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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

"Não Matem os Velhinhos" (??!!)


Estava a pensar escrever um post sobre a forma vergonhosa, intolerante e ignorante como se está a tentar lançar o debate sobre a aprovação dos projectos sobre a Eutanásia.

Afinal, em 2018, já escrevi, AQUI, no meu blog Pedras Rolantes, o essencial sobre o meu pensamento e opinião em relação o tema, com a diferença de, ao contrário daquilo que pensava na altura, já ter havido o tempo mais que necessário para se debater e esclarecer o tema.

Ao contrário do que escrevi na altura, hoje  o Parlamento tem toda a legitimidade para debater e legislar sobre o assunto.

Lamentável é o modo como a Igreja e alguma gente tenta fazer deste tema uma guerra de religião ou de ideologias, entre os "maus" que "querem" vulgarizar uma "cultura da morte" e "matar velhinhos" e os "bons", "defensores da vida" a todo o custo, mesmo a custo  da dignidade humana e da liberdade individual de acabar com a sua degradação irreversível.

Em relação às instituições da Igreja, com muitos telhados de vidro no que se refere à "defesa" da dignidade humana e da vida, o que me surpreende é que nada aprenderam com a atitude tolerante do actual papa Francisco.

Uma coisa são os valores da Igreja, outra coisa é tentar a sua imposição com o recurso à mentira e à ignorância, fazendo disto uma guerra religiosa.

Uma coisa é apelar à coerência na aplicação desses valores entre os católicos, (apesar de, no que respeita à dignidade humana, para muitos católicos nem todos os valores apregoados por Cristo têm o mesmo peso e valor....), outra é tentar impor esses valores a toda a sociedade.

A Igreja tem direito de julgar com base nos seus valores. O que não pode é impor que os seus valores sejam impostos por lei, levando à prisão quem pratique ou ajude a praticar a eutanásia, como acontece actualmente.

Sinceramente, pensava que a nossa Igreja já tinha evoluído alguma coisa.

Afinal estou enganado.

Por cá, pelos vistos, a "nossa" Igreja ainda está a anos luz da abertura do papa Francisco.

Apesar de saber que o Papa não defende a Eutanásia, tenho a certeza que faria o debate e a defesa das suas ideias com outra tolerância e sem recorrer à mentira.

A Eutanásia, e a legislação em debate, não se discute com um "Sim" ou um "Não", num referendo, sujeito a toda a demagogia e primitivismo ignorante de comentadores de bancada e redes sociais, como já se percebe da argumentação dos defensores do  referendo, até porque a Eutanásia é um assunto que só se colocará numa minoria de casos.

Misturar os cuidados paliativo, o acto médico de desligar uma máquina, o direito dos médicos à objecção de consciência, o testamento vital, tudo questões que já estão devidamente legalizadas, com o que está em causa com os projectos de lei em causa é fomentar a ignorância e a intolerância, e a própria degradação da vida de muita gente que espera por uma solução.

Despenalizar é a única maneira de impor regras, quando estão esgotados os recursos acima mencionados,  evitando que um acto de humanidade mande para a prisão, tal como qualquer vulgar assassino, quem hoje, sem condições, recorre à eutanásia.

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