Depois de ser apresentado numa sala em Berlim, o documentário "Troika: Poder sem Controlo", do jornalista Harald
Schumann, realizado por Árpád Bondy, foi exibido no canal Aere no passado dia 24 de Fevereiro.
Este documentário, juntamente com outras provas das malfeitorias desse Troika, talvez venha a contribuir para, um dia, quando houver justiça e humanidade entre os burocratas da União Europeia, se criar um tribunal internacional para julgar essa gente, os governantes colaboracionistas e os seus executantes, por crimes económicos e sociais contra a humanidade...
Este documentário, juntamente com outras provas das malfeitorias desse Troika, talvez venha a contribuir para, um dia, quando houver justiça e humanidade entre os burocratas da União Europeia, se criar um tribunal internacional para julgar essa gente, os governantes colaboracionistas e os seus executantes, por crimes económicos e sociais contra a humanidade...
O jornalista do Público Paulo Pena, (leiam AQUI a sua reportagem na integra) que acompanhou a estreia do filme, explica como é que este projecto nasceu:
"Ao longo do último ano, Harald, que é um dos mais reconhecidos
jornalistas de investigação alemães, com livros que vendem mais de um milhão de
exemplares, e um outro documentário, sobre bancos, no curriculum, viajou de
Lisboa para Atenas, de Nicósia para Dublin, de Frankfurt para Washington.
Entrevistou mais de 30 pessoas, de Yannis Varoufakis a obscuros burocratas da
troika. Quando começou, a troika não era, como o muro, uma recordação ou uma
cicatriz. Estava em plena actividade.
"Quando, na última semana, terminou a montagem definitiva do
documentário, o Eurogrupo parecia ter declarado o óbito desta associação
informal da Comissão Europeia com o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário
Internacional, destinada a intervir nos países que deixaram de poder
refinanciar as suas dívidas depois do pânico gerado pela crise financeira de
2008. Na sexta-feira à noite, Harald deu por terminado o trabalho. E o Eurogrupo
chegou a acordo para uma extensão dos empréstimos à Grécia, pela primeira vez
sem a chancela da troika.
"Timing perfeito para a estreia, sublinhado pela grande ovação no final.
Harald subiu, timidamente, ao palco para agradecer, com Bondy. E explicou o que
leva um alemão a querer saber o que maioria das instituições europeias
ignoraram durante quase quatro anos: como foi possível que “um pequeno grupo de
funcionários não eleitos recebesse o poder de mudar radicalmente alguns
países?” “Só no final de 2013, em véspera de eleições, o Parlamento Europeu
decidiu investigar. Durante três anos ninguém quis saber…”
"As respostas que Schumann encontrou são surpreendentes. Thomas Wieser,
presidente do grupo de trabalho do Eurogrupo, é um desses funcionários que
poucos conhecem. Austríaco com gosto por gravatas pouco convencionais, é ele
quem coordena os dossiers que, nas cimeiras dos ministros das Finanças da zona
euro, acabam por redundar em decisões políticas.
Wiesel olha com um ar desconfiado para a câmara de Schumann, mas ensaia
uma resposta: “Todas as acções que foram tomadas nos países sob assistência não
tiveram lugar dentro do quadro legislativo normal da União Europeia.” Este
reconhecimento não é um sinal de arrependimento, contudo. Wieser acredita que esse
“estado de excepção” legal se justificou.
"Mesmo se isso levou a situações tão impensáveis como a que é descrita
no filme pelo ex-ministro grego da Reforma Administrativa. Antonis Manitakis
era o responsável da pasta no último Governo da Nova Democracia, de Antonis
Samaras. Certa noite, “às 11 horas”, recebe uma chamada do chefe do FMI em
Atenas (que também esteve em Portugal), o dinamarquês Paul Thomson. Ouviu uma
voz ríspida do outro lado: “Depende de si se a Grécia recebe o próximo
empréstimo de 8 mil milhões de euros:” Manitakis afirma, indignado: “Fui
chantageado. Ele queria medo e submissão. Deu-me a sensação, nas reuniões que
tivemos, que eu representava um país não apenas em dificuldades, financeiras,
mas basicamente corrupto.”
"(...)
"O pior que pode acontecer a um país é cair mãos de burocratas
internacionais”, lamenta Paulo Nogueira Baptista, director executivo do FMI, em
Washington. Este brasileiro tem assento no “conselho dos 24” que comanda os
destinos do fundo, e reconhece que a participação da instituição no processo
grego “foi um momento mau do FMI”. Não só porque tudo foi “pouco transparente”,
mas também porque “nos ambientes protegidos de Washington e de Bruxelas”
ninguém consegue “sentir os problemas dos países” sob intervenção.
"Uma das entrevistas mais curiosas, e que despertou gargalhadas na
assistência no cinema Arsenal, foi dada por um desses “burocratas”, Albert
Jaeger, também austríaco, representante do FMI na troika portuguesa. (...)
Jaeger tem o papel de redimir a seriedade do documentário com momentos
cómicos. Schumann pergunta-lhe por que razão insiste a troika em mexer na
legislação laboral portuguesa e em baixar os salários. “Na situação em que
Portugal se encontra, tem de aumentar a competitividade. Muitas das reformas
laborais foram muito úteis para a competitividade da economia.”
Porém, os maiores beneficiários dessas medidas, os empresários
portugueses, desmentem Jaeger no minuto seguinte. António Saraiva, da CIP,
explica a Schumann que “os salários em Portugal não são elevados".
"Os salários baixos fazem parte de um modelo de desenvolvimento
ultrapassado. Num inquérito aos nossos empresários, a reforma laboral aparece
em sétimo lugar das suas prioridades. A troika limitou-se a ouvir-nos, mas
pouco fez. Acho que deveria ter a nossa opinião em consideração.”
Paul Krugman, economista, resume o problema a Schumann: “Se nós somos
Angela Merkel, tomamos decisões que afectam gregos e portugueses, mas só
respondemos aos eleitores alemães…”
(...)".
O documentário pode ser visto integralmente em baixo, na sua versão em francês:
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