Transcrevemos em baixo uma excelente reportagem editada pelo jornal
Público sobre a grave situação social que se vive na Grécia, da autoria da
jornalista Maria João Guimarães.
Pela sua leitura percebe-se o desespero dos gregos e até algumas afirmações
e atitudes mais disparatadas de alguns dos seus novos governantes.
Cinco anos de troika e austeridade levaram 35,7% dos gregos a caírem em
risco de pobreza, 25,8% caíram no desemprego , 50% entre os jovens, a dívida pública
aproxima-se velozmente dos 200% do PIB e o deficit continua altíssimo.
Este é o resultado de cinco anos de austeridade e de aplicação do plano
de “ajustamento”.
Não se percebe a insistência por parte dos burocratas da União Europeia
e do corrupto sector financeiro europeu em insistir nesse modelo, com o
Eurogrupo, a Comissão Europeia, o BCE e a Alemanha à cabeça dessa condução
desastrosa do destino de um país europeu.
Só a cegueira política, a intolerância financeira, a desorientação face
à rebeldia dos cidadãos europeus, que começaram na Grécia a demonstrar o seu repudio
pelos programas impostos por Bruxelas, mas que o vão continuar a demonstrar,
talvez nem sempre da melhor maneira, nas próximas eleições em Espanha, em
França e em Portugal, explica a insistência na mesma receita de continuar com
as “reformas estruturais”, que o mesmo é dizer, mais cortes nos salários e
pensões, mais despedimentos na função pública, destruturação na saúde e na
educação, cortes nas ajudas sociais aos mais pobres, aumento de impostos, venda
ao desbarato de bens nacionais para manter o corrupto sistema financeiro europeu
a funcionar.
Aliás, reconhecer os erros é coisa que a actual elite burocrática da
União Europeia nunca reconhecerá, pois isso iria questionar a sua própria utilidade
perante os cidadãos da Europa e o trabalho sujo que têm andado a fazer para
favorecer o corrupto sistema financeiro de que dependem para manter os seus
altos cargos e o seu estilo de vida “acima das possibilidades”.
Não deixa também de ser estranho que, ao longo de cinco anos na Grécia,
a troika nunca tenha penalizado e pressionado os anteriores governos, com fazem
ao actual, para combater eficazmente a fraude e evasão fiscal e para levarem à
prática uma profunda reforma do sistema fiscal grego, estas sim as verdadeiras “reformas
estruturais” que é preciso levar a cabo nesse e noutros países.
Não o fazem porque combater a fraude e evasão fiscal era por em causa
os bancos, a maior parte sediados na Alemanha e os países, como o Luxemburgo, a
Holanda, a Bélgica ou a Finlândia, onde estão muitos dos bancos que lucram com
os juros da divida soberana, alguns desses países funcionando e enriquecendo
como paraísos fiscais. São esses que têm beneficiado com esta “crise” e , ao
mesmo tempo, dominam a burocracia
europeia.
Como os governantes das instituições europeias estão formatados por um
modelo financeiro corrupto e anti-democrático, nunca irão reconhecer o seu
erro. Para eles o empobrecimento dos cidadãos não é um problema, desde que
mantenham os seu chorudos vencimentos e possam continuar a lucrar com a crise.
Reconhecer o erro do efeito da austeridade era, também, reconhecer o
erro que foi a “invenção” do euro, e a forma irresponsável como este foi
implementado. A continuar por este caminho acabarão por destruir a prazo a sua
própria criação, mas nessa altura essa gente estará comodamente a viver dos
rendimentos num paraíso qualquer, sobrando os estilhaços para os cidadãos da
Europa que, mais uma vez, cá vão estar para sofrer as consequências da
incompetência da actual geração de políticos europeus que nos conduzem para o
desastre.
Talvez não seja por acaso que todos os países nórdicos, excluindo a Finlândia, mas esse é um mero satélite alemão, se tenham recusado aderir ao euro (Dinamarca e Suécia), e dois deles nem sequer tenham aderido à União Europeia (Islândia e Noruega), o que não impede que apresentem sempre os melhores indicadores sociais e económicos em todos os estudos internacionais. De facto o euro não presta, a não ser para a Alemanha...
Há quem diga que Portugal não é Grécia e até apresente o "exemplo" português como contraponto. Mas que contraponto? Claro que ainda não atingimos a gravidade social e económica da Grécia. Talvez seja por isso que as instituições Europeias continuem a insistri cegamente na necessidade de continuar as "reformas estruturais".
Contudo, todos os indicadores económico-socias em Portugal, se ainda não atingiram a gravidade da Grécia, para lá caminham. Não nos podemos esquecer que "apenas" levamos com três anos de austeridade, quase metade dos que leva a Grécia. Também, porque este ano é ano eleitoral, vamos assistir a algum abrandamento das tais "reformas estruturais" que nos conduzem ao desastre. Mas elas regressarão em força logo a seguir, pelo menos é esse o desejo de Bruxelas e dos "miguéis de vasconcelos" cá do "burgo".
O retrato que podemos ler na reportagem anexada em baixo, é o retrato do nosso futuro, aquele que as instituições europeias querem para nós, a não ser que nos juntemos aos gregos, aos franceses, aos espanhóis, aos italianos e aos irlandeses para bater o pé aos "donos" da Europa.
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