Se, por um qualquer absurdo digno dos Monty Python, os únicos “documentos”
históricos que sobrassem para escrever a história portuguesa deste último mês
fossem as crónicas de um Vasco Pulido Valente, de um António Barreto , de uma
Fátima Bonifácio, de um José Manuel Fernandes , de um José Carlos Espada, de
uma Clara Ferreira Alves e de uns tantos
imitadores baratos da proza destes, pensar-se-ia que um qualquer Lenine estava
na iminência de assaltar a Assembleia da
República, um imitador de Fidel Castro tinha descido com os seus guerrilheiros
da Serra da Estrela em seu auxilio,
aguardando-se a todo o momento que um exército de camponeses liderado por uma
espécie de Mao Tsé Tung, iniciando a sua longa marcha a partir de uma remota
aldeia de Trás-os-Montes, chegasse a Lisboa para completar a tomada do pode
pelos “comunistas”.
Ainda, seguindo a "interpretação" da proza daqueles, o governo "legítimo" preparava-se
para passar à clandestinidade, e o Presidente da República, ficando esquecido no seu gabinete a consultar
“personalidades”, corria o risco de ser metido num Gulag no interior do
Alentejo e todos os jornais iam passar a ter “Avante” no título (“Avante
Público”, “Jornal do Avante”, “Diário do Avante”, “Avante Expresso”, “I-Avante”
, “Avante Manhã”…).
Felizmente aqueles ” lutadores” pela “democracia” e pela “liberdade”
tinham passado á clandestinidade e continuavam a informar o povo da acção "diabólic" dos comunistas, através das
suas crónicas clandestinamente divulgadas na internet pelo site “Observador”.
Agora falando a sério, reina por aí
uma doentia e delirante histeria “anti-comunista”,
como se os comunistas estivessem prestes a tomar o poder, como se entretanto o
Muro de Berlim já não tivesse caído (fez ontem anos), ou a Guerra Fria não
tivesse terminado.
Para eles os Comunistas continuam a comer criancinhas ao pequeno
almoço.
Nunca perceberam que a natureza profunda do PCP , mais pela prática e
pela história do que pela ideologia, afirmou-se muito diferente da natureza da
maior parte dos partidos comunistas do leste da Europa, pois, ao contrário
destes, não foi o executante de ditaduras ferozes, mas vítima de uma feroz ditadura de direita que combateu com firmeza,
e, ao contrário daqueles, acabou por se
construir entranhado na luta pela liberdade e pela democracia, e, por isso, continua a gozar do respeito entre os
cidadãos e goza de forte implantação
popular, o que explica a sua sobrevivência, única na Europa.
Talvez não seja por acaso que o único “cronista” de “direita” (?) que
não vê qualquer drama no facto do PCP se aproximar do poder seja Pacheco
Pereira, pois é dos poucos que conhece, com profundidade e rigor, a natureza desse
partido.
Claro que muitas das criticas que são feita ao PCP eu também as podia subscrever,
como a retórica demasiado passadista em relação à dramática e triste história
do movimento comunista internacional , ao
uso e abuso de palavras de ordem políticas esvaziadas de conteúdo, ou por nunca
se ter demarcado de forma clara dos crimes cometidos em nome do comunismo.
Contudo, essas críticas, por puro facciosismo, por intolerância, por radicalismo ou por
ignorância, não conseguem separar aquilo que é a triste história do comunismo internacional do que é a
história particular e até diferente do PCP, ou aquilo que é a origem e a
doutrina comunista do que foi a pratica e o desvirtuamento do “stalinismo”.
Também não referem que o abandono dos valores social-democratas por
parte do “centrão” deixou ao PCP,
actualmente acompanhado pelo Bloco de Esquerda, a exclusividade na defesa desses valores, nomeadamente a
defesa dos mais pobres , dos que trabalham e dos direitos sociais, isto num país
e numa conjuntura onde o empobrecimento , a desvalorização do trabalho e a destruição
de direitos sociais têm sido a prática e a retórica dos governos do “centrão” dos
últimos dez anos.
Mas, mais importante do que tudo isso, o que essa primária retórica “anti-comunista”
disfarça é o facto de, na realidade, não estarmos a assistir a qualquer previsível
tomada de poder pelos “comunistas”, mas apenas ao legitimo apoio parlamentar do
PCP a um possível governo do PS.
Ou será que existem grupos parlamentares de primeira e grupos
parlamentares de segunda?
Ao contrário do que tem sido a história de outros partidos, e por
muitas críticas que se possam fazer ao PCP, existem pelo menos três coisas em
que este partido é diferente dos partidos do “centrão”: é coerente na defesa
dos seus valores, tem uma postura ética de combate à corrupção e cumpre os
compromissos assinados.
Para aqueles que ainda “acreditam” que os “comunistas” comem “criancinhas”
ao pequeno-almoço, melhor seria que estivessem atentos e preocupados com os que andam a "comer o
pequenos-almoço" de muitas “criancinhas” deste país…
Sem comentários:
Enviar um comentário