A mensagem que o primeiro-ministro de Portugal dirigiu ontem
ao país, foi um dos momentos mais lamentáveis da história política recente do
país.
Com a arrogância do costume, Coelho revelou todo o fanatismo
do seu projecto ideológico e o desrespeito pelas normas constitucionais que
regem a democracia portuguesa.
Ao assacar ao Tribunal Constitucional as culpas pela
situação desastroso e dramática a que o seu governo está a conduzir o país,
revelou toda a sua falta de cultura democrática.
Esquece-se que foi ele o único primeiro-ministro que, em
democracia, apresentou dois orçamentos sucessivos eivados de inconstitucionalidades, e, por
isso, é ele o primeiro responsável pelas consequências da situação.
As Constituições em democracia existem para evitar abusos
por parte do poder contra os cidadãos, mesmo, e principalmente, em situações de
excepção.
Recorde-se que a actual
“situação de excepção” foi igualmente criada por este governo quando
resolveu, por um lado ir “além da Troika” e, por outro, comportar-se como
simples executante da liquidação económico-social de país imposta pelos
burocratas da União Europeia, do FMI ou da Banca alemã, assacando tudo o que
lhe mandam fazer, mesmo quando os resultados são desastrosos para o país.
O buraco em que nos encontramos não foi criado pelo Tribunal
Constitucional. O aumento de desemprego, a quebra do PIB, a falência de
empresas, o brutal aumento do custo de vida dos cidadãos, os cortes salariais,
a recessão histórica e o empobrecimento generalizado são da única e exclusiva
responsabilidade deste governo e das suas medidas de austeridade.
Em tom, algo entre o vingativo, e o puto "birrento", Passos Coelho procura agora justificar o
seu projecto de destruição do Estado Social, um Estado Social que, é já de si,
um caricatura do verdadeiro Estado Social que existe na Europa civilizada, com
a necessidade de responder à decisão do Tribunal Constitucional.
Aquilo que Passos Coelho apresenta como “consequência” dessa
decisão já estava nos projectos do governo e serve apenas de pretexto para
calar sectores do seu partido ou do partido da coligação que são menos radicais
e extremistas que o primeiro-ministro e que sabem que o pretenso peso do sector
público em Portugal é uma das mais descaradas mentiras deste governo.
Mas o mais dramático de tudo isto é que, antes da sua
lamentável intervenção, tenha recebido o
aval do Presidente da República, que se torna cúmplice, a partir de agora, da
destruição da sociedade portuguesa, ele que, enquanto primeiro-ministro, já tinha
sido cúmplice da destruição da economia portuguesa iniciada em finais da década
de 80.
José Sócrates tinha razão ontem, ao alertar para a situação
de que, a partir de agora, o governo,
está a funcionar como um verdadeiro governo de iniciativa presidencial.
Ontem, Passos Coelho deixou cair a sua máscara de um
fanático, alucinado e extremista neoliberal..
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