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quinta-feira, 3 de maio de 2012

O RESPIGO DA SEMANA: Daniel Oliveira "Todos ao 1.º de maio do Pingo Doce!" - Expresso



TODOS AO PRIMEIRO DE MAIO DO PINGO DOCE!

por Daniel Oliveira
In Expresso on-line 2 de Maio de 2012

“Dia 1 de maio. As imagens na televisão são o retrato de um país que vive em degradação evidente. Milhares de pessoas invadem os supermercados do Pingo Doce. Confusão, incidentes, cenas de pancadaria, polícia de choque em algumas lojas, prateleiras vazias, saque de produtos alimentares. A Jerónimo Martins ofereceu descontos de 50% para quem fizesse compras superiores a 100 euros.

“Num dos feriados que ainda eram respeitados pelas grandes superfícies, a filantrópica família Soares dos Santos, a que, nos intervalos de lições de responsabilidade aos nossos governantes procura e encontra esquemas para fugir ao fisco, a que, descobrindo que os seus mal pagos funcionários estão na miséria lhes dá umas esmolinhas em géneros, assinala assim o Dia do Trabalhador. É esta a nossa elite económica: tudo o que represente a dignidade de quem trabalha merece dela um olímpico desprezo.

“No mesmo dia em que Passos Coelho tem, como única mensagem a dar aos portugueses, o anúncio de que o desemprego, que já atingiu recordes nunca vistos, vai continuar a aumentar, muitos portugueses dedicaram o seu dia à corrida às compras. Não os condeno. Quando não há dinheiro um desconto destes, com venda de produtos abaixo do preço de custo (dumping pago quase sempre pelos fornecedores) faz diferença. E não é seguramente por consumismo que alguém se planta, às 4 da manhã, à porta de um supermercado.

“Nada obrigava a Jerónimo Martins a fazer esta promoção neste dia. Mas a pobreza tem mais força que a repressão. Enquanto as pessoas lutam para comer não lutam por direitos. Nenhuma ditadura conseguia resumir um dia de resistência àquelas imagens degradantes. O que ficará do 1.º de maio de 2012 em Portugal é isto: um povo a esbofetear-se por um desconto em comida. Uma empresa que é incapaz de compreender qualquer ideia que se assemelhe a "dignidade". Um poder político que nos atirou para este humilhante retrato terceiro mundista”.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

E ENCERRAMOS O ASSUNTO "Pingo Doce" com mais humor: Café da Manhã, RFM - Música do Caos. Pingo Doce 1 de Maio

Mixórdia de Temáticas - Pingo Doce - Adquirir produtos à bruta

Perante tanta interpretação "sociológica" sobre um dos  temas do dia e a defesa que alguns fazem do conceito de  "boda aos pobres" que estaria por detrás das "boas" intenções caritativas do sr. Jerónimo Martins, resta-nos usar o humor:

UMA EXCELENTE REPORTAGEM sobre o 1º de Maio num supermercado perto de si: “Parece o fim do mundo!” .

Uma excelente reportagem sobre a loucura do consumo no 1º de Maio, da autoria das jornalistas Mariana Oliveira e Rosa Soares:

1º de Maio - Dia de "São Consumidor"?


 (Foto de Nuno Ferreira Santos/Público)

Quem consultar hoje as primeiras páginas da imprensa mundial, encontrará referências às manifestações do 1º de Maio, com destaque para as grandes manifestações em Espanha, em França , na Grécia e em muitos outros cantos da Europa, da América Latina à Ásia.

Contudo, quem fizer o mesmo exercício com a imprensa nacional, com a única excepção do Público, a quem devemos a metafórica fotografia que ilustra esta página, os títulos e as imagens em destaque referem o degradante espectáculo de prateleiras vazias e gente a acotovelar-se  em bichas intermináveis para entrar ou sair dos supermercados da cadeia Pingo Doce.

Muita gente sujeitou-se a bichas que duraram o equivalente a um dia de trabalho, primeiro para entrar, depois para pagar à saída, levando muita gente a “saquear” as prateleiras de bolachas e iogurtes para matar a fome dessa espera.

Muita gente que resolveu escolher os congelados, acabou por ver esses produtos estragarem-se e a derreterem-se ainda antes de os pagar, tal foi o tempo de espera.

A maioria acabou por comprar o que não necessitava para perfazer o valor mínimo para beneficiar da promoção de 50% de desconto em compras superiores a 100 euros.

As fotografias e vídeos do interior desses supermercados mostravam aquilo que pareciam cenas de saque e assalto, como se viesse aí uma guerra ou o fim do mundo, com lixo espalhado pelas prateleiras vazias e pelo chão e lutas e discussões por um pacote de leite.

A empresa da Jerónimo Martins explorou o que existe de mais primário no comportamento das pessoas, explorando a seu favor o medo provocado pela crise económica a os fenómenos mais degradantes da psicologia de massas.

A escolha do dia para lançar essa promoção não foi inocente, foi uma autêntica provocação, induzindo as pessoas a recorrerem ao mais degradante espírito consumista, num dia que devia ser de afirmação cívica.

Já não bastava toda a chantagem que tem vindo a ser exercida sobre os trabalhadores dessa cadeia de supermercados (…e de todas as outras) para os obrigar a trabalhar num dia que devia ser de descanso, de convívio ou manifestação cívica, para agora tornar a vida dessas pessoas num verdadeiro inferno.

Ao que parece, contudo, a administração dessa empresa não acompanhou os seus trabalhadores nessa obrigação, já que não responderam às perguntas de alguns órgãos de comunicação social com a argumentação que estavam fechados por “ser feriado”.

Não deixa de ser curioso o silêncio sobre este fenómeno por parte de uma série de economistas e sociólogos que tanto gostam de perorar contra o excesso consumista e a falta de atitude cívica do “povo” e sempre prontos a defender a austeridade em nome da crise.

Mas o fenómeno é facilmente explicável, se olharmos para o nome dos autores das edições e dos responsáveis pelas instituições e fundações financiadas pela Jerónimo Martins. O silêncio é fácil de comprara por quem tem dinheiro.

Desta triste situação ficam aqui duas ou três perguntas que gostava que alguém me respondesse.

Uma primeira pergunta é para o sr. Presidente da  República: o sr, sempre tão preocupado com a imagem do país lá fora, não tem nada a dizer sobre a degradação das imagens que marcaram este 1º de Maio em Portugal, que correram o mundo e que vão ser alvo de chacota generalizada? 

Outra pergunta para os responsáveis pela concorrência económica: sei que já andam a investigar os acontecimentos, mas pergunto se, em caso de se comprovar a existência de prática de dumping, que atitude vão tomar em relação aos responsáveis por essa empresa?

E já agora o governo, tão preocupado com o deficit, não se interroga se o apelo irracional ao consumo de campanhas com esta não é tão responsável pela crise em que vivemos, como o são a irresponsabilidade do crédito bancário ou a incompetência dos políticos?

A terceira pergunta é para os consumidores: já pensaram que, se o Pingo Doce, uma das cadeias de supermercados com produtos mais caros, pode oferecer 50% de desconto em quase todos os seus produtos e na quase totalidade dos seus stocks, e se mesmo assim, tem lucro, porque é que não baixa os preços em definitivo? Ou perguntando de outro modo: se conseguem vender produtos com 50% de desconto sem perderem dinheiro, já perceberam a escandalosa margem de lucro dessas empresas em dias normais?

Por último, para aqueles que vêem neste acto um acto benemérito da empresa, uma espécie de boda aos pobres, devem-se perguntar porque é que essa empresa recorre a off-shores para fugir aos impostos pagos em Portugal ou se foram de facto os mais pobres que beneficiaram com esta campanha. 
A maior parte dos pobres e todos aqueles que trabalham com salários mínimos não podem dispor, de um dia para o outro, de um mínimo de cem euros para beneficiarem deste tipo de campanhas, ou, se o fizeram, em breve vão sentir no bolso o modo como responderam irracionalmente ao desejo consumista.

Este foi um dia de vergonha e infâmia…