Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta internet. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta internet. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

“ANDRÉ VENTURA PELA VERDADE”, onde começa o humor e acabam as fake news?



Ontem caí na esparrela de divulgar uma fake new.

Era um texto, publicado num site credível, onde se reproduzia uma presumível afirmação de D. Manuel Clemente.

Punha na boca do Patriarca de Lisboa a seguinte afirmação:

“Esta narrativa de ódio aos nossos irmãos promovida pelo André Ventura e o seu partido Chega é totalmente contrário aos ensinamentos de Jesus, sendo uma aberração nesta sociedade que se pretende mais justa e mais fraterna. O Santo Padre foi claro quanto a isso na sua Encíclica Fratelli Tutti”.

Acontece que esse post fora retirado de um site intitulado “André Ventura pela Verdade”, acompanhado de um presumível comentário do “próprio” candidato da extrema-direita: “Também tu a atacar-me? Era só o que faltava…”.

Seguiam-se depois dezenas de comentários entre o apoio ao presumível Ventura atacado pelo presumível patriarca e a defesa do “ofendido” com ataques à Igreja.

Eu próprio caí na esparrela de acreditar que aquilo era verdade, mas, se tivesse parado um pouco para raciocinar, devia ter-me apercebido da estranheza daquela frase, por um lado porque aquele não é, não só o estilo de D. Manuel Clemente, que ainda  há poucas semanas se deixou fotografar ao lado do  líder do Chega em recepção cordial, por outro, porque a Igreja portuguesa costuma assumir uma postura mais metafórica e ambígua em termos políticos.

Também me deixei cair na esparrela porque me pareceu que uma frase como aquela era coerente com a nova atitude e a coragem do exemplo do Papa Francisco. Mas isto sou eu que sou um ingénuo…

Espantado fiquei com algumas reacções a esse texto no meu post. Algumas não se indignavam tanto com o facto de ser uma fake new, mas mais com a possibilidade de alguém da Igreja pensar nesses termos. Alguém até considerava aquelas palavras como um incitamento ao ódio (!!!).

Curioso e apercebendo-me do erro, procurei a origem e encontrei-a num site autointitulado “André Ventura pela Verdade”. É um site de humor que, explorando a arma da criação de “factos alternativos”, como se fosse um site do próprio candidato, e usando as próprias armas e argumentos do Ventura e dos seus apoiantes, desmonta assim, pelo ridículo da situação, os próprios argumentos.

Observando com tenção por baixo do cabeçalho, lá está o aviso que me escapou e a muita gente : "Sátira/Paródia" e no próprio cabeçalho outro aviso, em tom humorístico : "As Nossas Fake News São Mentiras Necessárias":



É curioso ver também a quantidade de gente que cai na esparrela de comentar tudo aquilo como se fosse verdade (como eu próprio, aliás, acabei por fazer), mas é um bom barómetro para ver o impacto do fenómeno “Ventura” e os próprios perigos do mesmo.

No fundo, este site faz aquilo que fazem páginas como o “Inimigo Público” ou, lá fora, um “Charlie Hebdo”, embora de forma mais disfarçada e não assumida.

O próprio título goza e glosa  com as muitas páginas “pela Verdade”, de divulgação de fake News e “verdades alternativas”, surgidas durante a actual crise, muita delas controladas pela extrema-direita.

Os extremistas não gostam de serem gozados este site mostra uma das formas mais eficazes de combater os "venturas" deste mundo.

(Em baixo o post falso):


quarta-feira, 11 de abril de 2018

REDES SOCIAIS : Entre a manipulação e democracia.



O papel das redes sociais na divulgação de mentiras e na promoção do ódio e da ignorância tem sido um dos mais vivos temas de discussão.

O debate não é muito diferente daquele que, desde o século XIX, de faz sobre a massificação da comunicação social, desde a expansão do jornalismo no século XIX por obra das grandes inovações das técnica tipográficas, passando pela expansão do cinema e da rádio, no inicio do século XX, até à expansão da televisão no pós-guerra.

Perder o controle da comunicação e da palavra, democratizando-a, sempre incomodou as elites e os poderosos de todos os tempos.

A questão é sempre a mesma. A expansão desses meios de comunicação, ao mesmo tempo que expandia e democratizava o acesso à informação, tornava-se uma forma cada vez mais eficaz de manipular essa mesma informação ao serviço de ideologias antidemocráticas.

O nazismo e o stalinismo foram os exemplos mais gritantes dessa nova realidade.

Hoje as redes sociais são o meio privilegiado dos novos demagogos, e, porque não dizê-lo, dos novos fascismos deste inicio de século. Trump e Putin são os melhores exemplos do poder de manipulação dessas redes sociais.

Mas, tal como aconteceu com a imprensa, o cinema, a rádio ou a televisão, as redes socias vieram para ficar e não é limitando-as, com um novo tipo de censura, que se combate o seu lado negro.

As redes sociais são uma ferramenta. O seu conteúdo depende de quem as usa e do objectivo como é usado.

Manipulação, mentira, falácia, mau-gosto, ignorância, ódio,  intolerância e demagogia também existiram e existem nos outros meios de comunicação.

A diferença é na dimensão e na rapidez da expansão de todas essas atitudes perversas e perigosas.

A liberdade, a democracia e a verdade não podem recorrer à censura para evitar os abusos, mas podem combate-los com melhor informação, denunciando e combatendo, taco a taco, essas perversões.

Este é um combate diário de todos os que abominam a manipulação, a mentira, a falácia, o mau-gosto, a ignorância, a intolerância e a demagogia.

Esse combate é uma obrigação daqueles que, usando as redes socias no sentido de divulgar e esclarecer, apresentar vozes diferentes, mostrar outras realidades, debater de forma ponderada os temas do momento, acreditam que as redes sociais podem tornar-se, maioritariamente, o grande porta voz da democracia e da liberdade.