Nos anos 70 o Bangladesh entrou nas páginas dos jornais
pelas piores razões, a fome que dizimava as suas populações. Em 1971 George Harrisonreuniu vários músicos e organizou um grande concerto de solidariedade que alertou
o mundo para a dramática situação daquele país.
Mais de 40 anos depois aquele país volta às primeiras
páginas dos jornais, mais uma vez pelas piores razões, a derrocada de um
edifício de vários andares, o Rana Plaza, onde trabalhavam mais de dois mil
operários, a maior parte mulheres, para a indústria do vestuário, que é a base
da economia daquele pobre país.
A fome extrema de há quatro décadas deu lugar à miséria extrema
da mais abjecta exploração da mão-de-obra barata daquele país.
Com salários a rondar os 29 euros… POR MÊS (!!!!) , a
industria têxtil desse país emprega quase 4 milhões de trabalhadores.
A maior parte trabalha em situação humanamente degradante,
sem o mínimo de condições de segurança. Acidentes como o registado na passada
semana, que matou cerca de 400 trabalhadores, têm sido frequentes naquele país.
Ainda no mês passado morreram 170 trabalhadores no incêndio noutra fábrica do sector.
A maior parte dessas fábricas que proliferam no Bangladesh
foram subcontratadas para fornecer marcas ocidentais, como a norte-americana
WALMART, a irlandesa PRIMARK e a espanhola MANGO ou a C&A. Pelo menos as
três primeiras estão envolvidas neste acidente, já que as fábricas instaladas
no edifício que ruiu trabalhavam para fornecer a roupa barata que aquelas
marcas vendem no ocidente.
O rápido crescimento do desemprego e da pobreza entre os
trabalhadores europeus é uma outra consequência directa desse “comércio livre”
sem regras em que transformou a globalização. Aliás, muitas da falta de
condições de trabalho existente nesses países é cada vez mais defendido como
modelo “concorrencial” a aplicar no ocidente, nomeadamente nos países do sul da
Europa.
É bom recordar que uma das partes da Declaração Universal
dos Direitos do Homem é dedicada aos direitos de quem trabalha, desrespeitados
na maior parte desses países, e cada vez mais ignorados no próprio ocidente
dito “civilizado”.
Ao fechar os olhos ao dumping social ( e ambiental) praticado
na maior parte dos países asiáticos, ditos “emergentes” (Índia, Bangladesh,
China e tantos outros), os líderes políticos da Europa e dos Estados Unidos,
bem como grande parte das suas grandes empresas multinacionais, tornam-se conivente por tragédia como esta.
É tempo de exigir mudanças na falta de regras do comércio
internacional, em prejuízo, obviamente, dos lucros chorudos dessas empresas,
mas em proveito da melhorias das condições de vida de quem trabalha.
Empresário espanhol entre os principais suspeitos por desastre no Bangladesh - PÚBLICO(ler aqui as últimas notícias sobre a tragédia).
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