospital, quando entra uma ambulância em grande velocidade e a apitar muito, tendo eu comentado “vem aí alguém muito mal”. Para grande surpresa nossa sai o condutor da ambulância a perguntar “onde estão os feridos para levar?”. Olhámos uns para os outros e dissemos: “Ah!! Devemos ser nós!!!”. O polícia deve ter-se explicado mal no telefonema que fez, pois os homens da ambulância esperavam alguém em pior estado e ficaram aborrecidos connosco, mas lá nos levaram à casa do Carlos Godinho.

Atravessámos a cidade de Lisboa, entre o Hospital de Stª Maria e a Rua Actor Taborda, atravessando o Campo Grande, o Campo Pequeno e o Saldanha, conseguindo ver,  atrás das janelas da ambulância, a grande quantidade de  tanques,  carros militares e tropas que estavam nas ruas, com  a ambulância sempre a apitar para não serem parados pelo exército.

Ainda antes de nos deixarem na casa do Carlos Godinho, fomos à sede da “Ordem de Malta” aí perto, à qual pertencia a ambulância,  para poder telefonar para casa, já que só se podia fazer um telefonema. Falei com a minha mãe e pedi-lhe  para avisar o pai do Carlos  e a mãe do Barata, mas, como o recolher obrigatório já estava a decorrer  também em Torres Vedras, a minha mãe só pode avisá-los na manhã seguinte. Era esta a situação numa época em que não havia telemóveis.

Lá fomos na ambulância para casa do Carlos Godinho que nos recebeu com surpresa, pois também não o tínhamos podido avisar.

No dia seguinte de manhã, andámos por Lisboa, antes de apanhar o comboio para Torres e lembro-me que avida nas ruas decorria com a normalidade do costume, só com a interrupção frequente dos voos rasantes dos aviões militares, os célebres "Fiat's".

Regressados a Torres, na noite do dia 27, ainda andámos a vender as edições proibidas do jornal “República” , então ocupado por trabalhadores da esquerda radical, rompendo com a censura geral à imprensa.

Neste mesmo dia Ramalho Eanes é nomeado Chefe de Estado-Maior do Exército.

Reconheço que tememos pelo desenlace desse momento. Ver Ramalho Eanes de óculos escuros, fazendo lembrar Pinochet, ao lado de um cowboy camuflado, Jaime Neves, remetia-nos para o pior dos cenários.

Felizmente havia um Melo Antunes e um Costa Gomes que souberam evitar qualquer revanchismo da direita e o próprio Ramalho  Eanes, apesar da sua figura, que na altura nos parecia algo sinistra, era um militar responsável e moderado.

O Estado de Sítio foi levantado a 2 de Dezembro.

A pouco e pouco tudo voltou à normalidade e a democracia prosseguiu o seu caminho de consolidação.

Em 1976 realizaram-se eleições legislativa, eleições municipais e Ramalho Eanes foi eleito Presidente da República.

Há muito que o “dia inicial, inteiro e limpo” se tinha transformado num “dia penoso, esfrangalhado e muito escuro”, à beira do precipício, e o 25 de Novembro foi o resultado óbvio desse final de “festa”.

Hoje, a esta distância, reconheço que o 25 de Novembro foi um momento necessário para a consolidação da democracia e para se evitar que o país tivesse entrado em guerra civil ou se desse um golpe militar sangrento  ao estilo da América Latina.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

TENHAM LÁ CALMA !!! (Parte 5) – É só mais um governo do PS!


A histeria que se apoderou da direita nestes dois últimos meses, alimentada pela atitude presidencial, pode abrandar a partir de agora…ou não!

Pelo menos estes meses contribuíram para a direita tirar a máscara e mostrar o seu lado mais trauliteiro.

Mas sejamos realistas: o que António Costa vai formar é apenas mais um governo do PS, na linha ideológica e programática habitual nesse partido.

Não foi o PS que virou à esquerda.

O que aconteceu é que foi a direita que, nestes últimos quatro anos, virou demasiado à direita, deixando o centro político desguarnecido e, no caso do PSD, abandonando os valores social-democratas do seu fundador.

O PS não se moveu, continua no centro-esquerda onde sempre esteve.

O que aconteceu também é que, à esquerda do PS, o PCP e o Bloco de Esquerda perceberam que é preferível  encarar  de forma pragmática um governo PS, igual a tantos outros, a continuar a aturar um governo de direita que fez o país recuar décadas .

Como se diz, os partidos à esquerda do PS perceberam, finalmente, que mais vale "um pássaro na mão" do que dois (Coelho e Portas...??) a voar..

PCP e BE podem continuar a ser a “reserva moral” da esquerda, mas devem agir com pragmatismo, para não deitarem tudo a perder.

O que é agora fundamental é recuperar o país, a sua economia e a sua sociedade, aproximando o país dos níveis europeus, retirando a iniciativa à direita que estava a conduzir o país para o empobrecimento, a desigualdade e o desrespeito pelo direito dos cidadãos a uma vida melhor e que andaram a virar portugueses contra portugueses para melhor "reinarem".

Para isso não é prioritário nem necessário à esquerda romper com quaisquer compromissos  internacionais, como a direita trauliteira anda por aí a meter medo ao povinho.

Basta aperfeiçoar e rentabilizar o aparelho de Estado, valorizar o económico e social em detrimento do poder financeiro, combater a fuga ao fisco, penalizando fortemente as empresas que recorrem a off-shores , combater a corrupção, levando até ao fim as investigações sobre o BES, o BPN , os “submarinos” e outros casos que envolvem a velha classe política portuguesa (à direita e à esquerda, diga-se em abono da verdade...), melhorar as condições de trabalho e de produção para fazer subir o PIB e, deste modo, reduzir o deficit e a dívida.

Ao mesmo tempo, basta ir para as instituições europeias defender o país e os seus cidadãos, abandonando a postura subserviente dos últimos anos, e ganhar poder negocial.

É só aproveitar as mudanças que se estão a observar na Europa, em vez de se tentar ser o aluno bem comportado que até ía “além da troika”.

E é “fazer figas” para que o poder político em Espanha mude de mãos.

Agora é preciso  é calma e, da parte da esquerda, pragmatismo e …juizinho.


Contra o Terrorismo: GRAND-PLACE (Bruxelas), um espaço de Liberdade















O “terceiro-mundismo” de alguns comentadores da direita neoliberal


São legitimas as dúvidas, as desconfianças e as divergências , à esquerda e à direita, sobre a hipotética formação de um governo de “esquerda”.

Infelizmente, contudo, os termos em que essas dúvidas e desconfianças têm sido formuladas por muitos cronistas e comentadores da direita  neoliberal, roça a intolerância, o fanatismo , a boçalidade e a ignorância, distorcendo o uso de argumentos.

Já assistimos à gestação de uma novilíngua dessa direita revanchista ao longo destes últimos anos, invertendo o significado das palavras, no sentido de ajudar à sua argumentação ou de as esvaziar da sua força .

Inverteram o significado de palavras, como aconteceu como o “irrevogável”, transformaram o “reformismo” num método de “destruição criativa” dos equilíbrios sociais conquistados em democracia ,tornando-o sinónimo de “contra-revolução” neoliberal , substituíram a designação “trabalhador” por “colaborador”, para melhor desvalorizarem o factor trabalho, tudo embrulhado numa bem orquestrada e oleada campanha propagandística.

Agora vêm, mais uma vez, distorcer o significado de uma classificação,  a classificação de “terceiro-mundo”, ao considerarem que a formação de um governo de esquerda que advogue uma alternativa ao modelo “austeritário” vigente imposto pela “troika”  , apoiado em partidos que “contestam” as “regras” antidemocráticas das instituições europeias, que questionam a “bondade” do euro, que discutem  outras alternativas de relacionamento internacional que não passe em exclusivo pelo “ocidente", é uma atitude “terceiro-mundista”.

Aprendi a identificar, como características do “terceiro mundo”,  as tremendas desigualdades sociais, o desrespeito pelos mais básicos valores sociais e democráticos,  os enormes níveis de pobreza, a corrupção das sua elites, os altos níveis de desemprego, a grande desregulação do trabalho, sem direitos nem regras e pago miseravelmente.

Ora, se assistimos  nos últimos tempos  a um verdadeiro retrocesso “terceiro-mundista” foi nos países europeus, em especial nos da  zona euro, que aplicaram as regras “austeritárias” impostas por instituições não democráticas .

Esse retrocesso “terceiro-mundista” tem sido bem evidente em Portugal, onde não param de crescer as desigualdades sociais, onde o empobrecimento gerado pelo aumento do desemprego e pelos cortes em salários e nas pensões, não pára de se agravar e atingir cada vez mais camadas da população, levando o país para níveis de emigração que já ultrapassam os piores tempos da década de 60, onde os direitos sociais atiram o país para níveis verdadeiramente terceiro-mundistas.

E é contra esta deriva “terceiro-mundista” que se manifesta a esquerda europeia e a portuguesa.

Portanto, se existe alguém que está a conduzir o país para o “terceiro-mundo” é esta  direita neoliberal e revanchista,  defensora entusiástica do modelo “austeritério” , que nos tem governado estes últimos anos, na Europa e em Portugal,  com o apoio propagandístico  desses comentadores e cronistas que agora usam e abusam da classificação “terceiro-mundo”, em mais uma das suas campanhas de branqueamento político.

Enfim…comentadores do “terceiro-mundo”…