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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

…Em Fátima (ou… “onde param agora os crítico da Festa do Avante?”)



Começo por esclarecer que não sou um fundamentalista, que anda de régua e esquadro a medir o “distanciamento social” que vê à sua volta,  em fotografias e reportagens televisivas, até porque o ângulo das imagens engana e  pode dar uma idéia errada da proximidade.

Aliás, foi isso, infelizmente, que muitos fizeram com a Festa do Avante, fotografando e filmando de perto para fechar o ângulo.

Pessoalmente também acho que é possível reunir alguns milhares de pessoas em Fátima ,pois o espaço permite um distanciamento social seguro.

Aliás, já aqui defendi várias vezes que o que se fez no 1º de Maio e mais recentemente na Festa do Avante, também se podia fazer em Fátima.

Como se provou por aqueles dois eventos, e como se tem visto agora em Fátima, a organização é rigorosa em garantir o distanciamento e o risco é mínimo.

Quanto muito a minha dúvida pode residir nas aglomerações que podem acontecer fora dos recintos vigiados e controlados.

O exemplo do 1º de Maio mostrou como é que se podiam organizar eventos públicos, com centenas ou milhares de pessoas, em segurança e o modelo tem servido de exemplo, como aconteceu na Festa do Avante, na abertura progressiva dos estádios de futebol ao público e agora em Fátima.

A mim, o que me espanta é o tratamento diferente que foi dado por comentadores, por órgão da comunicação social, pelas  “vedetas médicas” do costume e pelas redes socias à Festa do Avante, e agora ao silêncio sobre o que se passa em Fátima.

Não vimos agora um engraçadinho a oferecer viagens em carros funerários aos participantes, ou grupos de "enfermeiros" a fotografarem-se com dizeres contra o evento, ou "comerciantes" em "pânico" com a chegada de "multidões", ou manifestações de automóvel e de partidos políticos à porta das celebrações, tudo devidamente acompanhado com directos das televisões.

Se restavam dúvidas sobre as razões dos organizadores da Festa do Avante, quando falavam numa campanha orquestrada contra o evento, elas ficaram desfeitas agora, com a reação sectária e intolerantemente diferenciada em relação aos dois eventos por parte desses mesmos, a começar , aliás, pelas própria afirmações do presidente da República em relação aos dois eventos.

Pela nossa parte, consideramos que, pelo menos até agora, é possível a realização de eventos públicos em segurança, desde que se respeitem as regras conhecidas: uso de máscara em contacto com outras pessoas que não sejam da relação habitual, no interior de estabelecimentos públicos e em ruas movimentadas, lavagem e desinfecção de mãos e superfícies (talvez o mais importante) e respeitar o distanciamento proposto pela DGS e pelos organizadores desses evento.

O resto é a demagogia do costume. 

sábado, 2 de maio de 2020

1º de Maio - intolerância ou irresponsabilidade?


Confesso que não tenho uma opinião clara e definitiva  sobre a forma como a CGTP comemorou o 1º de Maio.

Olhando objectivamente para as imagens, foram cumpridas as regras elementares de protecção: distanciamento, uso de máscaras e organização rigorosa dos espaços.

A forma como esse acontecimento foi organizado pode até ser exemplo de confinamento para outras realizações do género no futuro e até em locais de trabalho com muita gente.

Pior do que isso, em termos de segurança, foram as manifestações a que assistimos há dias junto aos hospitais, de apoio ao pessoal médico. Apesar da homenagem merecida, e da boa intenção da mesma, vimos enfermeiros, médicos e policias, nem todos com máscaras e sem cumprirem as distâncias regulamentares.

Pior ainda foi assistirmos, nos últimos dias, às  intermináveis filas de hipermercados, sem respeitar distanciamento ou com grupos à molhada e, no seu interior, gente a remexer em tudo e a acotovelar-se nas caixas, apesar das recomendações de distanciamento e da boa vontade dos empregados.

Já a mensagem transmitida por aquelas comemorações da CGTP,  essa deu azo à livre manifestação dos instintos mais primários e demagógicos que enxameiam as redes sociais e o comentário televisivo.

A situação é propicia a todo o tipo de fundamentalismo paternalista, não deixando de ser comovente a forma como os habituais comentadores da “santa aliança” (ressabiados passos coelhistas e cavaquistas, direita conservadora, populistas de todas as matrizes, e todas as famílias da extrema-direita) se preocuparam, mais uma vez, tal como tinha acontecido no 25 de Abril, com a saúde dos “esquerdalhos” que participaram nesse actos.

A situação de intolerância, fundamentalismo, má-fé e ódio populista não é nova, mas o COVID-19 tem-se prestado à forma quase pidesca como muitos interpretam as filas de carros para os Mac Donald’s  ou as pessoas que caminham na rua, mesmo se isoladas e protegidas. Noutros países até já se chegou ao extremo de se riscarem carros de médicos e enfermeiros que saiam para os hospitais, chegando mesmo a ser ameaçados por vizinhos, com convites para saírem das suas casas.

Foi este, quanto a mim, o aspecto mais negativo das comemorações do 1º de Maio, alimentar o argumentário dessa gente, sempre à procura do mínimo pretexto para destilar o seu ódio e o seu fanatismo ideológico.

Quanto ao resto, faço minhas as brilhantes palavras do meu amigo Jorge Humberto que transcrevo em baixo :
“TRABALHAR SIM, CELEBRAR NÃO
“Cá estão eles novamente.
“Já faltava a sua presença sempre brilhante, isenta e sensata nas ocasiões festivas. Falo dos críticos às celebrações do 1º de Maio.
“ Aqui o ridículo é ainda mais, quando, são as mesmas pessoas que não escrevem uma linha sobre o fato desses mesmos trabalhadores, que estão na manifestação, serem os que no dia anterior foram obrigados a trabalhar uns em cima dos outros para que as fábricas funcionem, os hospitais funcionem, as lojas, o lixo seja recolhido, a economia funcione.
“Não os vejo preocupados com os funcionários dos lares, que por um ordenado de miséria, tratam dos nossos idosos nas condições que todos nós conhecemos. Então estas pessoas, cheias de bom senso e ideias retas, acham que o trabalhador é como uma besta de carga, que pode arriscar a sua saúde para que eles possam ir à loja comprar um par de ténis, mas não pode celebrar. Não pode, porque é um perigo para si próprio. Gente altamente preocupada com a saúde dos outros Mas só na parte do celebrar, porque na parte de terem o cabeleireiro aberto para lhes cortarem a fronha, aí já podem.
“Alguns desses críticos são também trabalhadores, muitos deles, explorados, que vivem para trabalhar, sem perspetivas de vida, explorados por empresários de sucesso com contas offshore e sede na Holanda, que lhes pagam um ordenado como se fosse um favor e ao mínimo abanão, os colocam em layoff, tiram-lhes as férias, despedem, dispensam, fecham a empresa e abrem ao lado mas só com precários… e no final do ano distribuem dividendos aos milhões, embora mitiguem o valor do salário mínimo, que acham de exorbitante.
“Enfim, é triste.
“Temos mais de um milhão de trabalhadores em layoff, temos precários que ficaram sem emprego, temos um aumento brutal do desemprego, com dezenas de milhares de novos desempregados registados. Temos trabalhadores no banco alimentar, outros a receber ajudas de família, de amigos. Hoje, mais do que nunca deveria haver uma celebração, com uma mensagem clara para lembrar que as pessoas não são mulas de carga. Não servem só para trabalhar para outros acumularem riqueza. As pessoas não são propriedade de ninguém. Lá porque a pessoa depende do seu trabalho para viver, ela não pertence a ninguém.
“Comemorar sim e muito, para lembrar todos os que morreram para que os que trabalham deixassem de ser escravos e tivessem um mínimo de direitos. Sim morreram, mas não foi de Covid. Lembram-se?
“Em Portugal, nós sabemos que somos o país que menos paga, que mais horas de trabalho tem em média e que menos qualidade de vida tem para os que trabalham, na média europeia. Acresce que nas últimas décadas se têm acentuado as desigualdades de forma gritante, resultando na falta de perspetivas para uma imensa camada de gente que apenas trabalha para comer e que não se consegue libertar desse ciclo, por muito que trabalhe. Gente para quem agora os direitos começam a ser apelidados de regalias. Profissionais liberais, sócios gerentes, artistas, nestes dias difíceis emerge toda uma enorme massa de pessoas que vivem do seu trabalho e que precisam de um salário para o básico.
“ As relações de trabalho mudaram, as profissões mudaram, a organização do trabalho tem hoje várias frentes e dimensões, mas os problemas continuam exatamente os mesmos e os direitos não podem deixar de ser celebrados e aprofundados. Porque afinal, de que serve uma sociedade onde quase todos trabalham, mas só alguns prosperam?
“ Isto é para pensar, exatamente neste dia.
“Celebrar o que representa o 1º de Maio, sim, faze-lo na rua, porque não? Afinal na segunda feira vão estar todos juntos na empresa em cima uns dos outros”.

sábado, 18 de abril de 2020

As “Comemorações” que alimentam a demagogia fanática


Confesso que, inicialmente, também fiquei perplexo quando vi anunciada a realização das comemorações do 25 de Abril e do 1º de Maio.

Pela forma como a notícia foi dada e depois comentada, parecia que íamos ter desfiles de multidões na Avenida e na Fonte Luminosa.

Afinal, tudo não passa de fumaça, lançada pelos do costume, aqueles a quem escrever “25 de Abril” e “1º de Maio” na mesma frase provoca logo um ataque de comichão pelo corpo todo, faz saltar para a frente o braço direito e impede qualquer forma de raciocínio lógico.

Reconheço que a comunicação dessa decisão não foi feita de forma correcta e transparente, dando argumentos a uma certa  direita ressabiada e tristonha com a  forma competente como a presente crise tem sido, até hoje, conduzida pelo governo de Costa e que encontrou agora pretexto para dar prova de vida.

A santa aliança de saudosos do “passos ceolhismo/cavaquismo” ou mesmo do “salazarismo”, juntando-se a todo o tipo de  “neoliberais”, “neoconservadores” e “populistas de extrema direita”, exultou com a oportunidade.

Contudo, analisando a realidade, pelo menos a que é conhecida, todo o argumentario dos ditos cujos cai pela sanita abaixo.

Primeiro argumento da “santa aliança” : “aqui d’el rei que vamos ter 300 velhos juntos na mesma sala”, isto é, deputados da Assembleia da República.

A esquerda, maioritária nessa sala, agradece a preocupação com a sua “saúde”, mas a história não está bem contada.

Em primeiro lugar, apenas vai estar presente um número reduzido desses deputados, e um número ainda mais reduzido de convidados isolados nas galerias. Aqui concordo com o deputado da Iniciativa Liberal, talvez bastasse a presença de um representante de cada partido com assento no Parlamento, mais como exemplo do que por qualquer perigo sanitário que não existe, tal como não tem existido nas várias ocasiões em que o Parlamento se tem reunido durante a crise para tomar decisões, porque, é bom recordar, a democracia não foi suspensa.

Aliás, aqui, se estivessem de boa fé, o argumento até podia ser o inverso: porque é que os deputados não estão a trabalhar regularmente, ao contrário dos muitos portugueses que continuam a trabalhar para salvar, curar, alimentar, proteger e apoiar outros portugueses nas suas mais básicas necessidades?

Segundo argumento da “santa aliança” : “aqui d’ el rei que os portugueses não puderam comemorar a Páscoa e não podem comemorar o 13 de Maio em Fátima e podem comemorar o 25 de Abril e o 1º de Maio”.

Também esse argumento cai por terra, porque não estamos a falar exactamente da mesma coisa.

Em primeiro lugar não se proibiu ninguém de comemorar a Páscoa, proibiu-se as deslocações em massa do estrangeiro para Portugal e dentro do país, no momento do pico da crise na Europa e por cá.

Que eu saiba, as comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República e as comemorações previstas para o 1º de Maio não implicam as deslocações em massa de tipo idênticas às da Época Pascal.

Nem vamos ter velhotes a beijar a mesma cruz!!!

Aliás, muitos párocos e bispos realizaram as liturgias nas Igrejas, sem público, tal como vai acontecer na Assembleia da República com o 25 de Abril. Também não vai estar público, apenas um reduzido número de entidades oficiais.

O mesmo risco de deslocação em massa é o que existe para as comemorações do 13 de Maio, já que este não se comemora só com os habitantes de Fátima.

Em segundo lugar, as comemorações católica são organizadas pela Igreja e a decisão e a  forma de as organizar cabe à sua hierarquia, já que vivemos num Estado laico.

Penso mesmo, por aquilo que sei das ditas “comemorações”, que tudo vai implicar menos gente, (respeitando a distancia social ou usando máscaras, numa praça ou junto a um lugar simbólico), do que aquela que ontem esteve às entradas dos hospitais a cantar o hino nacional, numa justa homenagem a auxiliares, enfermeiros e médicos, atitude que não vi ser condenada ( e ainda bem, pois seria ainda mais ridículo) , pois os argumento seriam os mesmos.

Situações de crise como a que estamos a viver é propícia ao fanatismo, à má-fé, à presunção ignorante e à demagogia populista.

Contudo, esperemos que não sejam os políticos e os sindicatos a alimentar esse clima com atitudes irreflectidas e irresponsáveis na escolha da melhor maneira para comemorar o 25 de Abril e o 1º de Maio.

Pela minha parte, porque procuro que o espírito do 25 de Abril e do 1º de Maio sejam comemorados todos os dias, comemoro essa data aqui em casa e espero ver as televisões, a Assembleia da República e os sindicatos a dignificar a comemoração dessas datas.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

"Não Matem os Velhinhos" (??!!)


Estava a pensar escrever um post sobre a forma vergonhosa, intolerante e ignorante como se está a tentar lançar o debate sobre a aprovação dos projectos sobre a Eutanásia.

Afinal, em 2018, já escrevi, AQUI, no meu blog Pedras Rolantes, o essencial sobre o meu pensamento e opinião em relação o tema, com a diferença de, ao contrário daquilo que pensava na altura, já ter havido o tempo mais que necessário para se debater e esclarecer o tema.

Ao contrário do que escrevi na altura, hoje  o Parlamento tem toda a legitimidade para debater e legislar sobre o assunto.

Lamentável é o modo como a Igreja e alguma gente tenta fazer deste tema uma guerra de religião ou de ideologias, entre os "maus" que "querem" vulgarizar uma "cultura da morte" e "matar velhinhos" e os "bons", "defensores da vida" a todo o custo, mesmo a custo  da dignidade humana e da liberdade individual de acabar com a sua degradação irreversível.

Em relação às instituições da Igreja, com muitos telhados de vidro no que se refere à "defesa" da dignidade humana e da vida, o que me surpreende é que nada aprenderam com a atitude tolerante do actual papa Francisco.

Uma coisa são os valores da Igreja, outra coisa é tentar a sua imposição com o recurso à mentira e à ignorância, fazendo disto uma guerra religiosa.

Uma coisa é apelar à coerência na aplicação desses valores entre os católicos, (apesar de, no que respeita à dignidade humana, para muitos católicos nem todos os valores apregoados por Cristo têm o mesmo peso e valor....), outra é tentar impor esses valores a toda a sociedade.

A Igreja tem direito de julgar com base nos seus valores. O que não pode é impor que os seus valores sejam impostos por lei, levando à prisão quem pratique ou ajude a praticar a eutanásia, como acontece actualmente.

Sinceramente, pensava que a nossa Igreja já tinha evoluído alguma coisa.

Afinal estou enganado.

Por cá, pelos vistos, a "nossa" Igreja ainda está a anos luz da abertura do papa Francisco.

Apesar de saber que o Papa não defende a Eutanásia, tenho a certeza que faria o debate e a defesa das suas ideias com outra tolerância e sem recorrer à mentira.

A Eutanásia, e a legislação em debate, não se discute com um "Sim" ou um "Não", num referendo, sujeito a toda a demagogia e primitivismo ignorante de comentadores de bancada e redes sociais, como já se percebe da argumentação dos defensores do  referendo, até porque a Eutanásia é um assunto que só se colocará numa minoria de casos.

Misturar os cuidados paliativo, o acto médico de desligar uma máquina, o direito dos médicos à objecção de consciência, o testamento vital, tudo questões que já estão devidamente legalizadas, com o que está em causa com os projectos de lei em causa é fomentar a ignorância e a intolerância, e a própria degradação da vida de muita gente que espera por uma solução.

Despenalizar é a única maneira de impor regras, quando estão esgotados os recursos acima mencionados,  evitando que um acto de humanidade mande para a prisão, tal como qualquer vulgar assassino, quem hoje, sem condições, recorre à eutanásia.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A Rebelião das Massas sem Causa



Todos os dias, desde há uns tempos a esta parte, somos confrontados com notícias diárias de novas revoltas nas ruas, um pouco por todo o mundo.

Manifestações, revoltas sociais, ocupação das ruas, nada disso é novo, já existia em tempos medievais, tem crescido desde os finais dos regimes absolutistas, com principal impacto a partir da Revolução Francesa.

A primeira grande rebelião das massas ocorreu nos anos 20 e 30, e deu o resultado conhecido.
A “Oeste Nada de Novo”, portanto.

Não devemos esquecer que vivemos uma época em que a comunicação social, principalmente a televisiva, e, em especial, as redes sociais, permitem dar uma dimensão a essas manifestações que elas muitas vezes não tinham no início.

Aliás, está por provar que existem mais manifestações e mais violentas do que as que sempre houve. A diferença é que há uns anos atrás nada disso era notícia, ou, quando o era, já só o sabíamos depois de dominadas ou terminadas.

Hoje vivemos no imediatismo e as notícias dão a volta ao mundo em  poucos minutos, ampliando o impacto e a dimensão de tais movimentos.

O que há de novo nesses movimentos é, por um lado,  a diferenças de objectivos e causas, muitas vezes contraditórias e até de sinal contrário, e a falta de uma ideologia marcante e de lideranças consistentes.

Grande parte dessas manifestações, que ocupam as ruas de quase todo o mundo, são despoletadas por “pequenas coisas”, uma subida no preço de um produto ou de um imposto (em França ou no Líbano, no Irão, no Iraque ou no Chile), a desconfiança sobre a legitimidade de um acto eleitoral (na Venezuela ou na Bolívia), medidas judiciais ou legais controversas (na Catalunha, na Turquia ou em Hong Kong) e depois, mesmo quando as autoridades recuam, o motivo original transforma-se no pretexto para trazer ao de cima um descontentamento generalizado das “massas”  contra as suas precárias condições de vida, as desigualdades crescentes, a falta de liberdade ou democracia.

Sem lideranças fortes, sem objectivos claros, é a irracionalidade que acaba por dominar, conduzindo à violência gratuita.

Como a comunicação social e os políticos só se preocupam com esses movimentos quando a violência se torna o espectáculo da primeira e o cimento do recurso ao autoritarismo dos segundos, a violência torna-se o único objectivo claro desses manifestantes, entrando-se numa espiral sem saída.

Quase todas essas manifestações têm, na sua origem,  causas legítimas, mas perdem rapidamente a legitimidade quando perdem de vista as razões que as despoletaram, recorrendo a crescentes e indiscriminados actos de violência.

As desigualdades crescentes, a falta de democracia e de liberdade, a destruição de direitos sociais, a corrupção generalizada das elites, o esvaziamento do poder democrático pelos interesses financeiros, uma globalização cada vez mais desumanizada, tudo isso é rastilho para o mal-estar generalizado que está a conduzir muitos países e muitas regiões do mundo para o abismo.

Sem rumo, a energia dessas manifestações alimenta a demagogia de populistas sem escrúpulos que espreitam a sua oportunidade

Bolsonaro e Trump são apenas os primeiros a manipular em proveito próprio essa rebelião das massas sem causa, mas são meros meninos do coro perante o que se avizinha.  

sábado, 22 de dezembro de 2018

“Coletes Amarelos” – quem são os derrotados.



Do total fracasso, a roçar o ridículo, da manifestação dos “coletes amarelos”, não saíram apenas derrotados os seus promotores.

Em primeiro lugar saiu derrotada a extrema-direita portuguesa, ficando à mostra a sua verdadeira dimensão.

Em segundo lugar, saiu derrotada a bazófia de utilizadores das redes sociais, (tão caladinhos agora) que pensavam que bastava destilar ódio, intolerância e demagogia, em doses cavalares, para conseguir mobilizar os portugueses.

Em terceiro lugar saíram derrotados os que andavam a apregoar a decadência da mobilização sindical, acreditando que bastava gritar contra tudo e contra todos para conseguir mobilizar manifestantes.

Em quarto lugar saiu derrotada a comunicação social, sempre tão pronta a desvalorizar reivindicações sindicais, profissionais e sociais, mobilizando desta vez grande parte do seu espaço para amplificar uma manifestação de dimensões ridiculas, mostrando-se quase tão desesperada com o resultado da manifestação como os próprios promotores.

Mas sairão igualmente derrotados, a prazo, aqueles que, perante o fracasso desta manifestação, pensam que tal desaire significa que muitas das reivindicações e protestos, usados de forma demagógica e oportunista pelos promotores, não têm um fundamento de verdade.

A democracia ganhou esta batalha contra a demagogia, mas tem muitas outras batalhas pela frente.

A democracia é frágil e, se quer sobreviver, tem de combater eficazmente as desigualdades, a corrupção, a pobreza e todo o tipo de injustiças sociais, ou a demagogia ganhará espaço para voltar com mais força.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

As Quatro doenças da democracia: Desigualdade,Déficit de Representatividade, Corrupção, Liberdade desvirtuada.



O rápido avanço da extrema direita populista e neofascista nos últimos anos tem explicação, em grande parte, pelos erros acumulados nas Democracias.

Entre esses erros estão as quatro doenças da Democracia: a desigualdade, o deficit de representatividade, a corrupção e a liberdade desvirtuada.

DESIGUALDADE

A forma como os regimes democráticos se deixaram dominar pelos grandes interesse financeiros, tomando decisões contra os cidadãos e fomentando o aumento de desigualdades como forma de destruir direitos socias e desvalorizar o factor trabalho, apenas para beneficiar aqueles interesses, afastou muitos cidadãos da participação democrática.

O melhor exemplo disso é  a prática das lideranças da União Europeia, pelo modo como tem lidado com a dívida e o deficit, ou das decisões de organismos como a Organização Mundial do Comércio, agindo a mando desses interesses e ignorando as situações socias que essas decisões acarretam, fomentando o dumping social.

Contudo, se os cidadãos se conformarem, a desigualdade continuará a aumentar ao ritmo daqueles interesses.

DEFICIT DE REPRESENTATIVIDADE

As imposições das organizações supranacionais, a maior parte delas não eleitas, sobrepondo-se à escolha democrática dos cidadãos, submetendo o grande “centrão” aos ditames dessas organizações, que obedecem apenas à logica financeira (o célebre TINA), ao retirar poder aos organismos directamente  eleitos, transformando os parlamentos e os partidos em meras organizações “colaboracionistas” com a situação imposta por essas organizações, leva os cidadãos, todos os dias prejudicados no seu dia-a-dia pelas decisões daquelas, a afastarem-se da participação democrática.

Se os cidadãos nãos e sentem representados, nos seus anseios, pelas instituições democráticas, passam a estar vulneráveis ao discurso demagógico, baseado no medo e na xenofobia, vinculado pelas organizações populistas e neofascistas, que defendem uma solução autoritária para “resolver” as preocupações dos cidadãos abandonados à sua sorte.

Contudo, o que esses movimentos defendem, mesmo que de forma disfarçada, é o aumento do controle do poder politico, retirando ainda mais aos cidadãos o direito de participação, quando chegarem ao poder (existem por aí muitos exemplos históricos que atestam esse resultado).

CORRUPÇÃO

A Corrupção é o grande cancro dos regimes democráticos.

Com uma classe politica que sobrevive à sombra do poder financeiro, transformados em meros joguetes daqueles interesse acima denunciados, transformada numa casta que circula entre o poder político ,  o poder financeiro e cargos nas instituições supranacionais nãos eleitas, o cidadão comum sente-se tentado pelo discurso fácil da “pureza” propagandeada pelos tais populistas, que encontram nessa temática terreno fértil para a sua demagogia.

Esquecem-se apenas de um “pormenor”. Nos regimes autoritários e nas ditaduras “não existe” corrupção porque, por um lado, a simples divulgação desta é proibida e censurada e os tribunais são controlados pelo poder executivo. E se isto não chegar, mudam as leis para tornar o que é corrupção em “legalidade”.

LIBERDADE DESVIRTUADA

Por último, mas não menos importante, o uso incontrolado da liberdade permitida pelas redes socias, onde se misturam verdades e mentiras, onde se aplica cada vez mais o velho slogan nazi segundo o qual uma mentira várias vezes mentira pode tornar-se verdade, aquilo que hoje se chama de  fake news, onde a “verdade” de um ignorante tem o mesmo peso que a verdade de um sábio, contribui para fazer passar, entranhando-se nas nossas atitudes  e opções, um discurso de intolerância, de desrespeito pelos adversários, de gritaria, de arrogância, as bases ideológicas onde assenta a construção de modelos autoritários.

Há quem diga que as arruaças,  que no anos trinta impuseram pelo medo os regimes autoritários de então,  foi substituído pelo discurso intolerante, violento e intimidatório que hoje domina os “debates” nas redes sociais.

A democracia está doente.

Os movimentos populistas e neofascistas renascem das cinzas explorando as fraquezas da democracia.

Mas, creiam, não existe solução fora da democracia.

Combater aqueles sintomas fora da democracia só os vais agravar.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Iniciar o ano a cavalgar a demagogia


O ano de 2017  foi um ano bipolar, onde se viveram momentos únicos, com grandes conquistas para Portugal em vários domínios, mas onde se revelou outra face menos abonatória, como a tragédia dos incêndios ou a ignóbil situação da Raríssima, só para recordar dois casos.

Foi também o ano em que, talvez para seguir a moda de Trump, a politica e o jornalismo se foi fazendo ao sabor da gritaria das redes sociais, revelando alguma desorientação entre governantes e oposição.

O último caso foi o da aprovação da “lei do financiamento dos partidos”, que trouxe ao de cima duas faces do pior que existe na politica e na comunicação social, o secretismo das decisões e a mais pura demagogia dos que a elas de opuseram.

E, como não podia deixar de ser, o Presidente da República acabou por tomar a única decisão lógica, que foi a de vetar essa lei, sem contudo se ter demarcado da onda demagógica que se tem gerado à volta desse facto.

Para mim, parece-me que a lei em si tem aspectos positivos, tendo em vista fiscalizar melhor as contas dos partidos. O problema foi a forma atabalhoada como tudo foi decidido.

Os partidos aprovaram a lei quase em segredo, talvez com receio da demagogia que essa medida ia provocar nas redes sociais, sem coragem para a enfrentar e denunciar.

Os que não a aprovaram, em especial o CDS, pelo contrário, procuraram navegar e alimentar a onda  demagógica que tal medida provocou.

Todos eles, apoiantes da lei e detractores, têm  agora uma oportunidade soberana para emendarem a mão e explicarem as virtualidades da lei, clarificando e emendando o que de menos claro ela contem.

A alternativa é o crescimento da demagogia populista anti partido e antidemocrática à qual o país tem escapado, mas dominante nas redes socias.

É um mau presságio para o inicio do ano.

...mesmo assim, Bom Ano para todos!


terça-feira, 17 de outubro de 2017

A tragédia dos Incêndios e a demagogia de comentadores "liberais"


Tem sido um nojo miseravelmente demagógico e oportunista aquilo que temos ouvido de comentadores encartados, que discutem tudo, do futebol à politica, da economia aos incêndios, da realidade internacional ao pequeno escândalo de aldeia, sempre cheios de certezas, mas que pouco acrescentam ao debate necessário que urge fazer (ou saber) sobre incêndios e ordenamento do território.

Tem-se salvo o trabalho da Antena 1, da RTP 1, 2 e 3, que, pelo contraste com os restantes órgãos de comunicação social, mostra porque é importante continuar a manter um serviço público de comunicação social.

O que ouvimos e vimos de interessante e de valor acrescentado sobre o tema, ouvimos e vimos quase exclusivamente nesses órgãos de comunicação que chamaram técnicos e especialistas, nas várias áreas relacionadas com o problema dos incêndios florestais: meteorologistas, bombeiros especializados, técnicos de protecção civil, silvicultores, professores universitários....

Claro que isto não dá “espectáculo”, mas isto deve ser o objectivo nobre de qualquer órgão de comunicação social democrático, que deve dar lugar a um debate sereno, independente, crítico e diverso sobre qualquer tema em agenda.

Se, nos outros canais, o objectivo era queimar a ministra da administração interna, esmiuçando, com gritaria e frases feitas,  até ao ridículo, alguma falta de jeito que aquela tem demonstrado para enfrentar a voracidade assassina da comunicação social controlada pela oposição à “geringonça”, os canais publico revelaram  preocupação em esclarecer com serenidade, mantendo a independência critica em relação aos erros que podem ser imputados ao governo, mas não lançando a confusão boçal, apanágio da maioria dos comentadores de serviço nos canais privados.

Não deixa de ser curioso que os ideólogos do neoliberalismo e do “ajustamento” se mostrem agora tão escandalizados com a “falta do Estado” na prevenção de incêndios, como se não soubessem que:

-  foi a austeridade neoliberal, que tanto defendem, que afastou serviços públicos do interior (encerramento de escolas, centros de saúde, tribunais, policias, guardas florestais…), desertificando-o;

- foi a economia neoliberal que tanto defendem que entregou a floresta ao total desordenamento levado a cabo por interesse privados, floresta que hoje é, de forma esmagadora, de gestão privada;

- foi o “ajustamento” que tanto defendem que, ao  desagregar a organização das freguesias e ao acabar com os governos civis, desregulou toda a organização da protecção civil e deixou que, entre o poder central, bastante afastado, e o poder municipal, de dimensão demasiado pequena, se pudesse responder atempadamente a tragédias de grandes dimensões, dificultando a coordenação e a tomada de decisões urgentes,

- enfim, foram esses mesmos que passaram a vida a desdenhar e a ridicularizar os alertas de ambientalistas e cientistas da área do ambiente para os riscos provocados pelas alterações climatéricas.

A não ser que desejem que o Estado passe a vigiar cada cidadão que lança uma beata pela janela do carro, que não limpa o terreno à volta da sua casa, que não cuida do terreno florestal, geralmente um minifúndio, num local desconhecido e isolado, enfim, que seja o mesmo Estado, que essa gente tanto   abomina, a responsabilizar-se pela falta de civismo de muitos.

Leia-se, aliás, a propósito, a reportagem de Ana Fernandes, editada no Público de hoje, alertando para a responsabilidade civica a que muitos, alguns mais tarde, transformados em vítimas dos seus próprios actos, tentam escapar, tentando fugir ao controle do tal Estado, a quem depois vêm pedir responsabilidade.(uma reportagem a contra-corrente com o conteúdo desta edição).

Enfim, é de facto urgente e necessário uma profunda reforma (talvez fosse mais adequado falar em “revolução”, palavra que esses tais tanto temem) no ordenamento do território e no ordenamento florestal, bem como na prevenção e no combate aos incêndios, mas isso só se pode fazer com uma verdadeira e corajosa regionalização do país, outra coisa que esses hipócritas comentadores abominam.

É caso para se dizer que, juntamente com a floresta, ardeu também a credibilidade e a independência política de grande parte da comunicação social privada, e dos seus comentadores, liderada ideologicamente pelo Observador e logo secundada pela SIC e pelo Expresso, sem esquecer a cada vez mais aguerrida “facção Dinis” que procura forçar uma mudança de rumo no projecto “Público”.

Além das cinzas da floresta, também a credibilidade e independência da chamada comunicação social “liberal” ficou em cinzas nesta tágica época de incêndios.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

EU, "POPULISTA" E "DEMAGÓGICO", ME CONFESSO


Parece  agora que exigir a transparência na ligação entre interesses políticos ou económicos com sociedades secretas, ou mais ou menos secretas, um arcaísmo em democracia, é demagógico e populista.
Parece agora que manifestar indignação pelas trocas e baldrocas entre cargos políticos e cargos administrativos em empresas monopolistas, privadas ou estatais, as mesmas  que continuam a beneficiar dos favores do mesmo Estado que passam a vida a criticar, é demagógico e populista.
Parece agora que manifestar espanto pelos muitas vezes imerecidos chorudos ordenados e reformas de que uns poucos, sempre os mesmos, por via das jogadas políticas de bastidores, raramente por mérito, continuam a usufruir nesta conjuntura de “crise”,  é demagógico e populista.
Parece ainda que criticar os que podem fugir com capitais do país para paraísos fiscais, ao mesmo tempo que vêm dar opiniões para a comunicação social em defesa da austeridade, da flexibilidade das leis trabalho, de salários baixos e contra os direitos sociais (que eles chamam privilégios) é demagógico e populista.
Pois bem eu, que pago mais de  1/3 do que ganho para impostos há quase trinta anos, que tenho os rendimentos congelados há quase sete  anos (fora um ou outro ano de excepção, mas logo penalizado a seguir), que por via dos cortes de 7% no vencimento e no subsidio de Natal no último ano ganhei menos cerca de duzentos euros por mês (se fizer as contas em termos familiares essa situação é em duplicado), que no próximo ano, não só vou pagar mais impostos como vou continuar a sofrer os mesmo 7% de cortes no vencimento e vou ficar sem o subsídio de férias e de Natal, acho que tenho todo o direito de ser “populista” e “demagógico”.