Somos suspeitos, porque, já o confessámos, nutrimos um "ódio de estimação" por Miguel Sousa Tavares, quanto a nós um dos maiores "blufs" criados pela comunicação social.
Já AQUI explicámos que ,como muita gente, até começámos por achar piada às crónicas de Sousa Tavares e, ainda hoje, até concordamos em quase 80% com aquilo que ele escreve.
O problema é que, quando começámos a confrontar as suas opiniões com algumas realidades que conhecíamos bem por dentro e por fora, nos apercebermos da sua falta de imparcialidade, eivada muitas vezes de má-fé e falta de informação, como aconteceu, por exemplo, quando ele começou a falar da educação, em defesa da campanha de Sócrates contra os professores.
Foi nessa ocasião que o mito nos caiu aos pés.
De facto, Miguel Sousa Tavares sobrevive graças ao mito e ao medo que criou à sua volta, à boçalidade que usa e abusa para ameaçar e chantagear inimigos e adversários, tudo disfarçado com umas pinceladas de escrita criativa e cuidada,embora por vezes consiga ser genial.
Escritor pimba, bom escritor apesar de tudo, para quem gosta do género, conseguiu construir uma imagem de impunidade à sua volta.
Contudo o caso BES borrou a pintura e revelou o fim de um dos mitos que ainda iam sobrevivendo sobre as suas opiniões, o mito da independência.
Quem primeiro o desmascarou foi um humorista, que já tinha tido um caso polémico com Sousa Tavares no jornal A Bola, o José Diogo Quintela, que, em 31 de Março de 2013, escrevia no jornal Público a seguinte crónica:
"O que vale é que os compadres nunca se zangam
"Fim de Março, época do IRS. Enquanto nas casas da maioria
dos portugueses se procuram facturas para apresentar, na de Ricardo Salgado
esconde-se o camembert. Para que o banqueiro não se esqueça de declarar tudo o
que ganhou. Como no ano passado, em que olvidou 8,5 milhões de euros.
"Duvido de que este ano Ricardo Salgado se esqueça de
declarar um boião de brilhantina que seja. Ainda deve estar a tremer com o que
foi dito nos jornais. Principalmente com o que escreveu Miguel Sousa Tavares no
Expresso. Eis um resumo do que M.S.T. teve a dizer sobre a tentativa de fuga ao
fisco:
"Logo na semana em que foi noticiada a amnésia fiscal, M.S.T.
não hesitou e escreveu sobre esse tema prenhe de actualidade que é o acordo
ortográfico.
"Não satisfeito com isso, na semana seguinte, zás!, falou
sobre o excitante e nada programado regresso de Portugal aos mercados.
"Na terceira semana, com toda a gente impaciente para ler o
que tinha a dizer sobre a falta de memória do CEO do BES, a original crónica de
M.S.T. teve ainda mais impacto. Foi sobre o (também muito pertinente)
descarrilamento (sic) de um camião de porcos na A1.
Também não falou de Salgado na quarta semana. Nem na quinta.
Nem na sexta. Ou na sétima. Nem há duas semanas. Nem na semana passada.
"Como o leitor deve imaginar, Ricardo Salgado não dorme há
dois meses. Tem terror do que M.S.T. irá dizer quando finalmente resolver
falar. É que, para estar há tanto tempo calado, M.S.T. só pode andar a
investigar, fundamentando bem a bordoada que irá aplicar no traseiro
capitalista. Cada semana que passa mudo, é mais balanço que dá à perna alçada.
O suspense é terrível.
"O silêncio a que se remete enquanto pesquisa não é de agora.
Também não disse nada sobre o papel do BES na operação Monte Branco ou na
privatização da EDP. Aliás, ao consultar o livro A História não Acaba Assim,
que reúne os chamados "escritos políticos" de M.S.T. entre 2005 e
2012, também não se encontra nada sobre Ricardo Salgado e o BES. Ou seja, há
pelo menos oito anos que o mais influente comentador português, principal
colunista do principal semanário português, com uma página inteirinha só para
si, consegue nunca escrever sobre aquele que é considerado o homem mais
poderoso de Portugal. O esforço que não deve ser guardar a informação compilada
para só usar quando for mesmo preciso? É um monumento à contenção.
"M.S.T. é um gavião, de olho acutilante para tudo o que sejam
trambiquices de banqueiros. Já vituperou Jardim Gonçalves, amesquinhou João
Rendeiro, mandou bocas acintosas a Fernando Ulrich, denunciou as negociatas da
CGD no BCP, insultou Oliveira e Costa e o BPN, fustigou o Banif, descompôs
Vítor Constâncio, censurou Carlos Costa e enxovalhou o Banco de Portugal em
geral. Imagine-se o que não terá para dizer de Salgado. Estou ansioso para que
esse topa-Shylocks aldrabões se decida por fim a dar uma lição ao prestamista
amnésico. O dia em que M.S.T. finalmente falar sobre Ricardo Salgado vai ser
histórico.
"Ou, então, como a sua filha é casada com o filho de Ricardo
Salgado, M.S.T. vai permanecer caladinho. Mas, como é seu timbre, esse silêncio
será corajoso e totalmente livre e independente".
Como é hábito, Miguel Sousa Tavares reagiu à bruta e de forma boçal, com ameaças à mistura:
Usando o espaço da revista que já tinha dirigido e com a qual mantinha relações pessoais, a revista Sábado dava-lhe espaço para responder a Diogo Quintela numa mini entrevista:
"É uma crónica que está a causar polémica. No domingo, no
jornal 'Público', o humorista José Diogo Quintela usou quase todos os
parágrafos do seu texto para notar algo que diz achar estranho: porque é que
Miguel Sousa Tavares nunca escreveu ou falou sobre os casos judiciais que envolvem
Ricardo Salgado, C.E.O. do Banco Espírito Santo?
"Mais estranho ainda, diz Quintela, porque Salgado é o
"homem mais poderoso de Portugal" e Sousa Tavares é "um gavião
de olho acutilante para tudo o que sejam trambiquices de banqueiros".
"No último parágrafo, Quintela avança uma explicação:
"Ou então, como a sua filha é casada com o filho de Ricardo Salgado,
M.S.T. vai permanecer caladinho." Acrescente-se que a crónica
intitulava-se "O que vale é que os compadres nunca se zangam".
"Contactado pela SÁBADO esta tarde, Miguel Sousa Tavares
reagiu de forma dura:
"Leu a crónica que José Diogo Quintela escreveu sobre si?
"- Sim, mandaram-se isso.
"E o que é que tem a dizer?
" - Apenas isto: ele é um falhado, um medíocre, que se quer
promover às minhas custas.
"Mas sobre a insinuação de que...
"-... É só isso que tenho a reagir: é um falhado, um medíocre,
que se quer promover às minhas custas, mas não lhe vou fazer isso.
"Quintela diz...
"-... estou-me nas tintas. Ele que que fale do sócio dele da
panificação, o Dias Loureiro".
A entrevista é bem reveladora do estilo ultramontano de Sousa Tavares e da sua falta de respeito por opiniões contrárias à sua.
As insinuações que faz a Dias Loureiro tem a haver com o facto de Diogo Quintela ter sido sócio, entre Dezembro de 2010 e Fevereiro de 2012 de Dias Loureiro na
"Bakers Capital", a SGPS que detinha um terço da "Padaria
Portuguesa", a rede de lojas de que Quintela era proprietário.
O recurso à calunia e à meia-verdade revelou-se mais uma vez o estilo da argumentação de Sousa Tavares.
O que é um facto, também denunciado por um outro cronista, João Miguel Tavares. mais recentemente, crónica já AQUI reproduzida. é que Tavares manteve o silêncio sobre o caso BES até à semana passada quando, numa entrevista ao jornal Diário de Notícias (14 de Março de 2015) saiu a terreiro em defesa do compadre Ricardo Salgado:
"Num almoço com o jornalista Nuno Saraiva, do Diário de Notícias, Miguel Sousa Tavares falou um pouco de tudo: do estado do país, das dívidas de Passos Coelho à Segurança Social, de Cavaco Silva e até mesmo da Grécia.
"Mas comecemos pelo colapso do Grupo Espírito Santo (GES), do
qual o escritor se tentou desmarcar nos seus comentários por ter uma filha casada
com um filho de Ricardo Salgado. “Sou amigo do Ricardo há muitos anos, para
além das relações familiares. E continuo a achar que ele era o melhor banqueiro
português”, revelou.
“O problema dele não foi falhar como banqueiro, foi querer
ser chefe de uma família em que todos tinham de trabalhar para o grupo e só 10%
tinha competências para o fazer. Querer sustentar a família toda e ter
submetido o grupo ao banco é que acho imperdoável”, afirmou o comentador." (in DN online de 14 de Março de 2015).
...e ...sobre o tema, o jornalista palavroso e exuberante, nada mais disse.
O caso BES é apenas mais um prego na reputação do "jornalista critico e independente" Miguel Sousa Tavares....
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