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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Tenham lá calma! (Parte II) …os comunistas “já” não “comem criancinhas”…mas há quem ande a comer a comida das “criancinhas”…


Se, por um qualquer absurdo digno dos Monty Python, os únicos “documentos” históricos que sobrassem para escrever a história portuguesa deste último mês fossem as crónicas de um Vasco Pulido Valente, de um António Barreto , de uma Fátima Bonifácio, de um José Manuel Fernandes , de um José Carlos Espada, de uma Clara Ferreira Alves  e de uns tantos imitadores baratos da proza destes, pensar-se-ia que um qualquer Lenine estava na iminência de  assaltar a Assembleia da República, um imitador de Fidel Castro tinha descido com os seus guerrilheiros da Serra da Estrela  em seu auxilio, aguardando-se a todo o momento que um exército de camponeses liderado por uma espécie de Mao Tsé Tung, iniciando a sua longa marcha a partir de uma remota aldeia de Trás-os-Montes, chegasse a Lisboa para completar a tomada do pode pelos “comunistas”.

Ainda, seguindo a "interpretação" da proza daqueles, o governo "legítimo"  preparava-se para passar à clandestinidade, e o Presidente da República, ficando esquecido  no seu  gabinete a consultar “personalidades”, corria o risco de ser metido num Gulag no interior do Alentejo e todos os jornais iam passar a ter “Avante” no título (“Avante Público”, “Jornal do Avante”, “Diário do Avante”, “Avante Expresso”, “I-Avante” , “Avante Manhã”…).

Felizmente aqueles ” lutadores” pela “democracia” e pela “liberdade” tinham passado á clandestinidade e continuavam a informar o povo da acção "diabólic" dos comunistas, através das suas crónicas clandestinamente divulgadas na internet pelo site “Observador”.

Agora falando a sério, reina por aí  uma doentia e delirante  histeria “anti-comunista”, como se os comunistas estivessem prestes a tomar o poder, como se entretanto o Muro de Berlim já não tivesse caído (fez ontem anos), ou a Guerra Fria não tivesse  terminado.

Para eles os Comunistas continuam a comer criancinhas ao pequeno almoço.

Nunca perceberam que a natureza profunda do PCP , mais pela prática e pela história do que pela ideologia, afirmou-se muito diferente da natureza da maior parte dos partidos comunistas do leste da Europa, pois, ao contrário destes, não foi o executante de ditaduras ferozes, mas vítima de uma feroz  ditadura de direita que combateu com firmeza, e, ao contrário daqueles,  acabou por se construir entranhado na luta pela liberdade e pela democracia, e, por  isso, continua a gozar do respeito entre os cidadãos e goza de forte  implantação popular, o que explica a sua sobrevivência,  única na Europa.

Talvez não seja por acaso que o único “cronista” de “direita” (?) que não vê qualquer drama no facto do PCP se aproximar do poder seja Pacheco Pereira, pois é dos poucos que conhece, com profundidade e rigor, a natureza desse partido.

Claro que muitas das criticas que são feita ao PCP eu também as podia subscrever, como a retórica demasiado passadista em relação à dramática e triste história do movimento comunista internacional ,  ao uso e abuso de palavras de ordem políticas esvaziadas de conteúdo, ou por nunca se ter demarcado de forma clara dos crimes cometidos em nome do comunismo.

Contudo, essas críticas, por puro facciosismo,  por intolerância, por radicalismo ou por ignorância, não conseguem separar aquilo que é a triste  história do comunismo internacional do que é a história particular e até diferente do PCP, ou aquilo que é a origem e a doutrina comunista do que foi a pratica e o desvirtuamento do “stalinismo”.

Também não referem que o abandono dos valores social-democratas por parte do “centrão” deixou  ao PCP, actualmente acompanhado pelo Bloco de Esquerda, a exclusividade  na defesa desses valores, nomeadamente a defesa dos mais pobres , dos que trabalham e dos direitos sociais, isto num país e numa conjuntura onde o empobrecimento , a desvalorização do trabalho e a destruição de direitos sociais têm sido a prática e a retórica dos governos do “centrão” dos últimos dez anos.

Mas, mais importante do que tudo isso, o que essa primária retórica “anti-comunista” disfarça é o facto de, na realidade, não estarmos a assistir a qualquer previsível tomada de poder pelos “comunistas”, mas apenas ao legitimo apoio parlamentar do PCP a um possível governo do PS.

Ou será que existem grupos parlamentares de primeira e grupos parlamentares de segunda?

Ao contrário do que tem sido a história de outros partidos, e por muitas críticas que se possam fazer ao PCP, existem pelo menos três coisas em que este partido é diferente dos partidos do “centrão”: é coerente na defesa dos seus valores, tem uma postura ética de combate à corrupção e cumpre os compromissos assinados.

Para aqueles que ainda “acreditam” que os “comunistas” comem “criancinhas” ao pequeno-almoço, melhor seria que estivessem atentos e preocupados com os que andam a "comer o pequenos-almoço" de muitas “criancinhas” deste país…

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