Ausente deste espaço voluntariamente durante a última
semana, não deixei de acompanhar a importância de acontecimentos que marcaram a
semana. Destaco, por cá o regresso de Sócrates e a chantagem do governo sobre o
tribunal constitucional, lá por fora a situação em Chipre e a bazófia do
ditador da Coreia do Norte.
Sócrates, o ressuscitado
Muito se falou e comentou por cá sobre o regresso de José
Sócrates.
Para mim, o seu regresso serviu para nos confrontar com o
deserto de ideias e projectos que marcaram estes dois últimos anos de governo e
oposição.
Ouvir um homem com convicções, com coragem e capaz de agitar
a mediocridade dominante, mesmo que se tenha discordado da sua actuação
governativa, como foi o nosso caso, não deixa de ser uma lufada de ar fresco,
mesmo que os argumentos sejam os de sempre, os da vitimização e da
autojustificação.
Sócrates fez o papel do puto reguila que aponta a nudez do “reino”:
um governo de ignorantes e de irresponsáveis, antipatriótico, como o de Coelho,
que apenas visa a destruição do país, em nome de uma ideologia neoliberal, desenvolvendo
uma política de terra queimada, sem oferecer nada em troca, a não ser o
desemprego, a miséria e o empobrecimento; um Presidente da República cobarde, incapaz de reagir e
conivente com o actual estado de coisas; uma comunicação social,
nomeadamente pela forma como valoriza a
presença de comentadores do regime, que se comporta, na maior parte dos casos,
como mero ministério da propaganda deste governo e da troika, vendendo até á
exaustão o discurso do caminho único e da defesa da austeridade como modelo de
gestão política e económica.
Claro que Sócrates também tem culpas no cartório, mas
perante a incompetência e ignorância reinante, até nós, que aqui sempre
criticámos a sua política, ficámos rendidos aos seus “encantos”.
A Chantagem…
Entretanto, o governo foi-se entretendo, quer directamente,
quer pela voz dos “seus” comentadores, a chantagear o Tribunal Constitucional,
tentando responsabilizá-lo pelo “caos” em que a sua decisão pode lançar o
governo e o país, caso reprove algumas das normas do Orçamento de Estado, por
serem anticonstitucionais.
Ora, antes de mais, o responsável principal pela situação é
o próprio governo, que tem governado desrespeitando a seu belo prazer a Constituição que jurou
cumprir. E aqui, mais uma vez, outro dos grandes responsáveis pelas
ilegalidades cometidas por este governo, é o Presidente da República, que vai
assinando por baixo tudo o que emana das “brilhantes” cabeças governativas.
Ao ameaçar com a inexistência de um plano alternativo, o
governo só revela o baixo nível da sua liderança e a mentira em que assenta a
sua governação, que nem as promessas eleitorais ou o próprio programa do
partido que o sustenta consegue respeitar.
O Tribunal Constitucional, se funcionar de forma
independente, só pode reprovar várias das normas deste orçamento.
EURO, O Início do Fim…
A situação em Chipre representa o início do fim da
credibilidade financeira do euro e da zona Euro.
Aqueles que agora descobriram o paraíso fiscal cipriota,
fecharam os olhos a essa situação quando isso lhes interessou e esquecem a
existência de outros paraísos no seio da
própria zona euro, com a Holanda ou o Luxemburgo, entre outros.
No fundo, o actual líder do eurogrupo, onde aquele modelo de
resgate foi cozinhado, é holandês e talvez se esteja a limitar a defender o seu
país da concorrência cipriota. Convém aqui recordar que foi para a Holanda que “fugiram”
as principais empresas portuguesas e onde podem estar parte dos 74 mil milhões
de euros que saíram do país só entre 2010 e 2011…
Quanto à “sujidade” do dinheiro cipriota, acusando os oligarcas russos de depositarem o
seu dinheiro nesse país fiscal, é mais uma falácia para justificar o
injustificável. Em primeiro lugar, nem todos os russos com dinheiro são corruptos e,
se compararmos com a Europa “civilizada”, a situação não será muito diferente.
Em segundo lugar, o dinheiro russo depositado em Chipre será uma ínfima parte
daquele que está depositado noutros paraísos fiscais europeus, ou na banca
alemã…
A situação em Chipre só contribuiu para lançar o descrédito
total sobre o euro e a zona Euro. Qualquer pessoa que tenha dinheiro depositado
num banco da zona euro vai, com certeza, e podendo fazê-lo, retirá-lo para
outros sítios. Quem não o puder fazer, vai pensar duas vezes se justifica
qualquer tipo de poupança.
Pela minha parte, por cada 100 euros que eu vier a retirar
das minhas poupanças para gastar, vão ser, no futuro menos vinte cinco ou cinquenta
euros que virão a ser cobrados para salvar a banca e ajudar aos bolsos da srª
Merkel, quando as mesmas medidas tomadas em Chipre se aplicarem no resto da
zona euro…
Um louco no poder…
A Coreia do Norte é um caso paradigmático de loucura colectiva,
uma espécie de mini laboratório para estudar regimes totalitários.
Penso que a actual agressividade do seu líder não passa de basófila
para uso interno, mas claro que, em qualquer momento, a coisa se pode
descontrolar. Não nos podemos esquecer que aquela ditadura tem armas atómicas em
quantidades desconhecidas.
Não me admirava muito que, dado o isolamento em que o regime
vive e o facto de não entrar qualquer informação sobre o que se passa no
exterior, um dia deste o “grande líder” venha a anunciar uma vitória militar
sobre os “imperialistas”, com um desfile da “vitória” à maneira…sem dispara um
tiro fora da sua fronteira…
…Enfim, bem vindos à realidade….
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