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segunda-feira, 5 de julho de 2021

Ainda a propósito do “branqueamento da História” no Congresso do MEL (2)- As falácias de Nuno Palma.


O tão propagandeado “congresso das direitas”  (mais “fel do que MEL”), pouco mais serviu do que para revelar  a pobreza banal e bolorenta das ideias dessa família política portuguesa, incapaz de mobilizar  e inovar, mas revelador do seu desespero perante a possibilidade de se verem arredados do poder nos próximos anos.

Esse desespero terá contribuído para o radicalismo de algumas comunicações, destacando-se, no meio da pobreza geral,  pela retórica cuidada, inteligente e agressiva, a intervenção de Nuno Palma (ver reprodução em baixo).

Tratando de um tema interessante, “as causas míticas da divergência económica portuguesa”, apresentou algumas reflexões a considerar e que, caso orador não se tivesse deixado levar pelo ambiente revanchista dominante, até podiam ter enriquecido evento tão medíocre.

O problema foi quando começou a fazer comparações absurdas entre o Estado Novo e o Regime Democrático.

Partindo de uma verdade histórica, os níveis de crescimento económico observáveis na década de 60, até hoje inigualáveis, procurou extrapolar, de um simples gráfico estrutural, baseado no PIB, sem a devida contextualização, uma certa “superioridade moral” da economia do Estado Novo em relação ao actual regime.

Entusiasmado pela sua aparente “descoberta” e “novidade” (há anos que Fernando Rosa e outros historiadores falam do tema), e pela reacção da plateia, acabou a debitar uma série de falácias, meias-verdades e bombásticas frases propagandísticas, que fizeram estalar o verniz da aparente “objectividade cientifica “da sua “verdade”.

Sobre a correcta análise e contextualização desse gráfico, já outros fizeram a desmontagem do “mito” dessa comunicação de Nuno Palma ( José Pacheco Pereira , “A indústria de falsificação do Estado Novo”, in Público de 5 de Junho de 2021; Fernando Rosas, “O Milagre da economia sem política”, in Público de 20 de Junho de 2021;  Luís Reis Torgal, “E se só a Ciência for revolucionária”, in Público de 28 de Junho de 2021; António Barreto , “Sim, é verdade”, in Público de 3 de Julho de 2021).

Como escreveu Pacheco Pereira noutro texto, usando-se o mesmo estratagema também se conseguia facilmente demonstrar a “superioridade” do modelo de “desenvolvimento económica” do regime hitleriano em relação à República de Weimar ou do Stalinismo em relação ao regime czarista ou  da União Soviética em relação aos primeiros anos de democracia Russa.

Como se sabe, usar a evolução do PIB, a frio, sem contextualização, para comparar níveis de desenvolvimento, é falacioso e tem sido motivo de debate aceso entre economistas e historiadores. Hoje, aliás, têm sido ensaiadas outras formas de medir o desenvolvimento, que distinga o mero crescimento do verdadeiro desenvolvimento económico, que tem de ser também social, humano e cultural, como acontece com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)  ou como o índice Gini, que mede a desigualdade económica.

Ambos esses índices não estão isentos de críticas, como sucede com qualquer tipo de rating, que analise situações macroeconómicas, pois, não se pode resumir as complexas relações humanas e socias, a base do estudo histórico e social,  a meros “campeonatos” estatístico.

Muitas vezes o PIB compara economias que "produzem ricos" com economias que produzem riqueza, não distinguindo a desigualdade na distribuição dessa riqueza ou os métodos,muita vezes desumanos e antisocias como ela é alcançada, o que, aliás, acontecia no Potugal doa anos 60.

Mas o mais grave e falacioso da comunicação de Nuno Palma não foi só essa questão.

Uma das frases bombásticas do orador, levado provavelmente pelo ambiente favorável de uma plateia rendida ao radicalismo, foi a de dizer que “desde o 25 de Abril Portugal é um regime de Esquerda”, considerando que, mesmo “a única excepção duradoura é a década de Cavaco Silva com um programa até social-democrata” e que “a nível europeu isto até é centro-esquerda”.

E começa aqui o desfilar entusiástico e delirante de falácias.

Até Cavaco é de “esquerda” (“social-democrata”) e assim arrumam-se, sem hipótese de argumentar, 48 anos de democracia, ideia que pode ser facilmente desmontada consultando a lista e o tempo dos governos, democraticamente eleitos, convém recordar, desde o 25 de Abril.

Dando de barato que o PS sempre governou “à esquerda” e que todos os governos provisórios  liderados por Vasco Gonçalves (com ministros do PSD e PS) foram dominados pela esquerda, contabilizamos 286 meses de governo “à esquerda” e 272 à “direita”, mais 29 meses de governos “ao centro”, considerando como centrista o 1º governo provisório, com Sá Carneiro como ministro, o governo de Pinheiro de Azevedo, dominado pelo PSD  e pelo PS, e os governos de Nobre da Costa, Mota Pinto e Maria de Lurdes Pintasilgo, aquele argumento cai pela base.

Recorde-se, aliás, que o “esquerdista” Cavaco Silva chefiou o governo durante 120 meses, grande parte em maioria absoluta.

Recorde-se que a “direita”, coligação entre CDS e PSD, governou também em “maioria absoluta”, 40 meses com a AD e 77 meses com Passos Coelho…ah! mas esta gente, para Palma, é suspeita de governar em “social-democracia” ou ao “centro-esquerda”!!

A única maioria absoluta à “esquerda” aconteceu como o primeiro governo de Sócrates, cerca de 48 meses, um governo, aliás, muito bem recebido por alguns pensadores da direita neoliberal, exactamente por tomar muitas das medidas antissociais preconizadas pelos “Nunos Palma” da época…

A ideia de Palma é quase tão absurda como a cassete das “políticas de direita” do PCP.

Mas Palma vai mais longe nas suas atoardas. Em certo momento, tomado de delírio, vem em defesa do Chega. Porque ilegalizar o Chega? (nós também não concordamos com essa intenção). Segundo ele existem razões, sim, é para ilegalizar a “extrema-esquerda”, o BE ou o PCP, por exemplo, até porque, ao contrário do Chega, “o PCP é um partido anti-democrático” e insurge-se contra o museu do Forte de Peniche que , citando o programa da instituição, é “uma homenagem aos presos políticos que lutaram pela democracia” o que para Palma são “os tais do PCP que lá estiveram presos” (aplauso entusiásticos).

É provável que a maior parte dos presos políticos no Estado Novo, nomeadamente os que estiveram presos em Peniche, fossem do PCP, mas a afirmação ignorante e falaciosa de Palma ignora tantos presos políticos, das mais variadas tendências, que por lá passaram, bem como as razões do papel histórico do PCP no combate à ditadura, afirmação grave feita por um professor universitário que se diz objectivo e contra “as ideologias”.

A forma como ele enfatiza esta parte da sua intervenção, e o entusiasmo que ela provocou entre a assistência, demonstra que entre a assistência há muita gente que acha que, se eram “comunistas”, então até mereceram a prisão!!

Outra afirmação de Palma que mereceu aplausos entusiásticos da assistência: “a extrema-esquerda controla a educação”.

E “extrema-esquerda”, para ele, é o Bloco de Esquerda, o PCP e até sectores  do PS, classificação tão absurda, dita por um professor universitário, como classificar o PSD, o CDS  ou a Iniciativa Liberal como de “extrema-direita”.

E em que é que Palma fundamenta a sua argumentação? na citação cirurgica de uma parte do programa oficial de História do 12º ano : “…reconhecer que [o Estado Novo] …impediu a normalização económica e social do país” e, outra  falácia, como o demostrarei mais à frente, uma sugestão de trabalho sobre o Holocausto, “associando o Holocausto ao Estado Novo”, uma situação que, se fosse verdadeira, eu também consideraria absurda.

Insurge-se ainda com a bibliografia dominada por autores “marxistas”, como Hobsbawn e Fernando Rosas.

Fiz aquilo que Palma recomenda, fui consultar o programa disponível na página do Ministério da Educação e…até eu fiquei espantado com a falta de seriedade das afirmações de Palma!!!:

No Módulo 7, “Crises, embates ideológicos e mutação cultural na Primeira Metade do Século XX”,  o “conteúdo” 2.5 tem como título “Portugal: O Estado Novo” refere, entre outros, um conteúdo especifico sob a seguinte designação: “uma economia submetida aos imperativos políticos: prioridade à estabilidade financeira; defesa da ruralidade; obras públicas e condicionamento industrial; a corporativização  dos sindicatos; a política colonial”.

No final deste módulo refere como “aprendizagem a reter”, reconhecer “ que, no Estado Novo, a defesa da estabilidade  e da autarcia se apoiou na adopção de mecanismos repressivos e impediu a modernização económica e social”.

Esta “prendizagem” não se refere a todo o período do Estado Novo, mas à época antes do final da 2ª Guerra. Palma interpretou-a como uma “aprendizagem” mais generalista porque, ou lhe convinha a meia verdade, ou não reparou que o Estado Novo volta a ser analisado no Módulo 8, referente agora ao período do pós guerra, onde se estuda “Portugal do autoritarismo à democracia”, referindo-se no ponto 2.1 deste capítulo o “imobilismo político e crescimento económico do pós-guerra a 1974”. Repito : “CRESCIMENTO ECONÓMICO”!!!!

E neste ponto indicam-se como “aprendizagens relevantes”, relacionar “ a fragilidade da tentativa liberalizadora e da modernização económica do marcelismo com o anacronismo da sua solução para o problema colonial” e “reconhecer a modernização da sociedade portuguesa nas décadas de 60 e 70, no comportamento demográfico, na modificação de estrutura da população activa e na relativa aproximação a padrões de comportamento europeus”. Sublinho : “RECONHECER A MODERNIZAÇÃO (…) NAS DÉCADAS DE 60 e 70”.

Em relação à sugestão de trabalho sobre o Holocausto, esta, no documento, refere-se a outro tema do módulo 7, apesar de estar referido na mesma página do conteúdo 2.5, situação que se deve à organização das páginas, divididas em 3 tabelas, onde as duas primeiras, “conteúdos” e “conceitos”, estão relacionadas entre si e a terceira, com sugestões de trabalho, faz a listagem de todas as sugestões para todo o módulo. Um professor/investigador não ter reparado nisto e ter feito disto tema da sua comunicação é revelador da “competência” do mesmo em analisar documentos.

Pelo contrário, nesse documento, até surgem como sugestões de leitura, os discurso de Salazar.

Podemos discordar de certos conteúdos ou da ausência de outros, mas não existe no programa qualquer vestígio evidente do controle da educação pela "extrema-esquerda".

Por último, a infeliz referência ao “domínios marxista” da Bibliografia: de facto vem indicadas 3 obras de Hobsbawn, entre elas “A Era dos Extremos”, e 2 de Fernando Rosas, uma delas o “Dicionário de História do Estado Novo” por ele dirigido, mas com a colaboração de autores das mais variadas tendências, ao lado, aliás, dos 3 volumes do Dicionário de História de Portugal, relativos ao Estado Novo, coordenados por António Barreto e Filomena Mónica. Nas dezenas de sugestões de leitura também se incluem obras de “perigosos marxistas” como François Furet, José Mattoso, José Carlos Espada,Nuno Valério, José Hermano Saraiva, Joaquim Veríssimo Serrão, Braga da Cruz, A.H. de Oliveira Marques, Fátima Patriarca, António José Telo ou António Costa Pinto, entre outros.

Quanto muito, podemos criticar uma certa desactualização dessa bibliografia, mas não existe, na que é porposta, qualquer sinal de "domínio marxista".

Pela reacção do público de "direita" a esta comunicação, ficámos a "saber" que, na falta de um projecto económico para Portugal, alternativo ao mítico "modelo socialista", só têm para oferecer um "modelo económico" como o  do Estado Novo...sem Salazar (...eventualmente...sem ditadura!!), uma economia que "produz ricos", em vez de produzir riqueza, baseada na desigualdade na distribuição dessa riqueza, na perseguição aos sindicatos, na remessas da emigração provocada pela miséria das populações rurais, nos baixos salários e na negação de direitos sociais.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Ainda a propósito do “branqueamento da História” no Congresso do MEL (1).


 Dei-me, finalmente, ao penoso trabalho de assistir às duas intervenções do Congresso do Movimento “Europa e Liberdade” que mais polémica geraram, a de Maria Fátima Bonifácio e a de Nuno Palma.

A primeira, e menos interessante, a de Maria de Fátima Bonifácio, que numa comunicação indigente, “relatou”, em tom monocórdico e cansado, como se falasse para uma plateia de ignorantes,  a “história” da consolidação do “Estado” português, desde D. Afonso Henriques, uma história cheia de lugares comuns e de interpretações forçadas, para nos conduzir ao elogio de “um tirano duro e frio”, mas “inteligente e patriota”, que, mesmo “prendendo, deportando e perseguindo”, impusesse “à estima do mundo um povo”, libertando-o de políticos torpes e estúpidos, citando as palavras de Basílio Teles no final da monarquia,  palavras com as quais nos conduziu, desta vez citando Fernando Pessoa, para justificar, com elas,  “porque motivo o país estava a pedir um Salazar”, o “salvador desse país  cativado pelo Estado, e por um parlamento “eloquente e palavroso” , na “sua simplicidade, dura e fria”.

“Esqueceu-se”, a eminente historiadora, que Fernando Pessoa rapidamente se desiludiu com mítico “salvador”, ainda no início da construção do Estado Novo. Ao que parece, para a sua mal preparado comunicação, não leu a obra “Fernando Pessoa – Sobre Fascismo, Ditadura Militar e Salazar”, de José Barreto, editado em 2015 pela Tinta-da-China, de onde transcrevemos este esclarecedor poema:

“Poema sobre Salazar

 

António de Oliveira Salazar

Três nomes em sequência regular...

António é António.

Oliveira é uma árvore.

Salazar é só apelido.

Até aí está bem.

O que não faz sentido

É o sentido que tudo isto tem

 

Este senhor Salazar

E feito de sal e azar.

Se um dia chove,

A água dissolve o sal,

E sob o céu

Fica só azar, é natural.

 

Oh, c’os diabos!

Parece que já choveu...

... ... ... ... ... ... ... ... ...

 

Coitadinho

Do tiraninho!

Não bebe vinho.

Nem sequer sozinho...

 

Bebe a verdade

E a liberdade.

E com tal agrado

Que já começam

A escassear no mercado.

Coitadinho

Do tiraninho!

O meu vizinho

Está na Guiné

E o meu padrinho

No Limoeiro

Aqui ao pé.

Mas ninguém sabe porquê.

Mas enfim é

Certo e certeiro

Que isto consola

E nos dá fé:

Que o coitadinho

Do tiraninho

Não bebe vinho,

Nem até

Café

 

Fernando Pessoa

ANTOLOGIA in Sobre o Fascismo, a Ditadura Militar e Salazar,

de Fernando Pessoa 5-4-1935

Do painel onde participou a dita historiadora, salvaram-se as intervenções de Jaime Nogueira Pinto e de José Miguel Júdice que, de forma indirecta, irónica e respeitosa, desmontaram o essencial da comunicação de Fátima Bonifácio, facto que a mesma parece não ter percebido.

À segunda intervenção, a mais interessante,  a de Nuno Palma, voltaremos a em próxima ocasião.



segunda-feira, 31 de maio de 2021

À Direita, muito fel, pouco “MEL”.

 

(cartoon de ANTÓNIO GASPAR)

A direita portuguesa tem andado muito activa nas últimas semanas.

“Ele” foi a Convenção do MEL (Movimento Europa e Liberdade)!

“Ele” foi o 3º Congresso do Chega!

Em ambos os eventos, a direita assumiu um discurso cada vez mais extremista, intolerante e arrogante.

Para o país, nem uma ideia nova.

Sobre o Chega estamos “falados”, já sabemos ao que vem, assumindo-se como partido extremista da direita, no próprio discurso do líder, xenófobo nas atitudes, que vem para “limpar o país”, sabendo nós o que representa essa “limpeza”.

Da Convenção do MEL esperava-se um pouco mais, mas o que ficou foi o branqueamento e a recuperação do salazarismo, pela mão de uma “eminente” historiadora, Fátima Bonifácio, foi o ressuscitar de Passsos Coelho e do ir “além da Troika”, e foi a “normalização” do CHEGA.

Não deixa de ser curiosa a recuperação da figura de Salazar numa convenção que se intitula da “Europa” e da “Liberdade”, se nos lembrarmos que Salazar foi o construtor e o símbolo da mais longa ditadura da nossa história nos últimos cem anos e o defensor do “orgulhosamente sós”.

Apelidar o movimento que defende tais ideias de “Europa e Liberdade”, faz lembra as velhas designações  de Repúblicas “Democráticas” e “Populares” dos regimes ditos “comunistas” do leste ou da actual Coreia do Norte.

Não se ouviu uma palavra sobre o que essa gente pensa dos problemas do país: a crise da habitação, os salarios baixos, a precariedade do emprego, as desigualdades socias, a corrupção. Quanto muito, mas de forma dissimulada, defendeu-se a redução ou mesmo a total ausência do  Estado na educação e na saúde, com a privatização de tudo, menos da justiça e da segurança, a entregar à “gente de bem”.

O silêncio sobre essas questões contrastou com o “ruído em surdina” à volta do sebastianismo de Passos Coelho, atitude que é suficiente para ficarmos a conhecer, nas entrelinhas do endeusamento do ex-primeiro-ministro, o “programa” social para o país: o revanchismo do “mais do mesmo”,  do “ir além da troika”, ou seja, privatização do Estado, entregue à gestão de amigos e “empresários de bem”, brutal aumento de impostos para as classes médias, esmagamento dos direitos sociais, cortes salariais, precariedade do emprego, substituição da solidariedade social pela caridadezinha, total submissão aos ditames do corrupto sector financeiro, pois esse foi, até agora, em democracia, o único programa executado pela direita mais consequente, a do “passos-coelhismo” (o outro "programa" conhecido foi o do salazarismo).

Por último, a terceira “cereja” no "pote" do MEL, a promoção de André Ventura e do seu discurso assumidamente extremista no seio da família da direita, contrastando com o desprezo demonstrado pelas posições moderadas da direita, representadas por Rui Rio, um dos bombos dessa “festa”.

Da direita sobra pouco “mel” e destila-se, cada vez mais, muito “fel”!

sexta-feira, 29 de maio de 2020

COVID-19 : o 1º de Maio e o aumento de casos na região de Lisboa- o irreal imaginário de uma relação absurda.

Nas redes sociais o debate sobre o Covid-19 está cheio de irreais imaginários fanáticos e enraivecidos.

Das teorias da conspiração (o “vírus fabricado em laboratório”, os “números escondidos”, os remédios “milagrosos”…) ao voyerismo social (andar de régua em punho e máquina fotográfica a medir as distâncias nas ruas, nas praias e nas esplanadas) tudo serve para “afastar” o medo e revelar o irracionalismo ignorante, intolerante e fanático de muitos.

Ponto alto desse “debate” foram a celebração do 25 de Abril e, especialmente, a comemoração do 1º de Maio na Alameda.

Revelei dúvidas sobre esta comemoração, não tanto por achar que, pela forma como foi organizado o 1º de Maio, houvesse qualquer risco para a saúde pública, mas porque iria alimentar a argumentação fanática de alguns.

Não só essas comemorações, como seria previsível, não provocaram qualquer surto, como até colocaram a “barra” muito acima para quem, no futuro, queira organizar um evento público ao ar livre, em tempo de epidemia.

Fizeram-se até comparações absurdas com o 13 de Maio, situações diferentes, embora até se pudesse ter organizado se houvesse a mesma capacidade de organização demonstrada pela CGTP (isto é, apenas com uns mil padres e freiras distribuídos pelo espaço de Fátima, única comparação possível com o 1º de Maio…mas que nada tinha a haver com o espírito de Fátima, como sabe a hierarquia da Igreja, encerrando aí a polémica alimentada por alguns sectores mais fanatizados da direita).

Agora voltou a surgir o 1º de Maio na argumentação desses mesmos fanáticos, a propósito do aumento de casos de COVID-19 na região de Lisboa e, especialmente, num bairro pobre do Seixal.

Para esses, isto foi o resultado da 1º de Maio !!!!???

Ou seja, um surto que se começou a revelar a partir do dia 17 de Maio, com principal incidência a partir do 25 de Maio…teria resultado da deslocação de sindicalistas da outra margem transportados em autocarros da Câmara do Seixal para …o 1º de Maio!!!!

Na pressa de alimentarem o seu fanatismo “esqueceram-se” de alguns “pormenores”: que se saiba,  a doença revela-se geralmente entre o 4º e o 5º dia após a contaminação e, em casos menos frequentes, até 14 dias; os habitantes do bairro do Seixal, onde se revelou o surto, não tem ligação com os presentes no 1º de Maio; os maiores surtos da região de Lisboa registaram-se em Sintra, Cascais e Oeiras, localidades pouco dadas a manifestações “esquerdistas”….

Ora esse surto passou-se mais de 17 dias depois do 1º de Maio, a não ser que consideram que os “esquerdalhos” (como eles apelidam sindicalistas) sejam tão ruins que o “bicho” só se revela neles muito para além do tempo médio e cientificamente provado do seu desenvolvimento!!!!

Não deixa também de ser curioso que os mesmos que se apressaram a fazer essas absurdas comparações e relações da “causa-efeito”, sejam os mesmos que encheram as suas páginas com loas de apoio às manifestações da extrema-direita espanhola da Vox, defendendo uma “causa” diferente daquela que dizem defender por cá. Essa manifestação era contra as medidas de contenção impostas pelo governo espanhol, medidas essas que foram muito mais tardias e moderadas do que as tomadas por cá.

Enfim, a cegueira intolerante e fanática de alguns conduziram-nos a alimentar um absurdo mundo “irreal imaginário”!

segunda-feira, 20 de abril de 2020

25 de Abril - Homenagear e comemorar não é festejar



Este não é tempo de festejar, mas é tempo de comemorar e homenagear.

Reina por aí uma grande confusão por causa das “comemorações “ do 25 de Abril e do 1º de Maio.

Ou antes, não existe confusão, a não ser entre ignorantes, mas sim má fé, intolerância e fanatismo (leia-se, a propósito, o que já escrevemos AQUI).

Claro que a forma como o assunto foi abordado por alguns deputados e, principalmente pelo Presidente da Assembleia da República, não foi a mais esclarecedora e contribui para dar argumentos à direita revanchista que viu aqui uma oportunidade para virar o “povinho” contra a legitima comemoração dessas datas.

O que essa direita revanchista soube utilizar com mestria foi a confusão entre “comemoração” e “festa”, entre “comemoração” e “manifestação”, entre algumas pessoas devidamente confinadas e protegidas e a imagem de “multidões”  na rua.

Depois foi usar,.com toda a mestria, que lhe é reconhecida (já elegeu Trump e Bolsonaro por outras bandas) o uso das redes socias, das “fake news” e das “meias verdades”, para encontra apoio na comunicação social, nas redes socias e entre o “povo”, lançando uma campanha de comparações absurdas e demagogicas (entre as comemorações da Páscoa e as do 25 de Abril e 1º de Maio, por exemplo), para lançar uma petição, que, partindo do “repudio” pelas comemorações do 25 de Abril, ensaia uma movimentação mais musculada, no futuro próximo, contra a democracia e a liberdade, à boleia das actuais medidas de excepção, tal como está a ser feito na Hungria ou na Polónia.

O COVID-19 é “amigo” dos candidatos a ditadores e das politicas autoritárias…

Muito provavelmente essa petição vai conseguir o pleno da extrema direita (recorde-se que o CHEGA conseguiu mais de 66 mil votos nas últimas eleições), da direita conservadora do CDS mais 216 mil votos) e algumas franjas do PSD (os “cavaquistas” e os “passos coelhistas”) e franjas de outros partidos de direita e da abstenção.

Ou seja, umas 300 mil assinaturas. Abaixo disso será um desastre para quem lançou a petição (embora o procure disfarçar, porque o número, assim em bruto, parece “impressionante”).

Contudo alguns democratas e alguma esquerda parece terem caído na armadilha da guerra dos números.

Para mim, a melhor argumentação contra aqueles revanchistas é comemorar condignamente a data, seguindo as recomendações sensatas da Associação 25 deAbril, para se comemorar cantando o Hino e da Grândola à janela, às 3 da tarde do 25 de Abril e para que haja bom senso na Assembleia da República, reduzindo ao mínimo o número de presenças (não muito mais  do que aquelas que têm sido as presenças habituais num órgão de soberania que tem continuado a funcionar, porque a democracia não fechou para férias e não seria compreensível o seu encerramento numa altura destas não seria compreensível para os milhares de portugueses que continuam a trabalhar para manter a saúde e o país a funcionar).

Sobre as comemorações do 1º de Maio, falaremos noutra ocasião.

É importante comemorar o 25 de Abril, mas sem dar mais argumentos aos revanchistas da direita.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

O“MEL” do “fel”…



A direita ressabiada e saudosa da “troika” reúne-se por estes dias em Lisboa.

Designa-se de “MEL”, mas de ideias…só se for para apanhar moscas!

A conversa é a de sempre: “menos Estado”, “privatizações”, “salários competitivos” (isto é…baixos e sem garantias!), “menos direitos para os cidadãos e mais direitos para as (grandes) empresas”, por estas ou por outras palavras mais "subtis"…

Nada de novo portanto nesta versão “ponto.2” do velho e estafado “compromisso Portugal” onde se “formaram” os “quadros” que aplicaram a receita do “além da troika”…

Indisfarçável foi a forma como se perfilaram, às claras ou em salas à parte, os candidatos a apanhar os restos das canas dum PSD meio desorientado liderado por Rui Rio.

Este “MEL” mais parece um congresso paralelo anti-Rio, dos saudosos do ausente-presente Passos Coelho que espera na sombra aparecer como o homem providencial da direita do “além da troika”…

Enfim, nada de novo, uma direita ressabiada, oferecendo mais do mesmo, disfarçando o seu fel com uma pinceladas de mel!!

terça-feira, 13 de março de 2018

“desdiabolizar” o CDS



Nos idos de 74, quando apareceu o CDS, para o pessoal das esquerdas, entre os quais me incluía ( e incluo), sendo que estão  era tudo de “esquerda” , não existindo nenhum grupo político que não incluísse alusões ao “socialismo” ou, no mínimo, ao “social”, aquele partido surgiu como o partido mais à direita, mesmo que o pretendesse disfarçar com o tal “Social” (Centro Democrático Social).

Apesar do “disfarce” do “Social”, nós, os “esquerdistas”, não tínhamos ilusões, e todos o encostávamos à “extrema-direita” (com os seus concorrentes directos, o PDC [Partido Democrata-Cristão], o Partido Liberal e, algum tempo depois, os clandestinos e terroristas do ELP e do MDLP) .

Quem na altura olhasse para os líderes locais e nacionais desse partido, aquela classificação do CDS como a “direita da direita” era confirmada por nele se encontrem, em grande maioria, os “órfãos” do Estado Novo e da União Nacional.

Com a evolução da nossa democracia e com o atenuar da intolerância e do radicalismo ideológicos que marcaram os primeiros tempos da democracia, fomos-nos habituando a integrar aquele partido na esfera democrática, tendo para isso contribuído a então muito discutível atitude de Mário Soares de formar um governo de coligação com o CDS.

Pessoalmente, perdi os complexos em relação àquele partido, por um lado quando a ele se ligaram alguns amigos meus e, em especial num determinado momento, aí pelos idos de 80, quando assisti a uma aula de Adriano Moreira, uma das melhores a que assisti, tendo convivido com ele durante um almoço que se seguiu àquela aula.

Hoje, se lermos as opiniões de lideres históricos daquele partido, como Freitas do Amaral ou Bagão Félix, para além do acima referido Adriano Moreira, soa-nos ridícula a classificação do CDS como partido da extrema-direita, tão ridículo como chamar ao PCP ou ao Bloco de Esquerda partidos de extrema-esquerda.

Isso não quer dizer que o CDS não esteja nos antípodas políticos dos nossos valores de esquerda, nem que os seus militantes neguem o seu posicionamento politico à direita.

Talvez porque a deriva direitista do PSD tenha sido tão acentuada com a presidência de Passos Coelho, muitas das propostas programáticas que o CDS aprovou no congresso do passado fim-de-semana acabam por o colocar mais à “esquerda” do que o passos-coelhismo, recuperando algumas das preocupações sociais que eram apanágio, apesar da prática contrária dos seus governos, da história do PSD, prática essa destruída por Passos Coelho e que agora, com imensa dificuldade, Rui Rio procura recuperar.

As próprias questões fracturantes, que anteriormente muito distinguiam a direita da esquerda, como as questões de género ou das opções sexuais , deslocaram-se hoje para o interior do CDS.

Não sei se foi a direita que, perante o trauma da “troika”, virou “à esquerda” para disfarçar o seu colaboracionismo, se foi a esquerda que se “centrou” com a “geringonça”, mas é um facto que o CDS aprovou neste congresso muitas propostas que até podiam ser subscritas pela esquerda, como as preocupações com o ambiente ou a defesa de uma regionalização que combata a desertificação do interior.

Deve-se, aliás, a Assunção Cristas uma das frases mais emblemáticas do congresso e que até podia ser subscrita por qualquer homem ou mulher de esquerda, ao recusar  responder a mais “questões sobre como concilio trabalho e família, até ao momento em que a questão seja colocada aos homens que são pais e têm uma vida profissional e pública activa”.

A prestação de Assunção Cristas neste congresso até quase fez esquecer as responsabilidade do CDS e da própria Cristas no descalabro social provocado pelo governo “troikista”  liderado por Passos Coelho ou o facto de, nesse governo, ao ser solidário com ele, ter abandonado à sua sorte o eleitorado que sempre reivindicou, o da classe média e  dos pensionistas, os mais atingidos por esse governo.

Ao contrário do PSD, o CDS soube demarcar-se da herança desse ignóbil governo, surgindo assim como alternativa “credível” de direita ao próprio PSD, ainda desorientado pelo que lhe aconteceu e continuando preso àquela trágica herança.

Foi pena que a esquerda à esquerda do PS se tivesse prestado ao triste espectáculo de recusar o convite para assistir ao congresso. De uma vez por todas, seria importante que a esquerda deixasse de diabolizar o CDS e, para melhor o combater, o começasse a levar a sério.

Mais do que com Rui Rio, a esquerda tem agora um adversário de peso no CDS e é bom que não se deixe adormecer à sombra dos êxitos da “geringonça”.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Porque não fui à “manif”

(Fotografia do site EPHEMERA)

Já fui a muitas manifestações, menos nos últimos tempos do que na minha juventude ou nos tempos do “socratismo-coelhismo”, mas gosto de saber ao que vou.

As manifestações convocadas para o último Sábado, para além de legítimas, revelavam, nas suas palavras de ordem, uma intensão que todas as pessoas de bem subscrevem por baixo: “solidariedade para com as vítimas dos incêndios”, “pela defesa da floresta”, “agradecimento aos bombeiros” e “nunca mais!”.

O problema era o que se escondia por detrás da organização dessas manifestações, principalmente em Lisboa, já que nas outras localidades essas manifestações nos pareceram mais genuínas ( mesmo que fossem visíveis cartazes contra Costa no Porto…).

Em vésperas da apresentação de uma moção e censura do CDS ao governo, por puro oportunismo político, depois de termos sido bombardeados na comunicação social por uma miserável propaganda de uma direita ressabiadas que se aproveitou de forma indigna da tragédia para atacar o governo, o que se devia exigir, nessas manifestações, era clareza de intensões,

Pela minha parte fiquei esclarecidos sobre a intensão de quem estava por detrás dessas manifestações, à medida que fui conhecendo os “organizadores”:

- Um dos grupos que convocou a "manif" para Lisboa, era liderado por um tal Paulo Gorjão, um dos apoiantes de longa data de Passos Coelho, uma espécie de ideólogo do “passoscoelhismo” , homem ligado à obscura loja maçónica “Mozart”;

- Noutro dos grupos,o único lider que revelava a sua ideologia, um tal Nuno Pereira da Cruz ,, poucos dias antes dos incêndios, no dia 10 de Outubro, publicava, na sua página do facebook a seguinte prosa:

“PSD: 3,2,1 go! 

“É certo que Costa está a viver um estado de graça, mas o dificil seria não o viver. Costa governa sem os sindicatos nas ruas, sem a contestação do PCP e BE, tem a economia a crescer e distribui rendimentos todos os dias às pessoas. Mas Costa não é imbatível. Não considero que o senhor que se segue no PSD esteja condenado a ser um líder de transição e que a vitória de Costa seja certa.

“Agora, o importante é que esse líder seja o líder desejado, que esta eleiçãoseja disputada, intensa, com grandes discussões e reflexões. Para isso é preciso integrar todos os militantes neste processo e seduzir a sociedade civil.

“Gostaria que a eleição do proximo líder fosse procedida de um congresso onde os candidatos se defrontassem, onde o PSD fizesse uma demonstração de força e vitalidade. E dois dias depois do congresso, as eleições. Abertas a todos os militantes e simpatizantes. Mas não é isso que vamos ter. Talvez venha a ser um dos temas desta campanha.

“Venha então o debate interno necessário dentro do único partido genuinamente português. Que não é herdeiro de nada, nem segue qualquer ideologia internacional. Paz, pão, povo e liberdade. 3,2,1 go!”.

Atrás deste último escudava-se um pequeno número de gente anónima, mas nos quais, vasculhando as suas páginas do facebook, se pode descobrir um estilo muito próximo daquela ideologia.

-Uma terceira convocatória e que acabou por absorver os outros era liderada por Rui Maria Pêgo, talvez o rosto mais credível das três organizações que convocaram a manifestação para Lisboa.

Mesmo assim, o aparente “apartidarismo” e caracter “independente” desta manifestação ficou manchada e revelou a sua natureza quando apareceu um cartaz acusando todos os governos “PS,PSD e CDS” , sendo os responsáveis deste cartaz, ligados ao MAS, um grupo dissidente do BE,  agredidos por manifestantes, não tanto pela acusação ao “governo”, mas porque incluiu o PSD e o CDS no lote. Alguns manifestantes deixaram mesmo cair o seu verniz “independente” e “apartidário” berrando para as televisões que “a rua não é da esquerda”.

As vitimas da tragédia, os bombeiros e a nossa floresta agora destruída, não mereciam esse comportamento.

Uma direita que se esconde por detrás do anonimato e de um pseudo “independentismo” e “apartidarismo” não merece a nossa confiança, mesmo que se escude em palavras de ordem que todos podemos subscrever.

Chega de manipulação.


 É tempo de arregaçar as mangas e fazer como em 1755: “enterrar os mortos e cuidar dos vivos”.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

A “noite de cristal” da direita Portuguesa.

(Cartoon de Vasco Gargalo)

Ontem foi um dia “mágico” para direita portuguesa ou, parafraseando o título de uma notícia do Público de hoje, a Direita “inchou” com o “ralhete de Marcelo ao Governo”.

O dia começou com todos os jornais exibindo, a toda a largura da primeira página, fotografias do presidente, com frases descontextualizadas da sua intervenção, ameaçando o governo, como se estivéssemos perante um golpe de Estado.

Pouco tempo depois foi anunciada a demissão da Ministra da Administração Interna.

Veio-se a saber durante o dia que a maior parte dos jornalistas já sabia da demissão da ministra ainda antes da intervenção de Marcelo, mas retiveram a notícia,  para dar a idéia que aquela demissão era uma consequência directa da intervenção do presidente, até porque, perante essa notícia, seriam obrigados a alterar a primeira página, retirando impacto à abusiva interpretação que quiseram fazer do discurso do presidente.

Menos de uma hora depois de se saber da demissão da ministra, caia a notícia de que as armas de Tancos tinham aparecido, sabendo-se, mais tarde, que a Policia Judiciária , que investigava o caso, só foi informada daquela descoberta depois das armas terem sido retiradas do local onde estavam, e depositadas novamente em Tancos.

Essa foi uma notícia que também era conveniente que só se conhecesse depois da demissão da ministra!

Mas o dia perfeito para a direita portuguesa não se ficou por aqui.

Pouco depois, começou a ganhar impacto, nas redes sociais, uma convocatória feita no dia anterior para uma manifestação de uma “maioria silenciosa” “contra os incêndios”, que já tinha sido ensaiada na noite anterior.

Contudo, sabe-se que essa convocatória não é tão inocente como isso. O Próprio Público, na sua edição de ontem, referia, numa noticia convenientemente “escondida” numa pequena caixa de texto, que, por detrás da manifestação da noite anterior estava um site não identificado e outro ligado a gente do PSD próxima de Passos Coelho. Ao longo do dia soube-se mais sobre quem está por detrás da convocação dessa manifestação, marcada para o próximo Sábado: figuras ligadas a Passos Coelho.

Para além da sessão parlamentar de ontem, onde a direita, com todo o oportunismo e falta de vergonha que a tem caracterizado nos últimos tempos, aproveitou para desancar no governo e anunciar formalmente a apresentação de uma moção de censura, deu-se a aparição de um Passo Coelho rejuvenescido, desaparecido de circulação desde que anunciou que não se recandidatava à liderança do partido, mas agora em posse de quem não está de partida. A partir de ontem é caso para dizer a Santana Lopes e Rui Rio   que se cuidem.

Na minha opinião, esta foi a ocasião esperada por Passos Coelho para criar uma “vaga de fundo” que o reconduza à liderança do PSD….a ver vamos!!

Mas também, no meio da sua euforia, a direita deu alguns  tiros nos pés, pois forçou muita gente a investigar, descobrir e recordar  leis, medidas politicas na área do ordenamento florestal  e do território que conduziram ao desastre ambiental que potenciou a tragédia a que assistimos no Domingo, leis e medidas essas assinadas , entre outras, pelo próprio Passos Coelho e por Assunção Cristas (ver AQUI e AQUI).

Além disso, o momento eufórico em que vive a direita, põe em causa a desejada conciliação nacional e acordo de regime, defendidas pelo Presidente, para levar para a frente as necessárias e verdadeiras reformas estruturais nas áreas da prevenção e combate a incêndios e um profundo e urgente ordenamento florestal e do território.

Tudo isto contribui para fazer esquecer quem esteve por detrás dos “atentados terroristas” de Domingo, bem como passou para segundo plano a descoberta do envolvimento de gente próxima de Passos Coelho na “operação marquês”, noticia também conhecida ontem.

António Costa está a passar a sua verdadeira prova de fogo, e terá de agir rapidamente, pondo em prática as reformas propostas pelas comissões que analisaram os incêndios deste ano e encontrando a melhor forma de as financiar.

A direita, essa, já ameaçou que vai continuar a boicotar a acção do governo e a aproveitar todas as tragédias que venham a acontecer, mesmo que muitas delas sejam a consequência lógica de anos de cavaquismo e de políticas de austeridade.