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terça-feira, 30 de abril de 2013

O Respigo da Semana : Ricardo Araújo Pereira "escreve" aos desempregados...



“Caro desempregado,

"Em nome de Portugal, gostaria de agradecer o teu contributo para o sucesso económico do nosso país. Portugal tem tido um desempenho exemplar, e o ajustamento está a ser muito bem-sucedido, o que não seria possível sem a tua presença permanente na fila para o centro de emprego. Está a ser feito um enorme esforço para que Portugal recupere a confiança dos mercados e, pelos vistos, os mercados só confiam em Portugal se tu não puderes trabalhar. O teu desemprego, embora possa ser ligeiramente desagradável para ti, é medicinal para a nossa economia. Os investidores não apostam no nosso país se souberem que tu arranjaste emprego. Preferem emprestar dinheiro a pessoas desempregadas.

"Antigamente, estávamos todos a viver acima das nossas possibilidades. Agora estamos só a viver, o que aparentemente continua a estar acima das nossas possibilidades. Começamos a perceber que as nossas necessidades estão acima das nossas possibilidades. A tua necessidade de arranjar um emprego está muito acima das tuas possibilidades. É possível que a tua necessidade de comer também esteja. Tens de pagar impostos acima das tuas possibilidades para poderes viver abaixo das tuas necessidades. Viver mal é caríssimo.

"Não estás sozinho. O governo prepara-se para propor rescisões amigáveis a milhares de funcionários públicos. Vais ter companhia. Segundo o primeiro-ministro, as rescisões não são despedimentos, são janelas de oportunidade. O melhor é agasalhares-te bem, porque o governo tem aberto tantas janelas de oportunidade que se torna difícil evitar as correntes de ar de oportunidade. Há quem sinta a tentação de se abeirar de uma destas janelas de oportunidade e de se atirar cá para baixo. É mal pensado. Temos uma dívida enorme para pagar, e a melhor maneira de conseguir pagá-la é impedir que um quinto dos trabalhadores possa produzir. Aceita a tua função neste processo e não esperneies.

"Tem calma. E não te preocupes. O teu desemprego está dentro das previsões do governo. Que diabo, isso tem de te tranquilizar de algum modo. Felizmente, a tua miséria não apanhou ninguém de surpresa, o que é excelente. A miséria previsível é a preferida de toda a gente. Repara como o governo te preparou para a crise. Se acontecer a Portugal o mesmo que ao Chipre, é deixá-los ir à tua conta bancária confiscar uma parcela dos teus depósitos. Já não tens lá nada para ser confiscado. Podes ficar tranquilo. E não tens nada que agradecer.”

Ricardo Araújo Pereira

in Revista Visão -27 de Março de 2013

O CARTOON DA SEMANA - "Made in Bangladesh"


segunda-feira, 29 de abril de 2013

WALMART, PRIMARK , MANGO e C&A , marcas “assassinas”?




Nos anos 70 o Bangladesh entrou nas páginas dos jornais pelas piores razões, a fome que dizimava as suas populações. Em 1971 George Harrisonreuniu vários músicos e organizou um grande concerto de solidariedade que alertou o mundo para a dramática situação daquele país.

Mais de 40 anos depois aquele país volta às primeiras páginas dos jornais, mais uma vez pelas piores razões, a derrocada de um edifício de vários andares, o Rana Plaza, onde trabalhavam mais de dois mil operários, a maior parte mulheres, para a indústria do vestuário, que é a base da economia daquele pobre país.

A fome extrema de há quatro décadas deu lugar à miséria extrema da mais abjecta exploração da mão-de-obra barata daquele país.

Com salários a rondar os 29 euros… POR MÊS (!!!!) , a industria têxtil desse país emprega quase 4 milhões de trabalhadores.

A maior parte trabalha em situação humanamente degradante, sem o mínimo de condições de segurança. Acidentes como o registado na passada semana, que matou cerca de 400 trabalhadores, têm sido frequentes naquele país. Ainda no mês passado morreram 170 trabalhadores no incêndio noutra fábrica do sector.

A maior parte dessas fábricas que proliferam no Bangladesh foram subcontratadas para fornecer marcas ocidentais, como a norte-americana WALMART, a irlandesa PRIMARK e a espanhola MANGO ou a C&A. Pelo menos as três primeiras estão envolvidas neste acidente, já que as fábricas instaladas no edifício que ruiu trabalhavam para fornecer a roupa barata que aquelas marcas vendem no ocidente.

O rápido crescimento do desemprego e da pobreza entre os trabalhadores europeus é uma outra consequência directa desse “comércio livre” sem regras em que transformou a globalização. Aliás, muitas da falta de condições de trabalho existente nesses países é cada vez mais defendido como modelo “concorrencial” a aplicar no ocidente, nomeadamente nos países do sul da Europa.

É bom recordar que uma das partes da Declaração Universal dos Direitos do Homem é dedicada aos direitos de quem trabalha, desrespeitados na maior parte desses países, e cada vez mais ignorados no próprio ocidente dito “civilizado”.

Ao fechar os olhos ao dumping social ( e ambiental) praticado na maior parte dos países asiáticos, ditos “emergentes” (Índia, Bangladesh, China e tantos outros), os líderes políticos da Europa e dos Estados Unidos, bem como grande parte das suas grandes empresas multinacionais,  tornam-se conivente por tragédia como esta.

É tempo de exigir mudanças na falta de regras do comércio internacional, em prejuízo, obviamente, dos lucros chorudos dessas empresas, mas em proveito da melhorias das condições de vida de quem trabalha.


Empresário espanhol entre os principais suspeitos por desastre no Bangladesh - PÚBLICO(ler aqui as últimas notícias sobre a tragédia).

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Visão com uma capa original:

A revista Visão, hoje nas bancas, mostra um dos títulos e uma das capas mais originais:


Antena 1 - Entrevista a Eduardo Gageiro

Esta noite Eduardo Gageiro vai estar nos Paços do Concelho, em Torres Vedras, para lançar o seu último livro, "Liberdade", sobre as fotografias que fez no 25 de Abril de 1974.
Em baixo podem ouvir a última entrevista que esse grande fotógrafo português, que marcou muito a iconografia dessa data, deu à Antena 1:

Comemorar Abril: 39 anos do 25 de Abril: há festa em todo o país e começa já hoje - PÚBLICO

Miguel Portas deixou-no há um ano:“Quem não se arrepende de nada ou é parvo ou santo” .

Recordar Miguel Portas, um ano depois de nos deixar, através de algumas das suas entrevistas:

Documentos de Wikileaks lançam nova luz sobre a Revolução dos Cravos

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Os Negócios do Centrão: Financiamento de risco na Metro do Porto provocou remodelação governamental

Financiamento de risco na Metro do Porto provocou remodelação governamental - PÚBLICO(clicar para ler)



Esta notícia, hoje divulgada no Público, e que é o tema da reportagem do dia desse jornal, é bastante reveladora daquilo que tem sido a “desgovernação” do país na última década, com responsabilidades de todos os governos do “centrão” desde, pelo menos, o governo de Durão Barroso, na continuidade, aliás, do “cavaquismo”.


Sempre estranhei a destruição sistemática do sistema de transportes públicos nos últimos anos.

“Afinal” as empresas públicas, que deviam existir para servir os cidadãos, em especial as dos sectores dos transportes, apenas têm servido para distribuir cargos pelos “boys” dos partidos do “arco do poder”, para realizar chorudos negócios em benefício do sector financeiro e à custa dos cidadãos, e para fazer circular essa gente do poder político para o poder das empresas públicas, e vic-versa.


Pensava que administração de uma empresa pública se preocupava em melhorar, rentabilizar e desenvolver o serviço da empresa que geria, servindo os cidadãos nas suas necessidades. Mas ficamos a saber que essa gente só por lá anda para “facilitar” os negócios, próprios e do alheio, nomeadamente de grandes empresas privadas e do sector financeiro.


A engenharia financeira realizada por essa gente que esteve ou está á frente dessas empresas nos últimos anos, principalmente a partir dos tempos de Durão Barroso, custou ao país, segundo os cálculos do Público, mais de …TRÊS MIL MILHÕES DE EUROS…!!!!


Sim, leu bem, três mil milhões de Euros…Mais do que o dobro daquilo que “custou” ao país, segundo o que governo nos procura “vender”, a decisão do Tribunal Constitucinal.


Como de costume, a culpa vai morrer de velha, essa gente vai continuar a circular entre o poder político, as empresas públicas, as grandes empresas privadas e o sector financeiro, impávida e serena …para nós sobra um péssimo serviço público no sector dos transportes e …o pagamento da “austeridade” que essa gente provocou….e, se ainda sobrar “tempo”…a destruição dos postos de trabalho nessas empresas, a sua privatização ao desbarato e a destruição do que restar de serviços públicos…

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Morreu Storm Thorgerson, o Pink Floyd que não era músico,autor de algumas das mais emblemáticas capas do grupo.

Últimas de Boston: Ce que l'on sait des frères Tsarnaev, suspects de l'attentat de Boston



Uma impressionante fotografia das ruas de Boston desertas, esta tarde.

 Entretanto o Le Monde avança com notícias sobre os irmãos Tsarnaev, os suspeitos pelos atentados de Boston:

GOVERNADOS POR UMA FOLHA DE EXCEL...e ainda por cima com erros: Académicos terão descoberto erro na fórmula de um estudo que sustenta políticas de austeridade




Quando ouvíamos os adeptos da política de austeridade, por cá e por essa Europa fora, com  o ar mais cândido deste mundo, espantados com os resultados “não previstos” da sua receita de austeridade e de destruição da sociedade para onde nos conduzem(aumento da pobreza, aumento de desemprego, aumento da recessão, aumento das falências, queda do consumo, queda do PIB, enquanto o deficit e a dívida pública continuam  aumentar),eles não estavam a fingir, acreditavam mesmo naquelas políticas.


Qualquer cidadãos com um mínimo de conhecimentos históricos e económicos percebia qual seria o resultado das medidas de austeridade.


Mas “respeitáveis” economistas, comentadores e políticos continuavam a acreditar cegamente no que faziam e diziam em defesa das medidas de austeridade.


Tinham atrás de si vários estudos de “grandes”  e “prestigiadas” universidades e de” grandes” economistas e por isso limitavam-se a seguir o “guião” seguido por tão incontestáveis cérebros.


Tudo ía bem para a narrativa dessa gente, embora à custa do bem-estar, dos direitos e do futuro dos cidadãos europeus, até se descobrir que afinal “o rei ía nu”.


Descobriu-se agora que o estudo que serviu de base para estas políticas, elaborado por uma “prestigiada” universidade e uma dupla de “prestigiados” economistas norte-americanos, tinha erros grosseiros de cálculo e tinha analisado dados de forma parcial, eliminando dados que conduzissem a conclusões diferentes daquelas que eles pretendiam atingir, que era a de justificar este tipo de austeridade.


Cândidamente, desde figurões como o sr. Olly Rehn, até às nossas figurinhas locais, como o governador do Banco de Portugal ou o incompetente Gaspar, citaram esse estudo até à exaustão para justificar a sua “austeridade”.


Agora que se descobriu a aldrabice, seria de esperar um pedido de desculpas públicas por parte dessa gente e, no caso do sr. Rehn, um dos principais  “rostos do mal” do fanatismo neoliberal, que exerce um cargo para o qual nenhum cidadão europeu o elegeu, o mínimo que devia fazer era pedir a sua demissão.


Infelizmente esta gente, para além de histórica e humanamente ignorante, não tem ética nem humanismo e nunca irá reconhecer o erro que está a custar a vida dos europeus e o futuro da solidariedade europeia.


Continuarão, na sua arrogância e teimosia, que é a arma dos ignorantes e dos fanáticos, a defender a destruição da sociedade europeia.


É tempo de os cidadãos europeus começarem exigir outra política e outra gente à frente dos destinos europeus. É tempo de os cidadãos europeus exigirem que a Comissão Europeia e a liderança do  BCE sejam eleitos e controlados democraticamente.


A continuar por este caminho, fazendo depender a vida das pessoas de erros de cálculo numa folha de Excel e de ignorantes decisores políticos, sem o mínimo de dignidade, humanidade e ética, a Europa caminha para uma das maiores tragédias da sua história.


Académicos terão descoberto erro na fórmula de um estudo que sustenta políticas de austeridade - Economia - Jornal de Negócios(clicar para ler).