São legitimas as dúvidas, as desconfianças e as divergências , à
esquerda e à direita, sobre a hipotética formação de um governo de “esquerda”.
Infelizmente, contudo, os termos em que essas dúvidas e desconfianças
têm sido formuladas por muitos cronistas e comentadores da direita neoliberal, roça a intolerância, o fanatismo
, a boçalidade e a ignorância, distorcendo o uso de argumentos.
Já assistimos à gestação de uma novilíngua dessa direita revanchista ao
longo destes últimos anos, invertendo o significado das palavras, no sentido de
ajudar à sua argumentação ou de as esvaziar da sua força .
Inverteram o significado de palavras, como aconteceu como o “irrevogável”,
transformaram o “reformismo” num método de “destruição criativa” dos equilíbrios
sociais conquistados em democracia ,tornando-o sinónimo de “contra-revolução”
neoliberal , substituíram a designação “trabalhador” por “colaborador”, para
melhor desvalorizarem o factor trabalho, tudo embrulhado numa bem orquestrada e
oleada campanha propagandística.
Agora vêm, mais uma vez, distorcer o significado de uma classificação, a classificação de “terceiro-mundo”, ao
considerarem que a formação de um governo de esquerda que advogue uma
alternativa ao modelo “austeritário” vigente imposto pela “troika” , apoiado em partidos que “contestam” as “regras”
antidemocráticas das instituições europeias, que questionam a “bondade” do euro,
que discutem outras alternativas de
relacionamento internacional que não passe em exclusivo pelo “ocidente", é uma
atitude “terceiro-mundista”.
Aprendi a identificar, como características do “terceiro mundo”, as tremendas desigualdades sociais, o
desrespeito pelos mais básicos valores sociais e democráticos, os enormes níveis de pobreza, a corrupção das
sua elites, os altos níveis de desemprego, a grande desregulação do trabalho,
sem direitos nem regras e pago miseravelmente.
Ora, se assistimos nos últimos
tempos a um verdadeiro retrocesso “terceiro-mundista”
foi nos países europeus, em especial nos da zona euro, que aplicaram as regras “austeritárias”
impostas por instituições não democráticas .
Esse retrocesso “terceiro-mundista” tem sido bem evidente em Portugal,
onde não param de crescer as desigualdades sociais, onde o empobrecimento gerado
pelo aumento do desemprego e pelos cortes em salários e nas pensões, não pára de
se agravar e atingir cada vez mais camadas da população, levando o país para
níveis de emigração que já ultrapassam os piores tempos da década de 60, onde
os direitos sociais atiram o país para níveis verdadeiramente terceiro-mundistas.
E é contra esta deriva “terceiro-mundista” que se manifesta a esquerda
europeia e a portuguesa.
Portanto, se existe alguém que
está a conduzir o país para o “terceiro-mundo” é esta direita neoliberal e revanchista, defensora entusiástica do modelo “austeritério”
, que nos tem governado estes últimos anos, na Europa e em Portugal, com o apoio propagandístico desses comentadores e cronistas que agora usam
e abusam da classificação “terceiro-mundo”, em mais uma das suas campanhas de
branqueamento político.
Enfim…comentadores do “terceiro-mundo”…
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